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sábado, 6 de maio de 2017

CRÔNICA: PLEBISCITO - ARTUR AZEVEDO - COM GABARITO

CRÔNICA - PLEBISCITO
(Artur Azevedo)
          A cena passa-se em 1890.
         A família está toda reunida na sala de jantar. O senhor Rodrigues palita os dentes, repimpado numa cadeira de balanço. Acabou de comer como um abade.
         Dona Bernardina, sua esposa, está muito entretida a limpar a gaiola de um canário belga.
        Os pequenos são dois, um menino e uma menina. Ela distrai-se a olhar para o canário. Ele, encostado à mesa, os pés cruzados, lê com muita atenção uma das nossas folhas diárias.
           Silêncio.
De repente, o menino levanta a cabeça e pergunta:
– Papai, o que é plebiscito?
O senhor Rodrigues fecha os olhos imediatamente para fingir que dorme.
O pequenos insiste.
– Papai?
Pausa.
– Papai?
Dona Bernardina intervém:
– Ó seu Rodrigues, Manduca está lhe chamando. Não durma depois do jantar que lhe faz mal.
            O senhor Rodrigues não tem outro remédio senão abrir os olhos.
– Que é? Que desejam vocês?
– Eu queria que papai me dissesse o que é plebiscito.
– Ora essa, rapaz! Então tu vais fazer doze anos e não sabes ainda o que é plebiscito?
– Se soubesse não perguntava.
O senhor Rodrigues volta-se para dona Bernardina, que continua muito ocupada com a gaiola:
– Ó senhora, o pequeno não sabe o que é plebiscito!
 Não admira que ele não saiba, porque eu também não sei.
– Que me diz?! Pois a senhora não sabe o que é plebiscito?
– Nem eu, nem você: aqui em casa ninguém sabe o que é plebiscito.
 Ninguém, alto lá! Creio que tenho dado provas de não ser nenhum ignorante!
        – A sua cara não me engana. Você é muito prosa. Vamos: se sabe, diga o que é plebiscito! Então? A gente está esperando! Diga!…
             – A senhora o que quer é enfezar-me!
          – Mas, homem de Deus,para que você não há de confessar que não sabe? Não é nenhuma vergonha ignorar qualquer palavra. Já outro dia foi a mesma coisa quando Manduca lhe perguntou o que era proletário. Você falou, falou, e o menino ficou sem saber!
            – Proletário, acudiu o senhor Rodrigues, é o cidadão pobre que vive do trabalho mal remunerado.
           – Sim, agora sabe porque foi ao dicionário: mas dou-lhe um doce, se me disser o que é plebiscito sem se arredar dessa cadeira!
           – Que gostinho tem a senhora em tornar-me ridículo na presença destas crianças!
        – Oh! Ridículo é você mesmo quem se faz. Seria tão simples dizer: – Não sei, Manduca, não sei o que é plebiscito, vai buscar o dicionário, meu filho.
           O senhor Rodrigues ergue-se de um ímpeto e brada:
– Mas se eu sei!
– Pois se sabe, diga!
          – Não digo para não me humilhar diante de meus filhos! Não dou o braço a torcer! Quero conservar a força moral que devo ter nesta casa! Vá para o diabo!
       E o senhor Rodrigues, exasperadíssimo, nervoso, deixa a sala de jantar e vai para o quarto, batendo violentamente a porta.
          No quarto havia o que ele mais precisava naquela ocasião: algumas gotas de água de flor de laranja e um dicionário…
          A menina toma a palavra:
– Coitado do papai! Zangou-se logo depois do jantar! Dizem que é perigoso!
– Não fosse tolo, observa dona Bernardina, e confessasse francamente que não sabia o que é plebiscito!
        – Pois sim, acode o Manduca, muito pesaroso por ter sido o causador involuntário de toda aquela discussão: pois sim, mamãe, chame papai e façam as pazes.
      – Sim! sim! façam as pazes! Diz a menina em tom meigo e suplicante. Que tolice! Duas pessoas que se estimam tanto zangarem-se por causa do plebiscito!
         Dona Bernardina dá um beijo na filha e vai bater à porta do quarto:
– Seu Rodrigues, venha sentar-se; não vale a pena zangar-se por tão pouco.
        O negociante esperava a deixa. A porta abre-se imediatamente. Ele entra, atravessa a casa e vai sentar-se na cadeira de balanço.
     – É boa! brada o senhor Rodrigues depois de largo silêncio; é muito boa! Eu! Eu ignorar a significação da palavra PLEBISCITO! Eu!…
         A mulher e os filhos aproximam-se dele.
O homem continua num tom profundamente dogmático.
– Plebiscito…
E olha para todos os lados a ver se há por ali mais alguém que possa aproveitar a lição.
– Plebiscito é uma lei decretada pelo povo romano, estabelecida em comícios.
– Ah! Suspiraram todos aliviados.
– Uma lei romana, percebem? E querem introduzir no Brasil! É mais um estrangeirismo!…
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Marque com um X o sinônimo da palavra ou expressão sublinhada.
1. Em: “… lê com muita atenção uma das nossas folhas diárias.”, a expressão em negrito significa:
a. (  ) jornais      b. (  ) trabalhos escolares       b. (  ) papeis      d. (  ) contas da família
2. A frase: “O senhor Rodrigues não tem remédio senão abrir os olhos.”, pode ser entendida como “O senhor Rodrigues…
a. (  ) não encontra alívio para o seu sofrimento.
b. (  ) não tem outra solução a não ser abrir os olhos.
c. (  ) não tem jeito para abrir os olhos.
d. (  ) só encontrou um medicamento para o seu mal
3. Em: “Não admira que ele não saiba…”, a expressão em negrito pode ser entendida como:
a. (  ) é admirável        b. (  ) não causa espanto         c. (  ) não se admite      d. (  ) é incompreensível
4. Em: “Você é muito prosa.” a palavra em negrito significa:
a. (  ) vaidoso       b. (  ) sábio     c. (  ) estudioso     d. (  ) falador
5. Em: “Sim, agora sabe porque foi ao dicionário…”, a expressão em negrito pode ser entendida como:
a. (  ) comprou um dicionário         b. (  ) encontrou um dicionário
c. (  ) consultou o dicionário           d. (  ) pegou um dicionário
6. A frase: “Não dou o braço a torcer!”  pode ser entendida como:
a. (  ) Não gosto de brigar com quem é mais forte do que eu.
b. (  ) Não gosto de discutir sem ter razão.
c. (  ) Não gosto de sofrer dores.
d. (  ) Não me dou por vencido.
7. A frase: “A menina toma a palavra.”  pode ser entendida como: A menina…
a. (  ) …pensa no que irá falar.        b. (  ) …encontra uma solução.
c. (  ) …começa a falar.                      d. (  ) …para de pensar.
8. Em: “Pois sim, acode Manduca, muito pesaroso por ter sido o causador involutário de toda aquela discussão…” a palavra em negrito significa que Manduca:
a. (  ) causou a discussão de propósito
b. (  ) estava acostumado a causar discussões
c. (  ) não teve a intenção de causar a discussão
d. (  ) nunca conseguia causar uma discussão
9. Na frase: “O negociante esperava a deixa.” a expressão em negrito significa que o negociante esperava que:
a. (  ) esquecessem o incidente          b. (  ) o chamassem de volta
c. (  ) o deixassem em paz               d. (  ) não lhe fizessem mais perguntas
10. O principal objetivo do texto é:
a.( ) explicar o significado da palavra “plebiscito
b.( ) explicar o significado da palavra “proletário”
c.( ) retratar cenas típicas da família do século XIX
d.( ) caracterizar o comportamento de alguns tipos humanos
11. O senhor Rodrigues é caracterizado como:
a.( ) um homem culto
b.( ) uma pessoa orgulhosa
c.( ) uma criatura humilde
d.( ) um pau zeloso
Responda às perguntas comprovando suas respostas com passagens do texto.
12. Quando e onde se passa o episódio?____________________________
13. Os personagens do texto são: o senhor Rodrigues, Dona Bernardina, Manduca e a menina. Que relação de parentesco há entre eles? _________
14. No século XIX, era hábito os esposos se tratarem formalmente como senhor e senhora, em sinal de respeito. Como a história que acabamos de ler se passa em 1890, podemos observar que Dona Bernardina trata o marido de senhor e que o senhor Rodrigues trata a esposa de senhora. No entanto, há momentos em que Dona Bernardina, esquece essa formalidade e trata o marido de você. Quando isso acontece?
15. Manduca não sabe o significado da palavra plebiscito e pergunta ao pai, que parece se admirar do fato do menino desconhecer tal palavra. Dona Bernardina, porém, afirma que ninguém naquela casa – nem o próprio senhor Rodrigues – sabe o seu significado. No texto, lemos que o senhor Rodrigues reclama: “Ninguém, alto lá! Creio que tenho dado provas de não ser nenhum ignorante!”. Quem está certo e por quê?
16. Diante da pergunta do filho, quais as reações do Senhor Rodrigues?
Primeira reação: _______________________________________________
Depois: ______________________________________________________
17. No auge da discussão, o senhor Rodrigues retira-se para o quarto, onde, “havia o que ele mais precisava naquela ocasião: algumas gotas de água de flor de laranja e um dicionário.”. Por que o senhor Rodrigues precisava dessas duas coisas?
18. Afirmamos que o senhor Rodrigues não soube consultar o dicionário. Você concorda com nossa afirmação? Justifique sua resposta.
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GABARITO:
1.a   2.b    3.b    4.a    5.c     6.d      7.c      8.c      9.b 10.d 11.b
12. O episódio passa-se em 1980, após o jantar, na casa do senhor Rodrigues.
13. O senhor Rodrigues é marido de dona Bernardina e Manduca e a menina são filhos do casal.
14. Quando dona Bernardina discute com o marido, trata-o por você, esquecendo a formalidade.
15. Dona Bernardina é quem está certa, pois o senhor Rodrigues, apesar de negar que desconhece o significado da palavra plebiscito, vai mesmo é procurar ajuda num dicionário.
16. Primeira reação:  finge dormir, para não ter que dar uma resposta ao filho.
Depois: não tendo mais como continuar fingindo, recrimina o filho por desconhecer o significado da palavra.
17. O senhor Rodrigues precisava de algumas gotas de água de flor de laranja porque esse remédio caseiro, usado geralmente como calmante, poderia dar-lhe a tranquilidade de que necessitava naquela ocasião. Por outro lado, ele precisava do dicionário para procurar o significado da palavra plebiscito.
18. No dicionário encontramos
Plebiscito reunido em comícios. 2. Hoje, resolução submetida à apreciação do povo. 3. Voto do povo, por sim ou não, sobre uma proposta que lhe seja apresentada.

O senhor Rodrigues, ao consultar o dicionário, verificou que plebiscito é uma lei romana e, não compreendeu exatamente o que isso significa nos tempo de hoje. Por isso acusou-a de ser um estrangeirismo que queriam implantar no Brasil. Isso confirma o que dissemos: o senhor Rodrigues não soube consultar o dicionário, ao escolher um significado que não era adequado ao contexto.


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