segunda-feira, 2 de outubro de 2017

ARTIGO DE OPINIÃO: APAIXONAR-SE É BOM, MAS É ESTRESSANTE - AILTON AMÉLIO DA SILVA - COM GABARITO

APAIXONAR-SE É BOM, MAS É ESTRESSANTE

       “Amor à vista!” As turbulências de um marinheiro de
        primeira viagem no mundo dos relacionamentos.

        Qual foi a época mais feliz na sua vida? Se você pudesse escolher, que idade teria de novo? Se você tem, digamos, mais de 30 anos, provavelmente já ouviu essas perguntas muitas vezes. As respostas variam. Muitas pessoas voltar à época da faculdade, outras voltariam infância, outras ao início do casamento, e assim por diante. No entanto, raramente ouvimos a resposta: “Voltaria à minha adolescência”.
        Por que pouca gente gostaria de voltar à adolescência? À primeira vista, existe muita coisa boa nessa época: não temos de ganhar a vida, nossos pais estão vivos, temos roupa lavada e comida de graça. É, também, a época da descoberta do amor. Paradoxalmente, esse é um dos motivos pelos quais ninguém quer voltar à adolescência. A iniciação na vida amorosa geralmente é muito tensa, muito intensa, muito turbulenta, muito permeada de gozos e agruras. Antes, na infância, o amor era algo que apenas víamos na TV, entre os mais velhos e, com um pouco de sorte, entre nossos pais. Agora, na adolescência, o amor está acontecendo com os amigos mais próximos e (que espanto!) conosco. Aquelas pessoas horrorosas de sexo oposto de repente estão se tornando suportáveis... admissíveis... interessantes... altamente interessantes... imprescindíveis!!! Em todos os locais que frequento existem vários possíveis parceiros amorosos na mesma situação que eu: com os hormônios sexuais transbordando, disponíveis e muito dispostos a se envolver amorosamente. Os meus pares já estão namorando, a mídia, as músicas, os livros, o zunzum que ouço, tudo proclama as maravilhas de um relacionamento amoroso. Preciso arranjar um! Puxa, como seria bom ficar com aquela pessoa! Faria qualquer coisa para dar um beijo nela! Quem sou eu? Qual meu cacife para atrair aquele ser tão interessante?
        É aí que começam as agruras amorosas. Geralmente, aquelas pessoas que são mais atraentes para mim também o são para todos os meus colegas. Assim sendo, poucos de nós seremos bem-sucedidos (é a velha questão da relação entre oferta e procura). O pior de tudo é que aquela pessoa que parecia estar interessada em mim, parecia estar me paquerando, me rejeitou. Apaixonei-me e, quando tentei ficar com ela, levei um fora. O que agrava esse quadro é que ele é recorrente: a todo momento estou novamente me interessando por uma nova pessoa e toda a história se repete. “Como é bom e como é sofrido!!”, confessou a esse respeito uma adolescente que participou de uma pesquisa que fiz sobre o assunto. Se sou tímida a coisa piora de vez. Não consigo “ficar” ou namorar. Perto da pessoa amada baixa uma bobeira. Fico tenso. Não consigo falar coisas inteligentes, dá um branco, faço coisas idiotas para atrair sua atenção, o meu charme me abandona. A timidez é extremamente frequente entre os adolescentes. [...] É estressante. É solitário. Mas é inevitável. Como escreveu o poeta Carlos Drummond de Andrade, amar se aprende amando. A notícia boa é que a adolescência acaba um dia. A ruim é que esse aprendizado dura a vida inteira.

           Ailton Amélio da Silva. Veja Jovens, edição especial da Veja.
                                                           Ano 34, n. 38, set. 2001. p. 87.

1 – Segundo o autor, por que a maioria das pessoas não gostaria de voltar à época da adolescência? Você concorda com os argumentos apresentados por ele?
      Porque é na adolescência que se dá a iniciação amorosa. São muitas as dúvidas, as ansiedades, as decepções ocorrem a todo momento. Resposta pessoal do aluno.

2 – Os seguintes trechos desse texto se aplicam à personagem Brás Cubas? De que maneira?
a)   “A iniciação da vida amorosa geralmente é muito tensa, muito intensa, muito turbulenta, muito permeada de gozos e agruras.”
b)   “Puxa, como seria bom ficar com aquela pessoa! Faria qualquer coisa para dar um beijo nela! Quem sou eu? Qual meu cacife para atrair aquele ser tão interessante?”
      Sim. O relacionamento de Brás Cubas com Marcela era realmente turbulento: havia as delícias e havia os amargores. Com relação ao cacife, Brás Cubas usava das prerrogativas de filho de pai abastado para conseguir o dinheiro de que precisava e conquistar Marcela.

3 – Além da concorrência, da inexperiência, do medo da rejeição, da timidez, o jovem que ainda não trabalha enfrenta uma outra limitação, em seus relacionamentos, que é vivida pela personagem Brás Cubas:
a)   Que limitação é essa?
É o fato de não possuir, ainda, algum rendimento que lhe dê independência econômica.

b)   Em que isso pode influir num relacionamento amoroso?
Haverá limitação de passeios, cinema, teatro, restaurantes e outros programas que acarretem despesa.

c)   No caso de Brás Cubas, como esse empecilho foi vencido? Esse mesmo artifício poderia ser utilizado nos dias de hoje?
Brás Cubas pediu empréstimos na praça, provavelmente em nome de seu pai. Hoje tudo seria diferente: é preciso dar garantias legais ou fiadores e ser maior de idade para se conseguir um empréstimo.

4 – Se os problemas vividos pelos adolescentes da atualidade, diante de suas primeiras experiências amorosas, são os mesmos vividos por Brás Cubas, no século XIX, o que é possível concluir?
      É possível concluir que os jovens costumam enfrentar as mesmas dificuldades, não importando a época em que vivam, principalmente no que se refere à vida afetiva. A timidez e a insegurança são características da adolescência de todos os tempos.

5 – Para fechar seu texto, o autor do artigo cita Drummond, segundo o qual “amar se aprende amando” e dá duas notícias: uma boa e uma ruim. Comente a notícia ruim.
      A notícia ruim não é, afinal, tão ruim assim: de fato, o aprendizado do amor recomeça a cada novo relacionamento. Como o desenrolar de um caso amoroso é praticamente imprevisível, só se pode aprender enquanto ele estiver em curso. Talvez esteja nesse eterno aprender a graça do jogo.

6 – Após a leitura do texto Apaixonar-se é bom, mas é estressante, você reconsideraria os atos de Brás Cubas? Por quê?
      Sim. Ele estava na fase de auto afirmação, de querer manter o objetivo de sua paixão a qualquer preço.


CRÔNICA: ONZE CONTOS DE RÉIS- (MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS) - COM GABARITO


ONZE CONTOS DE RÉIS

...Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos. Meu pai, logo que teve aragem dos onze contos, sobressaltou-se deveras; achou que o caso excedia as raias de um capricho juvenil.
        --- Desta vez, disse ele, vais para a Europa; vais cursar uma universidade, provavelmente Coimbra; quero-te para homem sério e não para arruador e gatuno. E como eu fizesse um gesto de espanto: -- Gatuno, sim senhor; não é outra coisa um filho que me faz isto...
        Sacou da algibeira os meus títulos de dívida, já resgatados por ele, e sacudiu-nos na cara. – Vês, peralta? É assim que um moço deve zelar o nome dos seus? Pensas que eu e meus avós ganhamos o dinheiro em casas de jogo ou a vadiar pelas ruas? Pelintra! Desta vez ou tomas juízo, ou ficas sem coisa nenhuma.
        Estava furioso, mas de um furor temperado e curto. Eu ouvi-o calado, e nada opus à ordem da viagem, como de outras vezes fizera; ruminava a ideia de levar Marcela comigo. Fui ter com ela; expus-lhe a crise e fiz-lhe a proposta. Marcela ouviu-me com os olhos no ar, sem responder logo; como insistisse, disse-me que ficava, que não podia ir para a Europa. [...]
        Marcela franziu a testa, cantarolou uma seguidilha, entre dentes; depois queixou-se do calor, e mandou vir um copo de aluá. Trouxe-lhe a mucama, numa salva de prata, que fazia parte dos meus onze contos. Marcela ofereceu-me polidamente o refresco; minha resposta foi dar com a mão no copo e a salva; entornou-se lhe o líquido no regaço, a preta deu um grito, eu bradei-lhe que se fosse embora. Ficando a sós, derramei todo o desespero de meu coração disse-lhe que ela era um monstro, que jamais me tivera amor, que me deixara descer a tudo sem ter ao menos a desculpa da sinceridade; chamei-lhe muitos nomes feios, fazendo muitos gestos descompostos. Marcela deixara-se estar sentada, a estalar as unhas nos dentes, fria como um pedaço de mármore. Tive ímpetos de a estrangular, de a humilhar ao menos, subjugando-a a meus pés. Ia talvez fazê-lo; mas a ação trocou-se noutra; fui eu que me atirei aos pés dela, contrito e súplice; beijei-lhes, recordei aqueles meses da nossa felicidade solitária, repeti-lhe os nomes queridos de outro tempo, sentado no chão com a cabeça entre os joelhos dela, apertando-lhe muito as mãos; ofegante, desvairado, pedi-lhe com lágrimas que me não desamparasse... Marcela esteve alguns instantes a olhar para mim, calados ambos, até que brandamente me desviou e, com um ar enfastiado:
        --- Não me aborreça, disse.
        Levantou-se, sacudiu o vestido, ainda molhado, e caminhou para a alcova. – Não! Bradei eu; não hás de entrar... não quero... Ia a lançar lhe as mãos: era tarde; ela entrara e fechara-se.
        Saí desatinado; gastei duas mortais horas em vaguear pelos bairros mais excêntricos e desertos, onde fosse difícil dar comigo. Ia mastigando o meu desespero, com uma espécie de gula mórbida; evocava os dias, as horas, os instantes de delírio, e ora me comprazia em crer que eles eram eternos, que tudo aquilo era um pesadelo, ora, enganando-me a mim mesmo, tentava rejeitá-los de mim, como um fardo inútil. Então resolvia embarcar imediatamente para cortar a minha vida em duas metades, e deleitava-me com a ideia de que Marcela, sabendo da partida, ficaria ralada de saudades e remorsos.
        [...]
        Enfim, tive uma ideia salvadora... [...] Era nada menos que fasciná-la, fasciná-la muito, deslumbrá-la, arrastá-la; lembrou-me pedir-lhe por um meio mais concreto de que a súplica. Não medi as consequências: recorri a um derradeiro empréstimo; fui à rua dos Ourives, comprei a melhor joia da cidade, três diamantes grandes, encastoados num pente de marfim; corri à casa de Marcela.
        Marcela estava reclinada numa rede, o gesto mole e cansado, uma das pernas pendentes, a verse-lhe o pezinho calçado de meia de seda, os cabelos soltos, derramados, o olhar quieto e sonolento.
        --- Vem comigo, disse eu, arranjei recursos... temos muito dinheiro, terás tudo o que quiseres... Olha, toma.
        E mostrei-lhe o pente com os diamantes. Marcela teve um leve sobressalto, ergueu metade do corpo, e, apoiada num cotovelo, olhou para o pente durante alguns instantes curtos; depois retirou os olhos; tinha-se dominado. Então, eu lancei lhes as mãos aos cabelos, coligi-os, enlaceios à pressa, improvisei um toucado, sem nenhum alinho, e rematei-o com o pente de diamantes; recuei, tornei a aproximar-me, corrigi lhes as madeixas, abaixei-as de um lado, busquei alguma simetria naquela desordem, tudo com uma minuciosidade e um carinho de mãe.
        --- Pronto, disse eu.
        --- Doido! foi a sua primeira resposta.
        A segunda foi puxar-me para si, e pagar-me o sacrifício com um beijo, o mais ardente de todos. Depois tirou o pente, admirou muito a matéria e o lavor, olhando a espaços para mim, e abanando a cabeça, com um ar de repreensão:
        --- Ora você! dizia.
        --- Vens comigo?
        Marcela refletiu um instante. Não gostei da expressão com que passeava os olhos de mim para a parede, e da parede para a joia; mas toda a má impressão se desvaneceu, quando ela me respondeu resolutamente:
        --- Vou. Quando embarcas?
        --- Daqui a dois ou três dias.
        --- Vou.
        Agradeci-lhe de joelhos. Tinha achado a minha Marcela dos primeiros dias, e disse-lhe; ela sorriu, e foi guardar a joia, enquanto eu descia a escada.

                   Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas.
                                                    São Paulo: Moderna, 1984. p. 24-5.

1 – Observe a frase:
“...Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos”.
a)   Qual o real significado dessa frase? O que lhe parece a maneira usada pelo narrador para indicar a duração de seu namoro?
O narrador “mede” a paixão de Marcela pelo tempo que durou a relação e pelo dinheiro que lhe custou tal capricho.

b)   A expressão que normalmente se usa é “nada mais, nada menos que”. Por que o narrador omitiu a primeira parte da expressão?
Porque ele parece reforçar a ideia de que Marcela não deixaria por menos os carinhos que lhe deu em troca dos presentes.

c)   Você diria que o narrador está contando algo que aconteceu já há algum tempo ou ele ainda está vivenciando a situação narrada? Justifique sua resposta.
O que ele narra aconteceu há tempos. Segundo o próprio narrador, era um “capricho juvenil”. Ao mesmo tempo que narra, a personagem avalia o que aconteceu.

2 – Em “não é outra coisa um filho que me faz isto...”, que fato a palavra isto está representando?
      O fato de ele ter-se empenhado em dívidas e assinado alguns títulos.

3 – A repreensão que o narrador sofre surte efeito? Justifique sua resposta.
      Não. Logo em seguida, ele faz outro empréstimo. Já que teria de viajar, pensava em levar Marcela consigo. Para convencê-la, compra outra joia.

4 – Que expressões do texto revelam que a peraltice do narrador apontada pelo pai não era a primeira?
      “Desta vez”: significa que houvera outras vezes. “Pensas que eu e meus avós ganhamos o dinheiro em casas de jogo ou a vadiar pelas ruas?”: significa que o narrador fazia isso.

5 – As relações entre as personagens aparecem ser muito diferentes do que realmente são. Como é, de verdade, a relação entre:
a)   O narrador e seu pai?
O pai finge estar furioso com o filho, mas encobre seus deslizes; o filho finge que lhe obedece, mas faz o que acha melhor.

b)   O narrador e sua namorada?
O narrador finge que tudo pode para conquistar Marcela, mas está enterrado em dívidas; ela finge que não liga para os presentes, mas esse é seu único interesse. Ele, por sua vez, finge acreditar em teu amor, embora saiba que é falso. Como se percebe, as relações entre as pessoas são absolutamente hipócritas.

6 – Que atitudes de Marcela demonstram:
a)   Sua frieza?
Domina sua vontade de olhar a joia.

b)   Sua falsidade?
Dá um beijo ardente no narrador.

7 – As três personagens apresentam profundas contradições. Quais?
      Pai: quer dar boa educação ao filho, mas não soube impor-lhe limites.
      Filho: sabe que Marcela é interesseira, mas não abre mão de sua “paixão”, mesmo não sendo correspondido.
      Marcela: não ama o rapaz, mas alimenta suas esperanças porque quer continuar tendo suas vantagens.

8 – Com a joia e a promessa de viagem, o narrador diz ter reencontrado a Marcela dos primeiros dias. Como estaria sendo, então, a Marcela dos últimos dias?
      Provavelmente não era mais carinhosa, estava mudada, enfastiada.

9 – Embora tenha sido publicado em 1881, o livro do qual foi tirado o trecho que você leu se mantém atual em muitos pontos. Você saberia dizer em quê?
      Resposta pessoal do aluno. Considerar as relações entre pai abastado e filho mimado.

10 – Neste trecho, explique por que o autor escolheu o verbo em destaque: “Ficando a sós, derramei todo o desespero de meu coração”.
      É uma metáfora. Observar que, antes de dizer isso, o narrador contara sua explosão, ao dar com a mão no copo de refresco que a mucama lhe trazia. Daí a escolha irônica do derramei.


TEXTO LITERÁRIO: UM DIA TODOS SE ENCONTRAM(FRAGMENTO) - JOÃO GUIMARÃES ROSA - COM GABARITO

TEXTO LITERÁRIO: UM DIA TODOS SE ENCONTRAM
                                         João Guimarães Rosa

        De repente lá vinha um homem a cavalo. Eram dois. Um senhor de fora, o claro da roupa. Miguilim saudou, pedindo a bênção. O homem trouxe o cavalo cá bem junto. Ele era de óculos, corado, alto, com um chapéu diferente, mesmo.
        --- Deus te abençoe, pequeninho. Como é teu nome?
        --- Miguilim. Eu sou irmão do Dito.
        --- E seu irmão Dito é o dono daqui?
        --- Não, meu senhor. O Ditinho está em glória.
        O homem esbarrava o avanço do cavalo, que era zelado, manteúdo, formoso como nenhum outro. Redizia:
        --- Ah, não sabia, não. Deus o tenha em sua guarda... Mas, que é que há, Miguilim?
        Miguilim queria ver se o homem estava mesmo sorrindo para ele, por isso é que o encarava.
        --- Por que você aperta os olhos assim? Você não é limpo de vista? Vamos até lá. Quem é que está em tua casa?
        ---É mãe, e os meninos...
        Estava Mãe, estava Tio Terêz, estavam todos. O senhor alto e claro se apeou. O outro, que vinha com ele, era um camarada. O senhor perguntava à Mãe muitas coisas do Miguilim. Depois perguntava a ele mesmo: --- “Miguilim, espia daí: quantos dedos da minha mão você está enxergando? E agora?”.
        Miguilim espremia os olhos. Drelina e a Chica riam. Tomezinho tinha ido se esconder.
        --- Este nosso rapazinho tem a vista curta. Espera aí, Miguilim...
        E o senhor tirava os óculos e punha-os em Miguilim, com todo o jeito.
        --- Olha, agora!
        Miguilim olhou. Nem não podia acreditar! Tudo era uma claridade, tudo novo e lindo e diferente, as coisas, as árvores, as caras das pessoas. Via os grãozinhos de areia, a pele da terra, as pedrinhas menores, as formiguinhas passeando no chão de uma distância. E tonteava. Aqui, ali, meus Deus, tanta coisa, tudo... O senhor tinha retirado dele os óculos, e Miguilim ainda apontava, falava, contava tudo como era, como tinha visto. Mãe esteve assim assustada; mas o senhor dizia que aquilo era do modo mesmo, só que Miguilim também carecia de usar óculos, dali por diante. O senhor bebia café com eles. Era o doutor José Lourenço, do Curvelo. Tudo podia. Coração de Miguilim batia descompasso, ele careceu de ir lá dentro, contar à Rosa, à Maria Pretinha, à Mãitina. A Chica veio correndo atrás, mexeu: --- “, Miguilim você é piticego...” E ele respondeu: --- “Donazinha...”.
        Quando voltou, o doutor José Lourenço já tinha ido embora.
        --- “Você está triste, Miguilim?” --- Mãe perguntou.
        Miguilim não sabia. Todos eram maiores do que ele, as coisas reviravam sempre dum modo tão diferente, eram grandes demais.
        --- Pra onde ele foi?
        --- A foi p’ra a Vereda do Tipã, onde os caçadores estão. Mais amanhã ele volta, de manhã, antes de ir s’embora para a cidade. Disse que, você querendo, Miguilim, ele junto te leva... --- O doutor era homem muito bom, levava o Miguilim, lá ele comprava uns óculos pequenos, entrava para a escola, depois aprendia ofício. --- “Você mesmo quer ir?”.
         Miguilim não sabia. Fazia peso para não soluçar. Sua alma, até ao fundo, se esfriava. Mas Mãe disse:
         --- Vai, meu filho. É a luz dos teus olhos, que só Deus teve poder para te dar. Vai. Fim do ano, a gente puder, faz a viagem também. Um dia todos se encontram...

        João Guimarães Rosa. Campo geral. In: Manuelzão e Miguilim.
                                Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. p. 139-40.

1 – “O Ditinho está em glória”; “Você não é limpo de vista?”; “Você é piticego...” Você já tinha ouvido expressões como essas? Onde? Como será o lugar retratado pelo autor? Explique o que levou você a fazer essa suposição.
        Resposta pessoal do aluno. O aluno deve perceber que se trata de um linguajar interiorano.

2 – Miguilim pôde ver em detalhes um mundo que, para ele, até então não existia. Essa conquista, todavia, teve um preço alto. Terá valido a pena?
      Sim. As separações costumam ser dolorosas, mas muitas vezes contribuem para nosso próprio crescimento e amadurecimento.

3 – “Todos eram maiores do que ele, as coisas reviravam sempre dum modo tão diferente, eram grandes demais.” Com essas palavras o autor tenta demonstrar o que se passa no interior de Miguilim. Explique você, com suas palavras, o que o garoto estava sentindo.
      Resposta pessoal do aluno. Observar que o menino se sente dividido.

4 – Como está o estado interior de Miguilim a chance de tentar uma nova vida?
      Miguilim é uma criança que sente nos acontecimentos uma força contra a qual não pode lutar em sua fragilidade infantil. Por isso, e para não preocupar ainda mais a mãe, esforça-se por não chorar.

5 – O que demonstra a atitude da mãe de Miguilim?
     Demonstra desprendimento. Embora ela esteja sofrendo com a possível separação, esforça-se para se controlar.

6 – Faça um comentário sobre o modo de narrar do autor do texto “Um dia todos se encontram”.
      Neste texto, o substantivo comum mãe é transformado em próprio porque ele funciona mesmo como um nome. A personagem não é apenas mãe de Miguilim. Ela encarna a função de mãe na família e desempenha papel fundamental na história.

7 – Afinal, o que dói tanto numa separação?
      Resposta pessoal do aluno.
                                             



domingo, 1 de outubro de 2017

MÚSICA(ATIVIDADES): VOCÊ PARTIU MEU CORAÇÃO - NEGO DO BOREL, WESLEY SAFADÃO E ANITTA - COM GABARITO

Música(Atividades): Você Partiu Meu Coração
                                            Nego do Borel, Wesley Safadão e Anitta
[Nego do Borel]
Você partiu meu coração, ai
Mas meu amor, não tem problema, não, não
Agora vai sobrar então (o quê? O quê? Ai)
Um pedacim pra cada esquema
Só um pedacim

[Wesley Safadão]
Você partiu meu coração
Ai, meu coração
Mas meu amor, não sinta pena, não, não
Que agora vai sobrar então
Um pedacim pra cada esquema
Só um pedacim

[Nego do Borel]
Se eu não guardo nem dinheiro
Que dirá guardar rancor
Você vacilou primeiro
Nosso caso acabou

[Wesley Safadão]
E se na fossa eu fui caseiro
Quando passa, eu sou terror
Tô na vida de solteiro
Preparado pro caô

[Nego do Borel e Wesley Safadão]
Você partiu meu coração
Ai, meu coração
Mas meu amor, não tem problema, não, não
Que agora vai sobrar então (o que, Safadão? O que, Safadão?)
Um pedacim pra cada esquema
Só um pedacim

[Anitta]
Eu nunca quis seu coração
Amor demais só dá problema, não, não
Mas você pode ser, então (adivinha, o quê? Vai)
Um pedacim do meu esquema
Só um pedacim

Já passou, tá resolvido
Segue em frente e desapega
Mas se eu rebolar, duvido
Que você não desespera

[Wesley Safadão]
Te esquecer não foi problema
O problema é resolver
Essa chuva de esquema
Que eu tenho que atender

[Nego do Borel]
Segunda eu encontro a vizinha de cima
Na terça eu encontro a vizinha do lado
Quarta é o dia daquela menina
Que mora na esquina da rua de baixo

Quinta eu começo já de manhã cedo
Porque tem mais duas, não dá pra negar
Fim de semana, tá tudo embolado
É tanto esquema, nem dá pra contar

[Wesley Safadão, Nego do Borel e Anitta]
Você partiu meu coração
(Ai, meu coração)
Mas meu amor, não tem problema, não, não
Mas você pode ser então (o quê? O quê?)
Um pedacim do meu esquema
Só um pedacim

Você partiu meu coração (eu?!)
Ai, meu coração!
Mas meu amor, não sinta pena, não, não
Agora vai sobrar então (o que, Safadão? O que, Safadão?)
Um pedacim pra cada esquema

Só um pedacim
Interpretação:
1 – Qual é o tema proposto na música? Explique.
      O texto traz a temática sobre uma pessoa que sofreu uma desilusão amorosa.

2 – Quais são os dias da semana em que o eu lírico tem esquema?
      Todos os dias da semana.

3 – Explique o que o eu lírico diz nos versos: “Tô na vida de solteiro / Preparado pro caô...”.
      Está solteiro preparado para viver outros romances, porém sem compromisso.
4 – De acordo com o texto o eu lírico ficou magoado(a) com o ex-amor? Justifique com elementos presentes na música.
      Não houve mágoa de acordo com o trecho: “Se eu não guardo nem dinheiro / Que dirá guardar rancor...”

5 – Alguém já partiu seu coração? Você sofreu por muito tempo? O que fez para recuperar-se? Comente.
      Resposta pessoal do aluno.

6 – Você gosta desse estilo de música? Comente.
      Resposta pessoal do aluno.

7 – No verso: “Você partiu meu coração...”. Quantos períodos temos?
      1 período simples.

8 – Na estrofe: “Se eu não guardo nem dinheiro / Que dirá guardar rancor. Você vacilou primeiro / Nosso caso acabou...” temos:
Assinale as alternativas corretas.
a)   (X) 05 verbos. (Guardo, dirá, guardar, vacilou, acabou).
b)   (X) 03 pronomes. (Eu / você / nosso).
c)   (   ) 04 verbos.
d)   (X) um advérbio de negação. (Não).
e)   (   ) Um período simples em “Que dirá guardar rancor...”
f)    (X) As conjunções (Nem/que).
g)   (   ) Dois substantivos.
h)   (   ) Um período composto em “Nosso caso acabou”.

9 – Transcreva da letra da canção quatro orações com período simples e três orações com período composto.
      Período simples: Você vacilou primeiro.
                                  Nosso caso acabou.
                                  Você partiu meu coração.
                                  E se na fossa eu fui caseiro.
      Período composto: Que dirá guardar rancor – locução verbal. então -
                                     Agora vai sobrar então – locução verbal
                                      É tanto esquema nem pra contar.

   10 – As orações abaixo formam períodos simples, sua função  será transformá-los em períodos compostos.
 Resposta Pessoal    
a)   “ Segunda eu encontro a vizinha de cima.”
______________________________________________                            
b)   “Na terça eu encontro a vizinha  do lado...”
______________________________________________
c)   “Quarta é o dia daquela menina...”
______________________________________________
d)   “Que mora na esquina da rua de baixo...”
______________________________________________
e)   “Quinta eu começo já de manhã cedo...”
______________________________________________
f)    “Que você não desespera...”
______________________________________________
g)   “Tô na vida de solteiro...”
______________________________________________
h)   “Preparado pro caô...”
______________________________________________

Professor(a) lembre seu aluno que para formar um período composto ele deverá acrescentar outras ações, ou seja, outros verbos.