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sexta-feira, 4 de maio de 2018

CRÔNICA: AMARREM OS CINTOS E NÃO FUMEM - CARLOS EDUARDO NOVAES - COM GABARITO

CRÔNICA: AMARREM OS CINTOS E NÃO FUMEM
                      Carlos Eduardo Novaes

     
  “Atenção, senhores passageiros para o Leblon, queiram apresentar-se ao poste de embarque”. Me despedi rapidamente das duas tias, três primos, uma cunhada, ouvi as apressadas recomendações de minha mãe para que ficasse sempre atento olhando pela janelinha e antes de entrar ainda acenei dos degraus do ônibus. Instalei-me, obedecendo ao painel luminoso que dizia “aperte os cintos e não fume”. Logo depois o motorista acionou os motores, (…) e só não levantou voo pela Rua do Catete porque os engarrafamentos não deram espaço para a decolagem.
        Não tínhamos ainda nem fechado dez carros e o trocador veio à frente do ônibus explicando que como iríamos passar pela orla marítima teríamos que aprender – para qualquer emergência – a colocar o colete salva-vidas. O senhor ao meu lado ouvia atento o trocador. Pensei que talvez estivesse fazendo sua primeira viagem de ônibus.
        – É verdade, para o Leblon é a primeira. – E interrompido por uma brusca freada, aproveitou para perguntar se a viagem era toda assim.
        – Só nos sinais – respondi.
        – E tem muitos sinais até o Leblon?
        – Uns 500. Deve ter mais sinal do que rua.
        À minha frente, uma senhora quis saber do trocador se estávamos no horário. “Estamos atrasados uns quinze minutos” - disse ele. “E se não pegarmos mais do que seis congestionamentos poderemos chagar ao Leblon por volta das oito horas”. Para quebrar um pouco a tensão da viagem, aproveitei e perguntei à senhora o que iria fazer no Leblon.
        – Vou visitar uma tia. E o senhor?
        – Eu vou a negócios (se for bem sucedido – pensei, mas não disse – volto de táxi).
        Era evidente que o meu vizinho não estava preparado para a viagem. Quando abalroamos o terceiro carro, ameaçou saltar. Levantou-se, mas ao olhar para fora percebeu que estávamos em cima do viaduto. Ficou lívido. Querendo distraí-lo, ainda comentei: “É bonita a vista daqui, não?” – Ele não me ouviu. Estava preocupado com os roncos e os mais estranhos ruídos que saíam do ônibus: “Que barulho é esse?” indagou.
        – É do ônibus mesmo – disse um cidadão sentado atrás.
        – Mas esse ônibus está em péssimo estado – comentou meu vizinho.
        – É verdade – voltou o cidadão que gostava de frases feitas – mas não se esqueça que cada coletividade tem um coletivo que merece.
        A viagem prosseguiu normal, ou seja: cheia de solavancos, batidas, freadas súbitas e imprudências – a curva que fizemos ao entrar na Barata Ribeiro foi de deixar envergonhada a Esquadrilha da Fumaça. Às 11 horas, então, desembarcamos no Leblon. Antes do ônibus parar, observei pela janelinha que todos os meus parentes que moram no bairro estavam me aguardando. Me despedi do motorista, do trocador e desci à procura de um telefone.
        – Um telefone para quê? perguntou meu primo que pratica surf.
        – Pra avisar lá em casa que cheguei vivo.

CARLOS EDUARDO NOVAES. Travessia da Via Crucis.
Rio de Janeiro, Editorial Nórdica, 1975.

Entendendo o texto:
01 – Damos algumas definições através das quais você deve localizar, no texto, as palavras que se enquadram nelas.
a) pôr em movimento: Acionar.
b) beira, margem: Orla.
c) algo acontecido, ocorrido: Sucedido.
d) ir de encontro, chocar-se violentamente: Abalroar.
e) pálido: Lívido.
f) que surgem sem ser previstas: Súbitas.

02 – Ao dizer: “Atenção, senhores passageiros para o Leblon, queiram apresentar-se ao poste de embarque”, o Autor está ironizando, utilizando a forma de convocar os passageiros de outro veículo de transporte. Que veículo é esse?
      O avião.

03 – Em que outros momentos do texto o Autor compara, ironicamente, o ônibus ao avião? Transcreva os trechos.
      “Aperte o cinto e não fume”; “… e só não levantou voo pela Rua do Catete porque os engarrafamentos não deram espaço para a decolagem”; “…colocar o colete salva-vidas.”

04 – O que são frases feitas? Retire um exemplo do texto.
      São frases organizadas com determinadas palavras que encerram uma ideia. São também conhecidas como “ditos populares” tais como: “Cada macaco no seu galho”, “Quem ama o feio, bonito lhe parece”. No texto encontramos: “Cada coletividade tem o coletivo que merece”.

05 – O que o Autor entende por viagem normal, no texto?
      Viagem “cheia de solavancos, batidas, freadas súbitas e imprudência…”

06 – Que tipo de crítica faz o Autor no texto?
      Critica a velocidade exagerada dos ônibus, na cidade do Rio de Janeiro.

07 – Qual a sua opinião e o que deve ser feito a respeito de um motorista de ônibus que exagera na velocidade ao dirigir o veículo?
      Resposta pessoal do aluno.
  

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