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sexta-feira, 30 de novembro de 2018

POEMA: CORDEL ADOLESCENTE, Ó XENTE! SYLVIA ORTHOF - COM GABARITO

POEMA: CORDEL ADOLESCENTE, Ó XENTE!
                 SYLVIA ORTHOF



Cordel adolescente ó xente!
 Sou mocinha nordestina,
 meu nome é Doralice,
 tenho treze anos de idade,
 conto e reconto o que disse,
 pois me chamo Doralice,
 sou quem vende meu cordel
 nas feiras lindas do longe
 onde a poesia esconde
 nas sombras do meu chapéu!

 Eu falo tudo rimado
 no adoçado da palavra
 do Nordeste feiticeiro,
  no meu jeito brasileiro,
 aqui vim dizer e digo
 que escrevo muito livro
 que penduro num cordel,
 todo fato acontecido eu
coloco no papel!

 Vim pra feira, noutro dia,
 armei a minha poesia
 num cordel de horizonte.
 Quem passasse no defronte
 daquilo que eu vendia,
 parava e me escutava,
 pois sou mocinha falante,
 declamava o que escrevia!

 Contei de uma garota
 que me amava um cangaceiro,
 era um tal cabra da peste
 uma valentão do Nordeste
 que montava a ventania,
 trazia susto e coragem
 por cada canto que ia!
 Virge Maria!

 O nome da tal mocinha?
 não digo... é um segredo,
 escrevo o que não devo,
 invento, pois tenho medo
 de contar que a tal menina
 era... toda fantasia!

 Era moça que esconde
 a tristeza na alegria,
morava no perto-longe
 daquilo que nunca digo,
 o seu nome era antigo,
 era... talvez... Bertulina...

 Quem sabe da tal menina?
 Um dia de azul e noite,
 pernoite de cavalgada,
 na sombra, muito assustada,
Bertulina viu o moço que,
 ao longe, galopava.

 Ai, xente!
 Um luar se balançava
 num cordel adolescente!
 O vento corria tanto,
espanto: não alcançava
 a ligeireza perfeita
 que o galope desenhava!

 Era um cabra cangaceiro,
 curtido e sertanejo,
 tinha olhos de lonjuras,
 verduras de olhar miragens,
 chapéu de couro,
facão de abrir caminhos, viagens!

 Tinha estrelas faiscantes
 nos dentes do seu sorriso...
 Ai... Me calo... quase falo!...
 Ó xente... que perco o siso!

 Nos cascos do seu cavalo
 tinha trovão e faísca,
 tinha fogo, tinha brasa,
 fósforo que queima
e risca o escuro e ilumina
 a paixão em Bertulina!

 O moço chegou chegando,
 sorriu sua belezura,
 saltou fora do cavalo
(vontade ninguém segura),
 roubou o beijo da boca
 de Bertulina, a donzela.
 Depois de assaltar o beijo,
 perguntou o nome dela.
 — Eu me chamo Bertulina,
 moço, estou muito assustada,
 sou tão moça, inda menina
, nunca antes fui beijada...

 O senhor me assaltou,
não deu tempo pra mais nada...
 Eu não sei o que que eu faço,
 minha boca está molhada
 como o orvalho da flor...
 Será que seu beijo, ó moço,
 em mim pousou... namorou?
 Será que o gesto louco
 teve um pouco de amor?

 – Não sei se é fato, ou fita,
 não sei se é fita, ou fato,
 o fato é que você me fita,
me fita mesmo, de fato!
 – respondeu o cangaceiro
 em brincadeira e risada,
 pulou sobre o seu cavalo
 e partiu em galopada!

 A lua tremeu nos olhos
 De Bertulina, em lágrimas...

 A mocinha ficou louca
 de gosto de amor partido
 no alto do céu da boca!
Nem sabia que o amor
 podia ser cangaceiro,
 podia assanhar desejos
 roubando o beijo primeiro!

 Porque o primeiro beijo
é coisa muito esperada:
 tem que ser algo de manso,
 remanso, lagoa d’água...

 Tem que ter um certo tempo,
 coragem não revelada,
 um perfume de jasmim,
 um não s’esqueça de mim...

 Quando numa noite quente
 a lua ficou inchada,
 o cavaleiro voltou.
 Bertulina espiava de
 dentro de uma paixão.

 O moço viu Bertulina
e quis roubar outro beijo.
 Foi aí que a mocinha
 falou assim pro rapaz:
 Antes de querer meu beijo,
 por favor, moço,
me diga se o beijo é verdadeiro,
 ou se é ousadia,
 assalto de cangaceiro! [...]

 Eu me chamo Doralice
 Bertulina do sertão.
 Comigo só tem poesia
 se rimar no coração.

 Aprendi uma verdade
e verdade não se esquece:
 tudo aquilo que se aceita...
 pois é, a gente merece!

Sylvia Orthof. Cordel adolescente, ó xente! By herdeiros de Sylvia Orthof.
São Paulo, Quinteto Editorial, 1996.
Entendendo o texto:
01 – O cordel, uma narrativa em versos, é um tipo de texto elaborado para ser declamado ou cantado.
a)   O texto que você leu se inicia com uma apresentação. Quem se apresenta ao leitor/ouvinte? Qual o seu nome e o que faz?
Doralice, vende cordel nas feiras.

b)   Qual é a estratégia empregada pela cordelista para atrair a atenção das pessoas para o seu cordel?
Falar tudo rimando.

c)   Qual é o tema do cordel?
Adolescência.

02 – Na 4ª estrofe, a narradora começa a contar a história da garota que amava um cangaceiro.
a)   Que aspectos do cangaceiro são ressaltados nessa estrofe?
Um cabra da peste, valentão do Nordeste.

b)   Que expressão tipicamente nordestina é usada para qualificar o cangaceiro?
Cabra da peste.

c)   Transcreva a expressão da linguagem oral empregada pela narradora. Que significado ela adquire no contexto?
Virge Maria! Ela serve para fazer um par de rimas e para mostrar que a narradora estava impressionada com o cangaceiro.

03 – Ao referir-se à mocinha da história, na 5ª e 6ª estrofes, a narradora não a identifica claramente. Por que ela utiliza esta estratégia?
      Para despertar curiosidade no leitor e falar que a tal menina era pura fantasia.

04 – A primeira vez que Bertulina viu o cangaceiro, algo aconteceu.
a)   Que imagem representa o despertar do amor em Bertulina?
Um dia de azul e noite.

b)   Que verso expressa a emoção incontida desse momento?
“Um luar se balançava num cordel adolescente.”

c)   Que efeito de sentido é decorrente dessa escolha?
Mostra que a história de Bertulina estava em um cordel tipicamente pendurado em um varal, “balançando”.

05 – O cangaceiro é caracterizado na 9ª estrofe.
a)   Que versos mostram o seu jeito de ser?
“Tinha olhos de lonjuras, verduras de olhar miragens, chapéu de couro, facão de abrir caminhos, viagens!”

b)   O que esse trecho revela sobre as características do cangaceiro?
Ele era um homem desbravador, que viajava muito.

06 – A 11ª estrofe narra o momento em que explode a paixão de Bertulina.
a)     Que substantivos empregados nessa estrofe podem ser associados às sensações vividas por Bertulina?
“Trovão”, “faísca”, “fogo”, “brasa”, “fósforo”.

b)     Que sentido os substantivos empregados nessa estrofe atribuem ao momento narrado e consequentemente ao sentimento de Betulina?
Uma “explosão”, ou uma “fogueira” de sentimentos em Bertulina.

07 – Na 13ª estrofe, Bertulina, após o beijo, afirma estar assustada.
a)   Qual a preocupação dela em relação ao beijo?
Se o beijo foi por amor.

b)   Na fala de Bertulina, o que as reticências podem revelar?
Pode significar que ela está assustada e ofegante com o beijo e pode representar que ela pode estar sendo beijada novamente.

08 – Doralice e Bertulina são a mesma pessoa.
a)   Que pistas, no texto, podem levá-lo a concluir isso?
Ela coloca características de si mesmo em Bertulina além de na 21ª estrofe revelar seu nome completo: Doralice Bertulina do Sertão.

b)   Com que objetivo a narradora pode ter usado essa estratégia na sua história.
Mostrar que se pode contar histórias de si mesmo trocando as personagens e colocando uma inventada, não revelando que foi o autor, no caso, que vivenciou essa experiência relatada.


26 comentários:

  1. Muito obrigada ajudou muito sério!!!

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  2. Vlwwww tava com mta duvida, ajudou d+

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  3. Ai gente vou fazer uma prova sobre esse livro amanhã, espero que eu consiga

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