terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

CRÔNICA: O GIGOLÔ DAS PALAVRAS - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM QUESTÕES GABARITADAS

Crônica: O gigolô das palavras
                  
 Luís Fernando Veríssimo

        Quatro ou cinco grupos diferentes de alunos do Farroupilha estiveram lá em casa numa mesma missão, designada por seu professor de Português: saber se eu considerava o estudo da Gramática indispensável para aprender e usar a nossa ou qualquer outra língua. Cada grupo portava um gravador cassete, certamente o instrumento vital da pedagogia moderna, e andava arrecadando opiniões. Suspeitei de saída que o tal professor lia esta coluna, se descabelava diariamente com suas afrontas às leis da língua, e aproveitava aquela oportunidade para me desmascarar. Já estava até preparando, às pressas, minha defesa (“Culpa da revisão! Culpa da revisão!”). Mas os alunos desfizeram o equívoco antes que ele se criasse. Eles mesmos tinham escolhido os nomes a serem entrevistados. Vocês têm certeza que não pegaram o Veríssimo errado? Não. Então vamos em frente. 
        Respondi que a linguagem, qualquer linguagem, é um meio de comunicação e que deve ser julgada exclusivamente como tal. Respeitadas algumas regras básicas da Gramática, para evitar os vexames mais gritantes, as outras são dispensáveis. A sintaxe é uma questão de uso, não de princípios. Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo. Por exemplo: dizer “escrever claro” não é certo, mas é claro, certo? O importante é comunicar. (E quando possível surpreender, iluminar, divertir, comover… Mas aí entramos na área do talento, que também não tem nada a ver com Gramática.) A Gramática é o esqueleto da língua. Só predomina nas línguas mortas, e aí é de interesse restrito a necrólogos e professores de Latim, gente em geral pouco comunicativa. Aquela gravidade sombria que a gente nota nas fotografias em grupo dos membros da Academia Brasileira de Letras é de reprovação total pelo Português ainda estar vivo. Eles só estão esperando, fardados, que o Português morra para poderem carregar o caixão e escrever sua autópsia definitiva. É o esqueleto que nos traz de pé, certo, mas ele sozinho não informa nada, como a Gramática é a estrutura da língua mas sozinha não diz nada, não tem futuro. As múmias conversam entre si em Gramática pura.
        Claro que eu não disse tudo isso para meus entrevistadores. E adverti que minha implicância com a Gramática na certa se devia à minha pouca intimidade com ela. Sempre fui péssimo em Português. Mas — isto eu disse — vejam vocês, a intimidade com a Gramática é tão dispensável que eu ganho a vida escrevendo, apesar da minha total inocência na matéria. Sou um gigolô das palavras. Vivo às suas custas. E tenho com elas a exemplar conduta de um cáften profissional. Abuso delas. Só uso as que eu conheço, as desconhecidas são perigosas e potencialmente traiçoeiras. Exijo submissão. Não raro, peço delas flexões inomináveis para satisfazer um gosto passageiro. Maltrato-as, sem dúvida. E jamais me deixo dominar por elas. Se bem que não tenha também o mínimo escrúpulo de roubá-las de outro, quando acho que vou ganhar com isto. As palavras, afinal, vivem na boca do povo. São faladíssimas. Algumas são de baixíssimo calão. Não merecem o mínimo respeito.
        Um escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria tão ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse pelo seu plantel. Acabaria tratando-as com a deferência de um namorado ou com a tediosa formalidade de um marido. A palavra seria sua patroa! Com que cuidados, com que temores e obséquios ele consentiria em sair com elas em público, alvo da impiedosa atenção de lexicógrafos, etimologistas e colegas. Acabaria impotente, incapaz de uma conjunção. A Gramática precisa apanhar todos os dias para saber quem é que manda.

            Luís Fernando Veríssimo. O gigolô das palavras. Porto Alegre: LP&M, 1982.
Entendendo a crônica:
01 – Qual é a ideia do escritor sobre a gramática?
      Livro de regras sobre o uso do idioma.

02 – Respeitadas algumas regras básicas da Gramática, para evitar os vexames mais gritantes, as outras são dispensáveis. Que regras você consideraria básicas? Quais seriam as dispensáveis?
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: As regras que evitam os “vexames” podem não ser iguais para todos. Compare essas regras com “regras de etiqueta”, por exemplo, variáveis de acordo com a cultura, a região, o período histórico.

03 – Analise a analogia original que Luís Fernando Veríssimo estabelece entre sua relação com as palavras e a relação de um gigolô com seu “plantel”. Por que ele se considera um gigolô das palavras?
      Porque, segundo o cronista, ele não respeita a “intimidade” gramatical de cada uma delas. As palavras funcionam ao bel-prazer do escritor.

04 – De o significado das palavras abaixo:
·        Necrólogos: é aquele que realiza elogios sobre alguém falecido.
·        Cáften, gigolô: é aquele que vive da prostituição.
·        Calão: é um linguajar grosseiro.
·        Plantel: é um grupo de profissionais.
·        Lexicógrafo: é um dicionarista.
·        Etimologista: é aquele que estuda a origem das palavras.

05 – Leia, atentamente, as seguintes proposições acerca da crônica “O Gigolô das palavras”:
I – Luís Fernando Veríssimo considera-se um “gigolô das palavras” em sua arte de escrever, o que permite ao leitor inferir pelo contexto que é preciso que haja uma relação íntima e, ao mesmo tempo, respeitosa com as palavras.
II – A expressão “na boca do povo”, utilizada por Veríssimo, é uma gíria, atribuída a palavras cujo uso tornou-se frequente em situações de comunicação informal.
III – De acordo com Veríssimo, a gramática é o esqueleto da língua, e, portanto, quando tratada isoladamente, torna-se elemento dispensável a uma comunicação eficaz.
IV – Segundo Veríssimo, a linguagem deve ser um meio de comunicação, não advindo de padrões gramaticais atrelados em nossa mente, e sim da forma como interagimos e nos entendemos através de nosso próprio linguajar.
V – Pelo contexto de “O Gigolô das palavras”, infere-se que o domínio das regras e normas da gramática, pelo ponto de vista do autor deste texto, é indispensável a um profissional, como ele, da área da comunicação oral ou escrita.
Marque a alternativa CORRETA:
a)   Apenas I, II e IV estão corretas.
b)   Apenas I, IV e V estão corretas.
c)   Apenas II, III, e IV estão corretas.
d)   Apenas III, IV e V estão corretas.
e)   Apenas II, III e V estão corretas.

06 – Ao expressar, em diversos trechos do texto “O Gigolô das palavras”, sua concepção em torno do que seja LÍNGUA e GRAMÁTICA, Luís Fernando Veríssimo empregou as palavras abaixo em destaque para referir-se à gramática normativa, EXCETO em:
a)   “A sintaxe é   uma   questão   de   uso, não   de   princípios.   Escrever   bem   é   escrever   claro, não necessariamente certo.”
b)   “... minha implicância com a Gramática na certa se devia à minha pouca intimidade com ela. Sempre fui péssimo em Português.”
c)   “Um escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria tão ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse pelo seu plantel.”
d)   “Suspeitei de saída que o tal professor lia esta coluna, se descabelava diariamente com suas afrontas às leis da língua.”
e)   “... a intimidade com a Gramática é tão dispensável que eu ganho a vida escrevendo, apesar da minha total inocência na matéria.”




ARTIGO DE OPINIÃO: POR UMA LONGA VIDA ÚTIL DOS PRODUTOS - HELIO MATTAR - COM GABARITO


Texto: Por uma longa vida útil dos produtos
   
    Hoje, a humanidade já consome 50% a mais de recursos naturais renováveis do que a Terra consegue repor ou regenerar

        Olhe ao seu redor. Há tantas coisas úteis, cumprindo bem seu papel, atendendo suas necessidades, preservando seus alimentos, protegendo e dando conforto ao seu corpo, fazendo a sua conexão ao mundo digital.

          No entanto, no dia a dia, a satisfação no uso dos produtos e com o fato deles poderem continuar úteis por muito tempo é atropelada por vários estímulos que nos convidam a comprar substitutos irresistíveis. A reação é natural numa sociedade em que se deixou de pensar na real necessidade e onde a novidade reserva sempre uma expectativa (ilusória) de ganho de felicidade: “Preciso trocar por um novo”. Estamos habituados a acreditar que não apenas precisamos ter coisas, mas que as coisas não precisam ser usadas até o final de sua vida útil.
        Há sempre aquela novidade aparentemente indispensável: um novo celular com câmera de maior resolução, uma nova geladeira que oferece o gelo diretamente na porta. Ou, mesmo se temos sapatos suficientes, aparece a urgência em ter aquele novo modelo que será valorizado na próxima estação.
        A lógica da compra pela compra em si, desprovida de um conteúdo de real necessidade, assim como a troca desnecessária de produtos ainda em plena vida útil, alimenta modelos de produção e de consumo que vêm se mostrando crescentemente insustentáveis. Hoje, a humanidade já consome 50% a mais de recursos naturais renováveis do que a Terra consegue repor ou regenerar. E com a entrada, nos países emergentes, de 3 bilhões de novos consumidores no mercado de consumo de massa nos próximos 20 anos, precisaremos de cerca de 4,5 planetas para suprir todo o consumo se mantidos esses mesmos padrões. Assim, é preciso pensar em alternativas que possam, ao mesmo tempo, atender ao nosso bem-estar, respeitar os limites do planeta e atender as necessidades sociais.
        Isso implica um novo estilo de vida que, ao contrário do que muitos pensam, não reduzirá o bem-estar conquistado por uma pequena parte da humanidade – aqueles 1 bilhão de pessoas que hoje consomem 78% do total consumido no mundo. Um novo estilo de vida centrado no bem-estar das pessoas e não no consumo de produtos e serviços pelo consumo em si.
        Isso não quer dizer, em absoluto, que as pessoas recém-chegadas ao mercado do consumo de massa não poderão consumir. Quer dizer que o modelo de consumo deverá ter seu centro na preocupação com a função desempenhada por um dado produto ou serviço e não no produto em si que supre essa função. A escolha dependerá das condições específicas de cada consumidor, mas de um ponto de vista social e ambiental, melhor será optar por um consumo inteligente, que escolhe o produto ou o serviço de acordo com o bem-estar desejado, que se foca na compra do que é realmente necessário, que usa os produtos enquanto servirem à função desejada, que opta pela troca por um novo produto no momento em que as novas funcionalidades oferecidas forem realmente úteis e desejadas.
        Quando uma criança rasga um livro ou quebra um brinquedo, pode aprender a consertá-lo. Com isso, passará a valorizar o que tem e possivelmente tomará mais cuidado em sua preservação. Basta observar uma criança consertando algo para ver o grande prazer nela despertado pela recuperação de seu brinquedo. Hoje, os adultos tendem a fazer um raciocínio exclusivamente de preço para decidir entre consertar e trocar. Nesse raciocínio não está considerado o custo ambiental de uma troca de produto. E não está considerado o fato do conserto utilizar mais mão de obra do que a sua fabricação industrial, o que é bom para a economia e para a sociedade.
        A reforma de um móvel enquanto se espera o nascimento de um filho traz em si um significado de cuidado com o próprio filho que vai chegar, muito mais do que a compra de um novo móvel, envolvendo o carinho das mãos que cuidaram da reforma. Contar com os serviços de um sapateiro, de uma costureira do bairro, de um marceneiro pode gerar uma nova vida aos produtos, com muito menor impacto ambiental, e com emprego de mão de obra em uma proporção muito maior do que a compra de um produto industrial novo.
        Todas as coisas bem cuidadas terminam por gerar um interesse quando não precisamos mais delas, pois podem ser trocadas num bazar, feira, ou brechó. Ou podem ser doadas, ampliando e fortalecendo os laços comunitários envolvidos na relação entre quem doa e quem recebe, em um exercício de solidariedade.
        Na pesquisa do Instituto Akatu “Rumo à Sociedade de Bem-Estar”, as pessoas revelaram preferir produtos duráveis, atualizáveis e consertáveis a produtos baratos e fáceis de substituir. Preferem estar com as pessoas a comprar presentes para elas. Preferem deslocar-se facilmente a ter um carro. Seis em cada dez brasileiros acham que conviver com a família e os amigos é importante para sentir-se feliz.
        O consumo de produtos está, nesse caminho, ligado ao atendimento das necessidades das pessoas, à satisfação pelo uso em si. Abre-se espaço, assim, para uma sociedade com estilos mais sustentáveis de vida – e com certeza mais feliz.

Helio Mattar é doutor em Engenharia Industrial pela Universidade Stanford (EUA) e diretor-presidente do Instituto Akatu.
Artigo originalmente publicado na edição nº 36 [abril, maio e junho de 2014] da Revista Rossi.

Entendendo o texto:
01 – O texto lido é introduzido com uma solicitação ao leitor.
a) Qual solicitação é essa?
      A solicitação é de que o público comece a se tornar consciente e aprenda a usar os produtos até o fim de sua vida útil.

b) Em seguida a essa solicitação, que constatação baseada em uma observação do dia a dia é apresentada?
      O autor mostra a quantidade de compras inúteis que são feitas apenas pelo estímulo ao consumo e a falsa expectativa de felicidade ao comprar algo novo.

c) Os exemplos utilizados para apresentar essa situação fazem referência a quais benefícios para o ser humano?
      Uma mudança de hábitos de consumo ajudaria a preservar o planeta e até mesmo o trabalho das pessoas, que teriam mais dinheiro para investir no que realmente precisam.

d) O uso desses exemplos constrói qual efeito de sentido?
      O autor usa os exemplos para mostrar que o consumismo é inútil.

02 – Logo após a introdução, é apresentada uma oposição ao constatado inicialmente.
a) Que termo indica que seguirá uma oposição, que fato é destacado?
      “Isso implica um novo estilo de vida.”

b) Ao se apresentar essa oposição, que fato é destacado?
      O autor mostra que mudar os hábitos irá melhorar o panorama ambiental e da situação econômica de parte da população.

c) Conforme o articulista, que consequência esse fato gera?
      Mudando-se o estilo de vida, serão evitadas as consequências da degradação ambiental e a insustentabilidade do sistema.

03 – Nos parágrafos iniciais há uma premissa, ou seja, uma ideia a partir da qual será construído um raciocínio.
a) É possível identificar a premissa a partir da qual será construído o processo argumentativo. Que premissa é essa?
      A premissa é de que as pessoas consomem os produtos de forma errada, praticam o consumismo.

b) Para revelar a dimensão do problema discutido no texto, o articulista faz uso de dados. Que dados são estes:
      Ele mostra que são consumidos 50% a mais de recursos que a terra pode repor, que há 3 bilhões de novos consumidores, etc.

c) Qual é a importância deles no processo argumentativo?
      Os dados dão credibilidade para a argumentação do autor.

04 – No artigo de opinião, além da apresentação do problema, é comum a apresentação de uma proposta de solução.
a) Que trecho introduz a proposta de solução defendida?
      A solução está em “Isso implica um novo estilo de vida.”

b) Em seguida a esse trecho, são apresentadas algumas ideias relacionadas ao consumo sustentável. Copie a alternativa que apresenta essas ideias de maneira resumida
·        O consumo deve ser mais consciente, de modo que a escolha sobre o que consumir tenha como fundamento a função desempenhada pelo produto ou serviço. Isso afetará muitas conquistas atuais, pois será inevitável reduzir o bem-estar de grande parte da humanidade que hoje detém um alto poder de consumo.
·        As práticas de consumo necessitam ser pautadas no bem-estar das pessoas e não no consumo em si. A escolha do produto ou do serviço deve estar relacionada ao que é necessário, e a troca por um novo produto deve ser realizada quando, de fato, as novas funções forem realmente úteis e desejadas.
·        As escolhas sobre o que consumir devem ser baseadas em um critério social e ambiental. Esse novo estilo de vida afetará as pessoas que entrarem no mercado de consumo, pois não haverá possibilidade de todos adquirirem produtos ou serviços com a qualidade e a quantidade necessárias.

05 – De acordo com o autor do artigo de opinião, nas práticas de consumo atuais há um critério que se sobrepõe quando se pensa em trocar ou consertar algum produto.
a) Qual é esse critério?
      Para o autor atualmente o critério usado é o consumo pelo consumo, adquirir o novo em vez do uso pelo uso em si.

b) Em uma prática de consumo consciente, que outro critério precisa ser considerado quando se analisa a troca ou o conserto?
      Entre consertar e comprar um novo será preciso verificar qual é economicamente mais viável, além de durável.

c) Que benefícios são gerados ao considerar esse custo relacionado ao consumo consciente?
      O consumo consciente implica na melhora da qualidade de vida e no aumento do poder de compra.

06 – Uma outra prática se relaciona à forma como cuidamos das coisas. Qual é a relação entre esse cuidado e o modo de consumo consciente?
Os textos do gênero artigo de opinião são construídos, geralmente, a partir de sequências argumentativas. Uma das estratégias argumentativas consiste em explicar determinado fato, a partir do qual se formula uma premissa relacionada à defesa de um posicionamento. Para defender uma posição, são utilizados argumentos que procuram convencer o leitor.
      É preciso cuidar das coisas visando a nossa satisfação de necessidade e pessoais, considerando o médio e longo prazo.


segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

FILME(ATIVIDADES): MEU TIO DA AMÉRICA - ALAIN RESNAIS - COM SINOPSE E QUESTÕES GABARITADAS

Filme(Atividades): Meu tio da América

Data de lançamento desconhecida (2h 05min)
Direção: Alain Resnais
Gêneros DramaComédia Romance
Nacionalidade França

SINOPSE E DETALHES
        Henri Laborit comprova sua teoria sobre a interferência do ambiente na formação da personalidade por meio de três pessoas: René (Gérard Depardieu), ansioso funcionário de uma empresa têxtil em crise; Janine (Nicole Garcia), atriz e estilista que se sensibiliza com a doença da esposa de seu amante; e Jean (Roger Pierre), político com aspirações literárias.

Entendendo o filme:
01 – “O meu tio da América”, é considerada uma obra de grande complexidade, mas ao mesmo tempo de espantosa inteligibilidade. Por quê?
      O desenvolvimento de um intriga romanesca e o discurso científico coexistem paralelamente através de um desenvolvimento narrativo que é um achado de mise e scêne e de puro gênio cinematográfico.

02 – O filme apresenta a relação entre o quê?
      Entre a tese de biólogo comportamentalista e o conflito vivido por pessoas de diferentes níveis sociais, ou seja, dilemas reais humanos.

03 – De que se trata o filme?
      Conta a história de dois homens e suas esposas, desde a infância até a fase adulta, quando se casam e passam por problemas no trabalho e no relacionamento amoroso.

04 – Por que René se desespera e tenta o suicídio?
      Porque ele recebe uma proposta de promoção no emprego, mas teria que mudar para outra cidade, sua mulher é contra e o abandona, a direção da empresa ameaça rebaixá-lo de cargo e ele se desespera.

05 – Quem é o narrador do filme?
      É narrado por um médico que explica o que acontece no sistema nervoso dos seres humanos em todas as situações de sofrimento com cenas protagonizadas por ratos de laboratório que fazem paralelo aos personagens.

06 – Segundo o narrador como as pessoas ficam afetadas com as doenças psicossomáticas?
      A depressão acontece quando o ser humano encontra-se em uma situação em que não pode lutar ou fugir e o seu organismo fica afetado.

07 – Qual a parte mais interessante do filme?
      É que no decorrer da história é feita a amarração dos fatos do cotidiano com uma profunda análise da vida, como ela realmente é, e o quão podemos fazer par modifica-la quando nos entendemos psicologicamente, filosoficamente, socialmente e biologicamente

POEMA: PALMARES - JOSÉ PAULO PAES - COM QUESTÕES GABARITADAS

Poema: Palmares

I

No alto da serra,
A palmeira ao vento.
Palmeira, mastro
De bandeira, cruz
De madeira, pálio
De fúnebre liteira, 

Que negro suado,
Crucificado
Traído, morto,
Velas ainda?
Não sei, não sabes,
Não sabem. Os ratos
Roem seu livro,
Comem seu queijo
E calam-se, que o tempo
Apaga a mancha
De sangue no tapete
E perdoa o gato
Punitivos. Os ratos
Não clamam, os ratos
Não acusam, os ratos
Escondem
O crime de Palmares.

II

Negra cidade
Da liberdade
Forjada na sombra
Da senzala, no medo
Da floresta, no sal
Do tronco, no verde
Cáustico na da cana, nas rodas
Da moenda.
Sonhada no banzo,
Dançada no bumba,
Rezada na macumba,
Negra cidade
Da felicidade,
Onde a chaga se cura,
O grilhão se parte,
O pão se reparte
E o reino de Ogun,
Sangô, Olorun,
Instala-se na terra
E o negro sem dono,
O negro sem feitor,
Semeia seu milho,
Espreme sua cana,
Ensina seu filho
A olhar para o céu
Sem ódio ou temor.
Negra cidade
Dos negros, obstinada
Em sua força de tigre,
Em seu orgulho de puma,
Em sua paz de ovelha.
Negra cidade
Dos negros, castigada
Sobre a pedra rude
E elementar e amarga.
Negra cidade
Do velho enforcado,
Da virgem violada,
Do infante queimado,
De zumbi traído.
Negra cidade
Dos túmulos, Palmares.

III

Domingos Jorge, velho
Chacal, a barba
Sinistramente grave
E o sangue
Curtindo-lhe o couro
Da alma mercenária.
Domingos Jorge, velho
Verdugo, qual
A tua paga?
Um punhado de ouro?
Um reino de vento?
Um brasão de horror?
Um brasão: abutre
Em campo negro,
Palmeira decepada,
Por timbre, negro esquife.
Domingos Jorge Velho,
Teu nome guardou –o
A memória dos justos.
Um dia, em Palmares,
No mesmo chão do crime,
Terás teu mausoléu:
Lápide enterrada
Na areia e, sobre ela,
A urina dos cães,
O vômito dos corvos
E o desprezo eterno.
 Melhores Poemas José Paulo Paes –
Seleção de Davi Arrigucci Jr. Editora Global
Entendendo o poema:
01 – Com base na leitura do poema, responda:
Explique como o termo “Palmares”, presente no poema, representa a crítica do nacionalismo brasileiro.
      Palmares desconstrói a celebração romântica das palmeiras, visto que remete à memória da escravidão.

02 – A substituição de “palmeiras” por “palmares” (nome do mais famoso quilombo para onde fugiam os negros no período da escravidão no Brasil) representa uma crítica dos modernistas ao nacionalismo idealizador dos românticos, como forma de denúncia contra o (a):
a)   Ufanismo dos políticos e artistas progressistas.
b)   Desmatamento das áreas de florestas tropicais.
c)   Manifestação patriota dos artistas engajados na política partidária.
d)   Exploração do trabalho no segmento mais pobre da população.
e)   Reação agressiva da política no combate à violência urbana.

03 – No primeiro verso, o eu lírico diz: “No alto da serra”. A que serra se refere?
      A Serra da Barriga, na então Capitania de Pernambuco.

04 – De onde eram os quilombolas dos Palmares? Pesquise e responda.
      Eram da região central da África, onde está localizada Angola.

05 – O eu lírico cita Domingos Jorge Velho, por quê?
      Ele foi um bandeirante paulista, célebre por ter comandado a destruição do Quilombo dos Palmares.


FÁBULA: A DIFICULDADE E A FELICIDADE- DILÉA FRATE - COM QUESTÕES GABARITADAS

Fábula: A DIFICULDADE E A FELICIDADE
                DILÉA FRATE

        A Felicidade se encontrou com a Dificuldade e falou:
        -- "Você atrapalha a minha existência."
        A Dificuldade, muito difícil que era, em vez de responder, criou um caso: colocou dez pedras enormes no caminho da Felicidade. A Felicidade, que já estava com as asas meio tortas de tanto levar pedrada, pulou uma, duas, três, quatro, cinco... e quando chegou na sexta, ufa! Descansou e reclamou um pouco:
        -- "Você não me deixa passar, saia do meu caminho!"
        Então a Dificuldade, chatinha e difícil que era, continuou calada e colocou mais doze pedras no caminho da Felicidade. Puxou outra vez a alavanca da determinação e começou a pular: uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete... ufa! Na hora da oitava, se deitou e pensou: 
        -- Estou cansada. Por que ela não sai do caminho?!
        Ai... a Dificuldade colocou mais catorze pedras enormes na estrada.
        A Felicidade levantou-se, determinada e séria, e começou a pular: uma, duas, três, quatro, cinco, seis... exausta, chegou a pular treze pedras, e quando já estava quase na última, ops! Deu de cara de novo com a Dificuldade:
        -- "O que é isto, não acredito! Outra vez você no meu caminho?"
        A Felicidade não vacilou. Respirou fundo, sorriu e alavancou a força necessária para pular a última pedra. A Dificuldade ficou parada, olhando, e disse apenas:
        -- "Eu existo para que você me vença, não para impedir a sua passagem."
        A Felicidade então prosseguiu mais feliz: sabia agora como pular as pedras que iria encontrar pela estrada. Uma estrada muito, muito longa.
                                                                                     Diléa Frate.

Entendendo a fábula:

01 – Explique por que as palavras “Dificuldade” e “Felicidade” estão escritas com letra inicial maiúscula?
      Porque são as personagens do texto.

02 – A Felicidade se encontrou com a Dificuldade e falou: “Você atrapalha a minha existência”. Segundo o texto, por que a Dificuldade atrapalha a existência a Felicidade?
      Porque sempre coloca pedras no meio do caminho.

03 – “A Felicidade, que já estava com as asas meio tortas de tanto levar pedrada, pula uma, duas, três, quatro, cinco...”
A que se referem os numerais em destaque?
      Refere-se as dificuldades, os obstáculos.

04 – Circule, no trecho abaixo, a palavra que expressa o alívio que a Felicidade sentiu ao pular a última pedra: “E quando chegou na sexta, ufa!”.
      A palavra ufa!

05 – “Estou cansada. Por que ela não sai do caminho?!” Observe que os pontos de interrogação e de exclamação foram empregados juntos, na mesma frase.
Que efeito de sentido causa o emprego dessa pontuação na frase?
      Indica precisamente a soma dos significados individuais, é a indagação inicial, seguida quase instantaneamente por admiração, surpresa ou espanto.

06 – “Ai... a Dificuldade colocou mais catorze pedras enormes na estada”.
O uso das reticências, neste trecho, ajuda criar:
(X) Uma dúvida sobre o que vai ser dito.
(   ) Um suspense para o que vai ser dito.
(   ) Uma sensação de alívio a partir do que foi dito.

07 – “A Felicidade então prosseguiu mais feliz: sabia agora como pular as pedras que iria encontrar pela estrada”.
Os dois pontos, empregados no trecho acima, poderiam ser substituídos, sem modificar o sentido da frase, pela palavra:
a)   Portanto.
b)   Porém.
c)   Porque.
d)   Mas.


TEXTO: UM SONHO ECOLÓGICO - JOÃO JUSTINO LEITE FILHO - COM GABARITO

Texto: Um sonho ecológico

        Eu via o pôr-do-sol e meu lado criança entendia que o sol era uma pipa que estava sendo recolhida do céu por alguém que havia brincado o dia inteiro.
        Minha imaginação permitiu que eu fosse uma gaivota e tentasse acompanhar o espetáculo, de cima. Então, me senti de asas abertas, desafiando o vento e ganhando altura.
    Quando escureceu de vez fui coruja e pela primeira vez pude ver na escuridão. De manhã, eu, andorinha em voos rasantes, passei a centímetros de prédios, antenas, telhados...
        Uma chuva me surpreendeu e, encharcado, mergulhei no oceano. Fui golfinho, polvo, fiz parte de cardumes, pesquisei as profundezas do mar, descobri cavernas, montanhas. Desafiei meus limites como baleia e fiquei encalhado na praia.
        Sendo tartaruga me libertei da areia e fui lentamente caminhando em direção à mata, tomei banho de sol como crocodilo, fui ganhando patas ágeis, corpos flexíveis. Fui leopardo, tigre, antílope. Acho que tive o pescoço mais comprido do mundo, depois brinquei com a minha tromba, pensei em me ver no espelho e fiz muitas macaquices.
        Dancei nos desertos como avestruz e, porque a sede bateu, fui camelo e me saciei no meu próprio reservatório.
        Dei sustos, quando fui hipopótamo, brinquei bastante como foca, vivi bons momentos como rinoceronte e fico emocionado quando me recordo da minha vida de chinchila nas montanhas do Peru e do Chile.
        Migrei como cegonha, vi Deus nos nascimentos.
        O frio e o cansaço fizeram de mim um urso sonolento se preparando para hibernar.
        Dormi o mais longo dos sonos e acordei pensando em continuar experimentando vidas irracionais. Só que meu lado racional me mostrou os riscos que eu havia corrido. Os homens podiam ter acabado com a minha vida de hipopótamo, interessados na minha pele e no marfim dos incisivos. Podiam ter me fuzilado em plena dança de avestruz, visando minhas longas penas brancas para fazerem enfeites. Se me encontrassem como foca, ou me matariam para confeccionar roupas esportivas com a minha pele, ou me levariam para fazer gracinhas que dão dinheiro. Minha preciosa vida poderia ter sido abreviada por um arpão.
        Pobre de mim se tivessem me visto como chinchila, como leopardo, como irracional. Corri sérios riscos de ser enjaulado, engaiolado, castrado, embalsamado. Como cegonha, eu estaria migrando para o fim.
        Por segurança fui me levantando como ser humano e meu lado realista me disse: muito cuidado com os homens!
                                                                   LEITE, João Justino Filho.

Entendendo o texto:
01 – No texto, o narrador coloca-se como um personagem:
(X) Criança, que gostaria de ser animal.
(   ) Adulta, que seu lado criança;
(   ) Adolescente, que vive experiências próprias de sua idade;
(   ) Animal, que vive uma experiência como ser humano.

02 – Qual é a ideia central do texto?
(   ) Todas as pessoas deviam, de vez em quando, sonhar que são animais.
(   ) É importante sonhar, pois isso faz parte da natureza humana.
(   ) O homem devido à sua ambição, é o responsável pela extinção de muito animais.
(X) Os sonhos ecológicos geralmente acontecem ao pôr do sol.

03 – No oitavo parágrafo – “Migrei como cegonha, vi Deus nos nascimentos” – o autor faz referência a cegonha possivelmente por que:
(X) Popularmente, costuma-se contar às crianças que os bebês recém-nascidos são trazidos pela cegonha.
(   ) As cegonhas voam muito alto e por isso se diz, na cultura popular, que elas ficam perto de Deus.
(   ) A cegonha é uma espécie de ave que, para ter seus filhotes, precisa migrar para regiões muito quentes.
(   ) Segundo conhecida lenda, embora sejam aves migratórias, as cegonhas só constroem seu ninhos em torres de Igrejas.

04 – No texto, continuar experimentando vidas irracionais significa:
(   ) Continuar vivendo alegremente, sem preocupações.
(   ) Continuar dormindo e sonhando.
(X) Continuar vivendo como os animais, que não fazem uso da razão.
(   ) Continuar experimentando ser outra pessoa.

05 – O que aconteceu quando o autor acordou?
(   ) Comparou a vida irracional com a racional e concluiu que a primeira era melhor.
(   ) Levantou-se como ser humano, feliz por não ser um bicho.
(   ) Ficou triste com o fim da experiência e voltou a dormir.
(X) A razão o fez entender os riscos que correu vivendo como bichos.