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domingo, 4 de fevereiro de 2018

TEXTO: MAINÁ - NESTOR DE HOLANDA - COM GABARITO

TEXTO: MAINÁ


      Há indivíduos que querem sempre que os outros adivinhem os preços de suas compras. São incapazes de dizer que adquiriram, por exemplo, uma camisa pela bagatela de 15 reais. Preferem assim:
     – Adivinhe por quanto comprei esta camisa.
    Se o outro dá um preço aproximado, nada acontece. Se diz um mais alto, eles ficam felizes, sentem-se vitoriosos, porque espertos, e afirmam, com satisfação:
      – Muito menos.

         Mas se acontece o preço dado ser bem inferior, esses indivíduos se irritam! …
         Foi o que sucedeu comigo. Encontrei o Tinoco, num bar. Aliás, nem sei bem se ele é Tinoco ou Tonico. Sempre lhe troco o apelido. Como não se incomoda, venho fazendo a confusão, há muitos anos.
         Tonico ou Tinoco tem a mania de passarinho. Seu quintal é o maior viveiro que conheço. E o mundo pode acabar-se, contanto que seus passarinhos escapem…
         No encontro, Tinoco ou Tonico podia ter-me dito que comprara um mainá da Ásia por tanto em dinheiro, e, a seguir, normalmente, descrever o pássaro. Figura, porém, entre os que querem que os demais acertem preços. E acabou dificultando nosso entendimento:
         – Iolando, adivinhe por quanto comprei um mainá.
         Ora, não estou em dia com o mercado de pássaros. Arrisquei um palpite:
         – Dois mil reais.
         Jamais fui tão infeliz! Tonico ou Tinoco virou fera. Bateu na mesa e quase me agrediu:
         – Você precisa perder a mania de desfazer do que é dos outros.
         – Perdão, Tinoco, não tive essa intenção.
         – Teve sim. Onde já se viu um mainá asiático por dois mil reais? Isso é preço de periquito australiano. Nem canário-da-terra custa tão pouco. Que desaforo!
         – Desculpe, Tonico.
         – Não posso desculpar.
         – Mas, Tinoco, eu não entendo de pássaros.
         – Vê-se logo que você não entende. Aliás, de que você entende?
         – De nada.
         – Nota-se.
         – Então, não leve a mal, Tonico.
         Ele, todavia, continuou irritado:
         – Um mainá por dois mil reais! Pássaro raro da Ásia! Preto e azulado, com o bico e as patas amarelas!
         Cometi outra infelicidade:
         – Você achou muito ou pouco o preço que eu dei, Tinoco?
         Desesperou-se:
         – Quer ofender-me?
         – Não, Tonico.
         – Só pode querer. Está a chamar-me de burro.
         – Jamais, Tinoco.
         – Mainá é pássaro que fala tal qual o homem. Fala melhor que papagaio. Sua voz se assemelha à nossa. O meu grita o dia todo: “- Pessoal! Penico de barro enferruja?”
         – É asiático, mas fala português, Tonico?
         – Fala.
         – Como poderia custar dois mil reais? Vá desfazer nos raios que o partam.
         Bateu na mesa, mais uma vez. Levantou-se. Bufou. Saiu, furibundo, a resmungar desaforos. E até hoje não sei quanto lhe custou o mainá…

         NESTOR DE HOLANDA. Telhado de Vidro. 2a. Edição,
                             Rio, Cia. Brasileira de Divulgação do Livro.

Entendendo o texto:

01 – Por que há certos indivíduos que não dizem o preço de suas compras?
      a (   ) porque desejam esconder o preço
      b (X) porque querem que os outros o adivinhem
      c (   ) porque pagam muito caro por elas

02– O que acontece se a resposta for um preço aproximado?
 Nada acontece.

03 – E se a resposta for um preço mais alto?
      Ficam felizes, sentem-se vitoriosos, porque se consideram espertos.

04 – Quando é que esses indivíduos se irritam?
      Quando o preço dado for bem menor.

05 – Tinoco ficava furibundo por ser chamado de Tinoco, ou vice-versa?  
(   ) sim       (X) não

06 – Justifique, com uma frase do texto, a resposta dada à questão anterior.
      “Como não se incomoda, venho fazendo confusão há muitos anos.”

07 – Qual era, para Tonico ou Tinoco a coisa mais importante do mundo?
      O seu viveiro de pássaros.

08 – Justifique a resposta dada à questão anterior, com uma frase do texto.
      “E o mundo pode acabar-se, contanto que seus pássaros escapem.”

09 – O entendimento entre Tinoco ou Tonico e o autor desta história foi dificultado porque:
      a. (   ) o autor não entendia de pássaros
      b. (   ) Tinoco ou Tonico estava furibundo desde o começo do dialogo
      c. (X) Tonico ou Tinoco pertencia à categoria dos que não dizem o preço de suas compras e querem que os outros o acertem.
10 – Diante do preço sugerido por seu interlocutor, Tonico ou Tinoco se refere a duas outras espécies de aves. São canário da terra e periquito australiano.
11 – Tonico ou Tinoco aceitou o pedido de desculpas do amigo?    
(   ) sim       (X) não
12 – Pelo dialogo que segue ao pedido de desculpas, Tonico ou Tinoco insinua que o amigo é:
      a. (   ) um grande conhecedor de vários assuntos, exceto de pássaros
      b. (X) um ignorante total
      c. (   ) um débil mental

13 – Embora asiático, o mainá falava português.

14 – Afinal Tonico e Tinoco voltou às boas, concordando em dizer o preço do mainá?
(   ) sim       (X)  não

15 – Justifique sua resposta à questão anterior com uma frase do texto.
      “E até hoje não sei quanto lhe custou o Mainá.

16 – Em: “São incapazes de dizer que adquiriram…”  à palavra em destaque significa:
a. (   ) lucraram        b. (X) compraram         c. (   ) angariaram.

17-Encontre no texto, a palavra ou expressão que é sinônima de:
      a. insignificância: bagatela.
      b. Mas se ocorre: mas se acontecesse...
      c. foi o que aconteceu comigo: foi o que sucedeu comigo...

18 – Na expressão: desfazer o contrato, a palavra grifada tem o mesmo sentido de desfazer, usado no texto?
(   ) sim       (X) não

      Justifique sua resposta:
      Desfazer o contrato: significa anular o contrato.
      Desfazer: no texto, significa depreciar, desmerecer, desvalorizar.



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