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quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

CRÔNICA: A DANÇA DAS GERAÇÕES - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

Texto: A dança das gerações

  De repente, pais jovens, que sempre se consideraram modernos e liberais, já não conseguem compreender a filha. As ideias, os valores, a linguagem, as roupas, o cabelo... tudo parece estar tão distante... Conflito de gerações?

                     PAIS

       Por casualidade, os três ficaram lado a lado na igreja. Tinham mais ou menos a mesma idade do pai da noiva. Que acabava de passar por eles, radiante com a filha pelo braço, a caminho do altar.
       --- É --- disse um deles ---, esse deu sorte.
      Os outros dois concordaram, com ruídos indefinidos.
       --- A minha se juntou.
       --- A minha á declarou, textualmente, que casamento não tá com nada.
       --- Pior é a minha.
       --- Ah, é?
       Casou num ritual novo aí. Nem sei que religião é. No meio do campo. Eu me recusei a ir. A mulher foi e voltou com urticária.
       --- A minha avisou que tinha se juntado quando já estavam juntos. Achou que eu gostaria de saber. Não gostei.
       --- Eu estou tentando convencer a minha a casar. Não importa com quem. Desde que tenha cerimônia. Á disse até que eu forneço o noivo. Pago o vestido, pago a igreja, pago o coro, pago a festa e a lua de mel e ainda entro com o noivo. Sabe o que ela me diz?
       --- Sei.
       --- “Burguesão”.
       --- É. A minha disse que talvez até case um dia, quando os filhos tiverem idade para carregar a cauda do vestido. Quer dizer, ainda nos gozam.
       --- Querem nos matar. Querem nos matar.
       --- E eu que sonhava com essa cena?
       --- Nem me fala.
       --- Sou capaz até de alugar uma igreja, contratar a música, botar uma fatiota e desfilar sozinho pelo corredor. Só para ter a sensação.
       --- Acho que a gente devia fazer um trato. O primeiro da nossa geração que tivesse uma filha disposta a casar em igreja, com vestido e tudo, convidaria os outros para entrar junto com ela na igreja. Cada um desfilaria uma determinada distância de braço com a noiva, depois passaria para outro, e assim até o altar.

                                       (Luís Fernando Veríssimo. Zoeira. Porto Alegre:L&PM,1996. P. 16-17.)
Entendendo o texto:
01 – O texto retrata uma situação relativamente comum no dia a dia.
           a) Em que espaço e em que ocasião ela ocorre?
      Numa igreja, durante uma cerimônia de casamento.

           b) Em quanto tempo ela se passa?
      Durante alguns minutos.

         c) As personagens são construídas psicologicamente de modo aprofundado ou são tratadas de modo ligeiro?
      De modo ligeiro.

           d) Como você caracterizaria essas personagens?
      Como pessoas não totalmente conservadoras, mas que mantêm o sentimento de romantismo em relação à cerimônia de casamento, por isso, desejam ver as filhas se casarem de modo convencional.

02 – Suas respostas anteriores indicam características importantes de um determinado gênero textual. Que gênero é esse?
       A crônica.

03 – De acordo com o narrador, três pais se encontram “por casualidade” e se lamentam do procedimento de suas filhas. De que reclamam?
       Reclamam da falta de interesse de suas filhas em se casar ou em se casar na igreja.

04 – Compare a posição das três filhas a respeito do casamento.
            a) O que há de comum entre elas?
       As três se negam a participar de um casamento tradicional.

            b) O que há de diferente?
       Uma aceitou se casar, mas com um ritual diferente, no campo; outra resolveu se juntar em vez de casar; e a outra se nega a casar.

05 – A filha de um desses pais chegou a se casar entretanto, ele não se mostra satisfeito.
            a) Por quê?
        Porque ele gostaria que a cerimônia de casamento tivesse sido a tradicional, realizada na igreja, e não no campo.

            b) O que conota a expressão “num ritual novo aí”?
       Conota desinteresse ou descrença do pai em relação à religião à qual supostamente a filha está ligada.

06 – Diz um dos pais: “---A minha avisou que tinha se juntado quando já estavam juntos. Achou que eu gostaria de saber. Não gostei”. Levante hipóteses:
            a) Por que a filha achou que o pai gostaria de saber da novidade?
       Porque ela estava dando um passo importante na vida, o de sair de casa e ir morar com outra pessoa.

            b) Por que o pai não gostou?
       Porque certamente esperava que a filha se casasse de modo convencional.

07 – Um dos pais diz: “Eu estou tentando convencer a minha a casar. Não importa com quem. Desde que tenha cerimônia”. E ainda se dispõe a arcar com todas as despesas, mas é chamado de “burguesão” pela filha.
a)   Do casamento, o que parece ser mais importante para esse pai?
        A cerimônia, o ritual da igreja.

            b) Ao chama-lo de “burguesão”, que tipo de crítica a filha faz ao pai?
        Ela dá a entender que, ao se propor a pagar tudo, o pai só se preocupa com os aspectos exteriores do casamento e se esquece do principal: respeitar o desejo dela de se casar ou não, respeitar o modo como ela pensa em ser feliz.



  

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