REPORTAGEM: O REMÉDIO É BRINCAR
Sérgio Rizzo
Quantas crianças de hoje, quando os
pais lhes perguntam se querem brincar (em casa, na rua) ou ir até
um shopping center, optam pela segunda alternativa? A julgar pelo número
elevado de crianças em shoppings, principalmente nos fins de semana,
inúmeras delas preferem circular por um lugar inteiramente pautado pelos
valores da sociedade de consumo (todo fechado, com iluminação artificial) a se
entregar a outro modo, menos previsível e mais inventivo, de gastar (investir?)
o tempo. Sem contar aquelas cujos pais nem mesmo cogitaram a primeira opção...
Quem associa lazer e tempo livre ao
verbo consumir talvez reveja algumas de suas crenças e posturas ao ver o
documentário brasileiro Tarja Branca: a revolução que faltava, que faz uma
defesa eloquente da brincadeira – lúdica, descompromissada, criativa – não
apenas na infância, mas também na vida adulta. Dezenas de entrevistados (entre
eles os músicos Antônio Nóbrega e Wandi Doratiotto, e os escritores Braulio
Tavares, colunista de Carta Fundamental, e Marcelino Freire) lembram, em
seus depoimentos ao filme, o que a vida cotidiana perde ao se esquecer do que
todos sabíamos muito bem quando éramos crianças.
Uma das perguntas-chave do
documentário: saberão disso também as crianças de hoje, boa parte delas vivendo
em centros urbanos voltados para o trabalho e o consumo? Dirigido por Cacau
Rhoden e produzido pela Maria Farinha Filmes (a mesma de Criança, a Alma
do Negócio e Muito Além do Peso), Tarja Branca, cujo título refere-se a
uma divertida “medicina psicolúdica”, proposta em um dos depoimentos – sugere,
ao apresentar visões diversas sobre o tema, que a educação contemporânea se
apropriou da brincadeira, sobretudo na escola, como um “conteúdo programático”.
Tirou-lhe, portanto, o que havia de mais essencial, o improviso e a falta de
regras, para cercá-la de planejamento e cuidados.
Como resultado dessa política, teríamos
uma geração de crianças, especialmente das classes média e alta, que não foi
devidamente apresentada ao universo brincante, ou à “linguagem do espontâneo,
da alma”, como resume um dos entrevistados. Pais e professores tendem a extrair
do filme reflexões sobre como se comportam em relação ao tema com seus filhos e
alunos, mas a provocação de Rhoden pode despertar interesse também entre o
público que não se encaixa em nenhum desses papéis, ao fazer um diagnóstico da
sociedade de consumo, intolerante, em sua lógica perversa, com a cultura do
ócio ou com o “ficar sem fazer nada”.
Sérgio Rizzo (Adaptado
de: cartafundamental.com.br)
Entendendo o texto:
01 – Um aspecto importante
da atividade de brincar considerado pelo autor é:
A) ocorrer em um
parque
B) obedecer a um
programa
C) prezar pela
espontaneidade
D) manter papéis de pai e
professor
E) submeter-se a regras
pedagógicas
02 – De acordo com o autor,
o documentário mencionado pode contribuir para:
A) desfazer
associação entre consumo e lazer
B) reforçar crenças
pedagógicas contemporâneas
C) desautorizar a visão dos
artistas sobre o tema
D) culpar os professores
pela indisciplina fora da escola
E) responsabilizar os pais
por filhos excessivamente mimados
03 – Na visão do autor, o
filme “Tarja Branca” apresenta reflexões principalmente para:
A) recreadores de festas
infantis
B) pais e professores
C) pesquisadores
interessados em regular as brincadeiras
D) músicos saudosos de sua
própria infância
E) diretores de cinema
vanguardistas
04 – Na primeira frase do
texto, o comentário entre parênteses sugere a seguinte crítica:
A) os pais não levam em
consideração a opinião de seus filhos
B) as crianças pouco
estudiosas não sabem responder a perguntas fáceis
C) os shoppings
não são locais adequados para as crianças brincarem
D) as meninas se interessam
mais facilmente por roupas e sapatos
E) os meninos já não gostam
mais tanto de futebol como gerações anteriores
05 – Uma crítica à educação
contemporânea feita pelo autor pode ser sintetizada pela seguinte frase:
A) Pedagogos são coniventes
com a violência entre alunos.
B) A escola
planeja excessivamente o ato de brincar.
C) As famílias prejudicam a
imposição natural de regras.
D) A medicalização das
crianças é uma prática recorrente.
E) As crianças de classe
média têm menos limite em suas brincadeiras
06 – No trecho “gastar
(investir?) o tempo”, a dúvida introduzida pelos parênteses indica:
A) emprego de estilo
literário
B) citação de um texto
científico
C) introdução de sinônimos
perfeitos
D) explicitação de
ponto de vista alternativo do autor
E) visão excessivamente
economicista dos pedagogos
07 – O trecho “cujos pais
nem mesmo cogitaram a primeira opção” mantém seu sentido global em:
A) cujos pais nem
mesmo consideraram a primeira opção
B) cujos pais nem mesmo
rejeitaram a primeira opção
C) cujos pais nem mesmo
ignoraram a primeira opção
D) cujos pais nem mesmo
denunciaram a primeira opção
E) cujos pais nem mesmo
impuseram a primeira opção
08 – Em “todos sabíamos
muito bem” (2º parágrafo), o emprego do tempo e do modo no verbo pressupõe a
seguinte ideia:
A) talvez não
saibamos mais
B) com certeza continuamos
sabendo
C) saberemos sempre
D) seguramente não sabemos
mais
E) claramente deixamos de
saber
09 – No trecho “reveja
algumas de suas crenças e posturas ao ver o documentário” (2º parágrafo), o
elemento “ao” expressa ideia de:
A) lugar
B) comparação
C) tempo
D) oposição
E) negação
10 – Para interpretar
adequadamente o fragmento “uma defesa eloquente da brincadeira” (2º parágrafo),
o leitor pode substituir a palavra “eloquente” por:
A) clara
B) discutível
C) mediada
D) inconsistente
E) constrangedora
11 - No trecho “como resume
um dos entrevistados” (4º parágrafo), a palavra “como” introduz uma ideia
de:
A) causa
B) comparação
C) explicação
D)
conformidade
E) consequência
12 – Em “Como resultado
dessa política”, o pronome “essa” retoma a seguinte ideia:
A) excesso de democratismo
dos pais
B) julgamentos precipitados
dos professores
C) regulação
sistemática das brincadeiras
D) medicina não levada a
sério
E) escolha dos artistas como
principais ídolos.
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