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quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

CRÔNICA: ESPÍRITO CARNAVALESCO - MOACYR SCLIAR - COM GABARITO

CRÔNICA: Espírito carnavalesco 
                     Moacyr Scliar
   
     Ensaios da escola de samba Mocidade Alegre atrapalham sono de moradores da região. Cotidiano, 29.jan.2001.

        Cansado, ele dormia a sono solto, quando foi bruscamente despertado pela esposa, que o sacudia violentamente. Que aconteceu, resmungou ele, ainda de olhos fechados.
        - Não posso dormir -queixou-se ela.
        - Não pode dormir? E por quê?
        - Por causa do barulho -ela, irritada: - Será possível que você não ouça?
        Ele prestou atenção: de fato, havia barulho. O barulho de uma escola de samba ensaiando para o Carnaval: pandeiros, tamborins... Não escutara antes por causa do sono pesado. O que não era o caso da mulher. Ela exigia providências.
        - Mas o que quer você que eu faça? -perguntou ele, agora também irritado.
        - Quero que você vá lá e mande eles pararem com esse barulho.
        - De jeito nenhum -disse ele. - Não sou fiscal, não sou polícia. Eu não vou lá.
        Virou-se para o lado, com o propósito de conciliar de novo o sono.
        O que a mulher não permitiria: logo estava a sacudi-lo de novo.
        Ele acendeu a luz, sentou na cama:
        - Escute, mulher. É Carnaval, esta gente sempre ensaia no Carnaval, e não vão parar o ensaio porque você não consegue dormir. É melhor você colocar tampões nos ouvidos e esquecer esta história.
        Ela começou a chorar. Você não me ama, dizia, entre soluços:
        - Se você me amasse, iria lá e acabaria com a farra.
        Com um suspiro, ele levantou-se da cama, vestiu-se e saiu, sem uma palavra.
        Ela ficou à espera, imaginando que em dez ou 15 minutos a batucada cessaria.
        Mas não cessava. Pior: o marido não voltava. Passou-se meia hora, passou-se uma hora: nada. Nem sinal dele.
        E aí ela ficou nervosa. Será que tinha acontecido alguma coisa ao pobre homem? Será que -por causa dela- ele tinha se metido numa briga? Teria sido assassinado? Mas neste caso, por que continuava a batucada? Ou seria aquela gente tão insensível que continuava a orgia carnavalesca mesmo depois de ter matado um homem? Não aguentando mais, ela vestiu-se e foi até o terreiro da escola de samba, ali perto.
        Não, o marido não tinha sido agredido e muito menos assassinado.
        Continuava vivo, e bem vivo: no meio de uma roda, ele sambava, animadíssimo.
        Ela deu meia volta e foi para casa. Convencida de que o espírito carnavalesco é imbatível e fala mais alto do que qualquer coisa.

         O imaginário cotidiano, de Moacyr Scliar. 2. ed.
                                     São Paulo: Global, 2002.
Entendendo o texto:

01 – Qual era o nome da escola de samba, que estava ensaiando?
      Escola de samba Mocidade Alegre.
02 – De que maneira o homem, foi acordado pela mulher? E por que motivo?
      Ele foi despertado pela mulher que sacudia violentamente. Pelo motivo que não conseguia dormir por causa do barulho.
03 – Qual foi a exigência da mulher?
      Que ele fosse lá e mandasse parar com o ensaio, ou seja, parasse com o barulho.
04 – O homem indignado com a exigência da mulher, o que ele respondeu?
      Que não iria, porque ele não era fiscal e nem polícia.
05 – No trecho: “Escute, mulher. É Carnaval, esta gente sempre ensaia no Carnaval, e não vão parar o ensaio porque você não consegue dormir. É melhor você colocar tampões nos ouvidos e esquecer esta história.” Quem disse está frase? E qual foi a reação da mulher?
      O marido foi quem disse. Começou a chorar, e dizer que se ele a amasse iria lá e acabaria com a farra.
06 – Já que a mulher não deixava-o dormir, qual foi a reação do homem?
      Ele levantou-se da cama, vestiu-se e saiu, sem dizer nada.
07 – Por que a mulher achou que o marido, podia ter sido machucado, ter se envolvido numa briga ou até mesmo ter sido morto?
      Porque já tinha passado mais de uma hora, e ele não tinha voltado.
08 – Por causa da demora do marido, qual foi a decisão da mulher?
      Não aguentando a demora, ela vestiu-se e foi até o terreiro da escola de samba.
09 – Qual foi a surpresa da mulher ao chegar na escola de samba?
      O marido estava no meio de uma roda sambando, animadíssimo.
10 – Diante do que a mulher viu, qual foi a decisão tomada por ela?
      Ela deu meia volta e foi para casa. Convencida de que o espírito carnavalesco é imbatível e fala mais alto do que qualquer coisa.
11 – Se esta crônica, tivesse acontecido com você, o que faria?
      Resposta pessoal do aluno.

      
                                    


      

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