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sexta-feira, 9 de novembro de 2018

CONTO: OS RATOS(FRAGMENTO) DYONELIO MACHADO - COM QUESTÕES GABARITADAS

Conto: Os ratos (fragmento)      

                 Dyonelio Machado

        “O Horácio prepara o cafezinho. Desde que o governo suspendeu a verba pra o cafezinho, que este é custeado pelos funcionários. Custa um tostão. Naziazeno não quer café. Já tomou um há pouco.
        Ele se dirige para a sua carteira. Na sala, pequena, trabalham mais dois: o primeiro escriturário e o datilógrafo.
        Ambos muito quietos. O primeiro escriturário confere contas. É um serviço que faz há muito tempo. Dispõe de grande prática. Faz cálculos, usa tinta encarnada, bate muitos carimbos. Depois, quando tem já um grupo de contas respeitável, ergue-se e repassa-as uma a uma (com todas as suas ‘primeiras’, ‘segundas’ e ‘terceiras vias’ nos dedos – que ele a cada passo molha nos lábios com um certo ruído. O datilógrafo, quando não está ‘batendo’, lê um livro, aberto dentro da gavetinha ao lado.
        Naziazeno interroga o datilógrafo:
        — O diretor saiu?
        O funcionário levanta os olhos do livro, relanceia-os lentamente pela janela, pousa-os no escriturário:
        — Está na Secretaria – responde este, sem interromper a conferência das contas.
        “— O Cipriano certamente foi buscá-lo. Não tarda, estará aí” – conjetura mentalmente Naziazeno.
        O trabalho de Naziazeno é monótono: consiste em copiar num grande livro cheio de ‘grades’ certos papéis, em forma de faturas. É preciso antes submetê-los a uma conferência, ver se as operações de cálculo estão certas. São ‘notas’ de consumo de materiais, há sempre multiplicações e adições a fazer. O serviço, porém, não exige pressa, não necessita ‘estar em dia’. – Naziazeno ‘leva um atraso’ de uns bons dez meses.
        Ele hoje não tem ‘assento’ pra um serviço desses. É preciso classificar as notas, dispô-las por ordem cronológica e pelas várias ‘verbas’, calcular; depois então ‘lançá-las’ com capricho, ‘puxar’ cuidadosamente as somas... Ele já se ‘refugiou’ nesse trabalho em outras ocasiões. Era então uma simples contrariedade a esquecer... uma preterição... injustiça ou grosseria dos homens... Mesmo assim, quando, nesses momentos, se surpreendia ‘entusiasmado’ nesse trabalho, ordenado e sistemático como ‘um jogo de armar’, não era raro vir-lhe um remorso, uma acusação contra si mesmo, contra esse espírito inferior de esquecer prontamente, de ‘achar’ no ambiente aspectos compensadores, quadros risonhos... Todos aqueles indivíduos que lhe pareciam realizar o tipo médio normal eram obstinados, emperrados, não tinham, não, essa compreensão inteligente e leviana das coisas...”

                  MACHADO, Dyonelio. Os ratos. 12ª ed. São Paulo: Ática, 1992, p. 26-7.
                                                                                                   Profª Macambira 
Entendendo o conto:

01 – UnB-DF, adaptada. De acordo com o texto acima, julgue os seguintes itens:
(F) Pelo texto apresentado, infere-se que a obra da qual ele foi retirado é um romance rural; cujo cenário é o da zona rural.
(V) Muitas das aspas utilizadas no texto revelam a intenção do narrador de ironizar a atividade pelo uso do jargão burocrático ou de destacar um segundo sentido para as expressões utilizadas.
(V) O último parágrafo do texto revela um conceito de trabalho como momento de evasão (= fuga) dos problemas individuais.
(F) O texto é construído pelo foco de um narrador onisciente, que penetra na mente da personagem, decifrando-lhe pensamentos, lembranças, sentimentos e sensações.

02 – Este fragmento literário acima foi retirado de um romance. O que é um romance?
      Narrativa longa com apenas um núcleo.

03 – Defina os protagonistas, a partir do excerto lido.
      Horácio – apresentação indireta, plano, indivíduo. Naziazeno – apresentação direta, esférico, indivíduo.

04 – Leia essa crítica ao livro:
Comentários sobre a obra: Angústia. Esta é a palavra que perfaz todo o romance, contado por um narrador observador que oferece ao leitor, também, os pensamentos da personagem. Em uma entrevista concedida ao jornal Movimento (24/11/1975), Dyonélio Machado fala sobre a angústia, principalmente, infantil: “Se nos prolongássemos às angústias infantis, não chegaríamos à idade adulta”; sendo assim, pode-se encontrar na infância um possível “berço” das angústias, muitas vezes inexplicáveis, que se acometem nos adultos.

Esse excerto provoca angústia? De que tipo? Descreva-a.
      Sim, do tipo que incomoda a pessoa em questões de ser, de existir, de seu trabalho e de toda a sua vida.

05 – Determine em físico / cronológico ou psicológico os seguintes elementos narrativos presentes nesse excerto:
a) Espaço = Físico.
b) Tempo = Psicológico.

06 – Releia: Ele hoje não tem ‘assento’ pra um serviço desses. O termo sublinhado pode ser substituído, sem prejuízo para a frase, por:
a) cadeira.
b) lugar.
c) paciência.
d) tempo.

07 – Assinale o item que caracteriza corretamente fábula:
a) narrativa curta fantasiosa, geralmente com moral no fim da história.
b) narrativa curta de caráter realista flagrando o cotidiano.
c) narrativa curta fantasiosa, trabalha as dificuldades humanas e soluções irreais.
d) narrativa curta, de caráter ficcional, embora bastante verossímil.

08 – Assinale corretamente o item que caracteriza o conto de fadas:
a) narrativa curta fantasiosa, geralmente com moral no fim da história.
b) narrativa curta de caráter realista flagrando o cotidiano.
c) narrativa curta fantasiosa, trabalha as dificuldades humanas e soluções, às vezes, irreais.
d) narrativa curta, de caráter ficcional, embora bastante verossímil.

09 – O enredo pode ser resumido no seguinte item:
a) há uma confabulação política entre as personagens.
b) o cotidiano angustiado e insosso das personagens.
c) há uma disputa declarada e em alto e bom som entre as personagens.
d) N.D.A.

10 – O narrador é: 
a) narrador-protagonista.
b) narrador-onisciente.
c) narrador-personagem.
d) narrador-coprotagonista.







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