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sábado, 3 de fevereiro de 2018

CRÔNICA: O ÚLTIMO A ENTRAR - FERNANDO SABINO - COM GABARITO

CRÔNICA: O ÚLTIMO A ENTRAR
                                  Fernando Sabino


     Só são permitidos seis em pé; como é que já haviam entrado sete naquele ônibus de fim de linha em West Hampstead? É que o trocador não tinha visto.
        O chofer viu, no momento de dar partida:
       – Tem um sobrando aí atrás.

         E não deu partida. O trocador contou os passageiro em pé: é verdade, estava sobrando um. Qual? Naturalmente o que entrara por último.
          – Quem é que entrou por último?
         O diabo é que haviam entrado todos praticamente ao mesmo tempo.
          – Um dos senhores tem que descer.
        Cada um olhou para os demais, esperando que alguém se voluntariasse. Ninguém se mexeu.
           – Como é? Alguém tem de sair.
         O chofer veio de lá, em auxílio do colega. Fez uma preleção sobre o cumprimento da lei, ninguém se comoveu.
           – Vamos chamar um guarda – sugeriu ao trocador.
          Saíram do ônibus, cada um para o seu lado, à procura de um guarda.
          Um velhinho, alheio ao impasse, entrou muito lépido no ônibus, aumentando para oito o numero de passageiros em pé. Em pouco voltava o chofer, acompanhado de um guarda. O guarda foi logo impondo respeito:
          – Salte o último a entrar.
         O bom velhinho não vacilou: com autoridade não se brinca. Sem querer saber por que, do jeito que entrou, tornou a sair. O chofer, secundando com um olhar vitorioso a decisiva atuação do guarda, foi se aboletar de novo ao volante. Não sem uma última olhada pelo espelhinho sobre os passageiros em pé: um dois, três, quatro, cinco, seis, ué, que história é essa? Continuavam sendo sete?
          – Ainda tem um sobrando.
          E veio de lá, disposto a conferir. Não tinha dúvida: voltaram a ser sete.
          – Um vai ter que sair.
          Os passageiros continuaram firmes – cada um plenamente de acordo, desde que fosse outro a sair. Um deles, já irritado, e por estar mais perto da porta, cometeu a imprudência de deixar o ônibus para buscar de novo o guarda, que já ia longe. Os outros sugeriram ao chofer:
          – Aproveita agora. Só tem seis, toca o ônibus.
       Faltava o trocador, que ainda não havia voltado. O chofer convocou às pressas outro trocador nas imediações, que a companhia costumava deixar de plantão no fim da linha:
          – Entra aí e vamos embora, que já estou atrasado.
         O novo trocador assumiu o posto, e quando o ônibus já ia arrancando, deu com o velhinho ali firme junto ao poste:
          – E o senhor?
          – Esperando ônibus.
          – Então entre.
          O velhinho entrou, o ônibus partiu.

(SABINO, Fernando. A inglesa deslumbrada. 3a. Edição.
Rio de Janeiro, Editora Sabiá, 1969)
 Entendendo o texto:
Com base no texto, responda às questões:

01 – A situação descrita passa-se dentro de quê e onde?
a. (   ) avião,  em um aeroporto francês
b. (   ) metrô, na cidade de São Paulo
c. (X) ônibus, em uma estação rodoviária na Inglaterra
d. (   ) transatlântico, num cais de porto na Itália.

02 – Havia uma determinação sobre a quantidade de passageiros que podiam viajar em pé e alguém percebeu que havia excesso. Quantos podiam viajar em pé e quem percebeu o excesso?
      Só seis pessoas podiam viajar em pé e quem percebeu o excesso foi o motorista do ônibus.

03 – Mesmo ouvindo a ordem de descer, nenhum dos sete passageiros em pé, se mexeu, pois:
a. (   ) todos entraram juntos no ônibus
b. (   ) o guarda ainda não havia chegado
c. (   ) o chofer não tinha feito sua preleção
d. (X) cada um esperava que o outro saísse

04 – Como ninguém resolvesse desembarcar, surgiu a ideia de chamar um guarda. Quem teve essa ideia?
      O trocador.

05 – Quando o guarda ordenou que descesse o último a entrar, foi logo atendido. Isso resolveu o problema?
(   )sim    (X) não     Por quê?
      Porque o número de passageiros em pé ainda excedia ao número permitido.
06 – Quando o ônibus finalmente partiu, estava de acordo com a determinação legal?  
(   ) sim   (X) não    Por quê?
      Porque o novo trocador convidou o velhinho para embarcar, havendo de novo sete passageiros em pé.
07 – Qual teria sido a intenção do autor ao narrar essa história?
a. (A) Demonstrar que sempre há alguém desrespeitando as leis.
b. (   ) Os ônibus sempre trafegam com excesso de passageiros.
c. (   ) Na Inglaterra, as leis são respeitadas por todos.
d. (   ) Os idosos têm sempre prioridade e por isso é permitido não cumprir a lei.

08 – Marque a frase cuja palavra “linha” tem o mesmo significado da usada no texto: “… haviam entrado sete naquele ônibus de fim de linha…” (par. 1).
a. (X) O ônibus ficou parado ali no fim da linha.
b. (   ) Pode confiar nele, pois é pessoa de linha.
c. (   ) Quero que plantem essas árvores em linha.
d. (   ) A linha era muito grossa, por isso não entrava no buraco da agulha.

09 – Preencha as lacunas com as palavras comprimento ou cumprimento, de acordo com o sentido a ser empregado:
a. “Seu” guarda, o comprimento da linha é enorme.
b. E a empresa exige o cumprimento do horário?
c. É só atrasar ou adiantar que vem bronca deste comprimento.
d. E os passageiros? Sabem que estão sujeitos ao cumprimento da lei?
e. Se não sabem, com o senhor lá, vai haver o cumprimento imediato.
f. E não vai me comover o comprimento da fila. Lei é lei.


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