terça-feira, 4 de abril de 2017

POEMA: O HOMEM; AS VIAGENS - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

POEMA: O HOMEM; AS VIAGENS
                Carlos Drummond de Andrade

O homem, bicho da Terra tão pequeno
Chateia-se na Terra
Lugar de muita miséria e pouca diversão,
Faz um foguete, uma cápsula, um módulo
Toca para a Lua
Desce cauteloso na Lua
Pisa na Lua
Planta bandeira na Lua
Experimenta a Lua
Coloniza a Lua
Civiliza a Lua
Humaniza a Lua.
Lua humanizada: tão igual à Terra.
O homem chateia-se na Lua.
Vamos para Marte – ordena a suas máquinas.
Elas obedecem, o homem desce em Marte
Pisa em Marte
Experimenta
Coloniza
Civiliza
Humaniza Marte com engenho e arte.
Marte humanizado, que lugar quadrado
Vamos a outra parte?
Claro – diz o engenho
Sofisticado e dócil.
Vamos a vênus
O homem põe o pé em Vênus,
Vê o visto – é isto?
Idem
Idem
Idem.
O homem funde a cuca se não for a Júpiter
Proclamar justiça junto com injustiça
Repetir a fossa
Repetir o inquieto
Repetitório.
Outros planetas restam para outras colônias.
O espaço todo vira Terra-a-terra.
O homem chega ao Sol ou dá uma volta
Só para tever?
Não-vê que ele inventa
Roupa insiderável de viver no Sol.
Põe o pé e:
Mas que chato é o Sol, falso touro
Espanhol domado.
Testam outros sistemas fora
Do solar a colonizar.
Ao acabarem todos
Só resta ao homem
(Estará equipado?)
A dificílima dangerosíssima viagem
De si a si mesmo:
Pôr o pé no chão
Do seu coração
Experimentar, colonizar, civilizar
Humanizar o homem
Descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas
A perene, insuspeitada alegria de con-viver.

                                A palavra mágica. Rio de Janeiro: Record, 2001, p. 81-83.
                                             Carlos Drummond de Andrade Granã Drummond
                                                                              www.carlosdrummond.com.br

1 – Consultando o poema nas páginas deste livro, determinem sua estrutura:
a)     O poema fala:
- primeiro, de viagens ao espaço,
Viagem ao espaço: as cinco primeiras estrofes mais os três primeiros versos da sexta estrofe.

- depois, de viagem de si a si mesmo.
Viagens de si a si mesmo: a última estrofe, excetuados os três primeiros versos.

Identifiquem essas duas partes no poema.
b)    Identifiquem o destino, o ponto de chegada de cada uma das viagens ao espaço, na ordem em que elas são apresentadas no poema.
Lua; Marte; Vênus; Júpiter; outros planetas; Sol; outros sistemas.

c)     Observem que a ordem de apresentação das viagens ao espaço obedece a um critério; determinem qual é esse critério:
- Do lugar mais interessante ao mais chato?
- Do lugar mais próximo ao mais distante?
- Do lugar mais conhecido ao mais misterioso?

2 – Segundo os primeiros versos do poema, o que leva o homem a explorar o desconhecido? O que busca no desconhecido?
         O homem quer fugir da Terra, quer escapar para outros lugares: chateia-se na Terra, onde há pouca diversão e muita miséria; busca lugares melhores, em que tenha mais alegria, em que se sinta melhor.

3 – Comparem estes quatro trechos do poema:
         1ª viagem                                            2ª viagem
desce cauteloso na Lua                            “... o homem desce em Marte
Pisa na Lua                                                    pisa em Marte
Planta bandeirola na Lua                            experimenta
Experimenta a Lua                                       coloniza
Coloniza a Lua                                               civiliza
Civiliza a Lua                                                  humaniza Marte com engenho e
Humaniza a Lua”.                                         Arte.”

3ª viagem                                                      4ª viagem
“O homem põe o pé em Vênus.                “O homem funde a cuca se não
Vê o visto – é isto?                                                       for a Júpiter.
Idem                                                               proclamar justiça junto com
Idem                                                                               injustiça.
Idem”.                                                            Repetir a fossa
                                                                        Repetir o inquieto
                                                                        Repetitório.”
a)     Observem que a enumeração das ações do homem vai sendo resumida, de viagem a viagem.
O que quer o poeta mostrar com isso?
Que em todos os lugares, tudo é igual, não é preciso repetir, é sempre a mesma coisa.

b)    Comparem a forma como o poeta expressa a chegada do homem à Lua, a Marte e a Vênus:
- “desce cauteloso na Lua”;
- “desce em Marte” (já não está mais cauteloso...);
- “põe o pé em Vênus” (já não “desce”, põe logo o pé).
O homem vai se tornando cada vez mais:
Entusiasmado?             Confiante?             Corajoso?

4 – Localizem na quinta estrofe o verso:
       “O espaço todo vira Terra-a-terra”.
       Em Terra-a-terra, o poeta reúne em uma só palavra duas características que o espaço adquire:
       O espaço todo vira Terra + o espaço todo vira Terra-a-terra.
a)     O espaço todo vira Terra – por quê?
Porque o homem se chateia em todos os lugares, todos os lugares são iguais a Terra.

b)    O espaço todo vira terra-a-terra – o que quer dizer terra-a-terra?
Comum, sem novidade, corriqueiro, trivial.

c)     Concluam: quais são as duas características do espaço reunidas na palavra Terra-a-terra?
Todos os planetas e sistemas são iguais à Terra e todos são comuns, não oferecem novidades.

5 – Recordem a viagem ao sol:
       “O homem chega ao Sol ou dá uma volta só para tever?
       Não-vê que ele inventa
       Roupa insiderável de viver no Sol.
        Põe o pé e:
        Mas que chato é o Sol, falso touro
        Espanhol domado.”
a)     Nesse trecho, o poema cria duas palavras:
- ... só para tever – Qual o sentido dessa palavra?
Ver pela televisão (combinação de tevê + ver).

- ... roupa insiderável de viver no Sol.
Descubram o sentido dessa palavra, observando sua formação: do verbo siderar, que existe, e quer dizer fulminar, aniquilar, o poeta formou o adjetivo que não existe – insiderável:
                                In+siderável
Concluam: o que é uma roupa insiderável? Por que, para viver no Sol, seria necessário ter uma roupa insiderável?
Roupa que não pode ser aniquilada; o Sol destruiria qualquer roupa que não fosse resistente a seu calor.

b)    O poeta compara o Sol a um falso touro espanhol domado.
Expliquem por que o Sol é um touro espanhol (o touro das touradas de Espanha), por que é falso e por que é domado.
O Sol parece potente, forte como os touros que ameaçam os toureiros nas touradas da Espanha; mas é um touro falso porque, na verdade, não é uma ameaça; é domado porque é conquistado, é vencido pelo homem.

6 – Observem como o poeta dividiu o verbo colonizar na sexta estrofe:
       “Restam outros sistemas fora do solar a col-onizar.”
       Oni – é um elemento que se junta a palavras para acrescentar a elas o sentido de tudo, todo:
       Onipresente = presente em todos os lugares;
       Onisciente = que sabe todas as coisas.
       Em col-onizar, o poeta reúne dois sentidos em uma só palavra:
       - colonizar outros sistemas – Qual é o sentido?
       Transformar outros sistemas em colônias da Terra- ocupar, dominar outros sistemas.

        - col-onizar outros sistemas – Qual é o sentido?
        Transformar todos os outros sistemas em colônias da Terra.

7 – Releiam a última estrofe, em que o poeta fala de uma outra viagem.
a)     Qual é o destino, o ponto de chegada dessa outra viagem?
Destino: o próprio homem (si mesmo).

Qual é o objetivo dessa outra viagem?
Objetivo: colonizar, civilizar, humanizar o homem (si mesmo).

b)    O poeta não tem certeza de que o homem esteja equipado para esta outra viagem – recordem a pergunta:
- O homem está equipado para a viagens ao espaço – a primeira estrofe cita o equipamento: Qual é?
Foguete, cápsula, módulo.

- Que “equipamento” vocês julgam que o homem precisaria ter para realizar essa outra viagem?
Resposta pessoal. Algumas possibilidades: amor, respeito pelos outros, paciência, coragem, etc...


domingo, 2 de abril de 2017

GERÚNDIO E GERUNDISMO - VEJA A DIFERENÇA

      GERÚNDIO   E GERUNDISMO  -  VEJA  A DIFERENÇA        
A t  A  Tirinha   do Grump, que apareceu no vestibular do ITA:



No lugar de reclamação, ação! Comprei um livro com tudo sobre a Reforma Ortográfica. Vou estar lendo diariamente. Vou estar aprendendo cada vez mais. Vou estar me superando a cada dia.
– Bem que podiam ter aproveitado a Reforma para estarem limando o gerúndio.
***
Temos, nos quadrinhos, uma crítica a um vício de linguagem que virou “modinha”, o gerundismo. Trata-se do emprego inadequado da forma nominal gerúndio. Muitas pessoas confundem gerúndio e gerundismo e, das duas uma: ou empregam equivocadamente o verbo no gerúndio ou evitam-no a todo custo, achando que é errado usá-lo.
Para evitar as confusões, vamos definir cada um dos termos:
§ Gerúndio: forma nominal dos verbos que indica ação em processo, ou seja, a ação já teve início e ainda está em andamento, não foi encerrada: “Os alunos estão fazendo a prova, enquanto a professora observa.”
§ Gerundismo: vício de linguagem que consiste na construção de locução verbal exagerada, com excesso de verbos e um deles no gerúndio, na tentativa de reforçar a ideia de continuidade de uma ação no futuro: “Vou estar fazendo a lição de casa após o almoço”.
Como diriam meus alunos, ‘o que pega’ é que há falta de objetividade na construção, pois não há necessidade de tantos verbos na locução. A mensagem ficaria mais objetiva e clara, por exemplo, assim:
§ Vou fazer a lição de casa após o almoço.
Além da falta de objetividade, há também outro problema: ‘vou fazer’ é pontual, assertivo, ao passo que ‘vou estar fazendo’ transmite a ideia de que o processo vai ser iniciado, mas nada se sabe quanto ao término…
Então é melhor não usar locuções com verbo no gerúndio? Não! Essa forma nominal é útil, mas deve ser empregada apenas quando a intenção for indicar que a ação não terminou, ainda está em curso, isoladamente ou em relação a outra ação, como nesta frase:
§ A velhinha estava fazendo palavras cruzadas enquanto esperava o médico atendê-la. (ação iniciada e não concluída)
Como iniciei o texto com uma tirinha, vou encerrá-lo com outra – o cartunista Laerte fez bom uso do gerúndio na tirinha abaixo:


Resumindo: evite o gerúndio desnecessário, mas continue a empregá-lo em locuções verbais que expressem ação iniciada e ainda não concluída.

E quando vocês estiverem empregando corretamente essa forma verbal, ficarei satisfeita por auxiliado.


sábado, 1 de abril de 2017

LITERATURA - ANA TERRA - COM GABARITO

LITERATURA -  ANA TERRA - COM GABARITO

ANA TERRA
         [...]
         Mal raiou o dia, Ana ouviu um longo mugido. Teve um estremecimento, voltou a cabeça para todos os lados, procurando, e finalmente avistou uma das vacas leiteiras da estância, que subia a coxilha na direção do rancho. A Mimosa! – reconheceu. Correu ao encontro da vaca, enlaçou-lhe o pescoço com os braços, ficou por algum tempo a sentir o rosto o calor bom do animal e a acariciar lhe o pelo do pescoço. Leite pras crianças – pensou. O dia afinal de contas começava bem. Apanhou do meio dos destroços do rancho um balde amassado, acocorou-se ao pé da vaca e começou a ordenha-la. E assim, quando Eulália, Pedrinho e Rosa acordaram, Ana pôde oferecer a cada um deles um caneco de leite.
         - Sabe quem voltou, meu filho? A Mimosa.
         O menino olhou para o animal com olhos alegres.
         - Fugiu dos bandidos! – exclamou ele.
         Bebeu o leite morno, aproximou-se da vaca e passou-lhe a mão pelo lombo, dizendo:
         - Mimosa velha... Mimosa valente...
         O animal parecia olhar com seus olhos remelentos e tristonhos para as sepulturas. Pedro então perguntou:
         - E as cruzes, mãe?
         - é verdade. Precisamos fazer umas cruzes.
         Com pedaços de taquara amarrados com cipós, mãe e filho fizeram quatro cruzes, que cravaram nas quatro sepulturas. Enquanto faziam isso, Eulália, que desde o despertar não dissera uma única palavra, continuava sentada no chão a embalar a filha nos braços, os olhos voltados fixamente para as bandas do Rio Pardo.
         No momento em que cravara a última cruz, Ana teve uma dúvida que a deixou apreensiva. Só agora lhe ocorria que não tinha escutado o coração dum dos escravos. O mais magro deles estava com a cabeça decepada – isso ela não podia esquecer...
         Mas e o outro? Ela estava tão cansada, tão tonta e confusa que nem tivera a ideia de verificar se o pobre do negro estava morto ou não. Tinham empurrado o corpo para dentro da cova e atirado terra em cima... Ana olhava, sombria, para as sepulturas.
         Fosse como fosse, agora era tarde demais. “Deus me perdoe” – murmurou ela. E não se preocupou mais com aquilo, pois tinha muitas coisas em que pensar.
         Começou a catar em meio dos destroços do rancho as coisas que os castelhanos haviam deixado intatas: a roca, o crucifixo, a tesoura grande de podar – que servira para cortar o umbigo de Pedrinho e de Rosa -, algumas roupas e dois pratos de pedra.
          Amontoou tudo isso e mais o cofre em cima dum cobertor e fez uma trouxa.
          Naquele dia alimentaram-se de pêssegos e dos lambaris que Pedrinho pescou no poço. E mais uma noite desceu – clara, morna, pontilhada de vaga-lumes e dos gemidos dos urutaus.
          Pela madrugada Ana acordou e ouviu o choro da cunhada. Aproximou-se dela e tocou-lhe o ombro com a ponta dos dedos.
          - Não há de ser nada, Eulália...
          Parada junto de Pedro e Rosa, como um vaga-lume pousado a luciluzir entre os chifres, a vaca parecia velar o sono das crianças, como um anjo da guarda.
          - Que vai ser de nós agora? – choramingou Eulália.
          - Vamos embora daqui.
          - mas pra onde?
          - Pra qualquer lugar. O mundo é grande.
          Ana sentia-se animada, com vontade de viver, por piores que fossem as coisas que estavam por vir, não podiam ser tão horríveis como as que já tinha sofrido. Esse pensamento dava-lhe uma grande coragem. E ali, deitada no chão a olhar para as estrelas, ela se sentia agora tomada por uma resignação que chegava quase a ser indiferença. Tinha dentro de si uma espécie de vazio: sabia que nunca mais teria vontade de rir nem de chorar. Queria viver, isso queria, e em grande parte por causa de Pedrinho, que afinal de contas não tinha pedido a ninguém para vir ao mundo. Mas queria viver também de raiva, de birra. A sorte andava sempre virada contra ela. Pois Ana estava agora decidida a contrariar o destino. Ficara louca de pesar no dia em que deixara Sorocaba para vir morar no Continente.
         Vezes sem conta tinha chorado de tristeza e de saudade naqueles cafundós. Vivia com medo no coração, sem nenhuma esperança de dias melhores, sem a menor alegria, trabalhando como uma negra, e passando frio e desconforto... Tudo isso por quê? Porque era a sua sina. Mas uma pessoa pode lutar contra a sorte que tem. Pode e deve. E agora ela tinha enterrado o pai e o irmão e ali estava, sem casa, sem amigos, sem ilusões, sem nada, mas teimando em viver. Sim, era pura teimosia. Chamava-se Ana Terra. Tinha herdado do pai o gênio de mula.

   VERISSIMO, Erico. O Continente. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

1 – Em que ambiente vive Ana Terra?
      Vive no meio rural, em um rancho.

2 – O autor não descreve a indumentária da Ana Terra. Levando em conta o contexto em que ela vive, como você imagina que seja a vestimenta dessa personagem?
       Resposta pessoal.

3 – O que podemos dizer a respeito da condição econômica da personagem Ana na situação narrada no texto?
       Que ela estava desprovida dos bens materiais necessários para viver com conforto. Estava sem casa, passando frio, vivendo de sobras deixadas pelos castelhanos e trabalhando duramente.

4 – Releia o seguinte trecho:
          [...] e finalmente avistou uma das vacas leiteiras da estância, que subia a coxilha na direção do rancho. A Mimosa! – reconheceu. Correu ao encontro da vaca, enlaçou-lhe o pescoço com os braços, ficou por algum tempo a sentir contra o rosto o calor bom do animal e a acariciar lhe o pelo do pescoço. Leite pras crianças – pensou. O dia afinal de contas começava bem. [...].
         - Sabe quem voltou, meu filho? A Mimosa.
         O menino olhou para o animal com olhos alegres.
         - Fugiu dos bandidos! – exclamou ele.
         Bebeu o leite morno, aproximou-se da vaca e passou-lhe a mão pelo lombo, dizendo:
         - Mimosa velha... Mimosa valente...
         O animal parecia olhar com seus olhos remelentos e tristonhos para as sepulturas. [...].
a)     Nesse trecho, a vaca representa o alimento, o sustento dos filhos. O que mais a vaca representa para as personagens?
Ela representa a resistência, o afeto, a valentia de viver.

b)    Apesar de narrar um dia que começava bem, o trecho revela uma visão idealizada da vida de Ana Terra? Explique.
Não. O trecho revela as condições reais de vida que ele enfrenta, passando necessidades e vivendo uma situação difícil.

5 – Ana ficou sem casa, sem amigos, sem ilusões.
a)     O que lhe restou e o que a levou a resistir?
O que lhe restou foi a vontade de viver, em grande parte, por causa de Pedrinho, mas também por conta da raiva que se transformara em birra, teimosia, e porque Ana havia herdado do pai o seu gênio de “mula”.

b)    O que significa o trecho “sabia que nunca mais teria vontade de rir nem de chorar”?
Uma espécie de indiferença causada pelo sofrimento, pelas perdas, pela falta de esperança e alegria.

6 – Podemos considerar Ana Terra como uma mulher que decide tomar as rédeas de seu destino?
         Sim. Ana Terra decide contrariar a sorte e a própria sina. Sabe que essa sua obrigação e até pensa: “Pode e deve”. Graças a sua teimosia, sem ter ninguém para apoiá-la, pois pai e irmão estavam enterrados, assim como os amigos, decide enfrentar seu destino, afinal chamava-se Ana Terra, era filha de seu pai, a quem o leitor pode atribuir uma personalidade também firme, obstinada.


LITERATURA - A PATA DA GAZELA - JOSÉ DE ALENCAR - COM GABARITO

 LITERATURA - A PATA DA GAZELA 
                             JOSÉ DE ALENCAR


        [...]
         Estava parada na rua da Quitanda, próximo à da Assembleia, uma linda vitória, puxada por soberbos cavalos do Cabo.
         Dentro do carro havia duas moças; uma delas, alta e esbelta, tinha uma presença encantadora; a outra, de pequena estatura, muito delicada de talhe, era talvez mais linda que sua companheira.
         Estavam ambas elegantemente vestidas, e conversavam a respeito das compras que já tinham realizado ou das que ainda pretendiam fazer
         - Daqui aonde vamos? Perguntou a mais baixa, vestida de roxo-claro.
         - Ao escritório de papai: talvez ele queira vir conosco. Na volta passaremos pela Rua do Ouvidor, respondeu a mais esbelta, cujo talhe era desenhado por um roupão cinzento.
         O vestido roxo debruçou-se de modo a olhar para fora, no sentido contrário àquele em que seguia o carro, enquanto o roupão, recostando-se nas almofadas, consultava uma carteirinha de lembranças, onde naturalmente escrevera a nota de suas encomendas.
          - O lacaio ficou-se de uma vez! Disse o vestido roxo com um movimento de impaciência.
          - É verdade! Respondeu distraidamente a companheira.
          Estas palavras confirmavam o que aliás indicava o simples aspecto da carruagem: as senhoras estavam à espera do lacaio, mandado a algum ponto próximo. A impaciência da moça de vestido roxo era partilhada pelos fogosos cavalos, que dificilmente conseguia sofrear um cocheiro agaloado.
          Depois de alguns momentos de espera, sobressaltou-se o roupão cinzento, e conchegando-se mais às almofadas, como para ocultar-se no fundo da carruagem, murmurou:
          - Laura! ... Laura! ...
          E como sua amiga não a ouvisse, puxou-lhe pela manga.
          - O que é, Amélia?
          - Não vês? Aquele moço que está ali defronte nos olhando.
          - Que tem isto? Disse Laura sorrindo.
          - Não gosto! Replicou Amélia com um movimento de contrariedade. Há quanto tempo está ali e sem tirar os olhos de mim?
          - Volta-lhe as costas!
          - Vamos para diante
          - Como quiseres.
          Avisado o cocheiro, avançou alguns passos, de modo a tirar ao curioso a vista do interior do carro; mas o mancebo não desanimou por isso, e passando de uma a outra porta, tomou posição conveniente para contemplar a moça com admiração franca e apaixonada.
          Simples no traje, e pouco favorecido a respeito de beleza; os dotes naturais que excitavam nesse moço alguma atenção eram uma vasta fronte meditativa e os grandes olhos pardos, cheios do brilho profundo e fosforescente que naquele momento derramavam pelo semblante de Amélia.
           [...]
           Notando Amélia a insistência do mancebo, ficou vivamente contrariada. Aquele olhar profundo, que parecia despedir os fogos surdos de uma labareda oculta, incutia nela um desassossego íntimo. Agitava-se impaciente, como uma criatura no meio de um sono inquieto ou mesmo de um ligeiro pesadelo.
          Até que abriu o chapeuzinho de sol, para interceptar a contemplação apaixonada de que era objeto. Nesta ocasião, Laura, que frequentemente se debruçava para ver quando vinha o lacaio, retraiu o corpo com vivacidade:
           - Enfim; aí vem!
           - felizmente! Disse Amélia.
           O lacaio aproximava-se a passos medidos; trazia na mão um embrulho de papel azul, que o atrito dos dedos e a oscilação dos objetos envoltos desfizera, obrigando o portador a apertá-lo de vez em quando.
          Julgando ao cabo de alguns instantes que o lacaio já tocava o estribo da carruagem, Amélia, tomando um tom imperativo, disse para o cocheiro:
          - Vamos! Vamos!
          Ao aceno que lhe fez o cocheiro, o lacaio correu, chegando a tempo de apanhar o carro, que partia ao trote largo da fogosa parelha. Deitar o  embrulho na caixa da vitória, rodear  em dois saltos e galgar o estribo da almofada foi para o criado, habituado a essa manobra, negócio de um instante. Não percebera ele, porém, que, abrindo-se o papel com a corrida, um dos objetos nele contidos escorregara e, justamente na ocasião de deitar o embrulho na caixa do carro, caíra na calçada.
          Laura, que se inclinara com vivo interesse para tomar o embrulho das mãos do lacaio, tivera um pressentimento do acidente, ao ver o papel desenrolado. Fechando-o rapidamente e escondendo-o por baixo do assento da vitória, ela debruçou-se ainda uma vez para verificar se com efeito alguma coisa havia caído. Ao mesmo tempo acompanhava o movimento com estas palavras de contrariedade:
           - Como ele manda isto! Por mais que se lhe recomende!
           Laura nada viu, porque já a vitória rodava ligeiramente sobre os paralelepípedos.
           Nesse momento, porém, dobrando a Rua da Assembleia, se aproximara um moço elegante não só no traje do melhor gosto, como na graça de sua pessoa: era sem dúvida um dos príncipes da moda, um dos leões da Rua do Ouvidor; mas desse podemos assegurar pelo seu parecer distinto que não tinha usurpado o título.
           O mancebo viu casualmente o lacaio quando passara por ele correndo, e percebeu que um objeto caíra do embrulho. Naturalmente não se dignaria abaixar para apanhá-lo, nem mesmo deitar-lhe um olhar, se não visse aparecer ao lado da vitória o rosto de uma senhora, que o aspecto da carruagem indicava pertencer à melhor sociedade.
           Então apressou-se, para ter ocasião de fazer uma fineza, e pretexto de conhecer a senhora, que lhe parecera bonita. Os leões são apaixonadíssimos de tais encontros; acham-lhes um sainete que destrói a monotonia das relações habituais.
           Quando o moço ergueu-se com o objeto na mão, já o carro dobrava a Rua Sete de Setembro. Ficou ele um momento indeciso, olhando em torno, como se esperasse alguma informação a respeito da pessoa a quem pertencia o carro. Sem dúvida a senhora era conhecida em alguma loja de fazendas; talvez tivesse aí feito compras.
           Não obtendo, porém, informações, nem colhendo resultado da pergunta que fizera a um caixeiro próximo, resolveu-se a meter o objeto no bolso e seguir seu caminho.
          [...]
                                          ALENCAR, José de. A pata da gazela. Disponível em:
                                                                                        Acesso em: 12 mar. 2015.

1 – O fragmento do romance lido é uma história policial, de aventura, de amor ou de terror?
      É uma história de amor.

2 – Qual é o foco narrativo desse romance?
      O romance é narrado em terceira pessoa.

3 – No texto, o narrador apresenta uma minuciosa descrição das personagens. Que elementos do texto nos permitem perceber de que classe social as moças fazem parte?
       A descrição da carruagem; a forma como as moças estavam elegantemente vestidas; a conversa delas sobre as compras que já tinham realizado e as que ainda pretendiam fazer; o criado que esperavam. Tudo isso configura personagens de classe social abastada.

4 – Nesse romance, as roupas das personagens são tão importantes na caracterização delas que o narrador substitui o nome das moças pelo traje que elas portam selecione dois exemplos do texto que ilustram essa afirmação e copie-os em seu caderno.
        “O vestido roxo debruçou-se de modo a olhar para fora [...]”; “[...] o roupão, recostando-se nas almofadas, consultava uma carteirinha de lembranças [...]”.

5 – Leia o trecho a seguir, referente ao comportamento de Amélia, e responda à questão:
         Notando Amélia a insistência do mancebo, ficou vivamente contrariada. Aquele olhar profundo, que parecia despedir os fogos surdos de uma labareda oculta, incutia nela um desassossego íntimo. [...]
         - O que o trecho pode revelar a respeito das características da personagem?
         O trecho revela o comportamento de uma moça recatada, reservada.

6 – Que atitudes Amélia tomou para se proteger e se esquivar do olhar do rapaz que a admirava?
       Avisou o cocheiro para avançar alguns passos, de modo a tirar o interior do carro da vista do rapaz, abriu o chapeuzinho de sol, para impedir a contemplação apaixonada de que era objeto.

7 – Pelo fragmento lido, é possível identificar a situação-problema que se constrói e que será responsável pelo desenvolvimento da história. Copie no caderno as alternativas que apresentam os acontecimentos fundamentais que desencadearam essa situação.
      Alternativas: a, c, d, e.
a)     O lacaio apressado não percebe que deixa cair, na rua, um objeto do embrulho que carregava.
b)    O cocheiro leva a vitória mais à frente para tirá-la do foco do olhar do moço apaixonado.
c)     Um jovem interessado apanha o objeto perdido e busca informações sobre sua possível proprietária.
d)    Lauro, desconfiada de que algo foi deixado para trás pelo lacaio, olha pela janela da vitória em direção à rua.
e)     O rapaz bem-vestido, não obtendo informações sobre a dona do objeto perdido, guarda-o no bolso.

8 – Que objeto você imagina ter caído do embrulho?
       Resposta pessoal.

9 – Que ideias e sentimentos você imagina que o jovem bem-vestido terá com relação ao objeto encontrado?
       Resposta pessoal.

10 – Ao ver o objeto encontrado, o rapaz tirará algumas conclusões sobre a sua proprietária. O que você acha que ele pensará sobre ela? Por quê?
        Resposta pessoal.


         

TEXTO: QUEM QUER SER PROFESSOR - TORY OLIVEIRA - COM GABARITO


TEXTO: – QUEM QUER SER PROFESSOR
                   Tory Oliveira

         Baixos salários, desvalorização e falta de plano de carreira afastam as novas gerações da profissão docente. Mas há quem não desista.
         “Você é louca!”. “É tão inteligente, sempre gostou de estudar, por que desperdiçar tudo com essa carreira?”. Ligia Reis, de 23 anos, ouviu essas e outras exclamações quando decidiu prestar vestibular para letras, alimentada pela ideia de se tornar professora na Educação Básica. Nas conversas com colegas mais velhos de estágio, no curso de história, Isaías de Carvalho, de 29 anos, também era recebido com comentários jocosos. “Vai ser professor? Que coragem!”. Estudante de um colégio de classe média alta em São Paulo, Ana Sordi, de 18 anos, foi a única estudante de seu ano a prestar vestibular para Pedagogia. E também ouviu: “Você vai ser pobre, não vai ter dinheiro”. Apesar das críticas, conselhos e reclamações, Ligia, Isaías e Ana não desistiram. No quinto ano de Letras na USP, Ligia hoje trabalha como professora substituta em uma escola pública de São Paulo. Formado em História pela Unesp e no quarto ano de Pedagogia, Isaías é professor na rede estadual na cidade de São Paulo. No segundo ano de Pedagogia na USP, Ana acompanha duas vezes por semana os alunos do segundo ano na Escola Viva.
          Quando os três falam da profissão, é um entusiasmo. Pelo que indicam as estatísticas, Ligia, Isaias e Ana fazem parte de uma minoria. Historicamente pressionados por salários baixos, condições adversas de trabalho e sem um plano de carreira efetivo, cursos de Pedagogia e Licenciatura – como Português ou Matemática – são cada vez menos procurados por jovens recém-saídos do ensino médio. Em sete anos, nos cursos de formação em Educação Básica, o número de matriculados caiu 58%, ao passar de 101276 para 42441.
         Atrair novas gerações para a carreira de professor está se firmando como um dos maiores desafios a ser enfrentado pela Educação no Brasil. Não por acaso, a valorização do educador é uma das principais metas do novo Plano Nacional de Educação. Uma olhadela na história da educação mostra que não é de hoje que a figura do professor é institucionalmente desvalorizada. [...]

                                                        OLIVEIRA, Tory. Carta Capital, 24 abr. 2011.
COMENTÁRIOS DOS LEITORES

27/04/2011 – Enviada por Karine Oliveira – Acredito que buscar compreender cada vez mais o que é ser professor no Brasil (tanto em escolas particulares e públicas) é mesmo um desafio de todo e qualquer cidadão. A maioria ou quase todas as pessoas passa, em algum momento da vida, pela sala de aula. Além disso, independente de estudar ou não (independente da profissão) devemos investir em questionamentos que objetivem o desenvolvimento da sociedade ao invés de aceitar a realidade como algo impossível de ser mudado. A questão da valorização da profissão professor não pode ser mais adiada. Medidas e investimentos financeiros reais em pesquisas e em ensino (no ensino fundamental, médio e técnico) não podem mais esperar. Acredito que a presença de tantos comentários sobre o texto aqui publicado já é um indício de que a realidade da profissão professor é mesmo objeto de preocupação de muitas pessoas.
20/07/2011 – enviada por Aparecida – Excelente matéria. Faço letras e acho imprescindível a valorização desta profissão que para mim é a mais linda de todas as outras e que requer muito empenho e estudo.
21/07/2011 – enviada por Ray Santos Andrade – Ser professor é ser espartano, pois cada dia de sua jornada profissional é uma luta árdua com imensos desafios. Alias, é ele quem forma todas as profissões. Todavia, são mal remunerados e desrespeitados a todo momento. Se queremos formar alunos com as competências necessárias, é preciso que se invista mais na educação, pois, ao contrário, a péssima qualidade educacional permanecerá por toda vida.
03/03/2012 – enviada por Marcos – Quanto mais leio informações como essas desse texto, mais olho para os professores com admiração pela coragem de seguir em frente. Mal ou bem, são eles que contribuem para o conhecimento do povo.

                                                         Carta Capital, 24 abr. 2011. Disponível em:
             <http:///www.cartacapital.com.br/carta-na-escola/quem-quer-ser-
                                                                  Professor/>. Acesso em: 26 jan. 2015.

1 – De acordo com a reportagem, quais são os fatores que afastam os jovens da profissão docente?
       Os baixos salários, a desvalorização e a falta de plano de carreira.

2 – A partir da leitura da reportagem, podemos dizer que a carreira docente é uma profissão valorizada?
       Resposta pessoal. Professor, espera-se que os alunos perceba que não.

3 – No texto 2, a entrevista com Marcos Pontes, o jornalista afirma que “Ser astronauta é um sonho de infância comum”. A leitura da reportagem permite afirmar o mesmo sobre o desejo de ser professor? Explique.
       Não. Professor, espera-se que os alunos percebam que, muitas vezes, quem opta pela carreira docente enfrenta a desaprovação dos familiares e amigos, como é mostrado pela reportagem.

4 – Em sua opinião, por que algumas profissões são mais valorizadas do que outras?
       Resposta pessoal.

5 – Os autores dos comentários posicionam-se de forma positiva ou negativa em relação à reportagem?
       De forma positiva. Eles elogiam o texto e mostram-se solidários à situação dos professores.

6 – O que pode ter levado essas pessoas a comentarem a reportagem?
      Provavelmente, o interesse pelo assunto abordado ou a identificação com o tema, dê como exemplo para os alunos o comentário de Aparecida, que é estudante de Letras.


TEXTO: HÁ INCERTEZA NA MUDANÇA - ALDEBARAN L. DO PRADO JÚNIOR - COM GABARITO

TEXTO– HÁ INCERTEZA NA MUDANÇA

         O FILÓSOFO Bertrand Russel, ao afirmar que “a mudança é indubitável” mas o processo é uma questão controversa”, nos apresenta uma certeza e uma dúvida. A certeza se refere ao caráter dinâmico do universo no qual vivemos e a dúvida nos atinge quando questionamos se tal mudança será benéfica ou não.
          Vivemos num universo dinâmico e as mudanças climáticas, junto aos ciclos dos movimentos aparentes dos astros, criando dias e noites, talvez sejam as provas mais evidentes disso. É interessante perceber como este dinamismo permeia a vida do homem, não só individualmente, mas também socialmente. Impérios são criados, conhecem seu apogeu e depois são destruídos, cedendo lugar a outros. As formas de vida também sofrem alterações através do tempo (teoria da evolução das espécies, de Darwin) e até mesmo os minerais, sujeitos à erosão e à ação oxidante da nossa atmosfera, se transformam em outras substâncias.
          Correto está o filósofo, ao afirmar que “a mudança é indubitável”. Porém a questão do progresso, ou seja, uma mudança positiva, deve ser analisada com mais cuidado. A partir da definição de progresso como mudança positiva, podemos nos perguntar “positiva sob qual ponto de vista?”. Manuel Bonfim, em seu texto “A América Latina: males de origem”, associa o progresso social a uma sociedade continuamente mais justa. Por outro lado, a revolução industrial, período de significativo progresso tecnológico, condenou mulheres e crianças a jornadas de trabalho desumanas, em troca de salários miseráveis. O progresso, nesse caso, representa uma mudança positiva apenas para o capitalista.
          Passando da sociologia para a ecologia, podemos perceber, pelo texto “Bad evolution” de Alamma Mitchell, como o equilíbrio entre as espécies de uma lagoa pode ser alterado em função do aumento da temperatura. Entretanto, um ligeiro aumento na temperatura média do planeta pode reduzir o rigor do inverno em países “frios”, aumentando a capacidade de produção agrícola desses países. Nesse caso o aumento da temperatura média do planeta deve ser considerado uma mudança positiva ou negativa?
          Deve ficar claro que, muitas vezes, o ser humano não tem condições de avaliar o impacto causado por suas atividades. Sabemos que a instalação de uma usina termoelétrica provoca o aumento da acidez nas chuvas da região onde se encontra, mas qual o impacto sobre o meio ambiente devido a todas as outras atividades humanas? A aplicação de um determinado projeto social pode melhorar a vida de algumas pessoas em detrimento de outras. Como avaliar se isso é benéfico ou maléfico?
          As palavras de Bertrand Russel, publicadas em 1959, continuam atuais e talvez nunca percam a atualidade. Talvez a humanidade deva continuar mudando sempre, sem nunca saber qual o próximo passo. Talvez estejamos condenados a continuar mudando, sem saber se caminhamos em direção à perpetuação da vida ou ao seu extermínio.
          Talvez Herbert Spencer esteja certo... e o progresso seja apenas parte da natureza humana.
                                     Aldebaran L. do Prado Júnior. In: Vestibular Unicamp -
                                     Redações 2003. Campinas: Editora da Unicamp, p. 51.

INDUBITÁVEL: sobre o que não pode haver dúvida; incontestável.
1 – O texto dissertativo escolar geralmente apresenta uma estrutura organizada em três parte: a introdução, na qual é apresentada a ideia principal ou tese, o desenvolvimento, que fundamenta ou desenvolve a ideia principal, e a conclusão.
a)     Identifique os parágrafos que constituem essas partes:
A introdução é constituída pelo 1º parágrafo; o desenvolvimento, pelos 2º, 3º, 4º e 5º parágrafos; a conclusão, pelo 6º parágrafo.

b)    Qual é a ideia principal, ou a tese, defendida pelo autor na introdução?
A ideia de que o mundo em que vivemos muda com certeza, mas não temos como saber se essa mudança é ou não benéfica.

2 – O desenvolvimento é construído em quatro parágrafos.
a)     Que aspecto da tese é desenvolvido no primeiro desses quatro parágrafos?
O dinamismo é característica do universo, do planeta e da vida humana.

b)    Que aspecto é abordado nos outros três parágrafos?
A dificuldade de saber se a mudança é benéfica ou não.

3 – Os argumentos utilizados para fundamentar a tese podem ser de diferentes tipos: exemplos, comparações, dados históricos, dados estatísticos, pesquisas, causas sócio econômicas ou culturais, depoimentos – enfim, tudo o que possa demonstrar que o ponto de vista defendido pelo autor tem consistência. Quais desses tipos de argumento o autor utilizou em cada um dos parágrafos do desenvolvimento?
       No 1º parágrafo do desenvolvimento, o autor utilizou exemplo e alusão histórica; no 2º, citação e alusão histórica (revolução industrial); no 3º, citação e exemplo (a lagoa); no 4º, exemplo e relações de causa e efeito.

4 – Observe a conclusão do texto. Trata-se de uma conclusão do tipo síntese ou do tipo proposta?
      Uma conclusão do tipo síntese.

5 – Observe o título do texto. Você o considera adequado ao texto? Por quê?
      Resposta pessoal.

6 – Observe a linguagem do texto:
a)     Que variedade linguística foi empregada?
Uma variedade de acordo com a norma-padrão.

b)    Que pessoa gramatical dos verbos e pronomes predomina?
A 3ª pessoa do singular.

c)     A linguagem tende à pessoalidade ou à impessoalidade? Tende à objetividade ou à subjetividade?
Tende à impessoalidade e à objetividade.


CRÔNICA: AMANHECER NA CIDADE - IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO - COM GABARITO

CRÔNICA – AMANHECER NA CIDADE
                       Ignácio de Loyola Brandão


         Quem contempla o amanhecer nesta cidade? Nos últimos dias foi atordoante. O céu límpido clareia suavemente, sem uma nuvem. Os prédios parecem de papelão recortado, sem dimensão, reduzidos a um só plano como em quadro primitivo o sol explode tímido nas fachadas e laterais dos edifícios e a luz reflete-se estilhaçada de vidro para vidro. Essa função é a única justificativa que encontro para a arquitetura vitralesca que domina o modernismo. Não entendo caixotes de vidro fechados num país quente.
          Boêmios e os que se levantam cedo para o trabalho desfrutam o amanhecer. Sobrevivem ainda os boêmios poéticos que saindo de bares e boates caminhavam pela cidade a despertar, tomando um café forte – ou mais uma -, nos botecos e padarias? O que tenho visto, nas raras noites em que atravesso desperto, são jovens que saem das danceterias, mal olham para o dia, sobem nos carros e se arrancam em velocidade, pneus guinchando. Divertimentos mudam! Se não, estaríamos nas cavernas, ansiosos por um racha entre velociraptors.
          Os que trabalham e usam trens e ônibus não podem desfrutar o amanhecer, encontram-se sonolentos e o amanhecer para eles é familiar, significa o corte abrupto no sono e uma corrida para não perder a hora. Esperam raivosos pelas conduções atrasadas. Amontoam-se em veículos clandestinos (cada vez em maior número) apodrecidos, espremem-se em trens que não garantem a chegada à próxima estação, enfiam-se no escasso metrô, que justifica o apelido de metro e meio, tão curto é, para tão extensa cidade.
          Os que não olham o amanhecer nestes dias de novembro que lembram dias de maio perdem a cidade em um de seus momentos mais belos. Nestas manhãs tenho me reconciliado com São Paulo. Posso amá-la intensamente, ainda que esse amor se desgaste ao longo do dia, corroído pelo barulho, violência, medo, poluição, má-educação, buracos. O sol atinge minhas janelas, reflete-se nos vidros, incomoda, cega-me. Recuso-me a fechar as persianas, seria negá-lo, ofendê-lo, ele sobe tão alegre, bebendo o azul, satisfeito por essa súbita e inexplicável limpidez do ar. [...]
          O sol atinge a mesa, derramo o café sobre o tampo. Corro com um pano, há manchas de luz no café. Devo interpretá-las? Tolices. Passo lustra-móveis, essa mesa é meu xodó, ganhei-a em 1959 de Fernando de Barros, o cineasta. O único móvel existente na primeira quitinete que aluguei nesta cidade, na Praça Roosevelt, 168, apartamento 803. Quem mora lá, hoje? Era fácil encontrar e alugar quitinetes. Tão baratas! [...]
          O sol firmou-se, a empregada, na cozinha, ligou o rádio... elas adoram o volume máximo. Anuncia-se a próxima atração: “deve a mulher cortar o membro do homem que trai?”. Impressionantes as manifestações. Vocês vão ler no próxima semana. Neste mesmo lugar. Acima da coluna da Cecília Thompson, que não sei como não se irrita com as evasivas que lhe enviam os que servem mal ao público. Devia mudar o título da coluna para respostas mentirosas.

    BRANDÃO, Ignácio de Loyola. Melhores crônicas de Ignácio de Loyola Brandão. São Paulo: Global, 2004, p. 146-147.

          Velociraptor: espécie pré-histórica, que viveu na região da Mongólia. Ágil e feroz, pesava perto de 80 kg. e media cerca de 2 metros de comprimento. Com uma forma que lembra um lagarto de pé, o velociraptor vivia em bando e era um terrível predador.
Entendendo o texto

1 – De que acontecimento o autor parte para elaborar sua crônica? Trata-se de um acontecimento cotidiano? Por quê?
      O amanhecer na cidade de São Paulo. Sim, é um acontecimento cotidiano, já que amanhece todos os dias.

2 – O autor inicia seu texto com uma pergunta: “Quem contempla o amanhecer nesta cidade”?
a)     Há dois grupos de pessoas que, supostamente, contemplariam o amanhecer. Que grupos são esses?
O grupo dos boêmios e o dos trabalhadores que acordam cedo.

b)    Esses dois grupos, de fato, contemplam o amanhecer? Por quê?
Não. O autor não sabe se ainda existem os “boêmios poéticos” de antigamente, que contemplariam o amanhecer. De acordo com o que vê, os boêmios da atualidades saem das danceterias, mal contemplam o dia, entram em seus carros e saem em alta velocidade. Já os trabalhadores não contemplam o amanhecer, pois, para eles, o amanhecer significa um corte abrupto do sono e uma corrida para não perder a hora. Estão sonolentos e raivosos nessa hora, a, assim, não podem desfrutar o amanhecer.

3 – O que há de especial no amanhecer dos dias de novembro, que parecem maio, para o autor?
        Nesses dias, ele se reconcilia com São Paulo e ama a cidade intensamente.

4 – Mesmo tratando de um aspecto positivo – e poético – da cidade, o autor insere algumas críticas, apresentando alguns aspectos negativos de São Paulo.
Localize no texto os problemas da cidade apresentados e escreva-os em seu caderno.
       Problema no transporte coletivo: conduções atrasadas, veículos lotados, clandestinos, “apodrecidos” e sem segurança. Metrô insuficiente para a grande cidade.
Além disso, apresentam-se os seguintes problemas: barulho, violência, medo, poluição, má educação e buracos. Para o autor, as construções inadequadas para um clima quente, bem como os rachas, também podem ser observadas pelos alunos como aspectos negativos.

5 – Enfim, o sol chega à janela, entra em sua casa e atinge sua mesa... e o autor derrama café.
a)     Esse acontecimento corriqueiro transporta o autor para outra época. Que época?
Década de 1950, quando ganhou a mesa, que era o único móvel da primeira quitinete que alugou em São Paulo.

b)    Em que outro momento do texto o autor refere-se a algo do passado com uma “ponta” de nostalgia?
No segundo parágrafo, quando se refere aos boêmios de outrora.

6 – No último parágrafo, fica evidente que se trata de uma crônica semanal, publicada em um jornal.
a)     Que evidências mostram isso?
O autor anuncia que seus leitores saberão na semana seguinte, por meio de seu texto, as manifestações ouvidas no rádio sobre a pergunta “deve a mulher cortar o membro do homem que trai?”. Além disso, ele situa seu texto no espaço físico do jornal, ou seja, no mesmo lugar, acima da coluna de Cecília Thompson.

b)    Transcreva do texto o trecho em que o autor fala diretamente com seus leitores.
“Vocês vão ler na próxima semana”.