CRÔNICA:
A ERA DO AUTOMÓVEL
(João do Rio, Vida vertiginosa)
E, subitamente, é a era do Automóvel. O
monstro transformador irrompeu, bufando, por entre os escombros da cidade
velha, e como nas mágicas e na natureza, aspérrima educadora, tudo transformou
com aparências novas e novas aspirações. Quando os meus olhos se abriram para
as agruras e também para os prazeres da vida, a cidade, toda estreita e toda de
mau piso, eriçava o pedregulho contra o animal de lenda, que acabava de ser
inventado em França. Só pelas ruas esguias dois pequenos e
lamentáveis corredores tinham tido a ousadia de aparecer. Um, o primeiro, de
Patrocínio, quando chegou, foi motivo de escandalosa atenção. Gente de
guarda-chuva debaixo do braço parava estarrecida como se estivesse vendo um
bicho de Marte ou um aparelho de morte imediata. Oito dias depois, o jornalista
e alguns amigos, acreditando voar com três quilômetros por hora, rebentavam a
máquina de encontro às árvores da rua da Passagem. O outro, tão lento e parado
que mais parecia uma tartaruga bulhenta, deitava tanta fumaça que, ao vê-lo
passar, várias damas sufocavam.
A
imprensa, arauto do progresso, e a elegância, modelo de esnobismo, eram os
precursores da era automobilística. Mas ninguém adivinhava essa era. Quem
poderia pensar na influência futura do automóvel diante da máquina quebrada de
Patrocínio? Quem imaginaria velocidades enormes na carriola dificultosa que o
conde Guerra Duval cedia aos clubes infantis como um brinco idêntico aos
balanços e aos pôneis mansos? Ninguém! absolutamente ninguém.
- Ah! Um automóvel, aquela máquina que
cheira mal?
- Pois viajei nele.
- Infeliz.
Para que ele se firmasse foi necessária a
transfiguração da cidade. E a transfiguração se fez: ruas arrasaram-se,
avenidas surgiram, os impostos aduaneiros caíram, e triunfal e desabrido o
automóvel entrou, arrastando desvairadamente uma catadupa de automóveis. Agora,
nós vivemos positivamente nos momentos do automóvel, em que o chofer é rei, é
soberano, é tirano.
Interpretação do texto:
1. “Para que ele se firmasse
foi necessária a transfiguração da cidade”; a forma INADEQUADA da
reescrita desse segmento do texto é:
A. Foi necessária a transfiguração da cidade para que ele
se firmasse;
B. Para que ele se firmasse a transfiguração da cidade foi
necessária;
C. A transfiguração da cidade foi necessária para que ele
se firmasse;
D. Necessitou-se da transfiguração da cidade para que ele
se firmasse;
E. Foi necessário, para que ele se firmasse, a
transfiguração da cidade.
2. A frase que NÃO demonstra uma
visão negativa do automóvel é:
A. “O monstro transformador irrompeu, bufando...”;
B. “...eriçava o pedregulho contra o animal de lenda”;
C. “parava estarrecida como se estivesse vendo um bicho
de Marte”;
D. “rebentavam a máquina de encontro às árvores
da Rua da Passagem”;
E. “aquela máquina que cheira mal?”.
3. “aspérrima
educadora”; aqui temos uma forma erudita de superlativo do adjetivo “áspero”. O
item abaixo que NÃO mostra uma forma superlativa é:
A. O automóvel é novo, novo, novo.
B. O automóvel é novo pra burro.
C. O automóvel foi bem rápido.
D. O automóvel é rapidão!
E. O automóvel teve novidades bastantes.
4. “O monstro
transformador irrompeu, bufando, por entre os escombros da cidade velha”; “Oito
dias depois, o jornalista e alguns amigos, acreditando voar com três
quilômetros por hora”. Os gerúndios sublinhados transmitem, respectivamente,
ideias de:
A. modo e tempo;
B. tempo e causa;
C. causa e condição;
D. condição e meio;
E. meio e modo.
5. “aparências novas e novas
aspirações”; a posição do adjetivo nesse segmento altera o seu significado. O
mesmo pode ocorrer em:
A. cidade velha e velha cidade;
B. ruas esguias e esguias ruas;
C. lamentáveis corredores e corredores lamentáveis;
D. escandalosa atenção e atenção escandalosa;
E. morte imediata e imediata morte.
6. “Quando os meus olhos se
abriram para as agruras e também para os prazeres da vida” apresenta uma
antítese, ou seja, a presença de palavras de sentido oposto. O mesmo ocorre em:
A. “O outro, tão lento e parado que mais parecia uma
tartaruga”;
B. “e triunfal e desabrido o automóvel entrou”;
C. “o chofer é rei, é soberano, é tirano”;
D. “Ruas arrasaram-se, avenidas surgiram”;
E. “A imprensa, arauto do progresso, e a elegância,
modelo do esnobismo”.
7. “guarda-chuva” faz o plural da mesma forma que:
A. guarda-pó;
B. guarda-civil;
C. guarda-noturno;
D. guarda-costas;
E. guarda-livros.
8. “rebentavam a
máquina de encontro às árvores”; a forma dessa mesma frase
que ALTERA o seu sentido original é:
A. de encontro às arvores rebentavam a máquina;
B. rebentavam a máquina ao encontro das
árvores;
C. a máquina era rebentada de encontro às árvores;
D. de encontro às árvores a máquina era rebentada;
E. rebentavam, de encontro às árvores, a máquina.
9. Os dois automóveis são citados no primeiro parágrafo
do texto para:
A. mostrar a diferença entre os automóveis antigos e os
modernos;
B. indicar a presença marcante do automóvel desde seu
aparecimento;
C. demonstrar que o automóvel triunfou graças à imprensa;
D. revelar a pouca expectativa de futuro para o
automóvel;
E. destacar as mudanças provocadas por eles no cenário
urbano.
10. O autor do texto cita
que “os impostos aduaneiros caíram” para indicar que:
A. os automóveis passaram a custar mais barato;
B. as pessoas deixaram de viajar de navio;
C. muitos automóveis chegavam aos portos;
D. não se cobravam impostos sobre automóveis;
E. o Brasil aboliu os impostos alfandegários.
11- O fragmento que deixa evidente uma semelhança
temática e habitual do texto do início do século XX com os dias atuais é
a) “Só pelas ruas esguias dois pequenos e lamentáveis
corredores tinham tido a ousadia de aparecer”
b) “O automóvel ritmiza a vida vertiginosa, a
ânsia das velocidades, o desvario de chegar ao fim ...”
c) “—Ah! Um automóvel, aquela máquina que cheira mal?”
d) “... a cidade toda estreita e mau de piso, eriçava o
pedregulho contra o animal da lenda, que abava de ser inventado...”
12 – Marque a opção que apresente sinônimos das palavras
destacadas, respectivamente:
E, subitamente,
é a era do Automóvel. O monstro transformador irrompeu, bufando,
por entre os escombros da cidade velha, e como nas mágicas e na
natureza, aspérrima educadora, tudo transformou com aparências novas e
novas aspirações.
A) Cuidadosamente, reteve, xingando, entulhos e ríspido.
B) Repentinamente, surgiu, gabando-se,
destroços e dura.
C) Inesperadamente, entrou, expelindo, ruínas e rugosa.
D) Abruptamente, adentrou, ocultando, lixos e delicada.
Consegui a cola pra minha prova! Obrigado
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