segunda-feira, 30 de março de 2020

CRÔNICA: A MORCEGA - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

Crônica: A MORCEGA
                 Walcyr Carrasco

         Quando era adolescente, eu andava com a franja do cabelo batendo no nariz. Parecia um cachorro lulu, mas me achava o máximo. Meu pai resistiu a tudo: ao som de Janis Joplin, à minha mania de desenhar girassóis nos cadernos, e só entregou os pontos quando me viu desbotando um jeans novinho com cândida. Em nocaute por pontos, suspirou:
         -- Nada mais me espanta.
         Reagi dedicando boa parte da minha vida a defender lances de vanguarda, como o uso de brinquinhos em orelhas masculinas quando isso era tabu. Sempre achei que nada me surpreenderia. Pois fui visitar uma amiga cuja filha adolescente, de 14 anos, tem o rosto de um anjo de catedral, mas se veste de preto, como um morcego. Encontro as duas brigando.
         -- Quero fazer uma tatuagem e ela não deixa.
         Sorrio, pacificador. Aconselho;
         -- O ruim da tatuagem é que, se você se arrepender mais tarde, não sai.
         A morcega explica: será inscrita em um lugar do corpo só possível de ser visto se ela mostrar. Tremo. Pergunto onde. A resposta alegre:
         -- Dentro da boca.
         Repuxa os lábios como um botocudo e mostra o sítio designado: a parte frontal das gengivas. A mãe lacrimeja:
         -- Não, não. A bandeira do Brasil...
         Eu e a mãe nos olhamos, aparvalhados. Descubro que o símbolo pátrio virou moda. A morcega continua: quer porque quer ir a uma rua que reúne morcegos, mariposas e outros bichos nos fins de semana. Arbitro:
         -- Lá vão punks da pesada!
         Ela zumbe, hostil, porque se considera punk da pesada. Reage:
         -- O movimento punk quer liberdade, só isso.
         -- Prendi você? – lamenta-se a mãe inutilmente.
         Fico sabendo que os punks de bom-tom até andam, na tal rua, com cartazes dizendo: “Não quero briga” ou “Sou paz”. Também elegeram um templo: a danceteria Morcegóvia, no bairro Bela Vista. É lá que se encontram, vestidos preferencialmente de escuro, com bijuterias de metal pesado, brinquinhos de crucifixo e uma enorme alegria de viver – só preenchida pelo som de rock pauleira. Digo, para me fazer de moderno:
         -- Sabe que fui ao show do Michael Jackson?                          
         Ela torce o nariz. Odeia. Led Zeppelin, Sepultura, isso sim! Arrisco:
         -- Quem sabe você fica rica montando um conjunto chamado crematório.
         -- Vocês (nós, adultos) só pensam em coisas materiais. A gente (eles, os punks) quer é saber do espírito.
         Já ouvi isso em algum lugar. Eu dizia a mesma coisa e ficava furioso quando ouvia meus pais dizerem que, quando eu fosse mais velho, entenderia tudo que estavam passando comigo. Explico que concordo com as teses morcegas. Tenho apenas problemas em relação ao estilo. Olho para ela, de camisa preta e jeans rasgado, e penso como ficaria bonitinha num vestido de debutante. Lembro de sua festa de aniversário: o bolo era em forma de guitarra, cinza. Em certo momento, a turma se divertiu atirando pedaços de doces uns nos outros, para horror das mães e avós presentes.
         Subitamente desperto, descubro que a onda punk se espraia muito mais do que eu pensava. Um dia desses vi um garoto pintado de três cores. O filho de uma vizinha usa dois brincos dourados, um rubi no nariz e cabelos tão cacheados que noutro dia o cumprimentei pensando que fosse a mãe dele.
         A morcega me encara, pestanas rebaixadas, farta. Nervoso, reflito que devo estar ficando velho. Adoraria estar do lado da filha, para que sentir rejuvenescido. Toca a campainha, ela vai até a porta. Um rapaz alto, de cabeça inteiramente raspada, sorri, rebelde. Observo um dragão tatuado em seu couro cabeludo. A mãe range os dentes, enquanto a filha sai nos braços de seu príncipe motoqueiro. Eu e a mãe nos olhamos, tão nocauteados como foi meu pai. Sei que o rapaz trabalha, como a maioria dos punks. Mas onde? Não consigo imaginar o gerente do banco com um alfinete espetado nas bochechas. São rebeldes apenas nas horas vagas, quando voam em seus trajes escuros pela noite? O careca bota peruca na hora da labuta?
         A mãe me oferece um café. Exausta com o rodopiar das gerações. Já sabemos: vem mais por aí.
         Olho para a noite e penso em todos os morcegos zunindo por São Paulo. Ser adolescente é difícil, mas... que saudades!
             Walcyr Carrasco. O golpe do aniversariante e outras crônicas. São Paulo: Ática, 1996. (Coleção para gostar de ler, v. 20).
Fonte: Livro- Oficina de Redação – Leila Lauar Sarmento, 7ª Série. Editora Moderna, 1ª edição,1998. p. 88-92.

Entendendo a crônica:

01 – No início da crônica, o narrador recorda sua relação com o pai na adolescência:
        “Meu pai resistiu a tudo [...] só entregou os pontos quando me viu desbotando um jeans novinho[...]”
a)   “Meu pai resistiu a tudo”: como se comportou o pai até o momento em que viu o filho desbotando um jeans novinho?
Duas respostas são possíveis, porque o verbo resistir pode ser interpretado de duas maneiras, tornando a frase ambígua: com tolerância, paciência, no caso de resistir = conservar-se firme, não sucumbir: com intolerância, desaprovação, no caso de resistir = opor-se, lutar contra. Ambas as respostas devem ser aceitas, desde que o aluno justifique sua opinião.

b)   Mudança houve no comportamento do pai quando ele “entregou os pontos”?
Duas respostas são possíveis, dependendo da resposta à pergunta anterior: desistiu de resistir e tornou-se intolerante, impaciente, ou desistiu de resistir, e deixou de ser intolerante, de manifestar desaprovação, de reclamar. A resposta do aluno deve ser coerente com a resposta à pergunta anterior.

02 – Após recordar sua relação com o pai, o narrador afirma. “Reagi...”. Reagiu contra o que? Reagiu como?
      Reagiu contra a incompreensão do pai (seja qual for a interpretação dada a resistir na questão anterior, a postura do pai foi de incompreensão em ambos os casos). Reagiu apoiando comportamentos contestadores, inovadores.

03 – Recorde: “Sempre achei que nada me surpreenderia.”
a)   Por que o narrador achava que nada o surpreenderia?
Porque defendia, apoiava comportamentos considerados surpreendentes.

b)   Mas a morcega o surpreendeu. Por quê?
A resposta pode ser formulada de diferentes maneiras, mas qualquer uma delas deve conter a ideia de que a adolescente surpreendeu porque seu comportamento ultrapassava o que o narrador até então julgava possível, aceitável, defensável.

04 – Por que a adolescente é chamada de morcega e seus amigos são chamados de morcegos?
        Porque ela e eles se vestem de preto.

05 – O narrador usa, referindo-se à adolescente e a seus amigos, os verbos zumbir, zunir e voar.
        “Ela zumbe, hostil [...]”
        “[...] voam em seus trajes escuros pela noite [...]”
        “[...] penso em todos os morcegos zunindo por São Paulo.”
        Por que o narrador usa esses verbos, que, em princípio, não se referem a seres humanos?
      Ele compara a adolescente e seus amigos a animais, por isso usa verbos que, em geral, se referem a animais.

06 – Como agia o narrador quando jovem? Por quê?
      Quando jovem, ele também queria ter suas experiências. Por isso agia livremente, usando cabelo com franja enorme, jeans desbotado, etc.

07 – O que você acha do “uso de brinquinhos em orelhas masculinas?
      Resposta pessoal do aluno.

08 – Explique o sentido das expressões destacadas.
a)   “... tem o rosto de um anjo de catedral...”.
A garota possuía traços delicados, o rosto parecia de anjo ou de santa, pela meiguice e inocência das feições.

b)   “Exausta com o rodopiar das gerações”.
A maneira de pensar entre as gerações é tão diferente e muda tão rápido que parece rodar incessantemente, sugerindo novas ideias e impondo novo comportamento.

09 – Os adultos são realmente materialistas? O que você acha?
      Resposta pessoal do aluno.

10 – De que forma o adulto poderia compreender melhor o adolescente?
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Inicialmente, praticando o diálogo, sabendo mais ouvir do que exigir. Buscando entender que a adolescência traz muita insegurança para o jovem, que tenta se adaptar às mudanças pelas quais tem de passar.

11 – A rebeldia do jovem, sobretudo na aparência, o impede de ser uma pessoa responsável e séria? O que você pensa sobre isso?
      Resposta pessoal do aluno.

12 – A que conclusão chegamos, ao reler estas palavras finais do texto: “Ser adolescente é difícil, mas... que saudade!”?
      Apesar dos atropelos, acertos e erros, há uma coisa boa acontecendo nessa época: o namoro, o amor, a liberdade, os amigos, os passeios, etc. Tudo isso acontece de uma maneira especial.



QUADRO: CIÚME - EDVARD MUNCH - ANÁLISE E APRECIAÇÃO - COM GABARITO


Quadro: Ciúme
                      
    Edvard Munch, ciúme (1895)
        Esta é uma das primeiras pinturas do conjunto de obras denominado “Friso da vida”; combina paixão e ciúme com a alegoria bíblica da tentação. A figura em primeiro plano tem as feiões do amigo polonês Stanislaw Przbyszewski; a mulher sedutora ao fundo é retratada como Eva, a tentadora, colhendo o fruto que faria o homem perder a inocência.
                        Os grandes artistas modernos. São Paulo, Nova Cultural, 1991.
                                    Fonte: Livro – Oficina de Redação – Leila Lauar Sarmento, 7ª Série. Editora Moderna, 1ª edição,1998. p. 93-5.
Entendendo o quadro:

01 – Como você definiria o ciúme?
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: O ciúme é um sentimento que destrói totalmente o ser humano, tornando-o incapaz de enxergar, com lucidez, a realidade.

02 – De acordo com as feições do homem, nessa gravura, qual é a aparência de quem se deixa dominar pelo ciúme?
      A pessoa ciumenta sente-se consumida pela tristeza e melancolia; a mágoa causada pela rejeição, ou possível traição, deixa o indivíduo humilhado e vulnerável.

03 – Compare as três figuras do quadro. O que você observa de diferente nelas? O que essa diferença sugere?
      Ao fundo, uma mulher sensual e jovem, parece seduzir um jovem rapaz, oferecendo-lhe uma maçã, como se fosse Eva tentando Adão. À frente a imagem do ciúme, trágica, envelhecida e feia.

04 – O ciúme é um dos sentimentos mais complexos. O que leva alguém a ser ciumento?
      A falta de confiança no outro e em si mesmo. A pessoa julga-se incapaz de contentar a quem ama, por insegurança.

05 – Em geral, como reagem as pessoas ciumentas? De que ou de quem têm ciúme?
      Elas são obcecadas e reagem de forma ilógica, movidas pelos sentimentos, pela paixão avassaladora que facilmente as domina. Podem sentir ciúme das pessoas a quem amam ou de objetos aos quais se apegam.

06 – Por que Munch uniu a imagem de Eva no Paraíso à ideia de paixão e ciúme?
      Como a mulher do quadro, Eva aproveitou-se de sua beleza para seduzir Adão, enganando-o. Munch quis mostrar como a mulher sensual pode ser traiçoeira, provocando paixão e ciúme também.

07 – Qual é a visão do pintor sobre a mulher?
      Para ele, a mulher usa sua beleza para envolver o homem, tornando-o apaixonado e infeliz.

08 – Você concorda com a interpretação do ciúme feita por Munch? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno.
     

TEXTO: CAMPANHA NÃO REDUZ VIOLÊNCIA - MÁRIO CELLI , IN REVISTA VEJA - COM GABARITO

Texto: Campanha não reduz violência

     O banditismo e a criminalidade saíram da periferia das grandes cidades e atingiram a classe média. Em função disso, abriu-se o debate. O Congresso apresentou a votação do projeto que desarma a população, os parentes das vítimas se reuniram em protestos contra os assaltos e candidatos pedem mais polícia nas ruas. Isso tudo é importante, mas insuficiente. Não dá para abandonar populações inteiras e achar que tudo ficará bem desde que haja mais polícia.
        A desestruturação das famílias e das comunidades causada pela miséria é fator de geração de criminalidade. É necessário atuar na valorização do meio ambiente onde vivem as populações mais carentes. São necessárias obras de saneamento, urbanização, conservação e limpeza de favelas e praças, com a participação dos moradores e dos órgãos públicos, para que eles se sintam bem onde vivem. A comunidade social, com jornais, rádios comunitários, teatro e vídeos que discutam os problemas comuns, cria novo tipo de relacionamento entre indivíduos. Num terceiro nível, é preciso criar atividades para geração de renda que envolvam de crianças a adultos sem profissão ou sem emprego.
        É o que temos feito na Comunidade São Francisco de Assis, no Jardim Guarani, em São Paulo. Plantamos 3.000 árvores, urbanizamos duas praças e fizemos obras de esgoto. Temos uma rádio comunitária, produzimos vídeos, atividades culturais e de lazer. Criamos cursos de alfabetização de adultos e profissionalizantes de corte e costura, computação, marcenaria, confeitaria, cozinha alternativa, bordado, pintura em tecido, cabeleireiro, violão, artes gráficas, vídeo e rádio. Atuamos como uma microempresa na produção de artesanato de gesso, madeira e serigrafia.
        Ao comprar nosso produtos, a classe média está fazendo muito mais pelo futuro de nossas relações humanas do que realizando protestos.
        Isso tem propiciado um novo tipo de relacionamento entre as pessoas, além de formar mão-de-obra e gerar recursos. Enquanto nos bairros limítrofes a violência aumenta, não temos lembrança de quando se deu o último homicídio em nosso bairro. Os assaltos são raros. As atividades noturnas se dão normalmente, num lugar onde as escadas de acesso aos morros eram conhecidas como “escadões da morte”. É um caminho para tirar a criança da rua, alimentá-la, educa-la para a vida, resgatando-lhe a dignidade e criando um vínculo comunitário. A caridade que humilha, que trata o povo como cotidiano, só beneficia os caridosos, que fazem da miséria um espetáculo, que instrumentalizam os miseráveis em causa própria.
                                   Mário Celli, in revista Veja, 2 out. 1996.
                                         Fonte: Livro – Oficina de Redação – Leila Lauar Sarmento, 7ª Série. Editora Moderna, 1ª edição,1998. p. 46-8.  
Entendendo o texto:

01 – Segundo o texto, somente após o crescimento da violência contra a classe média, resolveu-se buscar soluções para esse mal. Por que se esperou tanto?
      A violência existia, em maior índice, na periferia; com o tempo foi atingindo também a classe média, que, por possuir mais influência social e econômica, fez com que o assunto fosse debatido.

02 – Das medidas tomadas contra a violência, mencionadas no primeiro parágrafo, qual lhe parece de maior efeito? Justifique a sua resposta.
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Mais polícia nas ruas, para que as pessoas sintam maior segurança, e para inibir a ação dos criminosos.

03 – O que você pensa sobre a permissão para porte de arma ao cidadão comum? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno.

04 – A seu ver, quais são os principais fatores que contribuem para a escalada da violência? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Desemprego, fome, falta de escolas, desestruturação das famílias, má remuneração dos profissionais, política corrupta, etc. As pessoas não têm outra perspectiva para conseguir uma vida melhor.

05 – Quais são as três propostas sugeridas pelo autor no combate à violência?
·        Melhorar o meio ambiente onde vivem pessoas carentes.
·        Criar meios de comunicação entre elas, para a resolução dos problemas comuns.
·        Criar condições de trabalho para a sobrevivência de crianças e adultos.

06 – Você concorda com as ideias expostas no texto? Esclareça a sua resposta.
      Resposta pessoal do aluno.

07 – De que forma o relacionamento social pode se tornar mais humano, sem lançarmos mão da caridade?
      Dando às pessoas oportunidade de trabalhar e ter uma vida digna, gerando seus próprios recursos.

08 – De acordo com o texto, certas pessoas se utilizam da caridade para se promover. Você concorda com essa afirmação?
      Resposta pessoal do aluno.

09 – Que tipo de violência você considera mais grave? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Sequestrar uma pessoa e matar, por dinheiro.

10 – A violência é uma questão a ser resolvida unicamente pelo governo? Esclareça sua resposta.
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Não. Toda a população deve participar do problema, buscando soluções que visem ao bem comum.



quinta-feira, 26 de março de 2020

CRÔNICA: ROBINSON CRUSOÉ - DANIEL DEFOE - COM GABARITO

Crônica: Robinson Crusoé 

                 Daniel Defoe

        Meu nome é Robinson Crusoé. Nasci na velha cidade de Iorque, onde há um rio muito largo cheio de navios que entram e saem.
        Quando criança, passava a maior parte do meu tempo a olhar aquele rio de águas tão quietas, caminhando sem pressa para o mar lá longe. Como gostaria de ver os navios em movimento, com velas branquinhas enfunadas pelas brisas! Isso me fazia sonhar as terras estranhas donde eles vinham e as maravilhosas aventuras acontecidas em mar alto.
        Eu queria ser marinheiro. Nenhuma vida me parecia melhor que a vida do marinheiro, sempre navegando, sempre vendo terras novas, sempre lidando com tempestades e monstros marinhos.
        Meu pai não concordava com isso. Queria que eu tivesse um ofício qualquer, na cidade, ideia que eu não podia suportar. Trabalhar o dia inteiro em oficinas cheias de pó era coisa que não ia comigo.
        Também não suportava a ideia de viver toda a vida naquela cidade de Iorque. O mundo me chamava. Eu queria ver o mundo.
        Minha mãe ficou muito triste quando declarei que ou seria marinheiro ou não seria nada.
        --- A vida do marinheiro – disse ela – é uma vida bem dura. Há tantos perigos no mar, tanta tempestade que grande número de navios acabam naufragando.
        Disse também que havia no mar terríveis peixes de dentes de serra, que me comeriam vivo se eu caísse n’água. Depois me deu um bolo e me beijou: “É muito mais feliz quem fica na sua casa”.
        Mas não ouvi os seus conselhos. Estava resolvido a ser marinheiro e havia de ser.
        --- Já fiz dezoito anos – disse um dia a mim mesmo – é tempo de começar – e, fugindo de casa, engajei-me num navio.

     Robinson Crusoé. Trad. e adap. de Monteiro Lobato. São Paulo, Brasiliense, 1988. p. 5-6.
Fonte: Português – Linguagem & Participação, 5ª Série – MESQUITA, Roberto Melo/Martos, Cloder Rivas – Ed. Saraiva, 1999, p. 184-6.
Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:
·        Enfunadas: cheias.
·        Brisa: vento leve.
·        Lidar: enfrentar, combater.
·        Marinhos: do mar.
·        Ofício: profissão.
·        Naufragar: afundar.
·        Engajar-se: entrar para, alistar-se.

02 – Sobre a principal personagem do texto identifique:
·        O nome: Robinson Crusoé.
·        O local de nascimento: Iorque.
·        A vocação: Marinheiro.

03 – A visão dos navios provocava um sonho no menino. Qual era esse sonho?
      Conhecer terras estranhas e viver aventuras em alto-mar.

04 – No ofício de marinheiro, o que atraía o menino?
      O que o atraía eram a aventura e as novidades.

05 – Retire do texto o trecho que demonstra a grande inquietação e o inconformismo de Robinson Crusoé.
      “Também não suportava a ideia de viver toda a vida naquela cidade de Iorque. O mundo me chamava. Eu queria ver o mundo.”

06 – Os pais concordavam com a escolha de Robinson?
      Eles discordavam e tentavam fazê-lo desistir da ideia.

07 – Por que Robinson não queria ter um ofício qualquer, como desejava seu pai?
      Ele não suportava ficar trancado entre quatro paredes o dia inteiro. Queria aventuras.

08 – Quem procurava amedrontá-lo e com que finalidade fazia isso?
      A mãe. Ela queria mantê-lo preso em casa.

09 – Como Robinson resolveu o conflito com seus pais?
      Robinson resolveu o conflito fugindo de casa e engajando-se num navio.

10 – Todo texto valoriza determinadas ideias. O texto “Robinson Crusoé” valoriza o quê?
      Valoriza a liberdade e a aventura.

11 – Qual o foco narrativo utilizado no texto? Procure um trecho que justifique sua resposta.
      Primeira pessoa, a personagem principal narra a história. “Meu nome é Robinson Crusoé”.

12 – Em que a escolha desse ponto de vista contribui para a narrativa?
      Uma história narrada por alguém que dela participou parece mais verossímil.



NOTÍCIA: MENINO-ESCRITOR REJEITA RÓTULO DE GÊNIO - ARMANDO ANTENORE - COM GABARITO

NOTÍCIA: Menino-escritor rejeita rótulo de gênio
          
 O paulistano Gustavo Bolognani Martins, 14, lança nesta semana seu quinto livro infantil
                                                     Armando Antenore

        Ele tem a cara que se espera de um menino prodígio: cabelos desgrenhados, óculos redondos de aro vermelho. Mas é só a cara.
        O tênis de cano alto e a bermuda de skatista não deixam ninguém suspeitar que Gustavo Bolognani Martins, 14, já escreveu cinco livros, todos para crianças.
        Publicou o primeiro aos 9 anos. O quinto, A Arca de Noésio, está lançando no próximo sábado, pela Ateliê Editorial, com tiragem de 3.000 exemplares.
        Desde que descobriu a literatura, perdeu o direito de habitar o “mundo dos normais”. Mal se recorda de quantas vezes jornais e revistas o tomaram por “superdotado” e até por “cê-dê-efe”.
        “Não gosto que me rotulem assim. Sinto-me excluído. Fico parecendo um cara de outro planeta”, confessa – para, em seguida, apontar o paradoxo:
        “Se sou superdotado, preciso estudar menos que a maioria das pessoas, certo? Então, como é que podem me chamar de cê-dê-efe?”
        Gustavo admite que possui, sim, “certa facilidade para a raciocínio lógico”. “Mas, no futebol, não sou nem um pouco brilhante”.
        De fato. Durante o campeonato escolar do ano passado, o são-paulino jogou como goleiro. Engoliu 30 “frangos” em três partidas.
        E “inteligência emocional”, o menino tem? “Já ouvi falar, embora não entenda direito o que é. Se significa arranjar amigos e frequentar festas, posso dizer que quebro um bom galho em inteligência emocional.”
        No amor, entretanto, nem tudo são flores. Gustavo, por ora, está sem namorada. “Atravesso uma fase ruim.”
        Típico adolescente de classe média, o jovem escritor mora numa casa de dois dormitórios em São Caetano do Sul (ABC paulista).
        Costumava partilhar o quarto com Tomás, o irmão mais velho. De repente, “deu vontade de separar”. Levou a cama para o escritório e passou a dormir lá.
        Desejo de ser mais independente? “Não. Nunca tive esses conflitos existenciais. Saí do quarto porque o Tomás roncava.”
        Quem pensa que o garoto reserva muito tempo para escrever se engana. De manhã, vai à escola (cursa a oitava série). Á tarde, estuda inglês e guitarra.
        “Toco há um ano. Estou no estágio ‘dá pra enganar’, conhece?” Traduzindo: já sabe dedilhar “Stairway to Heaven”, o hit de 11 entre 10 guitarristas-mirins.
        Também aprende japonês com a “vódrasta” Mikiko, segunda mulher de seu avô materno.
        Às quartas-feiras, comanda o programa “A Hora do Lanche” na Rádio Vitrola FM, uma emissora comunitária de São Caetano.
        Divide o microfone com o amigo Dennis. O lema da dupla é: “Mais música e menos falação. Até porque a gente não tem nada a dizer”.
        O programa – que ocupa a faixa das 15h às 17h – abre espaço para o rock do Nirvana, Ramones, Deep Purple e Titãs.
        Entre uma “pauleira” e outra, os locutores arriscam “piadas infames”. Exemplo: o que é um ponto amarelo no meio do mar? É um Fandango suicida. E quem vai salvar? Rufles, a batata da onda.
        “Guinness Book”
        A carreira literária de Gustavo começou em 92, quando o garoto fez três redações escolares com temas propostos pela professora.
        O pai – Plínio Martins Filho, diretor editorial da Edusp (Editora da USP) – leu, gostou e resolveu reunir as histórias num livro-xerox, para consumo familiar.
        Outros dois editores se interessaram pelo produto. Nasceu assim, “Gustavo & Marina”, da Ars Poética e Giordano.
        Com a publicação, o menino ganhou espaço na edição nacional do “Guinness Book”, o livro dos recordes, como o autor mais jovem do Brasil.
        Desde então, não parou de escrever, sempre a máquina (só passa o texto para o computador depois que o considera pronto).
        O novo trabalho – uma releitura da história bíblica de Noé – é todo em rima, por influência dos best-sellers de Ziraldo, que Gustavo devorava.
        O próximo, ainda sem data de lançamento, deverá brincar com os Três Porquinhos. “Vou transformá-los em sem-terra. O lobo mau atacará de latifundiário.”
        Por mais que tente, Gustavo não sabe explicar de onde tira inspiração para tantos livros. “Não sei, mas poderia imitar o Carlinhos Brow e dizer que a inspiração vem do nada e que o nada é tudo”.
                       Folha de São Paulo. 18 mar. 1997. Ilustrada.
                                     Fonte: Português – Linguagem & Participação, 5ª Série – MESQUITA, Roberto Melo/Martos, Cloder Rivas – Ed. Saraiva, 1999, p. 226-7.
Entendendo a reportagem:

01 – Cite um trecho do texto em que a fala é do próprio Gustavo.
      Sexto parágrafo: “Se sou superdotado, preciso estudar menos que a maioria das pessoas, certo? Então, como é que podem me chamar de cê-dê-efe?”

02 – Cite um trecho em que a fala é do jornalista.
      “Às quartas-feiras, comanda o programa “A Hora do Lanche” na Rádio Vitrola FM, uma emissora comunitária de São Caetano.”

03 – Que semelhança você vê entre Gustavo e outros adolescentes da mesma idade?
      Não é tão bom nos esportes, cursa a 8ª série, estuda inglês e guitarra.

04 – O que faz dele “notícia”?
      O fato de ter escrito alguns livros nessa idade e tê-los publicado.

05 – Você viu pelas respostas de Gustavo que, embora escreva bem e seja um bom aluno, ele não é o melhor em tudo. Isso é raro, mas em alguma coisa a gente sempre se sai melhor. E você? O que faz bem?
      Resposta pessoal do aluno.