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segunda-feira, 27 de novembro de 2017

SONETO: QUEM VÊ, SENHORA, CLARO E MANIFESTO - CAMÕES - COM GABARITO

SONETO: Quem vê, Senhora, claro e manifesto
                   Luís Vaz de Camões


Neste soneto, o eu lírico expressa seus sentimentos pela mulher amada.
Quem vê, Senhora, claro e manifesto
O lindo ser de vossos olhos belos,
Se não perder a vista só em vê-los,
Já não paga o que deve a vosso gesto.

Este me parecia preço honesto;
Mas eu, por de vantagem merecê-los,
Dei mais a vida e alma por querê-los,
Donde já me não fica mais de resto.

Assim que a vida e alma e esperança,
E tudo quanto tenho, tudo é vosso;
E o proveito disso eu só o levo.


Porque é tamanha bem-aventurança
O dar-vos quanto tenho e quanto posso,
Que, quanto mais vos pago, mais vos devo.
                                   
                                             Camões, Luís Vaz de. Obra completa.
                                     Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1988. p. 295.

Interpretação do texto:
1 – Como a mulher amada é caracterizada no soneto? E o eu lírico?
      A mulher amada é caracterizada como uma “Senhora”, “O lindo ser” que se manifesta nos olhos do eu lírico. Ele, por sua vez, é alguém que não hesitaria em pagar para a própria visão, a vida e a alma a oportunidade de contemplar tal manifestação de perfeição.

a)   Essa caracterização da mulher corresponde a uma idealização? Por quê?
Sim. Ao caracterizar a senhora como “o lindo ser”, o eu lírico mostra a mulher como exemplo de perfeição, por quem ele abdica de tudo, da própria essência (sua vida e sua alma).

b)   A imagem de mulher presente no poema pode ser considerada típica do classicismo? Explique.
Sim. A visão da mulher como símbolo de perfeição é típico do classicismo, já que essa idealização é o que permite a manifestação do amor neoplatônico. Essa mulher perfeita é o que desencadeia o amor espiritualizado, puro, capaz de libertar o eu lírico dos desejos profanos.

2 – Qual é o raciocínio desenvolvido pelo eu lírico para explicar seus sentimentos nas duas primeiras estrofes do soneto?
      Segundo o eu lírico, a visão da perfeição manifesta nos olhos da senhora teria como preço (justo) a cegueira de quem a contempla. Mas ele, para merecê-la, “pagou” ainda mais: deu “mais a vida e alma por querê-los, / Donde já me não fica mais de resto.”

3 – Releia:
                 “Assim que a vida e alma e esperança,
                 E tudo quanto tenho, tudo é vosso;
                 E o proveito disso eu só o levo”.

a)   Qual será o “proveito” que terá o eu lírico?
O proveito que advirá de entregar tudo o que tem e pode a essa mulher é obter “tamanha bem-aventurança”. É tão grande o bem-estar que toma conta do eu lírico com essa atitude que ele afirma que, quanto mais pagar, mais deverá a ela.

b)   Explique por que essa atitude do eu lírico expressa uma visão de amor característica do neoplatonismo.
Na visão neoplatônico, a partir de um amor puro, o indivíduo liberta-se das realidades ilusórias e contempla o belo em si, o mundo das essências. Dessa forma, aperfeiçoa-se como ser humano. É o que ocorre com o eu lírico neste soneto: ele abdica de tudo que o caracteriza e, ainda assim, conhece a “bem-aventurança” de sentir-se pleno.

4 – Considerando o tema desenvolvido no soneto, a qual das visões de amor representadas no quadro de Ticiano ele poderia ser associado? Por quê?

      Ao amor sacro, porque, tanto no poema como no quadro de Ticiano, temos a ideia de um amor mais espiritual, que não necessita da realização carnal ou material dos desejos.

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