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sábado, 15 de setembro de 2018

ARTIGO DE OPINIÃO: VELOCIDADE DA INFORMAÇÃO DESAFIA EDUCAÇÃO MODERNA - MARCELO GLEISER - COM QUESTÕES GABARITADAS


ARTIGO DE OPINIÃO: Velocidade da informação desafia educação moderna
                                 
               MARCELO GLEISER 

        Nós vivemos em um mundo cada vez mais globalizado, numa era onde as pessoas são atacadas por todos os lados com uma quantidade enorme de informação. As barreiras entre os povos e as culturas são constantemente perfuradas (mas quase nunca vencidas) pela força da mídia e do consumismo desenfreado. Hoje em dia, nada mais comum do que vermos um beduíno em seu camelo, com sua calça Levis e óculos Giorgio Armani, entoando uma canção de Elton John. Na testa do camelo, em árabe, vemos a escrita "Lady Di, nós te amamos".
        OK, talvez eu esteja exagerando um pouco. Mas, sem dúvida, é indiscutível a importância que o controle dos meios de informação têm na sociedade moderna. E o mais impressionante é a velocidade com que essa informação é disseminada. Bilhões de pessoas em todo o mundo assistiram à final da Copa (infelizmente), e várias centenas de milhões participam rotineiramente de guerras ou da humilhação de presidentes, sentados confortavelmente em suas salas de estar.
        Parece mentira que foi apenas em 1886 que as primeiras ondas de rádio foram geradas no laboratório pelo grande físico alemão Heinrich Hertz, ou que a primeira transmissão telegráfica através do oceano Atlântico foi enviada em 1901 pelo italiano Guglielmo Marconi. Atualmente, a disseminação de informação conta com toda uma rede de satélites, que, juntamente com incontáveis antenas de transmissão, cobrem praticamente toda a superfície do planeta.
        Essa globalização da informação implica necessariamente a detenção do poder pelas pessoas com acesso, ou, mais ainda, pelas pessoas que criam e disseminam essa informação. Lembro-me do recente filme americano "Mera Coincidência" ("Wag the Dog"), em que um "tycoon" de Hollywood é chamado para desviar a atenção do público americano dos escândalos sexuais do presidente durante a campanha eleitoral (bastante profético, aliás, esse filme...). A solução dos produtores foi simples: inventar uma guerra em um país remoto para sensibilizar a opinião pública.
Informação é poder. E, sem educação, não é possível ter acesso à informação. Mas, simples acesso à informação não é tudo. É necessário que saibamos refletir ativamente sobre a informação recebida, e não só recebê-la passivamente. Caso contrário, podemos nos tornar alvo de uma "realidade fabricada", como aquela apresentada comicamente no filme.
        Daí o papel do educador, não só de transmitir informação, mas também de convidar sua audiência à reflexão, ensinando tanto os métodos necessários para tal como também a arte de duvidar. Educação é um processo de colaboração ativa entre o educador e sua audiência. Na minha opinião, o educador mais bem-sucedido é aquele que desperta em sua audiência o desejo de querer sempre aprender mais e a capacidade de criticar racionalmente aquilo que se está aprendendo. Sob esse prisma, a educação moderna pode não só se beneficiar do fácil acesso à informação, como também "filtrar" a desinformação.
        A globalização da informação provoca uma fragilidade em sua própria audiência. Nós nos tornamos alvo em uma galeria de tiro e só podemos nos safar se soubermos pensar por nós mesmos. Uma sociedade educada é a que poderá tomar decisões que afetam seu futuro de modo coerente. Eis aqui alguns exemplos, ligados à educação científica. Devemos ou não interceder nas pesquisas da engenharia genética, que, com o desenvolvimento de processos de clonagem ou de cirurgia genética em fetos, levanta sérias questões éticas para a sociedade? Devemos ou não apoiar o desenvolvimento de tecnologias nucleares no espaço? Devemos ou não interceder junto ao governo para um maior controle da emissão de gases industriais, de modo a evitar graves mudanças climáticas no futuro? E os asteroides? Vão cair ou não em nossas cabeças?

Marcelo Gleiser é professor de física teórica do Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor do livro "A Dança do Universo"
Entendendo o texto:

01 – O texto de Marcelo Gleiser é um texto argumentativo que se constrói como toda argumentação por meio de um raciocínio lógico – silogismo.
a)Pode-se dizer que a premissa maior diz respeito ao fato de que se as pessoas não refletirem sobre a avalanche de informações a que tem acesso podem se tornar alvos de uma “realidade fabricada”? Justifique.
      A premissa maior se identifica com ‘A Globalização gera pessoas fabricadas’. O primeiro parágrafo inteiro do texto justifica esta premissa (além de outros trechos, inclusive mais explícitos, como “É necessário que saibamos refletir ativamente sobre a informação recebida, e não só recebê-la passivamente. Caso contrário, podemos nos tornar alvo de uma "realidade fabricada"”), usando a estratégia argumentativa de exemplificação para mostrar como somos alvos da globalização, reproduzindo aspectos culturais de países dominantes, sem questionar, sem nem sequer ‘adaptá-los’ à nossa cultura.

b) O que significa “realidade fabricada” para o articulista? Justifique sua opinião, apresentando argumentos que a sustente.
      Realidade fabricada representa a absorção de uma cultura que não é a nossa e, consequentemente, padronização de pessoas, de opiniões e pensamentos. Começamos usando uma roupa que não pertence à nossa cultura (calça Levis e óculos Giorgio Armani) e acabamos agregando os valores dessa outra cultura (Lady Di, nós te amamos), sem sequer questionar, sem sequer pensar se isso reflete realmente nossa opinião, quem somos. Com isso, tornamo-nos robôs, hábitos e mentes fabricadas, padronizadas por uma cultura superficial e alienante.

c) Se a premissa menor está relacionada ao fato de a globalização da informação impedir as pessoas de refletir ativamente sobre a informação recebida, qual seria a conclusão para fechar o raciocínio silogístico na construção do texto? Explique.
      Tendo como premissa maior o fato de que a globalização fabrica comportamentos e, como premissa menor, o de que a globalização impede que as pessoas reflitam sobre essa fabricação, a conclusão é a mesma que encerra o texto (começa a se desenrolar no 5º parágrafo e fica explícita nos 2 últimos parágrafos do texto), de que somente a educação crítica e reflexiva poderá alterar esta realidade; somente quando as pessoas forem incentivadas a julgar e a pesar os falsos valores que lhes são impostos, elas viverão a sua realidade e não a que lhes é esmagadoramente imposta.

02 – Identifique no segundo parágrafo do texto o termo linguístico que revela que o articulista negocia com o leitor.
      O termo linguístico que representa uma negociação do autor com o leitor é “OK, talvez eu esteja exagerando um pouco.”, em que ele cria uma interlocução, como se estivesse conversando com o leitor.

03 – Identifique, no texto, argumentos usados pelo articulista que são baseados em exemplos.
      O primeiro parágrafo é praticamente todo exemplificativo, há ainda outras passagens, por exemplo esta: “Lembro-me do recente filme americano "Mera Coincidência" ("Wag the Dog"), em que um "tycoon" de Hollywood é chamado para desviar a atenção do público americano dos escândalos sexuais do presidente durante a campanha eleitoral”.

04 – A contra argumentação pode ser feita por meio de verbos e expressões que atenua uma informação excessivamente forte, usando verbos e expressões que modalizam o discurso. Essa é uma forma de se proteger dos possíveis contra-argumentos.
Identifique no quinto parágrafo um exemplo para a afirmação acima.
      Quando o autor diz “Informação é poder. E, sem educação, não é possível ter acesso à informação.” Ele faz uma concessão, expõe em seu texto, vozes contrárias à sua argumentação, que poderiam alegar, por exemplo, que a globalização propicia um enorme acesso à informação, que é algo tão crucial na era em que vivemos. Porém, ele já rebate essas possíveis opiniões contrárias, seguindo no texto “Mas, simples acesso à informação não é tudo. É necessário que saibamos refletir ativamente sobre a informação recebida, e não só recebê-la passivamente.” em que os termos sublinhados em negrito modalizam sua contra argumentação.


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