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terça-feira, 9 de janeiro de 2018

TEXTO: PALAVRAS - ADRIANA FALCÃO - COM GABARITO

TEXTO: PALAVRAS

  As gramáticas classificam as palavras em substantivo, adjetivo, verbo, advérbio, conjunção, pronome, numeral, artigo e preposição. Os poetas classificam as palavras pela alma porque gostam de brincar com elas e para brincar com elas é preciso ter intimidade primeiro É a alma da palavra que define, explica, ofende ou elogia, se coloca entre o significante e o significado para dizer o que quer, dar sentimento às coisas, fazer sentido. [...] A palavra nuvem chove. A palavra triste chora. A palavra sono dorme. A palavra tempo passa. A palavra fogo queima. A palavra faca corta. A palavra carro corre. A palavra palavra diz. O que quer. E nunca desdiz depois. As palavras têm corpo e alma mas são diferentes das pessoas em vários pontos. As palavras dizem o que querem, está dito e pronto. As palavras são sinceras, as segundas intenções são sempre das pessoas. [...] As palavras também têm raízes mas não se parecem com plantas, a não ser algumas delas, verde, caule, folha, gota. As células das palavras são as letras. Algumas são mais importantes do que as outras. As consoantes são um tanto insolentes. Roubam as vogais para construírem sílabas e obrigam a língua a dançar dentro da boca. A boca abre ou fecha quando a vogal manda. As palavras fechadas nem sempre são mais tímidas. A palavra sem-vergonha está aí de prova. Prova é uma palavra difícil. Porta é uma palavra que fecha. Janela é uma palavra que abre. Entreaberto é uma palavra que vaza. Vigésimo é uma palavra bem alta. Carinho é uma palavra falta. Miséria é uma palavra que sobra. A palavra óculos é séria. Cambalhota é uma palavra engraçada. A palavra lágrima é triste. A palavra catástrofe é trágica. A palavra súbito é rápida. Demoradamente é uma palavra lenta. Espelho é uma palavra prata. Ótimo é uma palavra ótima. Queijo é uma palavra rato. Rato é uma palavra rua. Existem palavras frias como mármore. Existem palavras quentes como sangue. Existem palavras mangue, caranguejo. Existem palavras lusas, Alentejo. Existem palavras itálicas, ciao. Existem palavras grandes, anticonstitucional. Existem palavras pequenas, microscópio, minúscula, molécula, partícula, quinhão, grão, covardia. Existem palavras dia, feijoada, praia, boné, guarda-sol. Existem palavras bonitas, madrugada. Existem palavras complicadas, enigma, trigonometria, adolescente, casal. Existem palavras mágicas, shazam, abracadabra, pirlimpimpim, sim e não. Existem palavras que dispensam imagens, nunca, vazio, nada escuridão. Existem palavras sozinhas, eu, um, apenas, sertão. Existem palavras plurais, mais, muito, coletivo, milhão. Existem palavras que são um palavrão. Existem palavras pesadas, chumbo, elefante, tonelada. Existem palavras doces, goiabada, marshmallow, quindim, bombom. Existem palavras que andam, automóvel. Existem palavras imóveis, montanha. Existem palavras cariocas, Corcovado. Existem palavras completas, elas todas. Toda palavra tem a cara do seu significado. A palavra pela palavra tirando o seu significado fica estranha. Palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra não diz nada, é só letra e som.

                 FALCÃO, Adriana. Pequeno dicionário de palavras ao vento. São Paulo: Planeta, 2003.
Entendendo o texto:

01 – Você achou o texto interessante? Por que?
      Resposta pessoal.

02 – De acordo com o texto, gramáticos definem a palavra de um modo e poetas, de outro. Qual é essa diferença?
      Os gramáticos entendem que a palavra pode ser classificada de acordo com sua forma e função. Já os poetas classificam as palavras pela alma, pois, para brincar com elas, precisam conhecer sua intimidade.

03 – Releia a classificação apresentada no início do texto e responda: O que você já sabe sobre esse assunto?
     A classificação se refere às classes gramaticais, já estudadas nesta coleção.

04 – As definições apresentadas no texto correspondem às utilizadas em um dicionário? Que tipo de significado é atribuído às palavras no texto?
     Não. O texto explica o significado das palavras de maneira lúdica, alterando o sentido original e estabelecendo alguma relação entre a palavra e outros significados: a linguagem figurada, a sonoridade, o conteúdo, etc.

05 – Responda em seu caderno:
            a) Por que o texto considera pequenas as palavras “microscópio”, “minúsculo”, “molécula”, “partícula”, “quinhão”, “grão” e “covardia”?
       A maioria delas se refere ao tamanho do que representam, exceto pela palavra “covardia”, que está empregada em sentido figurado, pois se refere a algo pequeno do ponto de vista comportamental.

a)   Por que o texto afirma que “shazam”, “abracadabra”, “pirlimpimpim”, “sim”, e “não” são palavras mágicas?
       As três primeiras palavras são encontradas no universo das narrativas de ficção dos contos maravilhosos e são responsáveis por mágicas, encantamentos e transformações. As outras duas, “sim” e “não”, dizem respeito às decisões de ação ou omissão do ser humano, que podem transformar ou não determinada realidade.

b)   Por que o texto associa “enigma”, “trigonometria”, “adolescente” e “casal” a palavras complicadas?
       As palavras “enigma” e “trigonometria” estão relacionadas ao ato de desvendar situações – problema difíceis; enquanto as palavras “adolescente” e “casal” se referem às complicações de uma faixa etária e dos relacionamentos humanos, respectivamente.

c)   Por que as palavras “eu”, “um”, “apenas” e “sertão” são relacionadas a palavras sozinhas?
       Porque essas palavras podem ser relacionadas a situações de solidão, distanciamento.

06 – No texto, a palavra “madrugada” é considerada bonita. Em seu caderno, escreva sua percepção sobre as palavras a seguir:
       Resposta pessoal.
           a) Abraço                     c) tristeza                       e) amanhã
           b) Casa                        d) desculpa                     f) mágica

07 – Explique a seguinte afirmação encontrada no texto:
      A grafia e o som esvaziados de sentido deixam de cumprir a função de comunicar. Assim, a palavra ganha significado apenas no uso, no contexto.






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