Texto: PAI E FILHA NO ZOO
Passa um pavão, e o pai
pergunta à menina:
--- O que é isto?
--- É uma galinha.
(Jamais uma galinha foi
tão bela).
Os dois aproximam-se de uma jaula.
No cárcere municipal há um lobo andando
surdamente de um lado para o outro, como se esperasse um milagre que, de
súbito, o devolvesse aos desfiladeiros de sua infância.
O pai pergunta à criança:
--- O que é isto, minha filha?
--- É um cachorro.
Vão ambos passeando, subindo ou descendo degraus, entre folhagens e pedras
dispersas. Na manhã domingueira as coisas se ordenam tranquilamente. Perto do
museu há famílias que trouxeram sanduiches e garrafas e comemoram o domingo.
Em todos os muros para onde se vá, cardumes de pessoas se voltam para a
contemplação dos bichos. Há criaturas que sonham ter, em suas casas suburbanas,
uma gaiola com um tié-sangue.
Dir-se-ia que o mundo, na manhã gloriosa, está em férias, festejando a reunião
das pessoas e dos bichos numa comunhão geral de contemplados e contempladores.
Jacarés dormem ao sol, com os dorsos enfeitados de folhas; outros ainda estão
escondidos em suas alcovas de lama. Longe, as girafas espreitam o azul.
Pai e filha param diante de uma população de macacos.
--- O que é isto?
A criança, peremptória:
--- É um homem feio.
O passeio continua, e vão os dois misturados ao desfile geral, seguindo outros
pais que vieram de todos os lugares da cidade para oferecer à curiosidade das
gentes de calças curtas ou de pequenas saias uma aula de História Natural.
No campo faiscante, algumas zebras parecem
confabular, os focinhos voltados para o chão.
--- Que é isto?
--- É um cavalo.
A mão da filha segura a mão do pai, e os dois prosseguem, admirando plumagens e
crinas, jubas e patas. Não há temor nos olhos da criança quando ela fita o
leão, o jaguar ou o urso polar que olha com ressentimento e desprezo alguns
quilos de gelo jogados em sua jaula, num humilde simulacro de chão de pólo.
--- Me dá para mim esse leão!
Depois estão ambos passeando pelo aquário, contemplando os peixes que
transitam, serenos, nas galerias que imitam o fundo do mar.
Já viram tudo, vieram de manhãzinha e agora o sol está a pino, entre as
palmeiras e o morro.
E os dois caminham silenciosamente pela alameda, vendo a montanha-russa parada,
os barcos infantis numa piscina redonda, as árvores que protegem bicicletas e
automóveis.
Seguem tão penetrados do esplendor de domingo que a brisa cessa por um momento
de soprar, a fim de que eles transponham o grande portão aberto e se percam
para sempre no abismo da cidade.
Ledo
Ivo. Rio, a Cidade e os Dias, págs. 80-82.
Edições Tempo Brasileiro, Rio, 1965.
Entendendo
o texto:
01 – As
respostas da menina são:
(X)
Engraçadas.
( ) Bobas.
( )
Absurdas.
( ) Certas.
02 – As
respostas da menina SÃO - NÃO SÃO completamente erradas,
porque:
( ) Ela trocava os nomes dos animais.
( ) Todos os animais se parecem.
(X)
Há alguma semelhança entre os animais apontados pelo pai e os que ela
designava.
03 – O
autor refere-se mais de uma vez à beleza daquele domingo, principalmente, nas
duas expressões:
Manhã
gloriosa.
Esplendor de domingo.
04 –
Destaque do texto a frase em que o autor mostra o interesse, a admiração das
pessoas diante dos animais de zoo.
Cardumes de
pessoas se voltam para a contemplação dos bichos.
05 –
Referindo-se ao lobo, o autor quis dizer que o animal estava:
( ) Agitado e nervoso com a presença dos visitantes.
( ) Faminto.
(X) Desejoso de liberdade, saudoso da terra onde nasceu.
06 –
Explique a frase: “As girafas espreitam o azul.”
As girafas olham para o alto, para o céu.
07 –
Interprete: “Pais vieram para oferecer à curiosidade das gentes de calças
curtas ou de pequenas saias uma aula de História Natural.”
Os pais trouxeram as crianças ao zoo para que elas, vendo as animais, pudessem
satisfazer sua curiosidade e aprender muitas coisas a respeito de bichos.
08 – Que
significa, no último parágrafo do texto, “perder-se no abismo da cidade”?
Desaparecer no tumulto da cidade.
09 – No
texto, o autor usou os verbos no tempo PRESENTE PRETÉRITO, para nos dar uma
impressão de:
( ) Fato já passado.
(X) Uma cena ao vivo, que acontece durante a leitura.
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