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terça-feira, 3 de abril de 2018

CRÔNICA: O COME E NÃO ENGORDA - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO


CRÔNICA: O COME E NÃO ENGORDA
                      Luís Fernando Veríssimo


  Ninguém é mais admirado ou invejado do que o come e não engorda. Você o conhece. É o que come o dobro do que nós comemos e tem metade da circunferência e ainda se queixa:
  - Não adianta. Não consigo engordar.

     O come e não engorda é meu ídolo. Só não lhe peço autógrafo por inibição. Meu sonho é emagrecer e depois nunca mais engordar, por mais que tente. Quando eu diminuir, quero ser um come e não engorda.
        Não se deve confundir o come e não engorda com o enfastiado. Este pertence a outra espécie. Não é humano. Pode até ser melhor do que nós, um aperfeiçoamento, mas não é humano. Afinal, o que une a humanidade é o seu apetite comum. Não é por nada que partilhar da comida com o próximo tem sido símbolo de concórdia desde as primeiras cavernas. Até hoje as conferências de paz se fazem em volta de uma mesa onde a comida, se não está presente, está implícita. Desconfie do enfastiado. Ele será um agente de outra galáxia ou um poço de perversões, ou as duas coisas. De qualquer maneira, mantenha-o longe das crianças. Quando encontrar alguém na frente de um prato cheio só emparelhando as ervilhas com a ponta da faca, notifique os órgãos de segurança. É um enfastiado e pode ser perigoso. Sempre achei que as pessoas que comem como um passarinho deviam ser caçadas a bodoque. O seu fastio, inclusive, é um escárnio aos que querem comer e não podem.
        Já o come e não engorda compartilha do nosso apetite, só não compartilha das consequências. Ele repete a massa e não tem remorso. Pede mais chantilly e sua voz não treme. Molha o pão no café com leite! E ainda se queixa:
        - Há 15 anos tenho o mesmo peso.
        O come e não engorda só parou de mamar no peito porque proibiram sua mãe de ficar junto no quartel. Quando o come e não engorda nasceu, uma estrela misteriosa apareceu no Guide Michelin de restaurantes para aquele ano. O come e não engorda caminha sobre a sauce béarnaise e não afunda. Multiplica os filés de peixe à meuniére e os pães de queijo. Por onde o come e não engorda passa, as ovelhas se atiram para trás e pedem “me assa!”. O come e não engorda tem o segredo da Vida e da Morte e, suspeita-se, o telefone da Bruna Lombardi. E ainda se queixa:
        - Tenho que tomar quatro milk-shakes entre as refeições. Dieta.
        Dieta! E você ali, de olho arregalado.

                           VERISSIMO, Luís Fernando. A mesa voadora.
                                                                                    Rio de Janeiro:
                                Objetiva, 2001. P. 21-22.

     Entendendo o texto:
     01 – Quando você leu o título do texto, construiu hipóteses sobre     seu conteúdo. Suas suposições se confirmaram após a leitura? Explique.
      Resposta pessoal.

     02 – Qual é a sua opinião sobre ao texto? Você gostou dele? Achou-o bem-humorado? Justifique sua resposta.
      Resposta pessoal.

     03 – Você é um come e não engorda? Sua visão sobre essas pessoas é parecida com a de Luís Fernando Verissimo? Explique.
      Resposta pessoal.

    04 – Escreva a seguir as palavras do texto que você não conhece procure-as no dicionário e anote seus significados.
      Resposta pessoal.

     05 – O texto diz: “Não se deve confundir o come e não engorda com o enfastiado. Este pertence a outra espécie. Não é humano”. Explique, com suas palavras, as diferenças entre esses dois tipos descritos pelo autor.
      Segundo o texto, o come e não engorda é o tipo que tem apetite, come muito e não sente remorso. Já o enfastiado é o tipo que come pouco, que não tem apetite. Para o autor, comer é humano, portanto, quem não tem o desejo de comer pertence a outra espécie ou galáxia.

     06 – O autor afirma que partilhar a comida tem sido símbolo de concórdia desde o tempo das cavernas. O que ele quis dizer com isso?
      De acordo com Veríssimo, o que une a humanidade é o seu apetite comum. Espera-se que os alunos relacionem essa afirmação com o fato de as pessoas se reunirem à mesa não só para a alimentar, mas também para festejar ou mesmo negociar. Geralmente, isso é feito em clima amistoso e pacífico. Além disso, partilhar o alimento é visto como sinal de fraternidade.

     07 – Relate uma situação que você tenha vivido em que partilhar a comida tenha sido símbolo de concórdia ou comunhão.
      Resposta pessoal.

     08 – Muitas formas de expressão artística têm mostrado a mesa e o partilhar do alimento como forma de comunhão. Observe a reprodução deste quadro e responda ao que se pede a seguir.



a)   Você conhece essa imagem? O que é representado nessa cena?
         Leonardo da Vinci retrata nessa tela uma cena bíblica em que JESUS CRISTO faz a última ceia com os apóstolos antes de ser preso e crucificado, revelando-lhes que um deles o trairá.

b)   É possível relacioná-la com a crônica de Luís Fernando Verissimo? Explique.
         Espera-se que os alunos consigam relacionar a imagem com a ideia expressa no texto de que partilhar a comida é um símbolo de concórdia, de comunhão.

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