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domingo, 15 de abril de 2018

CONTO: O HOMEM CUJA ORELHA CRESCEU - IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO - COM GABARITO

CONTO: O HOMEM CUJA ORELHA CRESCEU
                   Ignácio de Loyola Brandão


   Estava escrevendo, sentiu a orelha pesada. Pensou que fosse cansaço, eram 11 da noite, estava fazendo hora extra. Escriturário de uma firma de tecidos, solteiro, 35 anos, ganhava pouco, reforçava com extras. Mas o peso foi aumentando e ele percebeu que as orelhas cresciam. Apavorado, passou a mão. Deviam ter uns dez centímetros. Eram moles, como d cachorro. Correu ao banheiro. As orelhas estavam na altura do ombro e continuavam crescendo. Ficou só olhando. Elas cresciam, chegavam à cintura. Finas, compridas, como fitas de carne, enrugadas. Procurou uma tesoura, ia cortar a orelha, não importava que doesse. Mas não encontrou, as gavetas das moças estavam fechadas. O armário de material também. O melhor era correr para a pensão, se fechar, antes que não pudesse mais andar na rua. Se tivesse um amigo, ou namorada, iria mostrar o que estava acontecendo. Mas o escriturário não conhecia ninguém a não ser os colegas de escritório. Colegas, não amigos. Ele abriu a camisa, enfiou as orelhas para dentro. Enrolou uma toalha na cabeça, como se estivesse machucado.
          Quando chegou na pensão, a orelha saía pela perna da calça. O escriturário tirou a roupa. Deitou-se, louco para dormir e esquecer. E se fosse ao médico? Um otorrinolaringologista. A esta hora da noite? Olhava o forro branco. Incapaz de pensar, dormiu de desespero.
          Ao acordar, viu os pés da cama o monte de uns trinta centímetros de altura. A orelha crescera e se enrolara como cobra. Tentou se levantar. Difícil. Precisava segurar as orelhas enroladas. Pesavam. Ficou na cama. E sentia a orelha crescendo, com uma cosquinha. O sangue correndo para lá, os nervos, músculos, a pele se formando, rápido. Às quatro da tarde, toda a cama tinha sido tomada pela orelha. O escriturário sentia fome, sede. Às dez da noite, sua barriga roncava. A orelha tinha caído para fora da cama. Dormiu.
          Acordou no meio da noite com o barulhinho da orelha crescendo. Dormiu de novo e quando acordou na manhã seguinte, o quarto se enchera com a orelha. Ela estava em cima do guarda-roupa, embaixo da cama, na pia. E forçava a porta. Ao meio-dia, a orelha derrubou a porta, saiu pelo corredor. Duas horas mais tarde, encheu o corredor. Inundou a casa. Os hóspedes fugiram para a rua. Chamaram a polícia, o corpo de bombeiros. A orelha saiu para o quintal. Para a rua.
          Vieram os açougueiros com facas, machados, serrotes. Os açougueiros trabalharam o dia inteiro cortando e amontoando. O prefeito mandou dar a carne aos pobres. Vieram os favelados, as organizações de assistência social, irmandades religiosas, donos de restaurantes, vendedores de churrasquinho na porta do estádio, donas de casa. Vinham com cestas, carrinhos, carroças, camionetes. Toda a população apanhou carne de orelha. Apareceu um administrador, trouxe sacos de plástico, higiênicos, organizou filas, fez uma distribuição racional.
          E, quando todos tinham levado carne para aquele dia e para os outros, começaram a estocar. Encheram silos, frigoríficos, geladeiras. Quando não havia mais onde estocar a carne de orelha, chamaram outras cidades. Vieram novos açougueiros. E a orelha crescia, era cortada e crescia, e os açougueiros trabalhavam. E vinham outros açougueiros. E os outros se cansavam. E a cidade não suportava mais carne de orelha. O povo pediu uma providência ao prefeito. E o prefeito ao governador. E o governador ao presidente.
          E quando não havia solução, um menino, diante da rua cheia de carne de orelha, disse a um policial: “Por que o senhor não mata o dono da orelha”?

                 Ignácio de Loyola Brandão. Os melhores contos de Ignácio de Loyola Brandão. Seleção de Deonísio da Silva. São Paulo; Global, 1993.p.135.

Entendendo o texto:
01 – O texto narra algo absurdo, impossível de acontecer na vida real. O que é?
     O fato de uma orelha de alguém crescer ininterruptamente, ocupando vários espaços de uma cidade e servindo de comida às pessoas da região.

02 – Ao mesmo tempo que o conto narra uma situação absurda, ele também apresenta elementos que remetem ao mundo em que vivemos. Quais são esses elementos?
     Antes do acontecido, o protagonista era uma pessoa comum, um homem solteiro de 35 anos que vivia em uma pensão, trabalhava em uma firma de tecidos e fazia hora extra para completar a renda. Além disso, a sociedade retratada no conto parece se organizar de maneira parecida com a nossa (há referência ao prefeito, ao governador, ao presidente), e são mencionados personagens e organizações que conhecemos, como donas de casa, instituições de caridades, etc.

03 – Em alguma medida, toda obra de ficção fala sobre questões que vivenciamos no mundo real, ainda que por meio de acontecimentos aparentemente absurdos. Como você interpreta o elemento fantástico no conto de Loyola Brandão?
     Resposta pessoal.

04 – Assim como o conto “O homem cuja orelha cresceu”, o romance O visconde partido ao meio apresenta elementos fantásticos.
     a)   De que forma o fantástico está presente no romance de Italo Calvino?
      O elemento fantástico principal é o fato de o visconde Medardo di Terralba levar um tiro de canhão no peito e voltar para sua terra literalmente partido ao meio. A partir de então, as duas partes passam a se comportar de maneira antagônica: uma se comporta extremamente bem, e a outra, extremamente mal.

     b)   Como você interpreta a presença desse elemento fantástico no romance?
      Resposta pessoal.


9 comentários:

  1. Oxi coloca a resposta da pergunta três e a B da questão 4 pfv né

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    1. essa é uma resposta pessoal então vc msm tem que responder

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  2. Oxi coloca a resposta da pergunta três e a B da questão 4 pfv né

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    1. Bom dia,
      Em AMBAS perguntas, as respostas são pessoais.
      Profa.Jaqueline

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    2. mas viemos ao site justo p procurar uma interpretação p entender mas vc n postam a interpretação

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  3. A meu texto tem :a que se deve a atitude do autor escrever um texto um
    Número quase excessivo de pontos-finais ? Se :alguém saber a resposta por favor escreva nos comentários.OBRIGADA .

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  4. Qual é a intenção do autor ao não se definir o que vai acontecer com a personagem!

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  5. Preciso saber quantos dias sr passa a história

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