sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

CRÔNICA: MÚSICA NO TÁXI - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

 CRÔNICA: MÚSICA NO TÁXI

                         Carlos Drummond de Andrade

        Prazeres do cotidiano. Quando menos se espera... Você pega o táxi, manda tocar para o seu destino (manda, não, pede por favor) e resigna-se a escutar durante 20 minutos, no volume mais possante, o rádio despejando assaltos e homicídios do dia. Os tiros, os gemidos, os desabamentos o acompanharão por todo o percurso. É a fatalidade da vida, quando se tem pressa.  

        Mas eis que o motorista pega de um imprevisto cassete, coloca-o no lugar devido, liga, e os acordes melódicos dos Contos dos Bosques de Viena irrompem do fusca amarrotado, mas digno.  

        Bem, não é a Nona Sinfonia nem um título menor da grande música, mas não estamos na Sala Cecília Meireles, e isso vale como homenagem especial a um passageiro distinto, que pede por favor. Cumpre agradecer a fineza:  

        – Obrigado. O senhor mostra que tem satisfação em agradar os passageiros, oferecendo-lhes música e não barulho e crimes.

        – Não tem de quê. O senhor também aprecia? 

        – O quê?  

        – Strauss. É um dos meus prediletos.  

        – Sim, ele é agradável. O senhor está sendo gentil comigo.

        – Ora, não é tanto assim. Pus o cassete porque gosto de música. Não sabia se o senhor também gostava ou não. Se não gostasse, eu desligava. Portanto, não tem que agradecer.  

        – E já lhe aconteceu desligar?  

       – Ih, tantas vezes. Fico observando a  fisionomia do passageiro. Uns, mais acanhados, disfarçam, não dizem nada, mas tem outros que reclamam, não querem ouvir esse troço. O senhor já pensou: chamar Tchaikovski de “esse troço”? Pois ouvi isso de um cidadão de gravata e pasta de executivo. Disse que precisava se concentrar, por causa de um negócio importante, e Tchaikovski perturbava a concentração.  

         – Ele talvez quisesse dizer que ficava tão empolgado pela música que esquecia o negócio.  

         – Pois sim! Nesse caso, não falaria “esse troço”, que é o cúmulo da falta de respeito.  

         – Estou adivinhando que o senhor toca um instrumento. 

         Olhou-me admirado: 

         – Como é que o senhor viu?  

         – Porque uma pessoa que gosta tanto de música, em geral toca. Seu instrumento qual é?  

          Virou-se com tristeza na voz?

         – Atualmente nenhum. O senhor sabe, essa crise geral, a gasolina pela hora da morte, e não é só a gasolina: a comida, o sapato, o resto. Tive de vender pra tapar uns buracos. Mas se as coisas melhorarem este ano...  

         – Melhoram. As coisas tem que melhorar – achei do meu dever confortá-lo.

         – Porque clarinetista sem clarinete, o senhor sabe, é um negócio sem sentido. Clarinete tem esta vantagem: dá o recado sem precisar de orquestra. Um solo bem executado, não precisa mais pra encantar a alma. Mas clarinetista, sozinho, fica até ridículo.  

         – Não diga isso. E não desanime. O dia em que arranjar outro clarinete – quem sabe?, talvez até seja o mesmo que lhe pertenceu – será uma festa.  

         – Mas se demorar muito eu já estarei tão desacostumado que nem sei se volto a tocar razoavelmente. Porque, o senhor compreende, eu não sou um artista, minha vida não dá folga pra estudar nem meia hora por dia.  

         – O importante é gostar de música, tem amor e devoção por música, e está-se vendo que o senhor tem de sobra.

        – Lá isso tá certo.

       – Não importa que o senhor não seja solista de uma grande orquestra, e mesmo de uma orquestra comum. Ninguém precisa ser grande em nada, desde que cultive alguma coisa bonita na vida. 

       Seu rosto iluminou-se.  

        – Que bom ouvir uma coisa dessas. Agora vou lhe confessar que isso de não ser músico dos tais que arrebatam o auditório sempre me doeu um pouco. Não era por vaidade não, quem sou pra ter vaidade? Mas um sonho esquisito. Sei lá. Ficava me imaginando num palco iluminado, tocando... Bobagem, o senhor desculpe. Agora a sua palavra deixou tudo claro. Basta eu gostar de música. Não é preciso que gostem de mim, nem que ela goste de mim. Obrigado ao senhor.  

           Olhei o taxímetro, tirei a carteira.  

           – Eu nem devia cobrar do senhor. Fico até encabulado!

(Boca de Luar, 6ª ed., págs. 69-71, Editora Record, Rio, 1987).

Fonte da imagem: https://www.google.com/url?sa=i&url=http%3A%2F%2Fwww.vistocar.com.br%2Frenovacao-de-crm-para-taxis&psig=AOvVaw1E1GUYqLMA0klwuvM6jdas&ust=1609024559455000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCPC09d6h6u0CFQAAAAAdAAAAABAD


 ENTENDENDO A CRÔNICA

01 - A finalidade principal do texto é

a) contar como é o cotidiano prazeroso de um motorista de táxi e a vida dos passageiros que viajam com ele.

b) denunciar as injustiças sociais que fazem com que um músico, por falta de oportunidades, exerça um outro tipo de profissão.

c) mostrar que um motorista de táxi também pode ser culto e surpreender as pessoas.

d) mostrar que, quando menos se espera, podemos romper com a rudeza do cotidiano e encontrar prazer em uma situação inesperada.

e) falar de profissões simples que contribuem para a sociedade.

 

02 - Em “Quando menos se espera...”, sem alteração de sentido, o conectivo em destaque pode ser substituído por

a) embora.

b) desde que.

c) mesmo que.

d) uma vez que.

e) no momento em que.

03 -  “... e os acordes melódicos dos Contos dos Bosques de Viena irrompem do fusca amarrotado, mas digno.” A palavra em destaque no trecho acima significa

a) invadir subitamente.     

b) manifestar-se em alto volume.

c) fazer-se ouvir delicadamente.

d) entrar delicadamente.

e) aparecer misteriosamente.

04 - No trecho “Bem, não é a Nona Sinfonia nem um título menor da grande música, mas não estamos na Sala Cecília Meireles, e isso vale como homenagem especial a um passageiro distinto, que pede por favor”, observamos um narrador que

a) relata como se não conhecesse os pensamentos e sentimentos das personagens.

b) apenas observa os fatos da história.

c) participa da história como personagem.

d) conta uma história e não participa da ação relatada.

e) tudo sabe e conhece o pensamento e os sentimentos das personagens que participam da história.

 

05 -  Em relação à acentuação gráfica, analise as proposições a seguir:

I.             As palavras rádio, negócio e auditório são acentuadas por serem proparoxítonas.

II.            Ninguém e também são acentuadas por serem oxítonas terminadas em “em”.

III.           A palavra agradável é acentuada por ser uma paroxítona terminada em “l”.

IV.          As palavras táxi, será e está obedecem à mesma regra de acentuação.

É correto o que se afirma em

a) I e II.

b) I e III.

c) II e III.

d) I, II e III.

e) I, II e IV.

 

06 - Transportando-se para a voz passiva a frase. “Clarinete dá o recado sem precisar de orquestra”, a forma verbal resultante será:

a) será dado.

b) é dado.

c) está sendo dado.

d) foi dado.

07 - Em “Quando se tem pressa”. O termo sublinhado estabelece relação de:

a) oposição.

b) causa.

c) condição.

d) tempo.

08 - A frase “Quando menos se espera”... (1º parágrafo) relaciona-se com um adjetivo do 2º parágrafo. Assinale o:

a) amarrotado.

b) digno.

c) melódicos.

d) imprevisto.

09 - De acordo com o texto, durante o trajeto percorrido pelo táxi, o passageiro sente-se agradecido por

a) encontrar música, em vez das tragédias diárias noticiadas pelas rádios.

b) poder ajudar o motorista a recuperar o seu clarinete.

c) não ter de pagar a corrida ao motorista do táxi.

d) poder ajudar alguém desanimado a recuperar sua autoestima.

e) poder conversar com alguém que também gosta de música.

 

10 - Na fala do motorista “Ficava me imaginando num palco iluminado, tocando...”, as reticências foram usadas para

a) indicar que alguém interrompeu a fala do motorista.

b) sinalizar uma interrupção brusca da história.

c) representar, na escrita, hesitações comuns na língua falada.

d) sugerir emoção, num intervalo de silêncio.

e) indicar que uma parte da história foi suprimida.

 

11 - No trecho “O senhor já pensou: chamar Tchaikovsky de ‘esse troço’?”, a observação feita por um passageiro provocou no motorista a) ódio.

b) revolta.

c) agressividade.

d) indiferença.

e) raiva.

12 - A frase que encerra a mensagem principal dessa crônica é

a) “Não desanime. O dia em que arranjar outro clarinete – quem sabe?, talvez até seja o mesmo que lhe pertenceu – será uma festa.”

 b) “O importante é gostar de música, tem amor e devoção por música, e está-se vendo que o senhor tem de sobra.”

c) “Ninguém precisa ser grande em nada, desde que cultive alguma coisa bonita na vida.”

d) “Ficava me imaginando num palco iluminado, tocando... Bobagem...”

e) “Não é preciso que gostem de mim, nem que ela goste de mim.”

 

13 - No trecho “Se não gostasse, eu desligava.”, a oração em destaque mantém com a outra do período relação de

a) concessão.

b) finalidade.

c) causa.

d) consequência.

e) condição.

POEMA: LIÇÃO DE ESCURIDÃO - THIAGO DE MELLO - COM GABARITO

 Poema: LIÇÃO DE ESCURIDÃO

              Thiago de Mello

Caboclo companheiro meu de várzea,
contigo cada dia um pouco aprendo
as ciências desta selva que nos une.

Contigo, que me ensinas o caminho dos ventos,
me levas a ler, nas lonjuras do céu,
os recados escritos pelas nuvens,
me avisas do perigo dos remansos
e quando devo desviar de viés a proa da canoa
para varar as ondas de perfil.

Sabes o nome e o segredo de todas as árvores,
a paragem calada que os peixes preferem
quando as águas começam a crescer.
Pelo canto, a cor do bico, o jeito de voar.
identificas todos os pássaros da selva.
Sozinho (eu mais Deus, tu me explicas).
atravessas a noite no centro da mata.
corajoso e paciente na tocaia da caça.
a traição dos felinos não te vence.

Contigo aprendo as leis da escuridão,
quando me apontas na distância da margem,
viajando na noite sem estrelas,
a boca (ainda não consigo ver) do Lago Grande
de onde me fui pequenino e te deixei.

De novo no chão da infância,
contigo aprendo também
que ainda não tens olhos para ver
as raízes de tua vida escura,
não sabes quais são os dentes que te devoram
nem os cipós que te amarram à servidão.

Nos teus olhos opacos
aprendo o que nos distingue.
Já repartes comigo a ciência e a paciência.
Quero contigo repartir a esperança,
estrela vigilante em minha fronte
e em teu olhar apenas um tição
encharcado de engano e cativeiro.



Barreirinha, 1981
Publicado no livro Mormaço na Floresta (1981).
In: MELLO, Thiago de. Vento geral, 1951/1981: doze livros de poemas. 2.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 198.

Fonte da imagem: https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.ecycle.com.br%2F4807-florestas&psig=AOvVaw0oL9Vvl1CrtjP-_azzWxjk&ust=1609004182254000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCNix1PDV6e0CFQAAAAAdAAAAABAD

Entendendo o poema:

01 – Que tema é abordado no poema?

      A sabedoria da mãe natureza.

02 – É possível fazer uma reflexão com a leitura do poema. Você concorda com as afirmações feitas pelo eu lírico?

      Resposta pessoal do aluno.

03 – O título do poema motiva a leitura?

      Sim. Ele desperta a curiosidade para saber que lição se tira da escuridão.

04 – Em que pessoal verbal o eu lírico conta o fato no poema? Comprove com um verso.

      Em primeira pessoal do singular. “Contigo, que me ensinas o caminho dos ventos...”.

 

POEMA: CATANDO OS CACOS DO CAOS - AFFONSO ROMANO DE SANT´ANNA - COM GABARITO

 Poema: Catando os cacos do caos

Affonso Romano de Sant’Anna

Catar os cacos do caos, como quem cata no deserto
o cacto - como se fosse flor.
Catar os restos e ossos da utopia, como de porta em porta
o lixeiro apanha detritos da festa fria e pobre no crepúsculo se aquece na fogueira erguida com os destroços do dia.

Catar a verdade contida em cada concha de mão,
como o mendigo cata as pulgas, no pelo - do dia cão.

Recortar o sentido, como o alfaiate-artista,
costurá-lo pelo avesso com a inconsútil emenda
à vista.

Como o arqueólogo
reunir os fragmentos,
como se ao vento
se pudessem pedir as flores
despetaladas no tempo.

Catar os cacos de Dionísio e Baco, no mosaico antigo
e no copo seco erguido beber o vinho, ou sangue vertido.

Catar os cacos de Orfeu partido, pela paixão das bacantes
e com Prometeu refazer o fígado - como era antes.

Catar palavras cortantes no rio do escuro instante
e descobrir nessas pedras o brilho do diamante.

É um quebra-cabeça? Então de cabeça quebrada vamos
sobre a parede do nada deixar gravada a emoção

Cacos de mim, Cacos do não, Cacos do sim, Cacos do antes
Cacos do fim

Não é dentro nem fora, embora seja dentro e fora
no nunca e a toda hora, que violento o sentido nos deflora.

Catar os cacos do presente e outrora e enfrentar a noite
com o vitral da aurora

                                            Affonso Romano de Sant’Anna

Entendendo o poema:

01 – De que se trata o poema?

      Trata-se de retalhos de vida que passamos a construir das peças que sempre sobram... como são cacos têm arestas e nem sempre é fácil encaixá-los no lugar certo.

02 – Na primeira estrofe o eu lírico fala em catar cacos, de onde?

      Mostra que o cacos se intensifica nos cacos. São estilhaços da alma espalhados no cotidiano.

03 – Por que o eu lírico evoca o precioso gesto de catar?

      Catar é juntar, é ultrapassar barreiras, incômodos fortalezas, cactos. Verter cacto em flor.

04 – Utopias invadem as almas em momentos aflitos, e como seria catar os restos da utopia?

      É dar voz ao coração regado pela liberdade, e a liberdade está nas palavras.

05 – Nos versos: “Catar os cacos de Dionísio e Baco, no mosaico antigo / e no copo seco erguido beber o vinho, ou sangue vertido.”. O eu lírico nesses versos cita o copo erguido, por quê?

      Talvez Dionísio e Baco estavam clamando pelo vinho, o vinho da concórdia, da audácia poética, necessária para que o mundo se reencontre na poesia.

 

POEMA: PARA SER GRANDE, SÊ INTEIRO: NADA - RICARDO REIS (FERNANDO PESSOA) - COM GABARITO

 Poema: Para ser grande, sê inteiro: nada

“Para ser grande, sê inteiro: nada

 Teu exagera ou exclui.

 Sê todo em cada coisa. Põe quanto és

 No mínimo que fazes.

 Assim em cada lago a lua toda

 Brilha, porque alta vive.”

 

Ricardo Reis PESSOA, Fernando. Poesia; poesias de Ricardo Reis. São Paulo.

Entendendo o poema:

01 – Qual o sentido da palavra “grande”, no primeiro verso do poema?

      No sentido da grandeza humana das pessoas que vivem respeitando sempre o outro.

02 – De que trata o poema?

      Propõe uma reflexão sobre valores humanos.

03 – Quais são os verbos no modo imperativo que há no poema?

      “Sê, exclui, põe”.

04 – Com que intenção o eu lírico usa estes verbos?

      Para dar conselhos sugerindo que se seja íntegro e que se mostre entrega / compromisso nas ações e na vida.

05 – Segundo o eu lírico, o que é ser inteiro?

      É aceitar aquilo que se é, e ter coragem de agir em conformidade em todos os momentos da vida, sendo coerente. É ser empenhado e ter espírito de entrega.

06 – Nos últimos dois versos: “Assim em cada lago a lua toda / Brilha, porque alta vive”. O que o eu lírico conclui?

      Conclui que as pessoas que mantém esta atitude nobre que ele descreve, serão admiradas e vistas como exemplo por todos os outros...

07 – Nos versos: “Põe quanto és / No mínimo que fazes”. Que quer dizer?

      Que devemos dar sempre o nosso melhor em tudo aquilo que fazemos, porque assim ficaremos satisfeitos e de consciência tranquila.

08 – No poema, o verbo “sê” está em segunda pessoa e pertence a um modo verbal que estabelece um efeito de sentido, cujo tom é de:

a)   Aconselhamento.

b)   Desregramento.

c)   Condição.

d)   Certeza.

e)   Suposição.

 

CONTO: PÔR DE SOL DE TROMBETA - MONTEIRO LOBATO - COM GABARITO

Conto: Pôr de sol de trombeta    

      Monteiro Lobato


   O pôr do sol de hoje é de trombeta – disse Emília, com as mãos na cintura, de pezinho sobre o batente da porteira onde, naquela tarde, depois do passeio pela floresta, o pessoal de Dona Benta havia parado. Eles nunca perdiam ensejo de aproveitar os espetáculos da natureza. Nas chuvas fortes, Narizinho ficava de nariz colado à janela, vendo chover. Se ventava, Pedrinho corria à varanda com o binóculo para espiar a dança das folhas secas – “quero ver se tem saci dentro”.

        E o Visconde dava as explicações científicas de todas as coisas.

        O pôr do sol daquele dia estava realmente lindo. Era um pôr do sol de trombeta. Por quê? Porque Emília tinha inventado que em certos dias o Sol “tocava trombeta a fim de reunir todos os vermelhos e ouros do mundo para a festa do acaso”. Diante dum pôr de sol de trombeta ninguém tinha ânimo de falar, porque tudo quanto dissessem saía bobagem. Mas Dona Benta não se conteve.

        -- Que maravilhoso fenômeno é o pôr do sol! – disse ela.

        Emília deu um pisco para o Visconde por causa daquele “fenômeno”, e resolveu encrencar.

        -- Por que é que se diz “pôr do sol”, Dona Benta? – perguntou com o seu célebre ar de anjo de inocência. – Que é que o Sol põe? Algum ovo?

        Dona Benta percebeu que aquilo era uma pergunta armadilha, das que forçavam certa resposta e preparavam o terreno para o famoso “então” da Emília.

        -- O sol não põe nada, bobinha. O sol põe-se a si mesmo.

        -- Então ele é o ovo de si mesmo. Que graça!

 

LOBATO, Monteiro. A chave do tamanho, In Obra infantil completa. Vol. 3. Edição Centenário (1882-1982), São Paulo: Brasiliense, p.1105.

Fonte da imagem:https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FP%25C3%25B4r_do_sol&psig=AOvVaw03IoqeNWet4fnOgY5pEadZ&ust=1609002401843000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCIio7KbP6e0CFQAAAAAdAAAAABAD


Entendendo o poema:

01 – Que tema é abordado no conto?

      O fenômeno: pôr-do-sol.

02 – Quais os personagens que fazem parte dessa narrativa?

      Emília, Narizinho, Pedrinho, Visconde e Dona Benta.

03 – Onde ocorreram os fatos?

      No sítio, depois do passeio na floresta.

04 – Que fato provocou o desenrolar dos acontecimentos descritos no conto?

      O fato da Emília ter falado que o pôr do sol hoje era de trombeta.

05 – Como Emília explicou o que era pôr do sol de trombeta?

      Que certos dias o Sol tocava trombeta a fim de reunir todos os vermelhos e ouros do mundo para a festa do acaso.

06 – Que pergunta Emília fez para Dona Benta, e ela percebeu que era armadilha?

      “– Que é que o Sol põe? Algum ovo?”.

07 – Quais são os tipos de relações humanas que podem ser percebidas no enredo da obra?

      A curiosidade, a amizade, o respeito e a confiança.

08 – Que imagens você conseguiu visualizar durante a leitura?

      Resposta pessoal do aluno.

09 – Se pudesse alterar alguma situação nessa história, qual seria? Por quê?

      Resposta pessoal do aluno.

10 – Qual o desfecho (epílogo ou conclusão) da história?

      Dona Benta explica a Emília que o Sol põe-se a si mesmo.

     

     

 

 

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

CRÔNICA: UMA LIÇÃO INESPERADA - JOÃO ANZANELLO CARRASCOZA - COM GABARITO

 Crônica: Uma lição inesperada

                 João Anzanello Carrascoza

  No último dia de férias, Lilico nem dormiu direito. Não via a hora de voltar à escola e rever os amigos. Acordou feliz da vida, tomou o café da manhã às pressas, pegou sua mochila e foi ao encontro deles. Abraçou-os à entrada da escola, mostrou o relógio que ganhara de Natal, contou sobre sua viagem ao litoral. Depois ouviu as histórias dos amigos e divertiu-se com eles, o coração latejando de alegria.

      Aos poucos, foi matando a saudade das descobertas que fazia ali, das meninas ruidosas, do azul e branco dos uniformes, daquele burburinho à beira do portão. Sentia-se como um peixe de volta ao mar. Mas, quando o sino anunciou o início das aulas, Lilico descobriu que caíra numa classe onde não havia nenhum de seus amigos.

      Encontrou lá só gente estranha, que o observava dos pés à cabeça, em silêncio. Viu-se perdido e o sorriso que iluminava seu rosto se apagou. Antes de começar, a professora pediu que cada aluno se apresentasse. Aborrecido, Lilico estudava seus novos companheiros. Tinha um japonês de cabelos espetados com jeito de nerd. Uma garota de olhos azuis, vinda do Sul, pareceu-lhe fria e arrogante. Um menino alto, que quase bateu no teto quando se ergueu, dava toda a pinta de ser um bobo. E a menina que morava no sítio? A coitada comia palavras, olhava-os assustada, igual a um bicho-do-mato. O mulato, filho de pescador, falava arrastado, estalando a língua, com sotaque de malandro. E havia uns garotos com tatuagens umas meninas usando óculos de lentes grossas, todos esquisitos aos olhos de Lilico. A professora? Tão diferente das que ele conhecera... Logo que soou o sinal para o recreio, Lilico saiu a mil por hora, à procura de seus antigos colegas. 

      Surpreendeu-se ao vê-los em roda, animados, junto aos estudantes que haviam conhecido horas antes. De volta à sala de aula, a professora passou uma tarefa em grupo. Lilico caiu com o japonês, a menina gaúcha, o mulato e o grandalhão. Começaram a conversar cheios de cautela, mas paulatinamente foram se soltando, a ponto de, ao fim do exercício, parecer que se conheciam há anos. Lilico descobriu que o japonês não era nerd, não: era ótimo em Matemática, mas tinha dificuldade em Português. A gaúcha, que lhe parecera tão metida, era gentil e o mirava ternamente com seus lindos olhos azuis. O mulato era um caiçara responsável, ajudava o pai desde criança e prometeu ensinar a todos os segredos de uma boa pescaria. O grandalhão não tinha nada de bobo. Raciocinava rapidamente e, com aquele tamanho, seria legal jogar basquete no time dele.       

       Lilico descobriu mais. Inclusive que o haviam achado mal-humorado quando ele se apresentara, mas já não pensavam assim. Então, mirou a menina do sítio e pensou no quanto seria bom conhecê-la. Devia saber tudo de passarinhos. Sim, justamente porque eram diferentes havia encanto nas pessoas. Se ele descobrira aquilo no primeiro dia de aula, quantas descobertas não haveria de fazer no ano inteiro? E, como um lápis deslizando numa folha de papel, um sorriso se desenhou novamente no rosto de Lilico.

João Anzanello Carrascoza

(Nova Escola, dez 2000.)

Fonte: Livro- Ler, entender, criar – Língua Portuguesa – 6ª série – Ed.Ática,2003.p.179/180.

Entendendo a crônica

1)   A leitura do texto permite identificar a expectativa de um menino no seu retorno ao primeiro dia de aula.

A palavra que contradiz essa expectativa é

         A) tédio.

         B) ansiedade.

         C) excitação.

         D) euforia.

         E) alegria.

 

2)Tomando como base o texto “Uma lição inesperada”, considere as afirmativas abaixo:

 I - É uma narrativa que possui como protagonista um menino.

 II – É um texto essencialmente descritivo, como se pode comprovar na passagem “Aos poucos, foi matando a saudade das descobertas que fazia ali, das meninas ruidosas, do azul e branco dos uniformes...”

 III - Há predomínio de narrador personagem com características de onisciência.

 IV - As ações se desenvolvem num tempo cronológico e num espaço físico marcado por ambiente escolar e de relações interpessoais.

 Acerca das afirmações, observa-se que

A) apenas II é correta.

B) I, II e IV são corretas.

C) I e IV são corretas.

D) II e III são corretas.

E) todas as afirmativas são corretas.

 

3) A partir de uma leitura atenta do texto base, chega-se à conclusão de que há uma caracterização errônea das personagens em

A) o japonês - cabelos espetados com jeito de nerd.

B) a gaúcha - gentil e possuía lindos olhos azuis.

C) o mulato - um caiçara responsável.

D) o grandalhão – raciocínio rápido.

E) Lilico - mal humorado.

4) O narrador, ao descrever a menina que morava no sítio, além de utilizar a expressão “bicho do mato” diz que ela ‘comia palavras’. O objetivo pretendido pelo narrador, ao se utilizar desses recursos, foi de

A) mostrar a ignorância da menina.

B) demonstrar o medo sentido pela menina.

C) evidenciar o ambiente assustador da sala de aula.

D) enfatizar o comportamento dos colegas.

E) precisar o caráter tímido e calado da menina.

 

5) A opção que ilustra, adequadamente, o espaço físico em que se desenrola a narrativa é

A) “No último dia de férias...”

B) “De volta à sala de aula, a professora passou uma tarefa em grupo...”

C) “Acordou feliz da vida, tomou o café da manhã às pressas...”

D) “Então, mirou a menina do sítio e pensou no quanto seria bom conhecê-la”

E) “...quantas descobertas não haveria de fazer no ano inteiro?”

 

6) Em “Sentia-se como um peixe de volta ao mar.”, a comparação grifada tem o mesmo valor de

A) em casa.

B) fora de casa.

C) um peixe.

D) desorientado.

E) como o mar.

7) Ao expressar a ideia no período “Sim, justamente porque eram diferentes havia encanto nas pessoas.”, o narrador

A) demonstra sua aversão aos diferentes colegas de turma.

B) exulta as diferenças e sua aceitação no relacionamento com os colegas.

C) mostra que as diferenças eram um empecilho nas relações com os colegas.

D) mostra que o encanto dos colegas não está nas diferenças.

E) demonstra repúdio e asco contra os colegas.

 

8) No trecho: “Então, mirou a menina do sítio e pensou no quanto seria bom conhecê-la.”, os verbos destacados possuem correspondência semântica em

A) virou, memorizou.

B) refletiu, viu.

C) observou, refletiu.

D) virou, observou.

E) refletiu, memorizou.

9) Lilico descobriu que todos tinham características positivas e, portanto, cada um tinha uma contribuição importante no grupo.

A) O que menina que morava no sítio tinha a oferecer para a turma?

      Ensinar tudo sobre os passarinhos.

B) E o colega alto?

     Raciocinava rapidamente e, com aquele tamanho, seria legal jogar basquete no time dele.

C) E o mulato, filho de pescadores, o que poderia dar aos meninos da turma?

    Ensinar a todos os segredos de uma boa pescaria.

D) O que o surpreendeu na garota gaúcha?

      Que não era metida, e sim gentil e o mirava ternamente com seus lindos olhos.

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

POEMA: O BOI - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

 POEMA: O BOI

  Carlos Drummond de Andrade

Ó solidão do boi no campo,
ó solidão do homem na rua!
Entre carros, trens, telefones,
entre gritos, o ermo profundo.

Ó solidão do boi no campo,
ó milhões sofrendo sem praga!
Se há noite ou sol, é indiferente,
a escuridão rompe com o dia.

Ó solidão do boi no campo,
homens torcendo-se calados!
A cidade é inexplicável
e as casas não têm sentido algum.

Ó solidão do boi no campo!
O navio-fantasma passa
em silêncio na rua cheia.
Se uma tempestade de amor caísse!
As mãos unidas, a vida salva…
Mas o tempo é firme. O boi é só.
No campo imenso a torre de petróleo.

Carlos Drummond de Andrade


Entendendo o poema

1)   Observe os versos:

“Se há noite ou sol, é indiferente,

a escuridão rompe com o dia.”

A expressão que, empregada para ligar esses versos, expressa noção adequada ao contexto

a)   portanto, com sentido de conclusão.

b)   desde que, com sentido de condição.

c) embora, com sentido de concessão.

d) pois, com sentido de explicação.

e) que, com sentido de consequência.

 

                 2 - Qual é o sentimento que está sendo abordado nesse poema?

               Tristeza e solidão

3 - Quais são os efeitos sonoros que o poeta utiliza para tratar do sentimento em questão?

Ele se utiliza do antecanto (verso que se repete no princípio de cada estrofe).

4 - Quais são as possíveis relações entre o homem e o animal citado no poema?
Ele diz que o mesmo sofrimento do animal, o homem também sofre.

5 - Qual é a solução proposta pelo eu lírico para acabar com o problema posto no poema? 

Que o amor é a salvação. Como vimos nesse verso:

“Se uma tempestade de amor caísse!
As mãos unidas, a vida salva…”