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quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

POEMA: SEVILHA - JOÃO CABRAL DE MELO NETO - COM GABARITO

POEMA: SEVILHA
                 João Cabral de Melo Neto

A cidade mais bem cortada
Que vi: Sevilha;
Cidade que veste o homem
Sob medida.
Justa ao tamanho do corpo
Ela se adapta,
Branda e sem quinas, roupa
Bem recortada.
Cortada só para um homem,
Não todo o humano:
Só para o homem pequeno
Que é o sevilhano.
Que ao sevilhano Sevilha
Tão bem se abraça
Que é como se fosse roupa
Cortada em malha.

Ao corpo do sevilhano
Toda se ajusta
E ao raio de ação do corpo
Ou sua aventura.
Nem com os gestos do corpo
Nunca interfere,
Qual roupa ou cidade que é
Cortada em série.
Sempre à medida do corpo
Pequeno ou pouco:
Ao teto baixo do míope,
Aos pés do coxo.
Nunca tem panos sobrando
Nem bairros longe;
Sempre ao alcance da perna
Que não tem bonde.

O sevilhano usa Sevilha
Com intimidade,
Como se só fosse a casa
Que ele habitasse.
Com intimidade ele usa
Ruas e praças:
Com intimidade de quarto
Mais que de casa.
Com intimidade de roupa
Mais que de quarto
E intimidade de camisa
Mais que casaco.
E mais que intimidade,
Até com amor,
Como um corpo que se usa
Pelo interior.

O modelo não é indicado
A nenhum nórdico:
Lhe ficará muito curto
E ele incômodo.
Ou ele ficará tão ridículo
Como um automóvel,
Dos que ali, elefânticos,
Tesos, se movem.
Nas ruas que o sevilhano
Fez para si mesmo,
Pequenas e íntimas para
Seu aconchego.
Sevilhano em quem se encontra
Ainda o gosto
De ter a vida à medida
Do próprio corpo.

                          MELO NETO, João Cabral de. Obra completa. Rio de Janeiro.
                                                                             Nova Aguilar, 1994. p. 252-254.

Entendendo o poema:

01 – Interpretemos algumas figuras do poema. O que significa dizer que:
           a)     Sevilha não é cortada em série?
      Sevilha é um lugar sem outro igual (um lugar ímpar).

           b)    Os bairros estão ao alcance do pé?
      Os bairros são próximos.

           c)     O modelo não é indicado a nenhum nórdico?
      Os nórdicos (escandinavos) são, em geral, bastante altos. O poeta usa essa imagem para enfatizar as qualidades de Sevilha como uma cidade não muito grande.

02 – Segundo o poeta, os automóveis são objetos adequados a Sevilha? Por quê?
       Os automóveis não são adequados a Sevilha porque as ruas são estreitas e aconchegantes.


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