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terça-feira, 26 de setembro de 2017

MÚSICA: AS APARÊNCIAS ENGANAM - ELIS REGINA - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO

AS APARÊNCIAS ENGANAM

As aparências enganam aos que odeiam e aos que amam
Porque o amor e o ódio se irmanam na fogueira das paixões
Os corações pegam fogo e depois não há nada que os apague
Se a combustão os persegue, as labaredas e as brasas são
O alimento, o veneno e o pão, o vinho seco, a recordação
Dos tempos idos de comunhão, sonhos vividos de conviver.

As aparências enganam aos que odeiam e aos que amam
Porque o amor e o ódio se irmanam na geleira das paixões
Os corações viram gelo e, depois, não há nada que os degele
Se a neve, cobrindo a pele, vai esfriando por dentro o ser
Não há mais forma de se aquecer, não há mais tempo de se esquentar.
Não há mais nada pra se fazer, senão chorar sob o cobertor.

As aparências enganam aos que gelam e aos que inflamam
Porque o fogo e o gelo se irmanam no outono das paixões
Os corações cortam lenha e, depois, se preparam pra outro inverno.
Mas o verão que os unira, ainda, vive e transpira ali
Nos corpos juntos na lareira, na reticente primavera
No insistente perfume de alguma coisa chamada amor.

                                   Tunai e Sérgio Natureza, www.mpbnet.com.br
                                            Warner Chappell Edições Musicais Ltda.
                                                              Todos os direitos reservados.

1 – No poema de Camões que você estudou, havia ideias paradoxais. Neste texto, que recurso é utilizado quando os compositores jogam com as ideias: amor x ódio; fogueira x geleira; fogo x gelo? Que efeito produz esse recurso?
      O verso que se repete já avisa: “as aparências enganam”, o que significa que podemos julgar o ódio amor e vice-versa. Os compositores unem os extremos, por meio do verbo “irmanar”, confirmando o que diz a sabedoria popular: os extremos se tocam. O efeito é interessante porque, ao mesmo tempo que coisas tão contrárias se “irmanam”, elas mantem, ainda, suas características próprias.

2 – Na primeira estrofe, pão, vinho e comunhão remetem a que contexto?
      Remetem à Santa Ceia. Impossível não pensar no simbolismo do pão e vinho como alimento para o corpo e para a alma, numa comunhão de amor possível.

3 – Como algo pode ser alimento e veneno ao mesmo tempo?
      Nesta estranha aproximação está a intertextualidade com o texto de Camões: ao mesmo tempo que alimenta, o amor mata. É preciso matar em nós muito de nós mesmos para viver o outro.

4 – Embora haja paralelismo sintático e semântico na letra da canção, existe uma progressão no texto. De que maneira isso ocorre da primeira para a segunda estrofe?
      Na primeira estrofe, fala-se em fogueira, fogo, labaredas: pressupõe-se tratar da fase da paixão num relacionamento; na segunda estrofe, fala-se de geleira e neve: pressupõe-se a fase de um relacionamento em que a paixão já se apagou e o amor “esfria”.

5 – Na última estrofe, explique a relação estabelecida entre os sentimentos e as estações do ano.
      Se associarmos a primeira estrofe ao verão (paixão), a segunda ao inverso (fim do amor) e a terceira ao outono (algo que está em declínio, mas que produz frutos), a última estrofe pode ser associada à primavera (algo que se renova, refloresce). Parece ser essa a ideia do “insistente perfume”: se o sentimento que une duas pessoas é o amor verdadeiro, ele sempre se renova, apesar de tudo. Se não há mais o “fogo natural”, é possível cortar a lenha e acender a lareira para aquecer os amantes.

6 – “As aparências enganam” mesmo? Em que medida essa afirmação nos possibilita relacionar esse texto com o de Camões. No caso dessa canção, qual seria a “essência”?
      Nos dois textos, os poetas jogam com ideias contraditórias. O ódio pode parecer amor e o amor pode parecer ódio porque os serres que experimentam esses sentimentos são, eles mesmos, contraditórios. A essência seria, então, o sentimento puro que une esses seres.



Um comentário:

  1. O amor e o ódio caminham juntos (Quem nunca?).
    Quanto a análise da letra,simplesmente genial.

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