sexta-feira, 4 de agosto de 2017

TEXTO: SERES ENCANTADOS QUE DESEMBARCARAM NO BRASIL - QUESTÕES OBJETIVAS - COM GABARITO

TEXTO
    Você sabe dizer de que maneira os seres fantásticos, como o lobisomem e a mula sem cabeça, "chegaram" ao Brasil? Após pensar sobre isso, leia o texto a seguir e confirme (ou não) sua hipótese.

 SERES ENCANTADOS QUE DESEMBARCARAM NO BRASIL

        Quando eu era criança, alguém sempre contava histórias de lobisomem e mula sem cabeça. Hoje, quase não se fala mais nesses seres que habitam o reino da fantasia. Mas eu ainda conheço um bocado de gente que acredita neles e jura de pés juntos que já os viram. 
       Depois que eu deixei de ser criança – e isso já faz muito tempo –, resolvi pesquisar sobre essas histórias para saber como foi que elas surgiram aqui no Brasil. Vocês podem não acreditar, mas tanto o lobisomem quanto a mula sem cabeça vieram para este país nas caravelas portuguesas. Verdade! Só não se sabe ao certo se elas vieram em 1500, com Pedro Álvares Cabral, ou se foram chegando depois, em outras caravelas enviadas pelo rei de Portugal.
        Não pensem que enlouqueci imaginando um lobisomem e uma mula sem cabeça de malas prontas, acenando no cais com um lencinho. Esses seres vieram em uma bagagem que a gente chama de cultural. Vejam só: por volta do século 15, quando os portugueses começaram suas viagens em busca de novas terras para explorar riquezas, eles levavam um bocado de coisas em suas embarcações. Afinal, as viagens eram longas e eles precisavam estar preparados para passar muito tempo no mar. 
      Claro que nenhum lobisomem ou mula sem cabeça foi visto circulando entre os tripulantes das caravelas, mas, com toda certeza, eles estavam lá. Calma, não se trata de uma história de terror. Quero dizer que toda vez que vamos a algum lugar e encontramos pessoas diferentes, a gente conversa, troca informações, ensina e aprende coisas. Quando fazemos isso, acabamos adquirindo hábitos e costumes de outras pessoas. Logo, isso aconteceu com os portugueses, quando eles resolveram viajar. Além de objetos pessoais, ferramentas, instrumentos de navegação e  alimentos, eles levavam na bagagem tudo o que conheciam e acreditavam. E foi assim que a mula sem cabeça e o lobisomem chegaram ao Brasil – na bagagem cultural, que é formada, como já vimos, pelo conjunto de coisas que a gente sabe, que a gente ensina e que aprende.

 ABRINDO A BAGAGEM 

         Em Portugal, há 500 anos, um monte de gente acreditava em lobisomem e em mula sem cabeça e parte dessa gente veio para o Brasil. Aqui, os portugueses começaram a contar histórias de sua terra e, de sua bagagem cultural, tiraram também outros seres fantásticos, como sereias, sacis, velhos do saco, bruxas, fadas, bicho- -papão, papa-figos e muitos mais, que, aqui, assustaram e, ao mesmo tempo, embalaram o sono de muitas crianças. 
      Os negros, trazidos da África pelos portugueses, para serem escravos, além de muita tristeza e saudades de sua terra natal, trouxeram, também, inúmeras histórias. Aliás, como eles foram capturados e obrigados a deixarem sua terra, não tiveram condições de arrumar seus pertences para a viagem. Mas ninguém pôde proibi-los de trazer suas crenças, suas histórias, seus hábitos e seus costumes, ou seja, a tal bagagem cultural. 
      Na imaginação dos viajantes, livres e escravizados, veio toda sorte de crenças, mitos e lendas que aqui, em solo fértil, brotou e proliferou por todo o território. Com os portugueses, vieram lobisomens, mulas sem cabeça e outros. Com os africanos vieram quibungo, chibamba e as histórias de animais. 
        Aí, você pode perguntar: e as histórias dos índios que já estavam aqui? Eu diria que os lobisomens e os quibungos encontraram-se com mapinguaris, caiporas, curupiras e passaram a conviver em harmonia nas florestas e na imaginação dos brasileiros que iam nascendo, neste novo território, da mistura de europeus, africanos e índios. (...)

 JURANDO DE PÉS JUNTOS

       Como eu disse no início dessa conversa, tem muita gente que acreditava nesses seres encantados. Nas grandes cidades, nem tanto, mas, no interior do Brasil, ainda se contam muitas histórias de lobisomem. 
    Dizem que numa família de sete filhos homens, o caçula pode virar lobisomem, se não for batizado pelo irmão mais velho. E tem mais: na hora em que vira lobisomem, tem que correr sete fontes, sete cemitérios e sete igrejas. Só depois dessa maratona é que ele volta à forma humana. Dizem, ainda, que os lobisomens atacam o gado, as galinhas e as pessoas, tudo em busca de sangue. Para matá-lo é preciso atirar com uma bala de prata.
       Quanto à mula sem cabeça, a história da transformação é bem diferente. 
Reza a lenda que qualquer mulher que namorar um padre pode virar mula sem cabeça, porque namorar padre é pecado. Agora, veja como essa história é injusta: o padre não pode ter namorada, mas, se tiver, só a mulher é castigada. A pobre coitada vira uma mula que solta fogo pelas ventas e nunca mais desvira. Com o padre, não acontece nada. 
     Essa história de mula sem cabeça veio da Península Ibérica, parte da Europa que hoje está dividida entre Portugal e Espanha. Provavelmente, surgiu porque, no século 12, as mulas eram os animais mais próximos dos padres, que se locomoviam de um lugar para outro montados nesses animais, considerados seguros e resistentes. 
       Além dessa história de ser namorada do padre, já ouvi dizer, também, que se uma mãe tem sete filhas mulheres e não der a mais nova para a mais velha batizar, a caçula vira mula sem cabeça, igualzinho ao caso do lobisomem.

 PONTO FINAL

      Acho que é mais ou menos isso que eu queria contar pra vocês. É claro que tem muito mais coisas para descobrirmos sobre a cultura brasileira. Caso vocês se interessem pelo assunto, vou dar uma dica: comecem lendo os livros de Luís Câmara Cascudo, que foi um grande estudioso de nossa cultura. (...)

              Georgina da Costa Martins. In.: Ciência Hoje das Crianças,
                      ano 13, n. 106. Rio de Janeiro: SBPC, setembro/2000.

A partir da leitura atenta do Texto I, realize as questões propostas.

1ª QUESTÃO: Assinale a opção que está em desacordo com as informações do Texto :
       A – ( ) Atualmente, ainda existem pessoas que declaram acreditar em mula sem cabeça e lobisomem.
       B – ( ) Alguns mitos folclóricos brasileiros fazem parte da bagagem cultural portuguesa.
       C – ( ) A cultura brasileira também possui influência e contribuição africana.
       D – ( ) O povo indígena criou personagens tais como caiporas e curupiras.
       E – (X) As histórias indígenas, africanas e portuguesas nunca se fundiram nem conviveram pacificamente no imaginário popular e no território brasileiro.

2ª QUESTÃO: "... veio toda sorte de crenças, mitos e lendas que aqui, em solo fértil, brotou e proliferou por todo o território." O vocábulo proliferou, neste contexto, só não significa:
       A – ( ) reproduziu.
       B – ( ) multiplicou.
       C – ( ) expandiu.
       D – (X) reduziu.
       E – ( ) aumentou.

3ª QUESTÃO: "... qualquer mulher que namorar um padre / pode virar mula sem cabeça..."  As orações acima estabelecem entre si uma, respectivamente, relação de:
       A – ( ) fato/causa.
       B – (X) fato/consequência.
       C – ( ) fato/finalidade.
       D – ( ) problema/solução.
       E – ( ) fato/condição.

4ª QUESTÃO: No ponto de vista da pessoa que narra o Texto I, a história da mula sem cabeça, na versão de uma mulher que namora um padre, tem um desfecho:
       A – ( ) coerente.
       B – ( ) satisfatório.
       C – (X) injusto.
       D – ( ) aceitável.
       E – ( ) perfeito.

5ª QUESTÃO: Os trechos abaixo deixam explícito o contato do narrador com o leitor, exceto:
       A – ( ) "Vocês podem não acreditar, mas..." 
       B – ( ) "Não pensem que enlouqueci..." 
       C – ( ) "Vejam só: por volta do século 15..." 
       D – ( ) "Aí, você pode perguntar..." 
       E – (X) "Essa história de mula sem cabeça veio da Península Ibérica..." 

6ª QUESTÃO: Marque a análise equivocada sobre o Texto :
         A – ( ) Possui narrador-personagem, isto é, tem foco narrativo interno.
       B – ( ) Em "...eles levavam um bocado de coisas..." , há o emprego de linguagem informal, coloquial.
     C – (X) "Provavelmente, surgiu porque, no século 12..." . O vocábulo grifado registra certeza no narrador.
       D – ( ) "Reza a lenda que qualquer mulher..." . É adequada a substituição da palavra grifada por diz, relata, conta.
       E – ( ) "Afinal, as viagens eram longas..."  Neste trecho, vê-se o emprego de uma palavra denotativa de situação.


TEXTO:UMA PROFESSORA MUITO MALUQUINHA -ZIRALDO - QUESTÕES OBJETIVAS COM GABARITO

TEXTO - UMA PROFESSORA MUITO MALUQUINHA

         Era uma vez uma professora maluquinha. Na nossa imaginação, ela entrava voando pela sala (como um anjo) e tinha estrelas no olhar. Tinha voz e jeito de sereia e vento o tempo todo nos cabelos (na nossa imaginação). Seu riso era solto como um passarinho. Ela era uma professora inimaginável. Para os meninos, ela era uma artista de cinema. Para as meninas, a Fada Madrinha. […] 
           Como todos sabem, os três mosqueteiros eram quatro. Só que nós — a turminha que vai contar a história — éramos cinco: Athos, Porthos, Aramis, Dartagnan e Ana Maria Barcellos Pereira, a chefa.[…] 
        Nós tínhamos acabado de descobrir o segredo das letras e das sílabas; já sabíamos escrever nossos nomes, ler todos os letreiros das lojas, os cartazes do cinema, as manchetes dos jornais e os títulos dos anúncios nas revistas, quando ela chegou em nossas vidas. 
       Quando ela entrou pela primeira vez na nossa sala e falou que ia ser nossa professora naquele ano, todas as meninas quiseram ser lindas e todos os meninos quiseram crescer na mesma hora para poder casar com ela.
      A primeira chamada que ela fez foi assim: mandou cada um de nós escrever o nome de outro aluno. O nome por inteiro. “Grande vantagem saber escrever seu próprio nome!” — ela brincou. Depois, embaralhou os nomes de todos nós e mandou que a gente arrumasse tudo direitinho na exata ordem do ABC. 
      Ela conquistou tão depressa todos nós que, logo, logo, já havia meninas chorando no seu colo. Os meninos não entendiam nada. Havia segredos que pertenciam somente a elas, e eram tantos que a professora acabou inventando um código para trocar bilhetinhos secretos com as meninas. […] 
     Com ela não tinha castigo. Tinha julgamento. Se um lá fizesse alguma coisa que parecesse errada, ela convocava o júri. Um aluno para a acusação, outro para a defesa. O resto da turminha era o corpo de  Jurados… A gente adorava julgamentos. No final do ano, quando já líamos tudo, ela achou melhor que as defesas e as acusações fossem feitas por escrito. É que o júri era muito barulhento. […]
     Quando as aulas começaram, no ano seguinte, não era ela que estava sentada na cadeira, atrás da mesa, sobre o estrado, diante do quadro negro. Era uma doce senhora de olhos severos e com a voz de quem comandava um pelotão. 
      Logo no primeiro dia de aula, a turma ficou toda de castigo. A professora havia apanhado um menino lendo um livro de histórias em plena aula e resolveu olhar embaixo da carteira de cada um. […] 
      Tivemos todos que ficar depois da aula e escrever cem vezes, cada um, a frase: “Prometo prestar atenção nas lições e não ficar me distraindo na hora da aula”. […] 
    Meu Deus, quantos anos se passaram! Nós todos, seus alunos, somos hoje, muito, muito mais velhos do que aquela professorinha. Estamos todos, agora, com idade bastante para ser seus avós, se ela tivesse ficado, para sempre, do jeitinho que está fotografada em nossa memória, aprisionada no tempo. Aqui estamos nós de volta, quase todos. Alguns foram nos deixando pelo caminho, até mesmo na infância, pois sobreviver não era muito fácil no meio da pobreza da nossa pequena cidade. Os outros — cujos pais tinham emprego e salário — chegaram até esse dia, com jeito e cara de vitoriosos, e estão aqui, digamos, dentro deste livro — os Mosqueteiros do Rei à frente —, prontos para matar todas as saudades…
                                        Ziraldo. Uma professora muito maluquinha.
                                                      São Paulo, Melhoramentos, 1995.

A partir da leitura atenta do Texto I, faça as questões propostas.

1ª QUESTÃO: “Seu riso era solto como um passarinho.” 
O vocábulo grifado transmite ideia de comparação e só não seria substituído adequadamente por:
       A - ( ) semelhante a.
       B - ( ) tal qual.
       C - ( ) que nem.
       D - (X) diferente de.

2ª QUESTÃO: Uma característica que não pode ser atribuída à professora maluquinha é a de ser:
       A - ( ) confidente.
       B - ( ) sorridente.
       C - (X) idosa.
        D - ( ) encantadora.

3ª QUESTÃO: “… ela achou melhor que as defesas e as acusações fossem feitas por escrito.” 
Com que objetivo a professora propôs tal mudança?
       A - ( ) Permitir que todas as acusações fossem consideradas.
       B - (X) Amenizar o barulho produzido pelo júri.
       C - ( ) Gastar mais tempo durante os julgamentos.
       D - ( ) Selecionar apenas as defesas para serem lidas.

4ª QUESTÃO: Sobre os alunos da professora maluquinha, é inadequado afirmar que:
          A - (X) todos tiveram uma infância farta e feliz.
         B - (  ) inicialmente, enfrentaram dificuldade de se concentrarem na aula da professora que a substituiu.
     C - ( ) alguns conseguiram se reunir após a fase adulta e serem personagens de um livro cheio de recordações.
       D - ( ) eternizaram a lembrança da professora maluquinha ainda bem jovem em suas memórias.

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

CRÔNICA URBANA - TÍPICO DE CARIOCA - COM GABARITO

TEXTO: TÍPICO DE CARIOCA

        Um vídeo sobre o “jeitinho carioca” virou hit na internet por retratar manias e formas bem características de se levar a vida no Rio de Janeiro. O termômetro marca 20° e o carioca já inventa de fazer fondue. Diz para qualquer conhecido que encontra na rua “vamos marcar alguma coisa?”, mas o programa fica por isso mesmo. Reclama do trânsito, do metrô lotado e pondera: “imagina isso aqui na Copa!”. Fui na onda e pedi ajuda ao meu grupo “Agenda Carioca” no Facebook para ampliar essa lista com ideias simples e engraçadas que viessem à cabeça. O resultado dessa pesquisa foram 361 posts publicados em quatro dias. Aqui surge uma crônica escrita a centenas de mãos! 
           Cariocas não gostam de dias nublados, nem de sinal fechado, mas disso todo mundo já sabe... O que mais? Eles têm certeza de que esta é a cidade mais linda do mundo, mesmo sem conhecer nenhuma outra. Reclamam de tudo daqui, mas não admitem que ninguém fale mal do Rio. Encontram com artistas na rua e mostram cara de paisagem para não “pagar mico”. Afinal, somos todos vizinhos, né? Cariocas não mentem, mandam “caô”. Chamam todos de “meu irmão”. Falam “cara”, seja para um homem ou uma mulher. 
           Não dizem obrigado, é quase sempre um “valeu”. “Demorô” ou seria “jaé”? E o “tem, mas acabou”, um clássico do carioca! Ele nunca diz simplesmente “não temos”. Garçom é sempre “amigo” e a conta é pedida com aquele movimento de mão como se assinasse um cheque no ar. Quase todo carioca tem um garçom pra chamar de “seu”. A malandragem é uma marca registrada. Está atrasado para um encontro e liga dizendo que já está chegando, quando ainda nem saiu de casa. Compra 300 coisas que não precisa na padaria para entregarem um único cigarro! 
           Não lhes falta gentileza para dar a frente a uma mulher grávida. Eles seguram a bolsa de quem está em pé no ônibus e se unem de forma rápida e organizada para ajudar em momentos de crise. O esforço daqueles que não falam inglês em dar informações aos gringos é comovente, apesar de adorarem falar tocando nas pessoas, para desespero dos estrangeiros. O sorriso do carioca é um artigo que nunca falta quando ele chega. Impressionante a facilidade de conversar com estranhos e se meter na conversa alheia. Cariocas detestam ficar em filas formando uma reta, fazem sempre um desenho original. 
          Pessoas que andam na praia e que não se conhecem passam a se cumprimentar pela habitualidade em se cruzarem. A maioria conversa tudo com seus próprios porteiros, eles são quase parte da família. Dão dois beijinhos em paulistas e ficam sempre no ar. Vivem em contradição. Acham o Desfile das Escolas de Samba imperdível, mas passam todos os carnavais na casa de praia ou de serra. Adoram a vista do Pão de Açúcar, embora só tenham subido no bondinho uma única vez, na infância. 
              Comemoram dia de tudo quanto é santo, mas, no aniversário do Rio de Janeiro, 1º de março, tudo funciona normalmente sem grandes festas e nem feriado. Carioca cria os filhos na praia à base de água de coco e biscoito Globo. Fazem divisões imaginárias da areia, “por tribos”, e convivem com as diferenças com muita paz e alto astral. Escolhem um barraqueiro e são fiéis a ele. Pedem na maior confiança para qualquer estranho “dar uma olhadinha” nas suas coisas, enquanto dão um mergulho no mar (fazendo o sinal da cruz antes). 
             Não têm hora pra chegar e nem hora pra sair da praia e, muitas vezes, emendam o programa direto da noitada. A negociação começa na combinação do preço com o guardador “mermão”, e continua com o pedido de “chorinho” no limãozinho do mate. Seus pequenos rituais são únicos, como aplaudir o pôr do sol visto da pedra do Arpoador, marcar encontro na estátua do Bellini, no Maracanã, decretar feriado no dia de São Jorge, o santo de fé da maioria dos cariocas, tomar um açaí após corrida ou praia e combinar o almoço de domingo depois da praia. Mas se o tempo fechar, de uma hora para outra tudo muda. Basta chover e o carioca começa a cancelar compromissos. Mesmo uma chuvinha fina já causa uma onda de cancelamentos. 
                  O frio polar nos restaurantes durante o verão combina com um jeito de vestir muito peculiar. Choveu, é casacão pra cá, meia calça, bota, não importa o cheiro de naftalina nas roupas e que seja apenas uma chuva de verão (quase sempre é) e que esteja fazendo 35 graus... short e chinelo com casaco é um hit do carioca com frio, que adora uma roupa confortável e não está nem aí para o que os outros vão achar. O polêmico meião feminino que só se vê nas academias cariocas é um belo exemplo. Muitas delas retocam o cabelo de mês em mês e quando olham o resultado a frase é sempre a mesma: “Estou superloira!!!”. As cariocas não precisam subir no salto para estarem lindas. As rasteirinhas e havaianas lhes caem muito bem em qualquer situação! 
             Nosso trânsito tem suas peculiaridades. Pegar aquele engarrafamento no final de tarde, voltando para casa exausta e com um “buraco” no estômago e ter a felicidade de ser abordada por aqueles vendedores de biscoito de canudinho compridinho, que esfarela todo no carro e na roupa, fazendo com que a criatura faminta se sinta saindo de um rodízio, não tem preço. Carioca, suburbano ou da zona sul, quando vai à Região dos Lagos, nos feriados, fica concorrendo com os “colega” para ver quem fica mais tempo no engarrafamento da ponte. 
           Chamam o motorista do ônibus de “piloto” e pedem pra descer fora do ponto, normalmente no sinal fechado. Fazem da bike uma parceira, as laranjinhas do Itaú já são mais do que parte da paisagem. Cariocas não se cumprimentam, fazem festa. Adoram ir para a janela e gritar: “Gooooool”. Para o típico anfitrião carioca, convidado pontual é o cúmulo da inconveniência. O Rio é o único lugar do mundo que tem uma matemática muito própria para calcular a hora certa de se chegar a um evento: “Se está marcado às 9 é para chegar às 10, 10 e meia...”, diz o convidado. “Vou marcar às 9 que é para o pessoal chegar umas 10...”, pensa o anfitrião. Carioca diz: “eu vou ali e já volto” e fica três horas. Carioca anda com guarda-chuva debaixo da marquise, onde os ambulantes se instalam com um minuto de início de chuva. De onde eles surgem? Todo brasileiro torce por um time de futebol. O carioca tem um time de futebol. E ainda adere com alegria a um projeto como esse e, em menos de cinco minutos, consegue material para muitas crônicas.

                                        (Crônica Urbana – Antônia Leite Barbosa –
                                                                  Magazine Casa shopping).

Após a leitura atenta do Texto I, realize as questões propostas. 

1ª QUESTÃO: De acordo com o texto, que finalidade a autora da crônica tinha ao pedir ajuda ao seu grupo no Facebook?
       A – ( ) Dessa maneira faria seu grupo trabalhar um pouco.
       B – ( ) Ficaria sabendo o que seu grupo pensava sobre os cariocas.
       C – (X) Tinha em mente ampliar sua lista de manias engraçadas dos cariocas.
       D – ( ) Não sabia o que escrever e por isso precisou da ajuda do grupo.
       E – ( ) Queria que o grupo participasse efetivamente da crônica.

2ª QUESTÃO: “Encontram com artistas na rua e mostram cara de paisagem...”  A expressão destacada quer dizer que:
       A – ( ) estão reconhecendo.
       B – ( ) não reconhecem.
       C – ( ) não querem falar.
       D – (X) fingem não estar ligando.
       E – ( ) não gostam do artista.

3ª QUESTÃO: O que faz com que as pessoas que caminham na praia e não se conhecem se cumprimentem?
       A – ( ) A intenção de tornar os estranhos pessoas da própria família.
       B – (X) O fato de se encontrarem todos os dias caminhando.
       C – ( ) A vontade de aumentar o círculo de amizade.
       D – ( ) Querem passar uma boa imagem dos moradores da cidade.
       E – ( ) O fato de gostarem dos cumprimentos.

4ª QUESTÃO: “Acham o Desfile das Escolas de Samba imperdível, mas passam todos os carnavais na casa de praia ou de serra.” A palavra destacada dá ideia de:
       A – ( ) adição.
       B – ( ) finalidade.
       C – ( ) causa.
       D – ( ) consequência.
       E – (X) oposição.

5ª QUESTÃO: Leia as afirmativas e, em seguida, marque a opção correta:
I – O texto “Típico de carioca” foi escrito em forma de prosa.
II – O texto não possui discurso direto.
III – Há no texto marca da oralidade.
       A – ( ) Apenas as afirmativas I e II estão corretas.
       B – ( ) Apenas a afirmativa III está correta.
       C – ( ) Só a afirmativa I está correta.
       D – (X) A afirmativa II é a única errada.
        E – ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas.

6ª QUESTÃO: Identifique a opção cuja palavra destacada não pertença à mesma classe gramatical da grifada na frase destacada abaixo. “...mas o programa fica por isso mesmo.”
       A – ( ) “Fui na onda e pedi...”
       B – (X) “Cariocas não gostam de dia nublado, ...”
       C – ( ) “...que ninguém fale mal do Rio.”
       D – ( ) “A malandragem é uma marca registrada.”
       E – ( ) “...em pé no ônibus...”

7ª QUESTÃO: Assinale a opção em que a correlação entre o termo destacado e sua respectiva explicação dentro dos parênteses está errada:
       A – ( ) “Cariocas não gostam de dia nublado, ...” (A palavra Cariocas é um adjetivo pátrio de quem nasce no estado do Rio de Janeiro.)
       B – (X) “A maioria conversa tudo com seus próprios porteiros...” (A palavra próprios pertence à classe dos pronomes.)
       C – ( ) “Vivem em contradição.” (Contradição é mesmo que atitude oposta.)
       D – ( ) “O sorriso do carioca é um artigo que nunca falta quando ele...” (A palavra artigo refere-se ao sorriso.)
       E – ( ) “Escolhem um barraqueiro e são fiéis a ele.” (A palavra fiéis pode ser substituída pela palavra leais sem sofrer alteração no sentido da frase.)


FÁBULA: O MACACO E O GOLFINHO - ESOPO - COM GABARITO

FÁBULA: O MACACO E O GOLFINHO
                   ESOPO

        Na antiguidade, os navios eram pequenos barcos a remo ou à vela, e as viagens, é claro, uma grande aventura. O tempo não contava: ao embarcar, era impossível prever a duração da viagem... 
   Para se entreterem nessas grandes travessias, os viajantes recorriam a tudo o que fossem capazes de imaginar: uns jogavam dados ou xadrez, outros dormiam todo o tempo, alguns conversavam entre si ou com a tripulação, e ainda havia os que levavam consigo seus bichos de estimação para fazer companhia: cachorros, macacos ou corvos amestrados. 
      Um mercador ateniense emigrado da Sicília – que, na época, chamava-se Magna Grécia – fizera fortuna em poucos anos. E decidira regressar à pátria para gozar a riqueza. Enquanto esperava que carregassem sua bagagem para o interior do navio, reparou em um marinheiro fenício que passava por ali com um macaco ao ombro.
       — Ei, moço! – chamou. – O que esse seu simpático bichinho sabe fazer?        O outro achou graça:
     — Khala? Esse é o mais esperto macaco da face da Terra! Trepa no mastro do navio e me avisa quando avista alguma embarcação. Além disso, sabe dançar quando ouve música. Quer ver? 
      Sem esperar resposta, tirou uma flauta do bolso e começou a tocar uma música típica do seu país. 
     Khala saltou, imediatamente, para o chão e começou a dançar, dando várias cambalhotas e até um salto mortal.
     — Quanto você quer por ele? – perguntou o mercador, sem muito interesse, para o preço não vir. Muito alto.
        — Uma mina ateniense não bastaria, pois, além de ele ser muito esperto, gosto demais dele ... – o outro se fez de rogado, para fazer seu produto valer mais. 
        Depois de alguma discussão, o marinheiro deu o preço:
        — Cem dracmas.
      — Cem dracmas! – exclamou o mercador, roxo e gago, de raiva. – Você deve estar maluco! 
     Depois de regatear, as cem dracmas reduziram-se a quatro e logo uma moeda de prata trocada de mãos, ao mesmo tempo em que o macaco trocava de dono.
       — Adeus, Khala! – suspirou o fenício. – Odeio me separar de você, mas é preciso...– e, passando a cordinha no pescoço do macaco, entregou-o ao mercador, acrescentando: — É um bichinho muito especial, você vai ver. Boa viagem!
        — Adeus, marinheiro, e obrigado! 
     E os dois, o macaco e o mercador, começaram a subir a prancha que servia de ponte entre o navio e o cais. 
       Khala era obediente e não reclamou.
   O fenício tinha razão: já no primeiro dia, Khala tornara-se o grande divertimento da tripulação e dos passageiros: saltava, dançava, trepava no mastro e apanhava comida das mãos das pessoas. Não parava um minuto. 
       Naquele mês de julho, o tempo estava maravilhoso. O mar apresentava-se liso e calmo, e a viagem corria agradável, sem atropelos. 
      No décimo dia, porém, quando o navio preparava-se para dobrar o último cabo, um forte vendaval levantou-se, com vento a noroeste, e o céu cobriu-se de nuvens negras. A pequena embarcação balançava terrivelmente. Todos receavam que ela não fosse aguentar ou que, a qualquer momento, batesse nos rochedos. 
       O capitão mandou que todos os passageiros fossem para o porão. 
       Ao preparar-se para obedecer, o mercador percebeu que não via Khala.
       — Onde você está, Khala? – chamou, apreensivo. – Khala! Khala!
     Em cima do mastro, Khala, animadíssimo, fazia seu melhor número. Por não ter medo da tempestade, saltava, corri, dançava, parecendo muito alegre com aquilo que lhe parecia uma festa... 
     O mercador nem teve tempo de abrir a boca, uma onda mais violenta ainda abateu-se sobre a popa do navio, que se empinou, permanecendo suspenso sobre a crista da onda, voltando a cair de popa. Ouviu-se um estrondo: o mastro partira-se, caindo de lado sobre a ponte. Quebrou os cabos que o prendiam e perdeu-se na fúria das águas. Khala caiu de cabeça para baixo e, por um longo momento, ficou parado, bebendo água, bebendo, bebendo...
       Estava quase morto, quando ouviu uma voz que dizia:
        — Suba nas minhas costas.
     Ele só entendeu por ter sido criado por marinheiros e estar habituado à linguagem do mar, pois era um golfinho que assim lhe falava, naquela estranha mistura de ruídos e assobios. 
      Embora se sentisse desfalecendo, Khala apressou-se em obedecer: 
    Como é bom respirar! Agora, sim, o macaco voltara à superfície e podia conversar com o amigo que lhe salvara a vida:
    — Obrigado! Eu não sei o que teria acontecido comigo, se não fosse você...Ou melhor, até sei! – disse Khala.
      — De nada! Você vai para Atenas? – perguntou o golfinho.
      — Vou.
      — Você é ateniense?
     — Ateniense? – surpreendeu-se o macaco. – Acho que esse idiota pensa que eu sou um homem... – e continuou, em voz alta: - Sim, sou. E ateniense de uma das melhores famílias!
     — Ah, sim? – o golfinho não parecia muito surpreso. – E a quem tenho a honra de transportar na minha garupa?
     — Filostrato, filho de Pisandro, neto de Timóteo, bisneto de Electeu e de Licurgo.
     — Estranho... – pensou o golfinho. — Nunca tinha ouvido falar... – e perguntou em voz alta: — E o que você faz na vida?
   — Vivo de rendas. Possuo casas, terrenos e navios. Ah, estava me esquecendo: também sou animador...
    — Animador? – pensou o golfinho. – Não deveria ser “armador”? Hum, deve ser algum espertinho...  Espere, que já vamos ver ... – e em voz alta perguntou:  — Se você é animador, deve conhecer bem o Pireu, não é verdade? 
     Já envolvido por suas próprias mentiras, Khala nem parou para pensar, pois, se o tivesse feito, teria se lembrado de que Pireu é o nome do porto de Atenas. Com grande entusiasmo, exclamou: 
     — Pireu! Pireu! Você também conhece aquele grande malandro? Uma pessoa fantástica, divertidíssima... Sabia que ele não anda bem ultimamente?
       — Sério? Você tem certeza? – o golfinho fingiu interesse.
       — Absoluta! – respondeu o macaco.
      — Pois eu tenho certeza é de outra coisa! – disse, com raiva, o golfinho, diante de tamanho descaramento. – Tenho certeza é de que você, se quiser voltar a ver o seu querido amigo Pireu, vai ter de ir a nado! 
   E o golfinho sacudiu as costas, derrubando Khala na água e desaparecendo num mergulho rápido, sem ouvir os desesperados pedidos de socorro do macaco.

Moral: Os ignorantes têm a mania de tentar enganar quem sabe mais do que eles, mas isso quase nunca á certo.

(LIVRO FÁBULAS DE ESOPO – EDITORA PAULUS) VOCABULÁRIO:

Dracmas: nome do dinheiro usado na época.
Fenício: natural ou habitante da antiga Fenícia, região litorânea da atual Síria.
Ateniense: natural ou habitante da cidade de Atenas (Grécia).
Armador: construtor de navios.


1ª QUESTÃO: Para se distraírem em suas viagens, os marinheiros faziam várias atividades. Marque a opção que apresenta uma atividade que não foi citada no texto:
       A – ( ) Eles jogavam dados.
       B – ( ) Alguns dormiam.
      C – ( ) Outros conversavam.
      D – (X) Jogavam cartas.
      E – ( ) Levavam seus animais de estimação.

2ª QUESTÃO: “O capitão mandou que todos os passageiros fossem para o porão.”  O capitão deu essa ordem porque ...
       A – ( ) o sol estava muito forte e os passageiros passavam mal.
      B – ( ) os marinheiros estavam jogando e precisavam de espaço.
      C – (X) a embarcação corria risco de naufragar.
      D – ( ) a comida seria servida no porão.
      E – ( ) era norma do navio.  

3ª QUESTÃO: “Embora se sentisse desfalecendo, Khala apressou-se em obedecer:”  A palavra destacada poderá ser substituída, sem alterar o sentido da frase, por:
       A – ( ) agitado.
       B – (X) desmaiando.
      C – ( ) disposto.
      D – ( ) esperto.
      E – ( ) atento.

4ª QUESTÃO: Marque a opção correta:

       A – (X) “O mar apresentava-se liso e calmo, e a viagem corria agradável...” Na frase acima, o mar foi personificado.
       B – ( ) “Em cima do mastro, Khala, animadíssimo, fazia seu melhor número.” O adjetivo animadíssimo encontra-se no grau comparativo de igualdade.
       C – ( ) “Khala saltou, imediatamente, para o chão e começou a dançar...” Imediatamente é o mesmo que nervosamente.
       D – ( ) “Tenho certeza é de que você, se quiser voltar a ver o seu...” O vocábulo é classifica-se como monossílabo átono.
       E – ( ) “— Ei, moço!...” A vírgula foi usada para separar a palavra que indica uma explicação.

5ª QUESTÃO: De acordo com o Texto , o macaco conseguiu entender o que o golfinho dizia, porque:
       A – ( ) ele falava a língua dos golfinhos.
       B – ( ) entendia qualquer idioma.
       C – (X) estava habituado à linguagem do mar.
       D – ( ) viveu algum tempo entre os golfinhos.
       E – ( ) era o rei do mar.

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

CONTO: O CABOCLO, O PADRE E O ESTUDANTE - LUÍS DA CÂMARA CASCUDO - COM GABARITO

CONTO: O CABOCLO, O PADRE E O ESTUDANTE
                 Luís da Câmara Cascudo
 

        Um estudante e um padre viajavam pelo sertão, tendo como bagageiro um caboclo. Deram-lhe numa casa um pequeno queijo de cabra. Não sabendo dividi-lo, mesmo porque chegaria um pequenino pedaço para cada um, o padre resolveu que todos dormissem e o queijo seria daquele que tivesse, durante a noite, o sonho mais bonito, pensando engabelar todos com os seus recursos oratórios. Todos aceitaram e foram dormir. À noite, o caboclo acordou, foi ao queijo e comeu-o.
        Pela manhã, os três sentaram à mesa para tomar café e cada qual teve de contar o seu sonho. O frade disse ter sonhado com a escada de Jacob e descreveu-a brilhantemente. Por ela, ele subia triunfalmente para o céu. O estudante, então, narrou que sonhara já dentro do céu à espera do padre que subia. O caboclo sorriu e falou:
        --- Eu sonhei que via seu padre subindo a escada e seu doutor lá dentro do céu, rodeado de amigos. Eu ficava na terra e gritava:
        --- Seu doutor, seu padre, o queijo! Vosmincês esqueceram o queijo.
        Então, Vosmincês respondiam de longe, do céu:
        --- Come o queijo, caboclo! Come o queijo, caboclo! Nós estamos do céu, não queremos queijo.
        O sonho foi tão forte que eu pensei que era verdade, levantei-me enquanto vosmincês dormiam e comi o queijo...

          CASCUDO, Luís da Câmara. Contos tradicionais do Brasil.           Belo Horizonte/São Paulo, Itatiaia/Edusp. 1986. p. 213.

1 – O primeiro parágrafo nos mostra todo um percurso narrativo. Divida-o nas partes estudadas.
     Apresentação: primeiro período.
     Complicação: de “Deram-lhe numa casa um pequeno queijo de cabra” até “Todos aceitaram e foram dormir”.
     Clímax: o caboclo comeu o queijo.
     O desfecho: coincide com o clímax.

2 – Os tempos verbais utilizados nesse primeiro parágrafo estabelecem um jogo temporal semelhante ao que ocorre no texto “Segura a onça que eu sou caçador de preá”? Comente.
     Essencialmente, o jogo temporal é o mesmo, baseando-se no perfeito e no imperfeito do indicativo. O aluno deve observar, no entanto, que nesse texto surge o futuro do pretérito, outro tempo típico da narração.

3 – Que tipo de narrador o texto utiliza? Retire dele uma passagem em que se perceba a profundidade com que são apresentados os personagens.
     O narrador é de terceira pessoa, onisciente. O aluno deve perceber que ele é capaz de relatar até mesmo pensamentos íntimos do padre (“... pensando engabelar todos com seus cursos oratórios...”).

4 – No segundo parágrafo surge a forma verbal sonhara. Justifique o emprego desse tempo analisando-o no período em que aparece.
     Sonhara (assim como ter sonhado) é forma do mais-que-perfeito do indicativo, apropriada para exprimir um fato passado em relação a outro dato passado. No caso o ato de sonhar foi anterior ao ato de narrar.

5 – Em que partes do texto ocorre discurso direto? Releia atentamente as manifestações desse tipo de discurso e responda:
     O discurso direto surge no final do texto, no momento em que o caboclo conta seu sonho.

a)   Elas servem para a caracterização mais completa de algum personagem?
Sem dúvida, o discurso direto acentua o caráter “caipira” do caboclo.

b)   Há uma relação entre o uso dos discursos direto e indireto e o papel de cada um dos personagens do texto?
O narrador utilizou o discurso direto para apresentar a fala do personagem que centraliza as atenções. Dessa forma, o narrador conta o que o padre e o estudante disseram, mas mostra aquilo que o caboclo disse.

6 – Aponte o início do trecho em que o caboclo assume o papel de narrador do próprio sonho dando início a uma narrativa em primeira pessoa dentro da narrativa maior.
     “Eu sonhei que via...”

7 – O desfecho do texto é surpreendente em relação ao que se esperava que acontecesse entre três personagens apresentados e caracterizados? Comente.
     Sem dúvida, o desfecho é surpreendente. Deve-se comentar com o aluno que se trata de uma narrativa popular bastante comum, em que a sabedoria “caipira”, aparentemente ingênua, consegue superar as artimanhas da escolaridade.


terça-feira, 1 de agosto de 2017

TEXTO: NARRAÇÃO E NARRATIVAS - SAMIRA N. MESQUITA - COM GABARITO


TEXTO:NARRAÇÃO E NARRATIVAS

        Contar e ouvir histórias são atividades das mais antigas do homem. Pessoas de todas as condições socioculturais têm prazer de ouvir e de contar histórias. Um romancista e ensaísta inglês, E. M. Forster, chama essa atividade de atávica, isto é, transmitida desde a idade mais remota da humanidade, ligada aos rituais pré-históricos do Homem de Neanderthl, força de vida e de morte, conforme sua capacidade de manter acordados ou de adormecer os membros de um grupo, nas noites dos primeiros dias... O mesmo autor cita ainda a protagonista de As mil e uma noites, Xerazade, que se salvou da morte contando histórias que, a cada noite, eram interrompidas em momentos de calculado suspense, a fim de motivar a curiosidade do sultão. A tal ponto chegou a habilidade da narradora, que, depois de mil e uma noites, o poderoso rei não só não a mandou matar, como também apaixonou-se e com ela se casou. Lembra o autor que todos nós somos como o sultão. Interessamo-nos intensamente pelo desenrolar de uma história bem contada. (Estão aí as novelas de TV, impondo a milhares de pessoas em todo o país, e até no exterior, um tipo massificante de lazer, num horário igualmente imposto).
        Todas as atividades que o inventar/narrar, ouvir/ler histórias envolvem podem ser associadas também à natureza lúdica do homem. O jogo é uma atividade muito presente em todas as situações do homem em sociedade. Sob as mais diversas formas, o fenômeno lúdico mantém um dignificado essencial. É um recorte na vida cotidiana, tem função compensatória, substitui os objetos de conflito por objetos de prazer, obedece a regras, tem sentido simbólico, de representação. Com realização, supõe agenciamentos manipulações, mecanismo, movimentos, estratégias.
        Constituir um enredo é começar um jogo. O narrador é um jogador, e forma, com o leitor e o próprio texto, o que se pode chamar uma comunidade lúdica.
        No ritual de se pegar um livro para ler ou de se sentar à volta ou diante de um narrador, uma tela de cinema ou de TV, para ler/ouvir contar-se uma história, desenrolar-se um enredo, tal como no exercício do jogo, há a busca de prazer, há tensão, competição, há a máscara, a simulação, pode haver até a vertigem.
                                           MESQUITA, Samira Nahid de. O enredo.
                                                            São Paulo, Ática, 1986. p. 7-8.

1 – Podemos dizer que a primeira afirmação do texto é de caráter histórico?
     SIM. Pois coloca a questão abordada numa perspectiva temporal.

2 – Generalização é a “extensão de um princípio ou de um conceito a todos os casos a que se pode aplicar”. Podemos dizer que no início do texto é apresentada uma generalização? Explique.
     SIM. Pois os dois primeiros períodos do texto estendem o prazer de contar e ouvir histórias ao homem de todas as épocas e de todas as condições socioculturais.

3– Explique o significado da palavra atávica a partir do próprio texto.
     Atávico é aquilo que permanece no homem desde as origens da espécie humana.

4– O texto se refere a E. M. Forster para comprovar suas primeiras colocações. De que forma os fatos indicados pelo escritor inglês se relacionam com os dois primeiros períodos do texto?
     O caráter atávico da atividade narrativa, apontado por Forster, liga-se à afirmação de caráter histórico que abre o texto; já a alusão a Xerazade e ao sultão relaciona-se diretamente com o segundo período do texto, que estende a atividade narrativa a todas as camadas sociais. O aluno deve observar como a citação das proposições de Forster está simetricamente relacionada com o início do texto.

5 – Xerazade é caracterizada, no texto, por duas palavras. Aponte-as e explique seus significados.
     Protagonista: personagem principal de uma narrativa.
     Narradora: aquela que, numa narrativa, conta a história. São palavras que serão muito utilizadas no capítulo.

6 – Qual é, na sua opinião, a função do trecho colocado entre parênteses no final do primeiro parágrafo?
     Há uma função óbvia, que é a exemplificação; ao lado dela, percebe-se, no entanto, uma evidente intenção crítica. Foi provavelmente essa a razão pela qual a autora optou pelo uso dos parênteses.

7 – Relacione as ideias de suspense, história bem contada e novelas de TV.
     As novelas de TV são histórias bem contadas quando consideradas do ponto de vista das interrupções e momentos de calculado suspense.

8 – Explique o significado da expressão natureza lúdica a partir do próprio texto.
     É a parte da natureza humana ligada ao jogo, à brincadeira, à diversão.

9 – Qual o significado essencial das atividades lúdicas?
     É a sua capacidade de substituir os objetos de conflito por objetos de prazer, ou seja, aquilo que, na vida cotidiana, causa conflitos, disputas, insegurança é substituído, durante o jogo, por motivos de alegria e fruição.

10 – Explique o último período do segundo parágrafo, relacionando-o com o período que o antecede.
     A realização dos jogos gera a necessidade de manipulações, de mecanismos, de estratégias de ação; essa necessidade já está anunciada no período anterior, quando se fala das regras e do valor simbólico e representativo das atividades lúdicas.

11 – Explique o que é uma comunidade lúdica.
     É um conjunto de seres humanos e de instrumentos empenhados num jogo. No caso do jogo narrativo, compreende o narrador, o leitor e o próprio texto.

12 – Releia atentamente o texto e elabore um esquema capaz de mostrar o encadeamento das ideias colocadas pela autora. Para facilitar seu trabalho, procure extrair de cada parágrafo a ideia ou as ideias principais. A seguir, comente a importância da palavra também no segundo parágrafo.
     1º parágrafo: “Contar e ouvir histórias são atividades das mais antigas do homem. Pessoas de todas as condições socioeconômicas têm prazer de ouvir e de contar histórias”.
     2º parágrafo: “Todas as atividades que o inventar/narrar... podem ser associadas também à natureza lúdica do homem”.
     3º parágrafo: “Constituir um enredo é começar um jogo”.
     4º parágrafo: Nas atitudes narrativas, há todas as manifestações típicas das atividades lúdicas.
     É a palavra também que conecta os dois momentos principais do texto: Aquele em que predomina a visão histórica e social da narração, e aquele em que a narração é vista como atividade essencialmente lúdica.

13 – Você concorda com a afirmação final do texto? Como tem sido sua experiência de jogador nas comunidades lúdicas de que participa.

     O aluno deve procurar refletir sobre sua vivência como emissor e receptor de textos narrativos na prática cotidiana. Deve-se observar que os adolescentes têm por hábito contar suas experiências uns aos outros, às vezes em grupos que atravessam noites narrando.