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terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

CONTO: ADMIRÁVEL MUNDO LOUCO - RUTH ROCHA - COM GABARITO

CONTO: ADMIRÁVEL MUNDO LOUCO
                  Ruth Rocha
                
   Eles moram, quase todos, amontoados nuns lugares muito feios, que eles chamam de cidades.
       Esses lugares cheiram muito mal por causa de umas porcarias que eles fabricam e de umas nuvens escuras que saem de uns tubos muito grandes que por sua vez saem de dentro de umas caixas que eles chamam de fábricas.
        Parece que eles vivem dentro de outras caixas. Algumas dessas caixas são grandes, outras são pequenas.
        Nem sempre moram mais freguetes nas caixas maiores. Às vezes acontece o contrário: nas caixas grandes moram pouquinhos freguetes e nas caixas pequenininhas moram um monte deles.
        Nas cidades existem muitas caixas amontoadas umas nas outras.
        Parece que dentro desses amontoados há um tubo, por onde corre um carrinho na direção vertical, chamado elevador, porque eleva a pessoas para o alto dos amontoados. Não ouvi dizer que eles tenham descedores, o que me leva a acreditar que eles pulem lá de cima até embaixo, de alguma maneira que eu não sei explicar.
        Quando fica claro, eles saem das caixas deles e todos começam a ir pra outro lugar e ficam nisso de ir daqui pra lá o tempo todo, até que fica escuro e todos voltam pro lugar de onde vieram.
        Não sei como é que eles encontram o lugar de onde eles saíram, mas encontram; e entram outra vez nas caixas.
        Assim que eu cheguei era um pouco difícil compreender o que eles diziam. Mas logo, logo, graças aos meus estudos de flóbitos, consegui aprender uma porção das línguas que eles falam.
        Ah, porque eles falam uma porção de línguas diferentes.
        E como é que eles se entendem?
        E quem disse que eles se entendem?

                                          ROCHA, R. Este admirável mundo louco
                                                            São Paulo: Salamandra, 2003.

Entendendo o texto:                                              
01 – Afinal, a partir das informações sobre o conto Admirável mundo louco, podemos identificar 3 autores presentes, de alguma forma, no texto. Quais são eles?
       Os três “autores” são: Ruth Rocha, o visitante e o pesquisador que achou o documento.

02 – Que sugere a você essa quantidade de “vozes”, que passam a palavra de uma pessoa para outra?
       Resposta pessoal. Tantas vozes dão a impressão de que não se trata de invenção de cada um deles. O texto é feito como se fosse um relato, ou exatamente para das a impressão de verdade. E é como se Ruth e o pesquisador não se “responsabilizassem” pelas opiniões do visitante.

03 – A descrição feita pelo jovem visitante mostra uma visão negativa da “cidade”.
     a)     Essa visão evidencia-se claramente, por meio de expressões usadas pelo autor. Que expressões dão esse sentido ao texto?
      Vários termos têm significado negativo. Como os adjetivos e advérbios: “muito feios”; “cheiram mal”, ou substantivos, com artigo com intenção pejorativa: “umas porcarias”, “amontoados”. A própria interrogação final é muito negativa.

     b)    Há também situações apresentadas que, mesmo sem um claro julgamento do autor, podemos entender como negativas. Quais são elas, na sua percepção?
      A informação sobre quantos moram nas caixas grandes e pequenas e a descrição dos freguetes indo de um lado pera o outro. Nessas informações, há uma crítica à má distribuição de renda e a certa inutilidade da correria humana.

04 – O autor do relato parece não entender bem a vida na Terra.
     a)     Que recursos linguísticos sugerem isso?
      Há muitos verbos na forma negativa: “não sei”, “não sei dizer”, “não ouvi dizer”, “não sei como”, além do “parece”.

     b)    A que se deve essa dificuldade de entendimento, se ele compreendia as línguas dos freguetes?
      A incompreensão vem do fato de o visitante vir de uma cultura totalmente diferente. Como acontece conosco, ele teve dificuldade de entender o diferente, ainda mais quando contraditório.

05 – O autor dos escritos inventa palavras, como “freguetes”; “flóbitos” e “descedores”. Neste último caso, usa o mesmo processo que qualquer criança usa para inventar palavras. Em que consiste tal processo?
      “Descedor” é criado de forma analógica com “elevador”. A criança usa fartamente a analogia, que consiste em criar uma palavra ou proceder segundo palavras ou dados já conhecidos.

 06 – Na sua opinião, que tipo de cidade o visitante conheceu? Justifique sua opinião.
       O visitante parece ter chegado a uma cidade grande, o que está sugerindo nos muitos edifícios e nas fábricas do lugar.

07 – Como já lembramos, Ruth Rocha é famosa pelo humor que dá a suas histórias, ainda que de crítica. Você vê humor nesse trecho? Justifique sua posição.
       Resposta pessoal. Como lembramos em outras unidades, o humor é percebido de modos diferentes. Em todo caso, você pode ter considerado cômica a descrição da cidade, com seus amontoados, a hipótese sobre a forma de descer das caixas grandes.

08 – Qual é o significado do texto para você?
       Resposta pessoal. Uma compreensão provável seria: nossa cultura tem características contraditórias e até desagradáveis, que o extraterrestre vê com muita clareza.

09 – Qual a sua opinião sobre o texto?
       Resposta pessoal. Seria interessante que as respostas pessoais fossem objeto de discussão, na reunião quinzenal.

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