POEMA - A
Bruxa
Carlos Drummond de Andrade
Nesta cidade do Rio,
De dois milhões de habitantes,
Estou sozinho no quarto
Estou sozinho na América.
Estarei
mesmo sozinho?
Ainda há pouco um ruído
Anunciou vida a meu lado.
Certo não é vida humana,
Mas é vida. E sinto a bruxa
Presa na zona de luz.
De dois milhões de habitantes!
E nem precisava tanto...
Precisava de um amigo,
Desses calados, distantes,
Que leem verso de Horácio
Mas secretamente influem
Na vida, no amor, na carne.
Estou só, não tenho amigo,
E a essa hora tardia
Como procurar amigo?
E nem precisava tanto.
Precisava de mulher
Que entrasse nesse minuto,
Recebesse este carinho,
Salvasse do aniquilamento
Um minuto e um carinho loucos
Que tenho para oferecer.
Em
dois milhões de habitantes,
Quantas mulheres prováveis
Interrogam-se no espelho
Medindo o tempo perdido
Até que venha a manha
Trazer leite, jornal e calma.
Porém a essa hora vazia
Como descobrir mulher?
Esta cidade do Rio!
Tenho tanta palavra meiga,
Conheço vozes de bichos,
Sei os beijos mais violentos,
Viajei, briguei, aprendi.
Estou cercado de olhos,
De mãos, afetos, procuras.
Mas me tento comunicar-me,
O que há é apenas a noite
E uma espantosa solidão.
Companheiros,
escutai-me!
Essa presença agitada
Querendo romper a noite
Não é simplesmente a bruxa.
É antes a confidência
Exalando-se de um homem.
Carlos
Drummond de Andrade. Antologia poética. 60. Ed.
Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. P. 28-29.
Entendendo o poema:
01 – Na primeira estrofe, o eu lírico
fala sobre o quê?
O eu lírico, morador de uma grande
metrópole, fala sobre sua solidão.
02
– Releia a segunda estrofe do poema.
a)
A partir desse momento, o eu lírico passa a refletir sobre o que?
Com que objetivo ele faz isso?
O eu lírico passa a questionar se está,
de fato, sozinho em uma cidade de dois milhões de habitantes. Ele busca
compreender o que se passa com ele.
b)
Quem é ou o que é a “Bruxa” mencionada na estrofe? Como você
chegou a essa conclusão?
A “bruxa” a que o eu lírico se refere é
uma mariposa de cor escura. O eu lírico diz que escutou um ruído que anuncia
vida, mas não vida humana.
c)
Observe esse trecho.
[....] E sinto a bruxa/ presa na zona de
luz.
O verbo sinto sinaliza a relação que o eu
lírico estabelece com a Bruxa. Como é essa relação?
O
eu lírico não vê a bruxa, mas a sente, isto é, ele estabelece uma relação de
cumplicidade com ela.
03 – No poema, o eu lírico fala sobre
algumas de suas necessidades.
a)
Que necessidades são essas?
O eu lírico fala sobre a necessidade de
amizade e de amor.
b) Por que não é possível ao eu lírico
procurar aquilo de que precisa?
- Releia as perguntas retóricas da
terceira e da quinta estrofes.
Porque ele
se encontra em uma hora tardia e vazia, isto é, é tarde e não há o que fazer.
c)O que acontece com o eu lírico quando ele
tenta procurar o que precisa?
-
Releia principalmente a sexta estrofe.
Ele não
consegue se comunica com os outros.
04 – No poema, a noite adquire
aspecto negativo ou positivo? Justifique.
A noite apresenta um aspecto negativo
para o eu lírico, pois ela é caracterizada como “hora vazia”, angustiante, de
“espantosa solidão”.
05 – Releia o quinto e o sexto versos
da quinta estrofe. Por que “leite, jornal e calma” aparecem juntos,
relacionados à manhã?
A manhã é um alento, um alívio para a
angústia sentida principalmente durante a noite. O leite e o jornal remete às
atividades rotineiras do eu lírico, com as quais se sentem confortável.
06 – Releia este outro
trecho:
“Quantas
mulheres prováveis
Interrogam-se
no espelho
Medindo
o tempo perdido.”
a) Essas mulheres foram percebidas
pelo eu lírico como a bruxa, ou são fruto de sua reflexão?
As “mulheres prováveis” são fruto da
reflexão do eu lírico.
b) Nesse trecho, o eu lírico
demonstra crer que o sentimento de solidão é apenas dele? Explique.
Não. Ele mostra crer que naquele
momento, muitas mulheres provavelmente sentem-se igualmente solitárias.
07 – Os dois
últimos versos dão ao poema um caráter confessional. Por que a confidência,
algo tão íntimo, teria interesse para os leitores?
Porque
os temas abordados são abrangentes, de interesse geral, e porque a forma como a
confidência se apresenta é atraente, com exploração de imagens poéticas.
08 – Esse poema foi escrito
na década de 1930.
a)
O que ele revela sobre os homens e as mulheres daquele tempo?
O poema fala de homens e mulheres
solitários que não conseguem se comunicar, embora necessitam disso.
b) Em sua opinião, essa
caracterização vale ainda para os homens e as mulheres do nosso tempo?
Você compartilha ou já
compartilhou dessa mesma sensação?
Ainda hoje essa sensação de solidão é
vivida pelos moradores dos grandes centros urbanos.
09 – Há, no poema, elementos que
o aproximam das crônicas dos capítulos anteriores. Quais?
O diálogo com o leitor, a subjetividade, o
caráter episódico e uma reflexão mais genética.
Bem pratica
ResponderExcluirObgdão ae🙏
ResponderExcluirShow
ResponderExcluirObrigada😍
ResponderExcluir2- Releia a sexta estrofe
ResponderExcluira- O que o eu lírico sugere no sexto e no sétimo versos da estrofe?
b- De que forma o eu lírico se refere às pessoas nesses versos?
parabens!!!
ResponderExcluirobrigada!😘
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