sábado, 7 de novembro de 2020

CRÔNICA: E SE NÃO PASSAR? MARTHA MEDEIROS - COM GABARITO

 CRÔNICA: E SE NÃO PASSAR?

                    (Martha Medeiros)

          Estamos há quase quatro meses mergulhados numa pandemia que mudou nossos hábitos, nos impôs restrições, nos distanciou fisicamente e nos colocou frente a frente com nossas fragilidades. Vai ficar por isso mesmo? Quando iniciou, parecia apenas uma onda gigante e repentina. Se soubéssemos nos manter à tona, boiando sobre ela, obedientes e respeitosos diante do seu tamanho, nada de muito ruim iria nos acontecer e logo reencontraríamos a calmaria.

          É o que vem acontecendo nos países europeus, que estão retomando as atividades cotidianas, dando um passo de cada vez. O Brasil, caótico por natureza, vai levar mais tempo, nenhuma novidade. Três, seis, dez meses? Quando teremos nossa vida de volta?

        Talvez nunca, não como era antes. É provável que tenhamos que assimilar que a nossa atual precariedade determinará novos modelos de conduta daqui para frente.

         Lavar as mãos, usar máscara e evitar aglomerações: já estamos nos acostumando. Poderíamos nos acostumar agora com o desprestígio da ostentação e do consumismo delirante. Continuaremos comprando comida, roupas e remédios, precisaremos de um bom teto como sempre precisamos, mas nossos luxos talvez mudem – tomara que mudem. Hora de privilegiar as questões humanas, se soubermos aproveitar a oportunidade.

         Não chego a falar de um renascimento espiritual, que soaria pomposo, mas acredito, sim, que a tendência é reavaliarmos nosso estilo de vida. As grandes metrópoles se tornaram zonas de contágio, e um êxodo urbano não seria má ideia: sair em busca de desintoxicação, mais atividades ao ar livre, cidades menores, menos concentração populacional.

         A arte também se beneficiará desta pandemia. Não só por sua valorização evidente (o que teria sido de nós sem livros, música e filmes nesse longo confinamento?), mas também pelo surgimento de talentos até então desconhecidos: as pessoas foram obrigadas a descobrir em si algum dom - artes manuais, gastronomia, desenho digital, colagens, fotografia, vá saber quantos outros. A expressão artística poderá ser nossa grande contribuição à humanidade: não voltaremos a ser apenas consumidores de cultura, mas fornecedores também.

         Não é se apegando a símbolos de status que prestaremos homenagem à nossa sobrevivência, e sim expandindo nossa criatividade, encontrando os amigos, bebendo e comendo com eles, namorando, celebrando as sensações, não as aquisições. Utilidades práticas seguirão bem-vindas, mas as utilidades emocionais é que definirão nosso bem estar: meditação para dormir melhor, leitura para mais autoconhecimento, empatia para reduzir desigualdades. Já que esta crise é inevitável, que a gente ao menos transforme nosso espanto em sabedoria.

 

Atividades

1. De que  assunto  trata a crônica?

    Refere-se a Pandemia por causa do Coronavírus COVID 19, faz uma reflexão se ela não passar, como vai ser?

 

2. Por que, em sua opinião, o título apresenta um questionamento?

    Resposta pessoal.

 

3. No início do texto, com o que a autora compara a pandemia?

    Parecia apenas uma onda gigante e repentina.

 

4. O que a expressão “calmaria” (primeiro parágrafo) representa quando relacionada à pandemia de COVID-19?

     Que voltaríamos a ter a mesma vida de antes, que tudo voltaria ao normal.

 

5. A autora parece concordar com a forma como o Brasil enfrenta a pandemia?

Transcreva um trecho do texto que justifique a sua resposta.

         Estamos há quase quatro meses mergulhados numa pandemia que mudou nossos hábitos, nos impôs restrições, nos distanciou fisicamente e nos colocou frente a frente com nossas fragilidades.

          O Brasil, caótico por natureza, vai levar mais tempo, nenhuma novidade.

 

6. Segundo a autora, quais são os novos modelos de conduta devemos adotar daqui para frente?

     Lavar as mãos, usar máscara e evitar aglomerações: já estamos nos acostumando.

 

 

ARTIGO DE OPINIÃO: PAGANDO A DÍVIDA ALHEIA - LYA LUFT - COM GABARITO

 ARTIGO: Pagando a dívida alheia

                     Lya Luft

 De repente estamos todos endividados e inadimplentes – ao menos a maioria de nós brasileiros comuns, sem mansões, nem iates, nem casas em Miami. Estamos assim porque fomos conclamados, tempos atrás, a consumir. Lembram? Eu não esqueci, e não consumi porque estava mais alerta e menos confiante: “Comprem seu carro! Troquem a geladeira! Comprem TV plana!

           Não deixem de fazer nada disso; as elites brancas não querem que vocês tenham nada”.

           E saíram os brasileiros confiantes e crédulos a consumir – como se consumo, e não investimento de parte do governo, fosse crescimento. Realmente tivemos por um breve período uma sensação nova de confiança e bem-estar. Disseram (e acreditamos) que a miséria tinha sido liquidada no país; e éramos todos da classe média: quem ganhava mais do que 350 reais era da classe média.

[...]

         O Estado que ganhou mais do que podia e devia, com gestão equivocada, gastos faraônicos em empreendimentos luxuosos logo abandonados por falta de planejamento, agora nos convoca a pagar também suas dívidas – que não são nossas.

Há poucos dias fomos avisados: a caixa está vazia, o dinheiro do governos acabou, entrou no ralo da imprudência.

          Suspendem-se bolsas de estudo, investimentos em saúde e infraestrutura, e abrese a dura realidade: projetos, comissões, estudos, palavrórios, mas não sabem o que fazer com o Brasil.

         Para consertar o que parece inconsertável, corta-se na carne... sobretudo na nossa. Cortam-se benefícios como tempo de trabalho para ter seguro-desemprego, dificultam-se condições para obter aposentadoria, reduzem-se pensões, e aumenta a angústia do povo.     Cresce a inflação, sobe o desemprego, combinação fatal. Operários, funcionários, empregados domésticos, gerentes de lojas e de empresas, de repente às voltas com falta de trabalho e excesso de dívidas.

[...]

         A explicação fornecida para a crise é de romance: a Europa e os Estados Unidos são os responsáveis, e São Pedro, que faz chover demais numa região e pouco em outra. Se não formos um povo escolarizado, um povo informado, que lê jornal, assiste a noticiosos, conversa com família, amigos e colegas para saber o que se passa, é assim que seremos tratados. Promessas retumbantes e discursos otimistas e confusos não deviam mais nos enganar. A gente precisa da verdade. Precisa de respeito. Precisa das oportunidades que nos foram tiradas quando nos colocaram entre os últimos do mundo em educação, economia, confiabilidade e outros.

Mas talvez se possa ajudar o Brasil usando as armas mais eficientes que temos, se bem usadas: manifestações ordeiras, não acreditar em promessas vazias, nem dar atenção a dança de políticos que trocam de partidos e convicções, na festa das gavetas que reina no Congresso. E usar o “voto” – gesto mínimo e definitivo que pode derrubar estruturas perversas e chamar de volta entre nós as duas irmãs indispensáveis para uma nação soberana: esperança e confiança.

Lya Luft. Veja, ano 48, nº 23, 10 de junho de 2015, p.23.

 

01. A partir do trecho “A explicação fornecida para a crise é de romance...”, pode-se entender que

a) as causas atribuídas à crise são fantasiosas, inverossímeis.

b) a situação econômica do Brasil é grave, mas pode ter um final feliz.

c) a crise econômica constitui-se numa sequência de fatos interligados.

d) os vilões da crise econômica do Brasil são a Europa e os Estados Unidos.

e) a crise é uma narrativa baseada em acontecimentos dramáticos e reais.

 

02. No trecho “E usar o ‘voto’ – gesto mínimo e definitivo que pode derrubar estruturas perversas [...]” (último parágrafo), o uso do travessão indica

a) conclusão das ideias desenvolvidas no parágrafo.

b) enunciação da mudança de interlocutor do texto.

c) opinião contrária à afirmação apresentada no texto.

d) ressalva que vem confirmar uma ideia apresentada.

e) explicação para um termo apresentado anteriormente.

 

03. Pode-se afirmar sobre a linguagem empregada no texto que

a) o uso parcial da primeira pessoa indica que a autora deixa prevalecer a subjetividade na defesa do seu ponto de vista.

b) o uso predominante da primeira pessoa é um recurso argumentativo usado pela autora para convencer o interlocutor.

c) o uso predominante da terceira pessoa é um recurso argumentativo usado para marcar a pessoalidade.

d) o emprego parcial da terceira pessoa justifica-se pela necessidade de marcar a subjetividade na apresentação dos fatos.

e) o emprego parcial da terceira pessoa justifica-se por tratar-se de um gênero discursivo pertencente à esfera acadêmica.

 

04. A finalidade do texto consiste em

a) refletir sobre a crise econômica que afeta toda a população brasileira.

b) expor sobre as medidas de contenção de gastos realizadas pelo governo.

c) apresentar sugestões de enfrentamento da crise econômica que assola o Brasil.

d) mostrar que as pessoas são vulneráveis às situações de consumo impostas pelo estado.

e) explicar por meio de fatos como se deu o endividamento dos brasileiros nos últimos anos.

 

05. Em “Suspendem-se bolsas de estudo, investimentos em saúde e infraestrutura, e abre-se a dura realidade: projetos, comissões, estudos, palavrórios, mas não sabem o que fazer com o Brasil.”, pode-se depreender do emprego do termo “se” que

a) na primeira ocorrência, o se indica indeterminação do sujeito e na segunda, pronome apassivador.

b) na primeira ocorrência, o se constitui um pronome apassivador e na segunda, índice de indeterminação do sujeito.

c) na primeira ocorrência, o se é índice de indeterminação do sujeito e na segunda, é parte integrante do verbo.

d) na primeira e na segunda ocorrência, o se indica indeterminação do sujeito;

e) na primeira e na segunda ocorrência, o se constitui um pronome apassivador.

 

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

NOTÍCIA: CIENTISTA BRASILEIRO DESCOBRE A VACINA PARA A COVID-19 - JORNAL TUDO VIRA NOTÍCIA - COM GABARITO

        JORNAL TUDO VIRA NOTÍCIA!

          Sexta-feira, 07 de agosto de 2020

 CIENTISTA BRASILEIRO DESCOBRE A VACINA PARA A COVID-19

 Na última quinta-feira, 06 de agosto, foi anunciada uma importante descoberta contra a Covid-19, causadora da maior pandemia dos últimos séculos. O grande cientista brasileiro Dr. Lucas Silva, do Instituto Tudo pela Vida, apresentou à imprensa a única vacina capaz de salvar milhões de pessoas do novo coronavírus.

Ela foi desenvolvida a partir de substâncias identificadas em coletas de secreção realizadas nas narinas de pessoas infectadas.

A população mundial certamente ficará mais tranquila agora, já que a vacina será produzida para atender, primeiramente, os pobres países que ainda enfrentam a contaminação descontrolada pelo vírus.

 Entendendo a Notícia

                 1) De que assunto trata o texto?

                 O texto confere a descoberta da cura a um cientista brasileiro.

                 2) Na notícia, algumas palavras estão em destaque. Qual é a função delas no contexto noticiado

                As palavras em destaque têm a função de caracterizar algo ou alguém. No contexto da notícia elas fazem toda a diferença, pois trazem informações diferenciadas a respeito do ser enfatizado. Não são seres quaisquer, são seres que possuem atributos a mais:

                       Não é um cientista qualquer que descobre a vacina, mas um cientista brasileiro, por exemplo.

 

                3) Releia o trecho, retirando as palavras em destaque. Percebeu a diferença? O que a ausência delas causa ao sentido global do texto? As mensagens pretendidas originalmente são prejudicadas? (Essa atividade poderá ser feita oralmente).

              A ausência dos adjetivos (palavras em destaque) deixa o texto com informações bem gerais. Isso causa alteração dos sentidos originalmente pretendidos.

 

                4) Há diferença de sentido entre “[...] os pobres países [...]” como está no texto, e os países pobres?

                 

            A posição do adjetivo pode alterar o sentido pretendido. Em “pobres países”, há duas possibilidade de entendimento: 1 – coitados; 2 – desprovido de riquezas. No contexto, parece que o intuito se aproxima da segunda concepção de sentido.

POEMA: A INCONSTÂNCIA DOS BENS DO MUNDO - GREGÓRIO DE MATOS - COM GABARITO

 POEMA: A inconstância dos bens do mundo

Gregório de Matos


Nasce o sol, e não dura mais que um dia,

Depois da luz se segue a noite escura,

Em tristes sombras morre a formosura,

Em contínuas tristezas a alegria.

 

Porém se acaba o Sol, por que nascia?

Se formosura a Luz e, por que não dura?

Como beleza assim se transfigura?

Como o gosto da pena assim se fia?

 

Mas no Sol, e na Luz, falte firmeza,

Na formosura não se dê constância.

E na alegria sinta-se tristeza.

 

Começa o mundo enfim pela ignorância,

E tem qualquer dos bens por natureza

A firmeza somente na inconstância.

Entendendo o poema

 1)   Faça uma análise do título do poema. O que ele antecipa?

A expressão “inconstância”: aquilo que não constante, não é perseverante, algo que oscila. Assim, a análise do título permite ao leitor supor que o poema versará sobre as coisas do mundo que não são permanentes.

 2)    Observe o par que permite relações opostas no poema: nasce/morre. Esse recurso estilístico, que se utiliza da oposição para construir e ampliar o sentido do texto, é chamado de antítese.

Retire outros exemplos de antítese que aparecem no poema.

Luz- escura; tristes sombras – formosura; tristezas – alegria.

 3)    Ao analisar a composição dos versos, reflita: o título confirma a temática do poema?

Que as coisas inconstantes do mundo estão    descritas no poema, como o dia e a noite, a beleza e a feiura, a tristeza e a alegria.

  4)    Que interpretação podemos fazer da primeira estrofe?

O poeta compara a ideia de luz e sol, contrapondo a ideia de escuridão e noite, há tristeza; formando-se assim um ciclo interminável. Quando nasce o sol logo após surge a noite. Quando há alegria, logo após virá a tristeza.

5)   Na segunda estrofe, Gregório faz uma série de pergunta, na quais, ficam sem respostas, por quê?

         Mesmo não tendo respostas ele faz questão de modo amplo, além disso, mostra-se bastante subjetivo.

 

POEMA: AMOR - ÁLVARES DE AZEVEDO - COM GABARITO

 POEMA: AMOR

                 Álvares de Azevedo

Amemos! quero de amor
Viver no teu coração!
Sofrer e amar essa dor
Que desmaia de paixão!
Na tu'alma, em teus encantos
E na tua palidez
E nos teus ardentes prantos
Suspirar de languidez!


Quero em teus lábios beber
Os teus amores do céu!
Quero em teu seio morrer
No enlevo do seio teu!
Quero viver d'esperança!
Quero tremer e sentir!
Na tua cheirosa trança
Quero sonhar e dormir!
 
Vem, anjo, minha donzela,
Minh'alma, meu coração...
Que noite! que noite bela!
Como é doce a viração!
E entre os suspiros do vento,
Da noite ao mole frescor,
Quero viver um momento,
Morrer contigo de amor!

Entendendo o poema

1)   Quais são as particularidades de um texto poético? Há ritmo e musicalidade no poema? Quais sentimentos são descritos no poema?

O texto poético é subjetivo e seu significado é aberto. Mesmo quando não há rimas, a linguagem poética é baseada no ritmo. Nesse caso, há a presença forte de rimas bastante conhecidas em palavras que terminam com “ÃO”, “EZ” e “OR”. Essa musicalidade contribui para dar sentido aos sentimentos descritos no poema.

2)   Em que contexto circula esse texto? Normalmente, quem é o leitor desse texto?

O poema costuma aparecer em livros ou mesmo em sites e blogs para o público interessado na linguagem poética.

 

 

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

CRÔNICA: TOURO, NA 0084 - MILTON DIAS - COM GABARITO

 CRÔNICA: Touro, na 0084       

  Milton Dias

       Uma tarde, àquela hora angustiosa da espera do bicho, praticamente desligado da realidade, perdido em sonhos e projetos, o telefone tocou, na mesa vizinha, ele atendeu. Era uma voz de rapazote chamando Vivaldo, que se ausentara um momento: – Olhe aqui! Seu Vivaldo pediu para informar a milhar assim que corresse. Por favor, diga a ele que deu o touro na 0084. Inocêncio empalideceu, pediu que repetisse, que aguardasse um minuto. Arrancou do bolso a pule, num gesto nervoso, conferindo, constatou: era a milhar que tinha jogado, não havia dúvida. E repôs violentamente o fone no gancho. A pele mulata retomou sangue subitamente, passou da palidez ao rubor, e Inocêncio anunciou aos gritos para os companheiros: Deu o touro, ganhei! Deu o touro na 0084, nós ganhamos, eu e o Vivaldo! E apoplético, as veias do pescoço saltadas, o olhar esgazeado, caminhou, como um autômato, em direção ao gabinete da gerência, abriu a porta intempestivamente, sem se anunciar. E diante do gerente gordo, atônito, lento, instalado como um rei, abanou-lhe o queixo com a pule, gritou triunfante: – Tá vendo isto aqui? É a minha carta de alforria! Não preciso mais desta droga nem uma hora! Vão-se todos pro inferno, magote de miserável! Já ouviu? Pro inferno! E saiu, batendo a porta com estrépito. Deixou o gerente incapaz de entender aquele destampatório insólito, da parte de quem sempre se manifestara aparentemente dócil, quase servil, junto aos chefes. Voltou, em seguida, ao escritório, riu para os colegas o riso da vitória e ainda excitado, agitando a pule como bandeira da vitória, comentou, quase aos gritos, entre aliviado e superior: – Eu sabia! Eu sabia que havia de me livrar desta corja... Nisto, Vivaldo entrou na sala. Inocêncio encaminhou-se para ele, abriu-lhe os braços num gesto de confraternização e de alegria, num convite tácito para a comemoração em comum do grande momento, a boca rasgada num riso amplo, os olhos faiscando de felicidade. De repente, numa fração de segundo, surpreendeu no olhar do companheiro uma expressão velhaca, um raio matreiro, de inteligência e de mofa, acompanhado dum riso inesquecível, irônico, quase zombeteiro. O qual riso, crescendo numa crise incontida, explodiu numa gargalhada achincalhante, revelando, sem palavras, que Vivaldo lhe pregara uma peça e que a estória toda da milhar não passava de um trote.

DIAS, Milton. Entre a boca da noite e a madrugada. Fortaleza: Edições UFC, 2008, p. 24-25. Coleção Literatura no Vestibular.

01. Analise o que se pede em cada subitem a seguir e assinale a única alternativa correta para cada um. A escolha de mais de uma alternativa por item anula a resposta.

 1.1. Da leitura do texto, depreende-se que Inocêncio esperava vir, do sucesso no jogo, sua redenção financeira e, por consequência, sua alforria da Companhia para a qual trabalhava; por isso, a hora da espera do bicho era “angustiosa”. Nessa hora, Inocêncio desligava-se da realidade e perdia-se “em sonhos e projetos”. Essa atitude de Inocêncio vai de encontro ao dito popular:

A) Quem não arrisca não petisca.

B) Não confie na sorte, o triunfo nasce da luta.

C) Aproveite a sorte, enquanto ela está a seu favor.

 1.2. Ao acreditar que ganhara no jogo-do-bicho, Inocêncio invade a sala do gerente da Companhia onde trabalha e diz tudo o que pensa. Logo depois, porém, toma conhecimento de que “a estória toda da milhar não passava de um trote”. Inocêncio teria poupado a si mesmo do ridículo caso tivesse aplicado a lição do seguinte dito popular:

A) O que guarda sua boca conserva sua alma.

B) Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje.

C) O sol nasce para todos, a lua para quem merece.

1.3. A reação de Inocêncio deixou “o gerente incapaz de entender aquele destampatório insólito, da parte de quem sempre se manifestara aparentemente dócil, quase servil, junto aos chefes”. Aplica-se ao caso de Inocêncio o dito popular:

A) As aparências enganam.

B) Quem espera sempre alcança.

C) Depois da tormenta, sempre vem a bonança.

1.4. Em relação a Inocêncio, Vivaldo mostrou ser um amigo ao qual se aplica o dito popular:

A) Amigos, amigos; negócios, à parte.

B) Amigo disfarçado, inimigo dobrado.

C) É na necessidade que se conhece o amigo.

1.5. Quando ainda não sabia que “a estória toda da milhar não passava de um trote”, Inocêncio “riu para os colegas o riso da vitória”. Na continuidade, lê-se sobre a reação de Vivaldo ao revelar o trote: “O qual riso, crescendo numa crise incontida, explodiu numa gargalhada achincalhante.”. Aplica-se ao riso de Inocêncio o dito popular:

A) Muito riso, pouco siso.

B) Rir é o melhor remédio.

C) Quem ri por último ri melhor.

 

ENTREVISTA: ZIRALDO ENTREVISTA MAURÍCIO DE SOUSA - ABZ DO ZIRALDO - COM GABARITO

 Ziraldo entrevista Mauricio de Sousa


no ABZ do Ziraldo

 Ziraldo: Vamos começar o programa que hoje é um programa completamente diferente, completamente diferente, e vocês vão entender por quê. Porque eu… eu… eu vou contar aqui, na companhia dele, a biografia de um sujeito muito importante na minha vida, na vida do Brasil inteiro. Realizou um milagre fantástico na história cultural do Brasil e eu… eu acompanho a vida dele praticamente desde que ele começou. É uma das mais antigas amizades da minha vida. Ele se chama Mauricio de Sousa. Pããããã!

Mauricio de Sousa: (risos )

Z: Mauricio de Sousa, que coisa fantástica, hein? Olha quanta coisa aconteceu nesses 50 anos na sua vida! Aí está o Mauricio de Sousa, criador deste universo que faz parte da história de… contemporânea do Brasil. Tem também as… as coisas didáticas que o Mauricio faz que as pessoas encomendam, escola, institutos, é… tudo. É muito… muita coisa didática, inclusive pro mundo inteiro! Esta aqui é uma história, né?

MS: É… essa é do…

Z: Conta a história da… da… da descoberta da América ééé para uma revista do Vietnã. É uma coisa impressionante. Mauricio, vamo começar a contar. Mauricio de Sousa nasceu em…?

MS: Santa Isabel, estado de São Paulo!

Z: O que é isso?! Mogi das Cruzes, rapaz.

MS: Não, não, nasci em Santa Isabel, uma cidade pequena, perto de Mogi das Cruzes…

Z: Hã…

MS: Minha família viajou para Santa Isabel, nasci lá…

Z: Mas chegou a morar em Santa Isabel?

MS: Lá ela ficou uns tempos lá, até eu ficar taludinho e poder mudar pra Mogi das Cruzes, onde eu me criei.

Z: Você já desenhava na infância e o tempo todo obsessivamente, naturalmente…?

MS: Eu me lembro da infância desenhando, pintando, rabiscando. Papai era poeta, ele tinha umas… livros, uns cadernos de poesia muito bonitos e eu adorava, quando ele saía, pegar o caderno dele e ilustrar as poesias dele. Z: Ah…!

MS: Ilustrar daquele jeito estragando o caderno dele, né? (risos)

Z: (risos)

MS: Daí o meu pai, muito sabido…

Z: Deixou você, deixou…

MS: Olhou… falou: “ah, você gosta disso?” Saiu, comprou um caderno igual o dele, lápis, tudo mais e me deu falando: “esse aqui é seu, esse aqui é meu. Agora cê usa o seu”.

Z: (risos)

[…]

MS: Quandooo eu tava pra fazer o Bidu, um colega meu, Lourenço Diaféria, jornalista, tava fazendo uma revista e ele falou “Mauricio, eu tô precisando de uma página com charges pra minha revista. Cê pode fazer uma pra mim?” Falei: “eu posso fazer”. Fui pra casa e desenhei umas charges com um cachorrinho, que era parecido com o Bidu, né?, daí ele falou “me traz amanhã tudo pronto”. No dia seguinte, eu levei, peguei o material pra levar pra ele, pra vender, né, e esqueci no táxi o desenho. Falei: “ih, Lourenço, esqueci no táxi! Mas me dá mais 24 horas”. Fui pra casa, desenhei de novo as charges. No que você desenha de novo, você sabe disso, você melhora, você já tá dominando mais…

Z: Claro, claro…

MS: … a técnica e o personagem e tudo mais.

 Transcrição de entrevista concedida por Mauricio de Sousa a Ziraldo. Disponível em: (parte 1) e (parte 2). Acesso em: 31 jul. 2018. (Fragmentos).

1.   O que torna a entrevista feita por Ziraldo semelhante a uma biografia?

Assim como em uma biografia, as perguntas conduzem o entrevistado a contar uma parte da história de sua vida.

2.   O que as torna diferentes?

Na biografia, um produtor conta a história de vida de uma pessoa pública ou, no caso da autobiografia, a figura pública conta sua própria história de vida. Na entrevista, essa história chega ao leitor por meio de uma interação (pergunta-resposta) entre o entrevistador e a pessoa pública.

3.   Embora seja uma situação de comunicação formal, essa entrevista se assemelha a um bate-papo entre amigos. Explique por quê.

Porque o entrevistador, com frequência, interrompe o entrevistado para completar ou reconduzir sua fala, e parece haver grande intimidade entre eles.

4.   Por ser uma transcrição, o texto mantém marcas que são típicas da fala. Cite duas delas.

Sugestão: Alongamento de vogais (“Quandooo eu tava pra fazer o Bidu […]”), marcadores conversacionais (“Esta aqui é uma história, né?”), repetições (“Porque eu… eu… eu vou contar aqui […]”) e encurtamento de palavras (“Cê pode fazer uma pra mim?”).

5.   Observe o que aconteceu com os turnos de fala entre as linhas 14 e 18.

a)    Que elemento usado por Ziraldo, no primeiro trecho, levou Mauricio a entender que deveria responder?

O marcador “né?”

b)    Era essa a expectativa do entrevistador? Justifique analisando sua reação.

Não, como mostra o fato de Ziraldo rapidamente interromper.

c)    Provavelmente a reação de Ziraldo ocorreu porque ele tinha planejado um roteiro para a conversa. Com o que ele queria começar?

Pela narrativa da infância do entrevistado.

6.   Releia, agora, as linhas 38 a 42. Ziraldo invade o turno conversacional de Mauricio. Qual é o objetivo dele ao fazer isso?

Participar da narrativa, ajudar a contar a história.

7.   desafio de escrita .Como já dissemos no início deste capítulo, os boxes “De quem é o texto?” são brevíssimas biografias. Usando as informações da entrevista, redija um desses boxes para apresentar Mauricio de Sousa.

 

    

           Sugestão de resposta: Mauricio de Sousa nasceu em Santa Isabel, próximo a Mogi das Cruzes, onde morou durante a infância. Começou a desenhar ilustrando poemas de seu pai, e hoje suas obras estão em vários lugares do mundo. Seu primeiro personagem foi Bidu e, quanto mais ele o desenha, mais aprimora seus traços.