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sexta-feira, 4 de maio de 2018

CRÔNICA: EU SEI, MAS NÃO DEVIA - MARINA COLASANTI - COM GABARITO

Crônica: Eu sei, mas não devia
              Marina Colasanti


           Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.
        A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
        A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
        A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.
        A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
        A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
        A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
        A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.
    A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.
     A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

                                     Foi extraído do livro "Eu sei, mas não devia",
                                  Editora Rocco – Rio de Janeiro, 1996, pág. 09.

Entendendo a crônica:
01 – A crônica apresenta uma questão relacionada ao cotidiano do homem urbano na atualidade.
a)   Qual é essa questão?
A questão da pressa, da vida corrida, a qual nos acostumamos e “deixamos de viver”.

b)   Que situações, acontecimentos e atitudes apontados no texto, no seu entender, a maioria das pessoas se habitua a ver sem refletir sobre elas?
Acordar cedo atrasado, tomar café de pé, ler jornal no ônibus, entre outras infinitas situações.

c)   Na sua opinião, por que a maioria das pessoas acostuma-se a agir assim?
Isso se torna parte da vida de um ser humano moderno que fica difícil não acostumar com essa rotina.

02 – No texto, a cronista não se limita a descrever imparcialmente o cotidiano do homem urbano; ela narra expondo suas ideias e sua emoção a respeito dele.
a)   Que frase evidencia a consciência da cronista sobre o assunto?
“Eu sei, mas não devia”.

b)   Como ela se mostra diante das situações relatadas na crônica?
Se mostra como se tudo fosse normal para não sofrer.

03 – Nesse texto, a cronista apresenta seu ponto de vista sobre o fator de o ser humano acostumar-se a morar em apartamentos com janelas que têm vista para muros e paredes.
a)   Qual a consequência dessa situação?
A gente se acostuma com a rotina, sem questionar o mundo para poupar a vida, deixando de viver intensamente, passando a ser robôs.

b)   Na sua opinião, que outras situações do cotidiano podem ter essa mesma consequência para as pessoas?
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: É porque as pessoas só tem sua rotina e mais nada.

04 – No terceiro parágrafo, refere-se a comportamentos que fazem parte da rotina das pessoas.
a)   Que fatores justificam esses comportamentos, segunda ela?
Pelo fato da pessoa estar acostumada com tudo, as guerras, fome, e todas as desgraças mais.

b)   Que frase neste parágrafo resume (sintetiza) a vida de quem age assim?
“A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre as guerras. E aceitando a guerra aceita os mortos, e que haja números para os mortos”.

05 – No sexto parágrafo, a cronista revela o que pensa sobre a publicidade.
a)   Qual é a tese (ideia) dela?
A tese é que essas propagandas e essas infinidades de produtos nos lançam a comprar e comprando, nos endividamos cada vez mais.

b)   Você concorda ou discorda do ponto de vista apresentado? Por quê?
Sim, a ilusão das propagandas nos “fascinam” e essa “fascinação” nos leva a gastar e gastando temos que trabalhar para pagar os gastos, é esse trabalhar nos leva a essa vida corrida.

06 – O sétimo parágrafo é dedicado a poluição.
a)   Que recurso, na construção do texto, a cronista emprega para sensibilizar o leitor?
Ela fez uma crônica que fala sobre o dia-a-dia das pessoas. Ela nos fez refletir, pois nos acostumamos a tudo, inclusive a essa vida “virtual”.

b)   Das situações apresentadas qual mais o(a) sensibilizou? Por quê?
“Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.”
Essa frase me sensibilizou, pois de tanto acostumarmos a esse modo de vida, quando voltamos a um modo de vida saudável, nos damos conta que estamos completamente perdidos.

21 comentários:

  1. Que consequências esse comportamento traz parada pessoas

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  2. Amei Muito,É Muito Bom Mesmo❤️

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  3. ajudou muito valeum ein

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  4. Síntese do primeiro parágrafo
    A gente se a costuma

    A) a esperança, a ilusão
    B) Á VELHICE, AO ABANDONO
    C) Á DOR A AGONIA
    D) Á TRISTEZA, À DESILUSÃO

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  5. Poderia me ajudar em um texto pequeno por favor

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  6. No decorrer do texto, a autora fala de sucessivas perdas que vão resultando no aviltamento da qualidade de vida das pessoas. Há, entretanto, uma perda maior que todas as outras. Qual? Por que ela ocorre?

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  7. Nesse texto, a autora fala que o homem lê o jornal no ônibus porque
    não abre as cortinas de seu apartamento.
    não tem tempo para almoçar.
    precisa aproveitar o percurso da viagem.
    acorda apressado de manhã.
    não consegue aproveitar o dia.

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