Poema: Lembranças
do mundo antigo
Carlos Drummond
de Andrade
Clara passeava no jardim com as crianças.
O céu era verde sobre o gramado,
a água era dourada sob as pontes, outros elementos eram
azuis, róseos e alaranjados.
O guarda-civil sorria, passavam bicicletas, ...
A menina pisava a relva para pegar um pássaro...
O mundo inteiro, a Alemanha, a China,
tudo era tranquilo em redor de Clara.
As crianças olhavam o céu!
Não era proibido.
A boca, o nariz, os olhos estavam abertos!
Não havia perigos.
Os perigos que Clara temia eram
a gripe, o calor, os insetos...
Clara tinha medo de perder o bonde das 11 horas,
esperava cartas que custavam a chegar,
Nem sempre podia usar vestido novo.
Mas passeava no jardim pela manhã!!!
Havia jardins, havia manhãs, naquele tempo!!!
ANDRADE, Carlos
Drummond de. Lembranças do mundo antigo. In:
___ Sentimento do Mundo, 1940.
Entendendo o poema:
01 – Quem é o autor de “Lembranças do Mundo Antigo”? E de
que livro este poema foi retirado?
Carlos Drummond
de Andrade. Foi retirado do Livro Sentimento do Mundo.
02 – De acordo com o poema, como era o mundo em que Clara vivia?
Clara vivia em um
mundo colorido, em decorrência dos elementos naturais que a rodeiam, algo que
simboliza, no plano metafórico, a felicidade. Além disso, o mundo era seguro,
pois ela podia caminhar livremente, sem temores.
03 – O que se pode
interpretar da passagem “Mas passeava no jardim pela manhã”?
O fato de Clara
“passear pelo jardim” significa que ela era feliz por poder viver livremente,
apesar de não ter acesso a determinadas comodidades da atualidade, como a
agilidade na comunicação, nem poder comprar roupas novas.
04 – A partir da descrição,
no poema, de um mundo que ficou apenas na lembrança, como podemos caracterizar
o “novo” mundo marcado por diferentes transformações?
O poema é
construído por meio do paralelo entre o mundo de Clara, que ficou no passado, e
o mundo presente, que se opõe àquele. Por isso, pode-se inferir que o novo
mundo é marcado pela falta da liberdade para a realização de, até mesmo, coisas
simples, que permeiam o nosso cotidiano.
05 – Observe estes verbos retirados do poema:
Passeava – era – sorria – pisava – olhavam
– estavam – temia – tinha – custavam – havia.
Em que tempo verbal eles foram empregados? Com qual
objetivo?
Os verbos foram empregados no tempo passado, pois o poeta
retrata um mundo que não existe mais, que ficou apenas na lembrança.
06 - Que tipo de descrição prevalece na primeira estrofe do poema? Aponte alguns elementos descritivos presentes nessa estrofe.
A primeira estrofe do poema descreve uma cena do mundo antigo, com vários verbos de ligação (que indicam estado). Mesmo as frases que apresentam verbos de ação concorrem para caracterizar elementos dessa cena. Poderíamos afirmar que o poeta "fotografa" um instante do mundo antigo. Realçar que temos vários fatos ocorrendo em um único momento.
07 - Como em toda descrição, o poema trabalha com apelos sensoriais. Transcreva um verso em que isso ocorre.
A sequência "O céu era verde sobre o gramado./ a água era dourada sob as pontes,/outros elementos eram azuis, róseas, alaranjados," explora a visualidade. Destacar que as cores funcionam sintaticamente como predicativo do sujeito (núcleos dos predicados nominais).
08 - "a menina pisou a relva para pegar um pássaro," Reescreva o verso, acrescentando um apelo à sensação tátil.
Resposta pessoal. O aluno pode acrescentar por exemplo, adjetivos caracterizando a relva (úmida, áspera, macia, etc.) ou o pássaro (quente, macio, úmido, gelado, etc.)
09 - Em que tempo estão os verbos do texto?
A quase totalidade dos verbos está no pretérito imperfeito; a única exceção é pisou, pretérito perfeito.
10 - É possível estabelecer uma relação entre o nome da personagem e o texto?
Ressaltar a estreita relação entre o nome Clara (com as vogais abertas e claras) e a luminosa paisagem matinal daquele mundo antigo.
11 - Como você classificaria os perigos temidos por Clara?
Os perigos (gripe, calor, insetos) eram extremamente banais e, na verdade, nada perigosos.
12 - Ao recordar e descrever o mundo antigo, a poesia trabalha, nas entrelinhas, com um contraste, uma oposição. Qual seria esse contraste?
A esse passado de perigos e temores banais se opõe uma momento presente ameaçador. Essa poesia foi publicada em 1940, em plena Segunda Guerra Mundial.
13- "As crianças olhavam para o céu: não era proibido."
Atentando para o jogo dos contrastes e para o ano em que foi publicada a poesia, como poderíamos interpretar o verso acima?
Ressaltar a oposição: naquele tempo não era proibido olhar para o céu; hoje (1940) é . Durante a Segunda Guerra Mundial, o grande perigo vinha do céu: os arrasadores bombardeios aéreos.
Eu amei esse poema
ResponderExcluireu também
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Excelente 👏👏
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