quarta-feira, 4 de setembro de 2019

CRÔNICA: DA UTILIDADE DOS ANIMAIS - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

CRÔNICA: DA UTILIDADE DOS ANIMAIS
                  Carlos Drummond de Andrade
Terceiro dia de aula. A professora é um amor. Na sala, estampas coloridas mostram animais de todos os feitios. É preciso querer bem a eles, diz a professora, com um sorriso que envolve toda a fauna, protegendo-a. Eles têm direito à vida, como nós, e além disso são muito úteis. Quem não sabe que o cachorro é o maior amigo da gente? Cachorro faz muita falta. Mas não é só ele não. A galinha, o peixe, a vaca… Todos ajudam.
– Aquele cabeludo ali, professora, também ajuda?
– Aquele? É o iaque, um boi da Ásia Central. Aquele serve de montaria e de burro de carga. Do pêlo se fazem perucas bacanas. E a carne, dizem que é gostosa.

– Mas se serve de montaria, como é que a gente vai comer ele?
– Bem, primeiro serve para uma coisa, depois para outra. Vamos adiante. Este é o texugo. Se vocês quiserem pintar a parede do quarto, escolham pincel de texugo. Parece que é ótimo.
– Ele faz pincel, professora?
– Quem, o texugo? Não, só fornece o pêlo. Para pincel de barba também, que o Arturzinho vai usar quando crescer.
Arturzinho objetou que pretende usar barbeador elétrico. Além do mais, não gostaria de pelar o texugo, uma vez que devemos gostar dele, mas a professora já explicava a utilidade do canguru:
– Bolsas, mala, maletas, tudo isso o couro do canguru dá pra gente. Não falando da carne. Canguru é utilíssimo.
– Vivo, fessora?
– A vicunha, que vocês estão vendo aí, produz… produz é maneira de dizer, ela fornece, ou por outra, com o pêlo dela nós preparamos ponchos, mantas, cobertores, etc.
– Depois a gente come a vicunha, né fessora?
– Daniel, não é preciso comer todos os animais. Basta retirar a lã da vicunha, que torna a crescer…
– A gente torna a corta? Ela não tem sossego, tadinha.
– Vejam agora como a zebra é camarada. Trabalha no circo, e seu couro listrado serve para forro de cadeira, de almofada e para tapete. Também se aproveita a carne, sabem?
– A carne também é listrada?- pergunta que desencadeia riso geral.
– Não riam da Betty, ela é uma garota que quer saber direito as coisas. Querida, eu nunca vi carne de zebra no açougue, mas posso garantir que não é listrada. Se fosse, não deixaria de ser comestível por causa disto. Ah, o pingüim? Este vocês já conhecem da praia do Leblon, onde costuma aparecer, trazido pela correnteza. Pensam que só serve para brincar? Estão enganados. Vocês devem respeitar o bichinho. O excremento – não sabem o que é? O cocô do pingüim é um adubo maravilhoso: guano, rico em nitrato. O óleo feito da gordura do pingüim…
– A senhora disse que a gente deve respeitar.
– Claro. Mas o óleo é bom.
– Do javali, professora, duvido que a gente lucre alguma coisa.
– Pois lucra. O pêlo dá escovas é de ótima qualidade.
– E o castor?
– Pois quando voltar a moda do chapéu para os homens, o castor vai prestar muito serviço. Aliás, já presta, com a pele usada para agasalhos. É o que se pode chamar de um bom exemplo.
– Eu, hem?
– Dos chifres do rinoceronte, Belá, você pode encomendar um vaso raro para o living da sua casa.
Do couro da girafa Luís Gabriel pode tirar um escudo de verdade, deixando os pêlos da cauda para Tereza fazer um bracelete genial. A tartaruga-marinha, meu Deus, é de uma utilidade que vocês não cauculam. Comem-se os ovos e toma-se a sopa: uma de-lí-cia. O casco serve para fabricar pentes, cigarreiras, tanta coisa. O biguá é engraçado.
– Engraçado, como?
– Apanha peixe pra gente.
– Apanha e entrega, professora?
– Não é bem assim. Você bota um anel no pescoço dele, e o biguá pega o peixe mas não pode engolir. Então você tira o peixe da goela do biguá.
– Bobo que ele é.
– Não. É útil. Ai de nós se não fossem os animais que nos ajudam de todas as maneiras. Por isso que eu digo: devemos amar os animais, e não maltratá-los de jeito nenhum. Entendeu, Ricardo?
– Entendi, a gente deve amar, respeitar, pelar e comer os animais, e aproveitar bem o pelo, o couro e os ossos.
(Texto extraído de Drummond, Carlos de. De notícias e não notícias faz-se a crônica. Rio de Janeiro, José Olympio, 1975)
Fonte: Livro: Português Linguagens – 6º ano – São Paulo: Atual, 2009. p.180/181.
Compreensão e interpretação

1)   O texto retrata uma situação vivida numa sala de aula.

a)   De que disciplina você imagina que seja essa aula? Por quê?
Provavelmente de Ciências, pois é a disciplina que normalmente aborda situações que dizem respeito ao meio ambiente.

b)   Em que cidade provavelmente ocorre essa aula? Que palavra do texto justifica sua resposta?
No Rio de Janeiro, pois é mencionada a praia do Leblon.

2)   No início do texto, a professora afirma aos alunos que é preciso querer bem os animais. Para justificar sua afirmação, ela apresenta dois motivos.

a)   Quais são eles?
O direito dos animais à vida (“Eles têm direito à vida”) e a utilidade deles (“são muito úteis”).

b)   Considerando-se as explicações da professora, qual desses motivos parece ser mais importante para ela? Justifique sua resposta.
É a utilidade dos animais, pois ela usa a maior parte do tempo para explicar a utilidade do canguru, da tartaruga marinha, entre outros animais.

3)   A professora considera o biguá “engraçado”, por causa do modo como é utilizado pelos homens para apanhar peixe. Você considera engraçado o que se faz com o biguá? Como  você caracteriza o comportamento do ser humano em relação a esse animal?
Resposta pessoal.
Possível resposta: A palavra engraçado é inadequada para retratar o que se faz com o biguá, já que os seres humanos  agem de modo cruel com esse animal.

4)   Os dois últimos parágrafos sintetizam as ideias do texto.

a)   Qual é a opinião da professora a respeito dos animais?
Ela expressa a opinião de que “devemos amar os animais, e não maltratá-los de jeito nenhum”.

b)   O que mostra o comentário de Ricardo?
Mostra que ele percebeu as contradições existentes na fala da professora, pois, se as pessoas devem amar e respeitar os animais, por que então pelam, comem e aproveitam o pelo, o couro e os ossos?



terça-feira, 3 de setembro de 2019

MÚSICA(ATIVIDADES): MUNDO NOVO, VIDA NOVA - GONZAGUINHA - COM QUESTÕES GABARITADAS

Música(Atividades): Mundo Novo, Vida Nova
       
      Gonzaguinha

Mundo novo, vida nova
Buscar um mundo novo, vida nova
E ver, se dessa vez, faço um final feliz
Deixar de lado
Aquela velha estória
O verso usado
O canto antigo
Vou dizer adeus
Fazer de tudo e todos mera lembrança
Deixar de ser só esperança
E por minhas mãos, lutando, me superar
Vou rasgar no tempo o meu próprio caminho
E assim, abrir meu peito ao vento, me libertar
De ser somente aquilo que se espera
Em forma, jeito, luz e cor
E vou, vou pegar um mundo novo, vida nova
Vou pegar um mundo novo, vida nova

Buscar um mundo novo, vida nova
E ver, se dessa vez, faço um final feliz
Deixar de lado
Aquela velha estória
O verso usado
O canto antigo
Vou dizer adeus.
                                    Composição: Luiz Gonzaga Jr

Fonte: Livro - Para Viver Juntos - Português - 6º ano - Ensino Fundamental- Anos Finais - Edições SM - p. 146.
Entendendo a canção:
01 – No texto, expressa-se um desejo de mudança. Qual é a mudança pretendida?
      O eu lírico deseja deixar para trás a vida monótona, com situações repetidas (“velhas histórias”) e sem originalidade (“verso usado”, “canto antigo”), para ter uma vida nova.

02 – Que adjetivos caracterizam a mudança que o eu lírico pretende realizar?
      Novo(a) e feliz.

03 – Se invertermos a posição dos adjetivos das expressões velhas histórias e canto antigo, ocorrerá mudança de sentido? Explique.
      No primeiro caso, haverá alteração de sentido. A expressão velhas histórias, no texto, refere-se a histórias repetidas, histórias de sempre, mesmas histórias; histórias velhas significa histórias antigas, que perderam a atualidade. Já na expressão canto antigo, a mudança de posição do adjetivo não altera o sentido.

04 – Identifique no texto um adjetivo uniforme e registre sua flexão no grau superlativo absoluto sintético.
      Feliz (adjetivo uniforme); Felicíssimo (superlativo absoluto sintético).

05 – A respeito da tipologia textual apresentada através do texto “Mundo novo, Vida nova” trata-se de um(a):
a)   Texto que se volta inteiramente para a realidade.
b)   Texto que se volta para a expressão, que nele é tão ou mais importante do que a própria realidade retratada.
c)   Texto que tem como objetivo transmitir conteúdo.
d)   Texto que tem uma linguagem objetiva e impessoal.
e)   Linguagem que tende a denotação.

06 – “Vou traçar no tempo meu próprio caminho. O vocábulo destacado NÃO tem o significado do contexto em:
a)   O caminho dos justos se renova sempre.
b)   A sua vida está entre um caminho e outro.
c)   O caminho para o sucesso é longo.
d)   Em seu caminho, Pedro observa a paisagem.
e)   O caminho para a vitória tem muitos obstáculos.

07 – Identifique o trecho a seguir em que o termo destacado atua como conector contribuindo para a coesão textual:
a)   “Buscar um mundo novo, vida nova”.
b)   “E ver, se desta vez, faço um final feliz”.
c)   “Vou dizer adeus”.
d)   E por minhas mãos, lutando...”.
e)   “Vou pegar um mundo novo, vida nova”.

08 – O sinônimo que traduz “traçar” na oração: “Vou traçar no tempo” está corretamente indicado em:
a)   Representar.
b)   Descrever.
c)   Projetar.
d)   Tracejar.
e)   Delimitar.

09 – A respeito do tema principal enfocado pelo texto, é adequado dizer que:
a)   O autor faz uma perspectiva do futuro avaliando o passado através de uma retrospectiva.
b)   É claro o sentimento de angústia e pessimismo presente em todo o texto.
c)   A ansiedade por uma vida nova faz com que o passado esteja cada vez mais presente.
d)   O passado deve ser apagado na visão do autor para que haja possibilidade de que se tenha uma vida nova.
e)   Para que haja uma vida nova é necessário que exista uma continuidade das antigas experiências.

10 – “(...) E vou / Vou pegar um mundo novo, vida nova /”. O termo destacado anteriormente uma relação de:
a)   Adição.
b)   Contraste.
c)   Escolha.
d)   Conclusão.
e)   Motivo.

11 – Exemplificando o modo como se relacionam os adjetivos e substantivos, temos a seguinte alternativa:
a)   “Vou dizer adeus”.
b)   “Mundo novo, vida nova”.
c)   “Deixar de ser só esperança”.
d)   “De ser somente aquilo que se espera”.
e)   “E assim abrir meu peito ao vento”.

12 – “Deixar de ser só esperança” não é o mesmo que ser uma pessoa  desesperançosa. Tal conclusão é possível sabendo-se que, neste caso, o prefixo des tem o sentido de:
a)   Negação.
b)   Contrariedade.
c)   Intensidade.
d)   Destruição.
e)   Separação.

CRÔNICA: O MENINO NO ESPELHO - FERNANDO SABINO - COM GABARITO

Crônica: O menino no espelho
     
        Fernando Sabino

        [...]
        Levantava a perna, e ele levantava também, ao mesmo tempo. Abria os braços e ele fazia o mesmo. Coçava a orelha, e ele também.
        Mas o que mais me intrigava era a única diferença entre nós dois. Sim, porque um dia descobri, com pasmo, que enquanto eu levantava a perna esquerda, ele levantava a direita; enquanto eu coçava a orelha direita, ele coçava a esquerda. Reparando bem, descobria outras diferenças. O escudo da escola, por exemplo, que eu trazia colado no bolsinho esquerdo do uniforme, na blusa dele era no direito.
        Para testar, coloco a mão direita espalmada sobre o espelho. Como era de se esperar, ele ao mesmo tempo vem com sua mão esquerda, encostando-a na minha. Sorrio para ele e ele para mim. Mais do que nunca me vem a sensação de que é alguém idêntico a mim que está ali dentro do espelho, se divertindo em me imitar. Chego a ter a impressão de sentir o calor da palma da mão dele contra a minha. Fico sério, a imaginar o que aconteceria se isso fosse verdade. Quando volto a olhá-lo no rosto, vejo assombrado que ele continua a sorrir. Como se agora estou absolutamente sério?
        Um calafrio me corre pela espinha, arrepiando a pele: há alguém vivo dentro do espelho! Um outro eu, o meu duplo, realmente existe! Não é imaginação, pois ele ainda está sorrindo, e sinto o contato de sua mão na minha, seus dedos aos poucos entrelaçarem os meus.
        Puxo a mão com cuidado, descolando-a do espelho. Em vez da outra mão se afastar, ela vem para fora, presa à minha. Afasto-me um passo, sempre a puxar a figura do espelho, até que ela se destaque de todo, já dentro do meu quarto, e fique à minha frente, palpável, de carne e osso, como outro menino exatamente igual a mim.
        – Você também se chama Fernando? – pergunto, mal conseguindo acreditar nos meus olhos.
        – Odnanref – responde ele, e era como se eu próprio tivesse falado: sua voz era igual à minha. 
        – Odnanref?
        Sim, Odnanref. Fernando de trás para diante. Era em tudo semelhante a mim, menos em relação à direita e à esquerda, que nele eram o contrário, sendo natural, pois, que seu nome, isto é, o meu fosse ao contrário também. Por uma coincidência, Odnanref era o meu nome de guerra, na sociedade secreta Olho de Gato.
        – Por isso mesmo – confirmou Odnanref, dando-me um tapinha nas costas e rindo, feliz: - Foi você que me desencantou, adotando o meu nome. Senão eu jamais teria vindo, pois a lei do mundo dos espelhos proíbe terminantemente que a gente venha ao mundo de vocês. A menos que alguém consiga desvendar o nosso encanto. O meu era esse, e você adivinhou. Eu só estava esperando que você me puxasse, como acabou de fazer. [...]
        Deslumbrado com a perspectiva de ter alguém igual a mim, como um perfeito irmão gêmeo, eu não imaginava as dificuldades que iria enfrentar. A falta de minha imagem no espelho, por exemplo, era uma delas: me criava problemas para pentear os cabelos ou escovar os dentes sem poder me ver.
        Combinamos que, a partir de então, ele me substituiria quando eu quisesse, mas jamais deveríamos ser vistos juntos. Ninguém poderia desconfiar de nossa existência dupla, pois com isso se acabaria o encanto, significando o seu imediato regresso, para todo o sempre, ao interior do espelho.
        [...]
                        Fernando Sabino. O menino no espelho. 44.  Ed. Rio de Janeiro: Record, 2004.
                    Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 6º ano – Ensino Fundamental – IBEP p. 18.
Por dentro do texto:

01 – Anteriormente você estudou que um texto pode ser visual, verbal ou multissemiótico. Observe as características do texto que acabou de ler e responda: Ele é verbal, visual ou multissemiótico? Explique.
      Ele apresenta apenas palavras; portanto, é um texto verbal.

02 – Ao se olhar no espelho, o menino vê sua imagem, isto é, seu reflexo. É normal que um espelho reflita imagens invertidas?
      Sim.

03 – Localize no texto o parágrafo que revela que o espelho reflete a imagem de maneira invertida e identifique um trecho que comprove essa afirmação.
      Segundo parágrafo. “[...]um dia descobri, com pasmo, que enquanto eu levantava a perna esquerda, ele levantava a direita; enquanto eu coçava a orelha direita, ele coçava a esquerda. Reparando bem, descobria outras diferenças. O escudo da escola, por exemplo, que eu trazia colado no bolsinho esquerdo do uniforme, na blusa dele era no direito.”

04 – Releia o trecho a seguir. “Quando volto a olhá-lo no rosto, vejo assombrado que ele continua a sorrir. Como, se agora estou absolutamente sério?”

a)   O fato narrado nesse trecho surpreende o menino? Por quê?
Sim, porque não se trata de algo que acontece normalmente: as imagens do menino que ele vê refletido não acompanham os movimentos que ele faz diante do espelho.

b)   Identifique nesse trecho a frase que mostra o estranhamento do menino diante do outo que está dentro do espelho.
“Como, se agora estou absolutamente sério?”

05 – No texto, o fato de a imagem do espelho ser a própria imagem do personagem, mas agir de outra maneira, possibilita uma relação entre o menino e o outro que está dentro do espelho?
     Sim, conforme é narrado no texto, o menino conversa com a imagem do espelho e fica deslumbrado com a possibilidade de existir alguém igual a ele, como se fosse um irmão gêmeo.

06 – Mesmo agindo de maneira diferente, o outro que está dentro do espelho é o próprio menino e ele conversa com sua imagem. Responda:
a)   O texto narra um fato que pode acontecer na realidade ou é uma ficção, criada pela imaginação do autor?
É uma ficção, pois, na realidade, é impossível que uma imagem do espelho converse com alguém.

b)   O que você achou da ideia de um personagem conversar com sua imagem refletida no espelho? Você já conhecia uma história assim?
Resposta pessoal do aluno.

07 – Indique a afirmativa que responde à seguinte questão: Qual foi a intenção do texto ao dar ao personagem uma possibilidade que não existe na vida real?
a)   Mostrar que uma pessoa pode conversar consigo mesma diante do espelho.
b)   Mostrar que é possível alguém se ver de uma maneira diferente.
c)   Revelar que as coisas são vistas sempre do mesmo jeito.

08 – Releia este diálogo do texto:
        “– Você também se chama Fernando? – pergunto, mal conseguindo acreditar nos meus olhos.
        – Odnanref – responde ele, e era como se eu próprio tivesse falado: sua voz era igual à minha.”

        Embora os diálogos aconteçam entre pessoas diferentes, o menino se reconhece no outro que está no espelho. Que trecho do diálogo confirma isso?
      “[...] e era como se eu próprio tivesse falado: sua voz era igual à minha.”






REPORTAGEM: BRASIL TEM QUASE 1 MILHÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM TRABALHO IRREGULAR - JOANA CUNHA - COM GABARITO

REPORTAGEM: Brasil tem quase 1 milhão de crianças e adolescentes em trabalho irregular


JOANA CUNHA
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
29/11/2017 10h00 - Atualizado às 15h04

   O trabalho infantil atingia 1,8 milhão de crianças e adolescentes no Brasil em 2016. Cerca de 998 mil delas, em situação irregular.
     Segundo dados divulgados nesta quarta-feira (29) pelo IBGE, havia, no ano passado, 30 mil crianças entre 5 a 9 anos de idade trabalhando e outras 160 mil entre no grupo de 10 a 13 anos.
        Nesse grupo dos pequenos, de 5 a 13 anos, 74% não receberam nenhum tipo de renda monetária decorrente do trabalho, sinal de que o dinheiro pode não ter sido a principal causa do ingresso precoce no mundo das obrigações.
        As conclusões, que estão na Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), desenham um cenário mais grave no Norte, a região com maior proporção de trabalho infantil a ser erradicado. Lá, o nível de ocupação das crianças entre 5 e 13 anos de idade chega a 1,5%. No Sudeste a taxa de ocupação desta faixa etária fica em torno 0,3%.
        A maior parte são meninos (65,3%), pretos ou pardos (64,1%) e chegam a trabalhar em média 25,3 horas por semana.

                      Mão de obra infantil
                      Três quartos das crianças ocupadas
                      De 5 a 13 anos não são remuneradas.
                      Total de crianças de 5 a 17 anos no Brasil em 2016
                      1,8 milhão crianças ocupadas.
                      40,1 milhões.

        Segundo a legislação brasileira, a idade mínima para a entrada no mercado e trabalho é de 16 anos. Antes disso, com 14 ou 15 anos é permitido o trabalho apenas na condição de aprendiz. Com 16 ou 17, o adolescente pode trabalhar desde que esteja registrado e não seja exposto a abusos físicos, psicológicos e sexuais. A lei também não permite que a pessoa com menos de 18 anos exerça atividades usando equipamentos perigosos ou em meio insalubre.
        Em resumo, qualquer forma de trabalho realizado entre 5 e 13 anos está irregular e precisa ser abolido, segundo a legislação. As atividades exercidas por essa faixa etária apresentam características muito diferentes das praticadas por jovens entre 14 e 17 anos e por isso foram tratadas separadamente pelas estatísticas.
        Em 2016 havia 40,1 milhões de crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos no país. Ou seja, 4,5% realizavam algum tipo de trabalho no período.
        Os dados do IBGE confirmam uma preocupação de especialistas em relação à evasão escolar provocada pela entrada prematura no mercado de trabalho. Enquanto a taxa de escolarização das crianças ocupadas entre 5 e 13 anos atinge 98,4% —pouco abaixo da taxa registrada entre as crianças não ocupadas—, no grupo dos ocupados com 16 e 17 anos de idade, essa taxa de escolarização cai para 74,9%.
        [...]
        NÍVEL DE OCUPAÇÃO DAS PESSOAS DE 5 A 17 ANOS POR REGIÃo Em %
        Norte: 5,7.
        Nordeste: 4,4.
        Sudeste: 3,7.
        Sul: 6,3.
        Centro-Oeste: 5.                              Fonte: Pnad Contínua.

        Os maiores, de 14 a 17 anos, aparecem com mais frequência em atividades de comércio e reparação.
        "Nenhuma criança pode trabalhar com menos de 14 anos de idade. Com 14 e 15, só pode mediante o processo de aprendizado. Com 16 e 17, desde que não tenha condições como trabalho noturno, uso de químicos, objetos cortantes etc. Independentemente de ser algo cultural, precisa ser abolido", diz Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.
        Dentre os jovens de 14 ou 15 anos ocupados 89,5% não tinham carteira de trabalho assinada, ou seja, estavam irregulares. Entre os de 16 e 17 anos, 70,8% estavam sem registro, conforme os dados do levantamento.
        A pesquisa não tem histórico para comparações porque esta é a primeira vez que a Pnad Contínua divulga o módulo de trabalho infantil, depois que o IBGE promoveu mudanças na forma de captação das informações. Mas especialistas estimam que a divulgação desta quarta-feira deve refletir um agravamento do problema.
        [...]
                                CUNHA, Joana. Brasil tem quase 1 milhão de crianças e adolescentes em trabalho irregular. Folha de São Paulo. São Paulo, 29 nov. 2017.
Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 7º ano – Ensino Fundamental – IBEP p. 266-9.
Por dentro do texto:
01 – Releia o título da reportagem: “Brasil tem quase 1 milhão de crianças e adolescentes em trabalho irregular”.
a)   Qual fato deu origem à reportagem?
Os dados de pesquisa que mostram o alto número de crianças e adolescentes em trabalho irregular.

b)   Qual informação chama atenção no título?
O número de “1 milhão” relacionado a crianças e adolescentes trabalhando ainda de forma irregular.

c)   Pesquise o significado da palavra irregular aplicada ao contexto.
A palavra assume o sentido de desrespeito às leis, às regras, aos costumes estabelecidos.

02 – Os dados da reportagem são da Pesquisa Nacional por Amostra em Domicílios (PNAD) contínua do IBGE, realizada em 2018. Responda:
a)   Quantas crianças e adolescentes trabalham no Brasil em 2016, em números absolutos e percentuais, quando os dados foram coletados?
No momento da pesquisa, trabalhavam no Brasil 1,8 milhão, totalizando 4,5% do total de crianças e adolescentes.

b)   Quantas dessas crianças e adolescentes trabalharam em situação irregular?
Trabalhavam em situação irregular 998 mil jovens, ou seja, cerca de 60% de crianças e adolescentes estavam trabalhando em situação irregular.

c)   Das crianças entre 5 e 13 anos que trabalhavam em situação irregular, quantas não recebiam nenhuma remuneração?
Não recebiam qualquer remuneração 74% das crianças que trabalham nessa faixa etária.

03 – Segunda a reportagem, o número de crianças pequenas trabalhando, com idade entre 5 e 13 anos, é mais grave no Norte do país. Com base nesse dado, responda.
a)   Qual é o percentual de crianças trabalhando entre 5 e 13 anos nessa região em comparação com a região Sudeste?
O nível de ocupação das crianças entre 5 e 13 anos de idade chega a 1,5%. No Sudeste a taxa de ocupação desta faixa etária fica em torno de 0,3%.

b)   Dentre essas crianças, qual é o percentual de meninos e de pretos ou pardos que trabalham?
A maior parte são meninos (65,3%) e pretos ou pardos correspondem a 64,1% deles.

c)   Qual é a média de horas trabalhadas por semana por essas crianças?
Essas crianças chegam a trabalhar em média 25,3 horas por semana.

04 – Reproduza o quadro e preencha-o com as informações sobre da legislação brasileira presentes na reportagem.

Legislação brasileira sobre trabalho de crianças e adolescentes:

PROIBIÇÕES = Trabalho de crianças e adolescentes em qualquer circunstância é permitido somente a partir dos 16 anos; a pessoa com menos de 18 anos não pode exercer atividades usando equipamentos perigosos ou em meio insalubre, inclusive em horário noturno.

PERMISSÕES= Adolescentes de 14 e 15 anos podem trabalhar na condição de aprendizes, adolescentes de 16 e 17 anos podem trabalhar desde que sejam registrados e não sejam expostos a abusos físicos, psicológicos e sexuais.

05 – Com base nas informações do texto, defina trabalho infantil irregular.
      Todo trabalho realizado por crianças até os 13 anos de idade é irregular. O trabalho de adolescentes entre 13 e 14 anos é irregular, exceto na condição de aprendiz. Entre 16 e 17 anos, o trabalho é irregular quando o adolescente não tem a sua carteira assinada, realiza trabalho noturno de qualquer natureza ou é exposto a qualquer risco a sua saúde, podendo sofrer abusos sexuais, psicológicos e físicos.

06 – Releia o trecho a seguir: "Nenhuma criança pode trabalhar com menos de 14 anos de idade. Com 14 e 15, só pode mediante o processo de aprendizado. Com 16 e 17, desde que não tenha condições como trabalho noturno, uso de químicos, objetos cortantes etc. Independentemente de ser algo cultural, precisa ser abolido", diz Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.

a)   De quem é o depoimento?
O depoimento é de Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.

b)   Da fala do entrevistado, o que pode ser considerado fato?
Nenhuma criança pode trabalhar com menos de 14 anos de idade. Com 14 e 15, só pode mediante o processo de aprendizado. Com 16 e 17, desde que não seja submetido a condições como trabalho noturno, uso de químicos, objetos cortantes.

c)   Nesse excerto, o que pode ser considerado opinião e o que pode ser considerado como transmissão de informação? Você concorda com a opinião do emissor? Explique.
Discuta a respeito do trecho lido com os alunos, procurando auxiliá-los a identificar o momento em que o autor expressa sua opinião, por meio do uso de verbos como precisar, que auxilia na expressão de uma opinião.