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sexta-feira, 22 de junho de 2018

TEXTO: O SEGREDO DA AVENIDA REBOUÇAS - NANDO REIS - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO

Texto: O Segredo da Avenida Rebouças


        Quando eu era pequeno, minha mãe tinha uma linda bolsa de contas brancas, com uma alça curta de argolas, parecida com uma corrente, e um sistema de abrir que era formidável. Lembro que essa bolsa me marcou. Eu achava que minha mãe ficava linda quando a usava. Naquela época, a gente morava em São Paulo, perto de uma avenida chamada Rebouças. Nunca entendi direito o que queria dizer esse nome.
    

           Era um nome estranho, diferente das ruas que têm nome de gente (em geral, de gente que a gente nunca sabe quem foi) ou das ruas que têm nome de datas importantes.
        Mais tarde, quando comecei a viajar pelo Brasil, por causa do meu trabalho, encontrei muitas ruas com o mesmo nome em cidades diferentes. Toda cidade tem uma rua, que em geral é uma avenida, chamada “7 de Setembro”. Nas cidades pequenas, quase sempre é a rua principal, ao lado da matriz. Matriz é a igreja mais importante, a maior, que fica numa praça no centro das cidades.
         Além das ruas “7 de Setembro”, sempre há uma rua “XV de Novembro” (esse XV quer dizer 15, como os romanos escreviam os números antigamente). Tanto 7 de setembro como 15 de novembro são datas importantes da História do Brasil. São o Dia da Independência e o da Proclamação da República. Por isso, viraram nomes de ruas.
        Mas há outras datas tão ou mais importantes que nunca vi em rua nenhuma. Uma delas é 25 de dezembro, dia do Natal. Alguém conhece alguma rua chamada “25 de Dezembro”? Tudo bem que é uma festa de uma religião e há pessoas de outras religiões que não comemoram o Natal. Mas, de qualquer maneira, mexe com todo mundo e é feriado quase em todos os países. Certamente o dia 25 de dezembro é mais importante do que o dia 9 de julho (dia da Revolução Constitucionalista). No entanto, há sempre uma avenida “9 de Julho”.
        E, se o motivo principal para as pessoas virarem nome de rua é a importância do seu feito, por que não temos uma enxurrada de ruas “Pedro Álvares Cabral”? Afinal, foi o Pedro quem descobriu o Brasil.
        Mas, voltando a avenida Rebouças, descobri que existe um túnel no Rio de Janeiro com esse nome. E continuo a saber o que ele significa. Como desde pequeno a avenida Rebouças me faz lembrar da bolsa de contas brancas da minha mãe, decidi que o nome Rebouças, para mim, quer dizer “A Bolsa de Novo”.
        Querem saber por quê? Oras, quando você refaz uma coisa, isso quer dizer que você faz de novo. Quando você lembra, você lembra de novo. Quando você recomeça, você começa de novo. Então, “Re-bouças”, seria o mesmo que dizer. A bolsa de contas brancas de novo. Dessa maneira, quando desço a avenida ou atravesso o túnel, é como se eu estivesse vendo aquela linda bolsa de novo, no banco do carro, ou no colo de minha mãe. E isso me dá uma grande sensação de alegria.
        Acho que para cada um de nós acontecem coisas desse tipo. Algumas palavras que, quando você ouve, te fazem pensar numa outra coisa completamente diferente do que ela significa. E daí, pra você, é como se ela tivesse um sentido secreto. Tente se lembrar de palavras desse tipo. Como requeijão. Será que não é “queijo de novo”? Não sei. Pense nas palavras dessa maneira e tenho certeza de que você vai se divertir.

             Nando Reis. Revista Zá. São Paulo: Pinus, n. 1, julho, 1996.

Entendendo o texto:
01 – Com uma única palavra, indique qual a sua primeira impressão sobre o texto.
      Resposta pessoal do aluno.

02 – Qual é o assunto do texto?
      O assunto do texto é sobre palavras que, ao serem ouvidas, nos fazem pensar numa outra coisa. Além disso, o autor faz comentários sobre nomes de ruas.

03 – Qual é “o segredo da avenida Rebouças”?
      Para o narrador, lembra a bolsa da mãe, juntamente com uma grande sensação de alegria.

04 – Que expressões o autor utiliza para caracterizar a palavra Rebouças?
      A bolsa de novo, nome estranho.

05 – O que levou o narrador a considerar que “Rebouças” significava “bolsa de novo”?
      Se refazer é fazer de novo, se relembrar é lembrar de novamente, se recomeçar é começar de novo, então “Re-bouças” é o mesmo que dizer “A bolsa de novo”.

06 – Explique com suas palavras o que o narrador do texto quis dizer com as ideias apresentadas no último parágrafo.
      Resposta pessoal do aluno.

07 – Releia o segundo parágrafo e responda:
a)   A que público leitor o autor do texto se dirige?
Pessoas muito jovens (crianças e pré-adolescentes) devido à simplicidade da linguagem.

b)   Como você chegou a essa conclusão?
Resposta pessoal do aluno.

08 – Como você pode comprovar que o texto é uma história e está escrita em primeira pessoa?
      O texto foi estruturado na forma de um relato. Para isso, foram criadas personagens que se situam num tempo e num espaço. Entre elas, se destaca o narrador-personagem, responsável pelo relato. Daí o emprego da 1ª pessoa: “Quando eu era pequeno” ... “descobri que existe um túnel” ...

09 – Para você qual é a data mais importante, relatada no texto? Justifique.
      Resposta pessoal do aluno.

10 – Que outras ruas você conhece que indicam datas ou acontecimentos importantes da história de nosso país?
      Resposta pessoal do aluno.

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