sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

TEMAS DE REDAÇÃO PARA O ENSINO MÉDIO

50 TEMAS DE REDAÇÃO PARA O ENSINO MÉDIO


01-São frequentes os comentários sobre a falta de hábito de leitura dos jovens. Como você vê esse problema? Que fatores estarão dificultando o encontro dos jovens com o livro?

02-Que geração é esta, que não lê e disto nem se envergonha?

Procure responder com um texto de vinte a trinta linhas, dando sua opinião sobre o papel da leitura aqui e agora. Antes de redigir, selecione alguns argumentos e procure ser bem convincente.

03-Você considera o povo brasileiro preparado para a modernidade?

04-A qualidade do ensino público e a questão de cotas. Disserte sobre o tema.

05-Faça uma dissertação em que você explique o que é bullying, dê sua opinião sobre  o que, a seu ver, motiva aqueles que o praticam, isto é, os agressores – e apresente uma proposta para se lidar com esse grave problema. Como soluciona a questão do bullying?

06-É justo proibir o uso do celular na sala de aula?

      Celular: mocinho ou vilão?

07-A fragilidade econômica dos países emergentes.

08-O movimento sem-terra e a violência no campo.

09-Direitos da criança e do adolescente: como enfrentar esse desafio nacional?(ENEM-2000)

10-Desenvolvimento e preservação ambiental: como conciliar os interesses em conflito?(ENEM-2001)

11-O direito de votar: como fazer dessa conquista um meio para promover as transformações sociais que o Brasil necessita?(ENEM-2002)

12-A violência na sociedade brasileira: como mudar as regras desse jogo?(ENEM-2003)

13-Como garantir a liberdade de informação e evitar abusos nos meios de comunicação?(ENEM-2004)

14-O trabalho infantil na sociedade brasileira. (ENEM-2005)

15-O poder de transformação da leitura. (ENEM-2006)

16-O desafio de se conviver com as diferenças. (ENEM-2007)

17-Preservação da Floresta Amazônica. (ENEM-2008)

18-O indivíduo frente à ética nacional. (ENEM-2009)

19-Trabalho na construção da dignidade humana. (ENEM-2010)

20-Viver em rede no século XXI: os limites entre público e o privado. (ENEM-2011)

21-A imigração para o Brasil no século XXI. (ENEM-2012)

22-Efeitos  da implantação da Lei Seca no Brasil. (ENEM-2013)

23."Publicidade infantil em questão no Brasil".(ENEM-2014)

24-Proponho um desafio à sua criatividade. Transforme um dado estatístico num texto carregado de denúncia social e intensidade expressiva.

25-Amor pode levar ao crime ou quem ama não mata?

26-Os jovens e os dilemas da sexualidade.

27-Um dia  sem internet.

28-Tornar o mundo melhor é responsabilidade de todos e de cada um.

29-O papel da internet na comunicação entre as pessoas.

30-A violência no cotidiano da cidade grande.

31-A tecnologia penetrou tão sutil e profundamente em nossa vida cotidiana que, muitas vezes, não a percebemos.

32-A ambivalência da televisão: por um lado, ela aliena as pessoas; por outro lado, desenvolve conhecimento e reflexão.

33-O que você faz é uma gota no oceano, mas é isso que dá sentido a sua vida.

34-Políticos corruptos, povo alienado.

35-O que os jovens podem fazer para aprender a administrar o próprio dinheiro?

36-Como os pais e a escola podem contribuir para combater a prática do bullying?

37-Cotas nas universidades, você é a favor ou contra?

38-Fomos dominados pelas máquinas que inventamos?

39-Leis e penas mais duras são as únicas soluções para o trânsito brasileiro?

40-Um cachorro vale mais do que um ser humano?

41-A gramática facilita ou dificulta a comunicação?

42-Por que as pessoas mentem pela internet?

43-Nacional ou importada: qual a cara do Brasil?

44-“O Brasil está preparado para prevenir e enfrentar um eventual ataque terrorista?”. 

45-O tema será os esportes “violentos”, como, por exemplo, o UFC, que vem chamando atenção do público nos últimos anos.

46-A ausência dos pais na formação dos jovens.

47-O relacionamento através das Redes Sociais.

48-Faça uma produção textual que termine com o seguinte verso de Caetano Veloso:

“Noutras palavras, sou muito romântico”.


49-Os jornais noticiam a preocupação de jovens casais diante da decisão a tomar no início de uma vida nova: aproveitar a vida enquanto são jovens e deixar para mais tarde a preocupação em armazenar economias, ou fazer essa economia cedo para mais tarde desfrutar de certas regalias, mesmo que já mais velhos. Que decisão tomar: proceder como a cigarra ou como a formiga?


50-Certas figuras  de destaque público, como artistas, jogadores de futebol, alguns políticos, recusam-se a servir de garotos-propaganda de determinados produtos, por considera-los prejudiciais em algum aspecto. Outros, no entanto, alegam que atuam somente como profissionais e não podem perder a oportunidade de ganhar dinheiro com a propaganda. Que atitude você considera a mais razoável? Por quê?



TEXTO: UMA APOSTA EM TODAS AS MÍDIAS - COM GABARITO

TEXTO: UMA APOSTA EM TODAS AS MÍDIAS

Um dos maiores erros que se cometem quando se fala em TV, ou em Internet, é imaginar que a mídia nova acaba com a velha. Gente apressada fala em morte do livro, como antes disso falou em superação do rádio. Até agora, nada disso ocorreu, e por uma razão simples: cada mídia tem seu nicho, seu lugar. Cada meio de comunicação atende a necessidades, a desejos, a anseios diferentes. O enriquecedor é a gente saber lidar com todos e jogar com um para usar melhor o outro.
Compare o livro à tela de computador. O livro é muito mais amistoso, mais fácil de manejar, de levar, de possuir. A tela é fria. Podemos variar as letras ('fonts'), mudar a cor, trocar as peles ('skins'), fazer o que quiser: nada ainda se compara à invenção de Gutemberg para levar à praia, ler na cama, dobrar pela lombada. Pouquíssima gente lê um texto longo na tela - quase todos o imprimem e leem em papel, e ainda assim é mais enfadonho que um livro, porque sai sempre no mesmo sulfite, na mesma tinta, enquanto o livro varia bastante.
É verdade que há mudanças que eliminam uma mídia. Quando surgiu o livro, isto é, um grande conjunto de folhas costuradas sob uma capa, ele venceu e depois liquidou o rolo. Antes do livro (seu nome técnico é 'códice'), ler era uma proeza, que exigia virar um longo rolo. Assim como imprimir um formulário contínuo e depois lê-lo, sem soltar as páginas. Difícil, não é? O códice é mais prático, e contínua vivo. Não foi por acaso que o maior defensor da nova mídia, Bill Gates, gastou uma fortuna para comprar um códice de Leonardo Da Vinci.
O que isso tem a ver com a TV? Quero argumentar que o procedimento avançado não é substituir um meio pelo mais novo. Só num país em que tem charme mostrar-se inculto, como no Brasil, uma ideia assim tola pode prosperar.. O avançado é dominar os vários meios. Nosso mundo exige que sejamos multimeios. É como saber várias línguas, conhecer vários países, dominar vários instrumentos.

RIBEIRO, Renato Janine. Uma aposta em todas as mídias. O Estado de S. Paulo, 5/11/00, p.


1.     Ao comparar os recursos oferecidos pelo livro com os disponíveis no computador, o   texto afirma que a tela do computador é
(A)   fria e enfadonha.
(B)   fácil de levar.
(C)   amistosa.
(D)   fácil de ler.

2.     No texto defende-se a ideia de que o livro é
(A)   uma mídia enfadonha.
(B)   uma mídia ultrapassada.
(C)   um invento superado pela internet.
(D)   um meio de comunicação insubstituível.

3.     Segundo o texto, é bom apostar em todas as mídias porque
(A)   ampliam o conhecimento.
(B)   aumentam a tecnologia.
(C)   desvalorizam as novidades.
(D)   reduzem as informações.

4.     O autor assume uma postura avaliativa ao dizer que
(A)   o livro é muito mais amistoso do que a tela do computador.
(B)   gente apressada fala em morte do livro.
(C)   Bill Gates gastou uma fortuna para comprar um códice.
(D)   antes do livro, ler era uma proeza.

5.     O texto "Uma aposta em todas as mídias" defende a idéia de que
(A)   a internet é uma mídia que superou a TV.
(B)   a tela do computador é mais fácil de manejar.
(C)   o livro perdeu sua importância depois do rádio.
(D)   o mundo exige que as pessoas sejam multimeios.



quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

CONTO: OS QUATRO LADRÕES - LUIS DA C. CASCUDO - COM GABARITO

CONTO: OS  QUATRO  LADRÕES 
                  LUIS DA C. CASCUDO


Diz que era uma vez quatro ladrões muito sabidos e finos. Num domingo de manhã estavam deitados, gozando a sombra de uma árvore, quando viram passar na estrada um homem levando um carneiro grande e gordo. Palpitaram furtar o carneiro e comê-lo assado. Acertaram um plano e se espalharam por dentro do mato.

O primeiro ladrão foi para o caminho, encontrando o homem do carneiro e salvou-o:
— Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
— Para sempre seja louvado!
— O senhor, que mal pergunto, para onde leva este cachorrinho?
— Que cachorrinho?
— Esse aí que está amarrado numa corda! Bem bonitinho!
— Isso não é cachorro. É carneiro. Repare direito.
— Estou reparando, mas é cachorro inteiro. Vigie o focinho, as patas, o pelo. É cachorro e dos bons.
Separaram-se e o dono do carneiro ficou olhando o animal meio desconfiado. Adiante saiu o segundo ladrão, deu as horas, e foi logo entrando na conversa:
— Cachorro bonito! Esse dá para tatu e cutia. Focinho fino, bom para farejar. Perna fina corredeira. É capaz de correr veado. Onde comprou o bicho?
— O senhor repare que não é cachorro. É um carneiro. Já outro cidadão ali atrás veio com essa palúxia para meu lado. Bote os olhos direito no bicho.
— Homem, desde que nasci que conheço cachorro e carneiro. Se esse aí não é o cachorro eu ando espritado. Deixar de conhecer cachorro?
O homem seguiu sozinho, mas não tirava os olhos do carneiro, quase convencido de que comprara o bicho errado. O outro ladrão apareceu e fez a mesma conversa, misturando os dois animais, e ficando espantado quando o dono dizia que era um carneiro. Discutiram um bom pedaço e o terceiro ladrão espirrou para dentro do marmeleiro.
O quarto camarada veio e puxou conversa, oferecendo preço para o cachorro que dizia ser bom caçador de preás. Deu os sinais de cachorro de faro e todos encontravam no bicho que o homem ia levando.
Assim que despediu, o dono do carneiro, que ia comendo o animal com os olhos, parou, desatou o laço da corda e soltou o carneiro, certo e mais que certo que o carneiro era cachorro.
Os quatro ladrões que vinham acompanhando por dentro da capoeira agarraram o carneiro e fizeram dele um almoço especial.

CASCUDO, Luís da C. Contos tradicionais do Brasil. 13. ed., 6ª reimp. São Paulo: Global, 2009.


2. Analisando o texto

a) Discuta com seus colegas:
● Os ladrões agem como na maioria dos furtos? Explique.
Resposta pessoal.
b) Que argumentos cada ladrão usou para convencer o homem de que ele tinha um cachorro?
1º ladrão: Afirma que o animal é um cachorro e ainda aponta o focinho, as patas, o pelo como provas de que é um cachorro.          
2º ladrão: Afirma que o animal é um cachorro farejador, bom para caçar tatu e cutia.          
3º ladrão: Repetiu os argumentos do primeiro e do segundo ladrão.            
4º ladrão: Afirmou que o animal era um cachorro bom para caçar preás.

c) Qual foi a consequência da estratégia usada pelos ladrões para conseguir o carneiro?
O homem desistiu do carneiro, convencido de que era um cachorro.

d) O que você acha da estratégia usada pelos homens para conseguir o carneiro? Você considera que houve realmente um furto? Resposta pessoal.


3. Analisando as palavras e expressões do texto

a) No segundo parágrafo do texto, que palavra ou expressão é usada para introduzir a fala do primeiro ladrão? Sublinhe-a no texto. Salvou-o.
b) Que expressões são usadas para introduzir a fala do segundo ladrão? Sublinhe-as no texto.
c) Que outras expressões poderiam ser usadas para isso? Foi logo entrando na conversa.
● Na fala do primeiro ladrão: Cumprimentou-o, saudou-o.                    
● Na fala do segundo ladrão: Puxando conversa, conversando.


d) Releia os trechos a seguir e diga qual é o sentido das expressões sublinhadas:

● “— O senhor repare que não é cachorro. É um carneiro. Já outro cidadão ali atrás veio com essa palúxia para meu lado.”
 Veio com essa conversa para o meu lado. Veio com esse papo pra cima de mim.

● “Discutiram um bom pedaço e o terceiro ladrão espirrou para dentro do marmeleiro.”
Correu para dentro do mato. Voltou rapidamente para dentro do mato.

● “Assim que despediu, o dono do carneiro, que ia comendo o animal com os olhos, [...]”
Olhando fixamente o animal; olhando o animal com atenção.

e) Por que você imagina que o texto usa essas expressões?
Para tornar a fala das personagens mais verossímil, isto é, mais próxima de como seria em uma conversa cotidiana.

4. Analisando o começo do conto.
a) Releia:
Diz que era uma vez quatro ladrões muito sabidos e finos. Num domingo de manhã estavam deitados, gozando a sombra de uma árvore, quando viram passar na estrada um homem levando um carneiro grande e gordo. Palpitaram furtar o carneiro e comê-lo assado. Acertaram um plano e se espalharam por dentro do mato.


b) De acordo com esse trecho, o cenário (local onde se passa o fato narrado)

) é apresentado primeiro e depois se sabe o que aconteceu nele.
(    ) não é apresentado de início. Vai-se tomando conhecimento dele no desenrolar da narrativa.
(    ) não é importante para o conto, por isso não há menção ao lugar onde se passa o fato.


c) E a expressão temporal “Diz que era uma vez” o que sugere: um tempo exato em que é possível situar a história ou o tempo do faz de conta?
O tempo do faz de conta.


5. Analisando a passagem do tempo nos contos
a) Agora, releia o conto “Os quatro ladrões” e identifique as palavras e as expressões que indicam a passagem do tempo. Sublinhe-as no texto.
“Num domingo de manhã”; “adiante”; Assim que despediu”.

b) Em sua opinião, o uso dessas expressões é importante na organização do texto? Por quê?
Resposta pessoal. 

6. Analisando o desenvolvimento do conto
a) Ao verem o homem passar com o carneiro, que ideia os ladrões tiveram?
A ideia de furtar o carneiro.

b) Qual é o plano para colocar a ideia em prática?
Convencer o dono do carneiro de que o animal era um cachorro.



TEXTO: APARÊNCIA - CAROLINA ARAÚJO - COM GABARITO


TEXTO: APARÊNCIA

Cada vez mais feios e gordos. E em comparação com a última década, insatisfação com aparência e peso aumentou consideravelmente.

[Por Carolina Araújo, colaboração para a Folha]


       Poderia ser uma boa notícia o fato de que 6 em cada 10 jovens brasileiros estão muito satisfeitos com a própria aparência. Mas não é. Há 11 anos, o Datafolha perguntou aos jovens brasileiros se eles se sentiam felizes com a aparência e registrou que 82% estavam muito satisfeitos com o que viam diante do espelho. A mesma pergunta foi feita agora e o grupo dos que se consideram muito satisfeitos caiu 23 pontos percentuais.

        O descontentamento é maior entre as garotas — 44% se dizem pouco satisfeitas e 6%, nada satisfeitas com a aparência. As meninas de 16 e 17 anos representam o auge do dissabor: 7% delas estão totalmente insatisfeitas. Como não é provável que a feiura tenha se tornado uma epidemia ao longo dos anos, por que os jovens estão se sentindo mais infelizes com a própria aparência?
     Segundo especialistas, trata-se de uma questão social. Padrão de beleza. Para a psicóloga Joana Novaes, coordenadora do Núcleo de Doenças da Beleza da PUC Rio, o padrão de beleza atual impõe que o jovem seja magro, "sarado" e bronzeado. "Tantas exigências geram uma relação infeliz com o próprio corpo", diz ela, que é autora do livro O Intolerável Peso da Feiura.
    Segundo a psicóloga, a infelicidade se agrava devido à diferença de tratamento que a sociedade impõe ao "feio" e ao "bonito". Enquanto a beleza é um meio de ascensão social no Brasil, quem é considerado feio se torna vítima de um preconceito socialmente aceito, pois é permitido que se recrimine a aparência do outro. Já a antropóloga Mirian Goldenberg — autora de O Corpo Como Capital e professora do departamento de antropologia social da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) — não acredita que o jovem esteja se sentindo mais feio, mas, sim, inadequado em relação ao padrão de corpo valorizado pela sociedade.
    Contudo, segundo Goldenberg, a juventude atual é a primeira geração que cresceu sabendo que há meios para se adequar ao padrão: vestir-se de acordo com a moda, investir em tratamentos estéticos, recorrer a cirurgias plásticas, etc. E mais gordo também. Colocar os pés em uma balança pode ser um sacrifício para metade dos jovens brasileiros.
    Foi esse o percentual de entrevistados que disseram ao Datafolha que não estão satisfeitos com o próprio peso. Comparando os resultados com 11 anos atrás, o número de jovens muito satisfeitos com o peso caiu de 61% para 50%. Outra vez, a maior insatisfação se verifica entre as garotas, com o ápice do descontentamento entre as que têm de 22 a 25 anos: 26% estão insatisfeitas com o peso. Para o psicólogo Nivaldo de Oliveira Santos, coordenador do estudo, os números surpreendem porque 8 em cada 10 estudantes consultados eram magros ou tinham peso normal em relação à altura e à idade. Surpreendem ainda mais porque, em teoria, os estudantes da área de saúde deveriam ser bem informados sobre cuidados com o corpo. "O que se teme é que, se considerado um universo maior de jovens, o panorama possa ser ainda mais preocupante", diz Santos.


Interpretação do texto.

1.Qual é o assunto do texto?
  Aparência.

2.Por que o desgosto com a aparência é uma questão social?
  Porque, o padrão de beleza e magro, sarado e bronzeado.

3.O que acontece socialmente com o considerado feio?
  Se torna vítima de um preconceito socialmente aceito.

4.Qual o padrão de beleza atual para os jovens?
  Vestir-se d acordo com a moda, investir em tratamentos estéticos, recorrer a cirurgias plásticas, etc.

5.Por que os números da pesquisa surpreenderam o coordenador Niraldo O. Santos?
  Porque 8 em cada 10 estudantes consultados eram magros ou tinham peso normal em relação à altura e à idade.

6. Justifique a utilização das as aspas nas palavras
“feio”  e   “bonito”  utilizadas pela autora.
 Segundo a psicóloga a infelicidade se agrava devido à diferença de tratamento que a sociedade impõe, enquanto a beleza é um meio de ascensão social, o feio se torna vítima de um preconceito social.


POEMA: NO PAÍS DO MEU ANIVERSÁRIO - ELIANA SÁ - COM GABARITO

POEMA: NO PAÍS DO MEU ANIVERSÁRIO
                  ELIANA SÁ

Acordo, vejo tudo tão claro  
Há luz, muita luz, barulho                    
E uma festa no cenário                   
Estou no mais lindo dos países: o do Meu Aniversário!

Neste país que é meu
Não há espera, dias sem fim
Pisco os olhos e, depressinha
Tenho uma festa para mim

Nada de contar os dias
No maldito calendário
Neste país, todo dia
É dia do meu aniversário

Todo dia é uma festa – e tudo, tudo para mim
É pra mim que nascem o sol, as estrelas e a lua
Nasce uma flor no jardim
Até no mais triste jardim da rua

Pra entrar neste país, não preciso passaporte
É só passar para o outro lado
Dar, no tempo
Um corte!
Ao vento, quero balões
Na mesa, só brigadeiro e pastel
Passem com faixas, aviões
Me saudando, lá no céu

Sobremesa?
Exijo sorvete
De todos os sabores
Presentes?
Tragam-me pilhas e pilhas
Em pacotes de todas as cores

E quando o sol reaparece
É festa outra vez – eu mereço!
Nasço de novo, revivo
Nem eterno recomeço

Desse país, do meu sonho
Foi banido o calendário
Assim, garanto o decreto:
- Todo dia é dia do meu aniversário


 SÁ, Eliana. Revista Recreio, São Paulo: Abril, ano 2, n.53, 15 mar.2001.p.26-7


ESTUDO DO TEXTO

1)No título e no início do poema o eu poético declara que vive em um país. Que país é esse?
 País, do meu aniversário.

2)O que é preciso fazer para entrar nesse país?
 Apenas passar para o outro lado.

3)Pela leitura das quatro primeiras estrofes, explique, como é esse país?
 É um país lindo, com muita luz e festa.

4)Na 6ª estrofe, o eu poético manifesta seus desejos. Quais são eles?
 Balões, brigadeiro, pastel e faixa lá no céu.

5)Na penúltima estrofe desse poema, o que acontece quando um novo dia amanhece?
 É festa outra vez. Nasço de novo.

6)Copie, a expressão da última estrofe que registra que o mundo referido no poema é um mundo imaginário.
 Desse País, do meu sonho.



TEXTO: RETRATO FALADO DO BRASIL - SÉRGIO ABRANCHES - COM GABARITO

 RETRATO  FALADO  DO  BRASIL 
        Sérgio Abranches


     Comecei a aula com uma pergunta: "O que diferencia a questão social no Brasil e nos EUA?". Silêncio geral. 


Imaginei que os alunos não tivessem lido o capítulo. Afirmaram que sim. Foi só então que eu, imaturo, sem o olhar treinado para capturar atitudes e comportamentos em pequenos gestos, percebi o constrangimento da turma. O sinal, característico, que retive como lição das formas sutis do preconceito era o olhar coletivo de soslaio para o único negro na sala. Dirigi-me a ele e denunciei: "Seus colegas estão constrangidos em falar de racismo na sua frente".

           Esta cena se repete toda vez que falo em público sobre a desigualdade racial no Brasil e há aquela pessoa negra, solitária, na plateia. Recentemente, numa palestra para gerentes de um banco, havia uma jovem gerente negra. Uma das raras mulheres e a única pessoa negra. Enfrentou duas correntes discriminatórias para estar ali: ser negra e ser mulher. Os colegas se sentiam desconfortáveis porque eu falava do "problema dela".
         “Ela" não tinha problema, claro. Era uma pessoa natural, do gênero feminino e negra.
         Nascemos assim. O problema é os outros não quererem ver a discriminação. Essa inversão típica é que caracteriza a questão racial no Brasil. É como se os negros tivessem um problema de cor, e não a sociedade o problema do preconceito.

(ABRANCHES, Sérgio. Retrato falado do Brasil. Veja, São Paulo, ano 36, n. 46, p. 27, nov. 2003 Adaptação.

 01.  O texto diz respeito à:
(A) desigualdade racial nos Estados Unidos.
(B) desigualdade racial no Brasil.
(C) diferença de oportunidades entre homens e mulheres.
(D) diferença de oportunidades entre ricos e pobres.

02.  A sociedade não quer enxergar a discriminação racial por achar que:
(A) esse problema pertence  ao negro.
(B) essa questão é idêntica nos EUA e no Brasil.
(C) muitos gerentes de banco são homens negros.
(D) a mulher negra tem oportunidades na carreira.

03.  Em  “Ela não tinha problema, claro." o termo destacado foi empregado para demonstrar o preconceito:
(A) do autor do texto.
(B) dos colegas da negra.
(C) da gerente negra.
(D) dos colegas negros.

04.  As ideias desenvolvidas no texto revelam um autor:
(A) solidário com os alunos brancos.
(B) compreensivo com os racistas.
(C) solidário com os negros.
(D) compreensivo com as mulheres



CONTO: VENHA VER O PÔR DO SOL - LYGIA FAGUNDES TELLES - COM GABARITO

CONTO: VENHA VER O PÔR DO SOL 
Lygia Fagundes Telles

ELA SUBIU sem pressa a tortuosa ladeira. À medida que avançava, as casas iam rareando, modestas casas espalhadas sem simetria e ilhadas em terrenos baldios. No meio da rua sem calçamento, coberta aqui e ali por um mato rasteiro, algumas crianças brincavam de roda. A débil cantiga infantil era a única nota viva na quietude da tarde.
Ele a esperava encostado a uma árvore. Esguio e magro, metido num largo blusão azul-marinho, cabelos crescidos e desalinhados, tinham um jeito jovial de estudante.
- Minha querida Raquel.
Ela encarou-o, séria. E olhou para os próprios sapatos.
- Vejam que lama. Só mesmo você inventaria um encontro num lugar destes. Que ideia, Ricardo, que ideia! Tive que descer do taxi lá longe, jamais ele chegaria aqui em cima.
Ele sorriu entre malicioso e ingênuo.
- Jamais, não é?  Pensei que viesse vestida esportivamente e agora me aparece nessa elegância... Quando você andava comigo, usava uns sapatões de sete-léguas, lembra?
- Foi para falar sobre isso que você me fez subir até aqui? – perguntou ela, guardando as luvas na bolsa. Tirou um cigarro. – Hem?!
- Ah, Raquel... – e ele tomou-a pelo braço rindo.
- Você está uma coisa de linda. E fuma agora uns cigarrinhos pilantras, azul e dourado... Juro que eu tinha que ver uma vez toda essa beleza, sentir esse perfume. Então fiz mal?
- Podia ter escolhido um outro lugar, não? – Abrandara a voz – E que é isso aí? Um cemitério?
Ele voltou-se para o velho muro arruinado. Indicou com o olhar o portão de ferro, carcomido pela ferrugem.
- Cemitério abandonado, meu anjo. Vivos e mortos, desertaram todos. Nem os fantasmas sobraram, olha aí como as criancinhas brincam sem medo – acrescentou, lançando um olhar às crianças rodando na sua ciranda. Ela tragou lentamente. Soprou a fumaça na cara do companheiro. Sorriu. – Ricardo e suas ideias. E agora? Qual é o programa?
Brandamente ele a tomou pela cintura.
- Conheço bem tudo isso, minha gente está enterrada aí. Vamos entrar um instante e te mostrarei o pôr do sol mais lindo do mundo.
Perplexa, ela encarou-o um instante. E vergou a cabeça para trás numa risada.
- Ver o pôr do sol! ... Ah, meu Deus... Fabuloso, fabuloso! ... Me implora um último encontro, me atormenta dias seguidos, me faz vir de longe para esta buraqueira, só mais uma vez, só mais uma! E para quê? Para ver o pôr do sol num cemitério...
Ele riu também, afetando encabulamento como um menino pilhado em falta.
- Raquel minha querida, não faça assim comigo. Você sabe que eu gostaria era de te levar ao meu apartamento, mas fiquei mais pobre ainda, como se isso fosse possível. Moro agora numa pensão horrenda, a dona é uma Medusa que vive espiando pelo buraco da fechadura...
- E você acha que eu iria?
- Não se zangue, sei que não iria, você está sendo fidelíssima. Então pensei, se pudéssemos conversar um instante numa rua afastada... – disse ele, aproximando-se mais. Acariciou-lhe o braço com as pontas dos dedos. Ficou sério. E aos poucos, inúmeras rugazinhas foram se formando em redor dos seus olhos ligeiramente apertados. Os leques de rugas se aprofundaram numa expressão astuta. Não era nesse instante tão jovem como aparentava. Mas logo sorriu e a rede de rugas desapareceu sem deixar vestígio. Voltou-lhe novamente o ar inexperiente e meio desatento – Você fez bem em vir.
- Quer dizer que o programa... E não podíamos tomar alguma coisa num bar?
- Estou sem dinheiro, meu anjo, vê se entende.
- Mas eu pago.
- Com o dinheiro dele? Prefiro beber formicida. Escolhi este passeio porque é de graça e muito decente, não pode haver passeio mais decente, não concorda comigo? Até romântico.
Ela olhou em redor. Puxou o braço que ele apertava.
- Foi um risco enorme Ricardo. Ele é ciumentíssimo. Está farto de saber que tive meus casos. Se nos pilha juntos, então sim, quero ver se alguma das suas fabulosas ideias vai me conservar a vida.
- Mas me lembrei deste lugar justamente porque não quero que você se arrisque, meu anjo. Não tem lugar mais discreto do que um cemitério abandonado, veja, completamente abandonado – prosseguiu ele, abrindo o portão. Os velhos gonzos gemeram. – Jamais seu amigo ou um amigo do seu amigo saberá que estivemos aqui.
- É um risco enorme, já disse. Não insista nessas brincadeiras, por favor. E se vem um enterro? Não suporto enterros.
- Mas enterro de quem? Raquel, Raquel, quantas vezes preciso repetir a mesma coisa?! Há séculos ninguém mais é enterrado aqui, acho que nem os ossos sobraram, que bobagem. Vem comigo, pode me dar o braço, não tenha medo...
O mato rasteiro dominava tudo. E, não satisfeito de ter se alastrado furioso pelos canteiros, subira pelas sepulturas, infiltrando-se ávido pelos rachões dos mármores, invadira alamedas de pedregulhos esverdinhados, como se quisesse com a sua violenta força de vida cobrir para sempre os últimos vestígios da morte. Foram andando vagarosamente pela longa alameda banhada de sol. Os passos de ambos ressoavam sonoros como uma estranha música feita do som das folhas secas trituradas sobre os pedregulhos. Amuada mas obediente, ela se deixava conduzir como uma criança. Às vezes mostrava certa curiosidade por uma ou outra sepultura com os pálidos medalhões de retratos esmaltados.
- É imenso, hem? E tão miserável, nunca vi um cemitério mais miserável, é deprimente – exclamou ela atirando a ponta do cigarro na direção de um anjinho de cabeça decepada. – Vamos embora, Ricardo, chega.
- Ah, Raquel, olha um pouco para esta tarde! Deprimente por quê? Não sei onde foi que eu li, a beleza não está na luz da manhã nem na sombra da tarde, está no crepúsculo, nesse meio-tom, nessa ambiguidade. Estou lhe dando um crepúsculo numa bandeja e você se queixa.
- Não gosto de cemitério, já disse. E ainda mais cemitério pobre.
Delicadamente ele beijou-lhe a mão.
- Você prometeu dar um fim de tarde a este seu escravo.
- É, mas fiz mal. Pode ser muito engraçado, mas não quero me arriscar mais.
- Ele é tão rico assim?
- Riquíssimo. Vai me levar agora numa viagem fabulosa até o Oriente. Já ouviu falar no Oriente? Vamos até o Oriente, meu caro...
Ele apanhou um pedregulho e fechou-o na mão. A pequenina rede de rugas voltou a se estender em redor dos seus olhos. A fisionomia, tão aberta e lisa, repentinamente escureceu, envelhecida. Mas logo o sorriso reapareceu e as rugazinhas sumiram.
- Eu também te levei um dia para passear de barco, lembra?
Recostando a cabeça no ombro do homem, ela retardou o passo.
- Sabe Ricardo, acho que você é mesmo tantã... Mas, apesar de tudo, tenho às vezes saudade daquele tempo. Que ano aquele! Palavra que, quando penso, não entendo até hoje como aguentei tanto, imagine um ano.
- É que você tinha lido A Dama das Camélias, ficou assim toda frágil, toda sentimental. E agora? Que romance você está lendo agora. Hem?
- Nenhum – respondeu ela, franzindo os lábios. Deteve-se para ler a inscrição de uma laje despedaçadas: - A minha querida esposa, eternas saudades – leu em voz baixa. Fez um muxoxo. – Pois sim. Durou pouco essa eternidade.
Ele atirou o pedregulho num canteiro ressequido.
Mas é esse abandono na morte que faz o encanto disto. Não se encontra mais a menor intervenção dos vivos, a estúpida intervenção dos vivos. Veja – disse, apontando uma sepultura fendida, a erva daninha brotando insólita de dentro da fenda -, o musgo já cobriu o nome na pedra. Por cima do musgo, ainda virão as raízes, depois as folhas... Esta a morte perfeita, nem lembrança, nem saudade, nem o nome sequer. Nem isso.
Ela aconchegou-se mais a ele. Bocejou.
- Está bem, mas agora vamos embora que já me diverti muito, faz tempo que não me divirto tanto, só mesmo um cara como você podia me fazer divertir assim – Deu-lhe um rápido beijo na face. – Chega Ricardo, quero ir embora.
- Mais alguns passos...
- Mas este cemitério não acaba mais, já andamos quilômetros! – Olhou para trás. – Nunca andei tanto, Ricardo, vou ficar exausta.
- A boa vida te deixou preguiçosa. Que feio – lamentou ele, impelindo-a para frente. – Dobrando esta alameda, fica o jazigo da minha gente, é de lá que se vê o pôr do sol. – E, tomando-a pela cintura: -  Sabe, Raquel, andei muitas vezes por aqui de mãos dadas com minha prima. Tínhamos então doze anos. Todos os minha mãe vinha trazer flores e arrumar nossa capelinha onde já estava enterrado meu pai. Eu e minha priminha vínhamos com ela e ficávamos por aí, de mãos dadas, fazendo tantos planos. Agora as duas estão mortas.
- Sua prima também?
- Também. Morreu quando completou quinze anos. Não era propriamente bonita, mas tinha uns olhos... Eram assim verdes como os seus, parecidos com os seus. Extraordinário, Raquel, extraordinário como vocês duas... Penso agora que toda a beleza dela residia apenas nos olhos, assim meio oblíquos, como os seus.
- Vocês se amaram?
- Ela me amou. Foi a única criatura que... – fez um gesto. – Enfim não tem importância.
Raquel tirou-lhe o cigarro, tragou e depois devolveu-o.
- Eu gostei de você, Ricardo.
- E eu te amei. E te amo ainda. Percebe agora a diferença?
Um pássaro rompeu o cipreste e soltou um grito. Ela estremeceu.
- Esfriou, não? Vamos embora.
- Já chegamos, meu anjo. Aqui estão meus mortos.
Pararam diante de uma capelinha coberta de alto a baixo por uma trepadeira selvagem, que a envolvia num furioso abraço de cipós e folhas. A estreita porta rangeu quando ele a abriu de par em par. A luz invadiu um cubículo de paredes enegrecidas, cheias de estrias de antigas goteiras. No centro do cubículo, um altar meio desmantelado, coberto por uma toalha que adquirira a cor do tempo. Dois vasos de desbotada opalina ladeavam um tosco crucifixo de madeira. Entre os braços da cruz, uma aranha tecera dois triângulos de teias já rompidas, pendendo como farrapos de um manto que alguém colocara sobre os ombro do cristo. Na parede lateral, à direita da porta, uma portinhola de ferro dando acesso para uma escada de pedra, descendo em caracol para a catacumba.
Ela entrou na ponta dos pés, evitando roçar mesmo de leve naqueles restos da capelinha.
- Que triste é isto, Ricardo. Nunca mais você esteve aqui?
Ele tocou na face da imagem recoberta de poeira. Sorriu melancólico.
- Sei que você gostaria de encontrar tudo limpinho, flores nos vasos, velas, sinais da minha dedicação, certo?
- Mas já disse que o que eu mais amo neste cemitério é precisamente esse abandono, esta solidão. As pontes com o outro mundo foram cortadas e aqui a morte se isolou total. Absoluta.
Ela adiantou-se e espiou através das enferrujadas barras de ferro da portinhola. Na semi-obscuridade do subsolo, os gavetões se estendiam ao longo das quatro paredes que formavam um estreito retângulo cinzento.
- É lá embaixo?
- Pois lá estão as gavetas. E, nas gavetas, minhas raízes. Pó, meu anjo, pó – murmurou ele. Abriu a portinhola e desceu a escada. Aproximou-se de uma gaveta no centro da parede, segurando firme na alça de bronze, como se fosse puxá-la. – A cômoda de pedra. Não é grandiosa?
Detendo-se no topo da escada, ela inclinou-se mais para ver melhor.
- Todas estas gavetas estão cheias?
- Cheias?... Sorriu. – Só as que tem o retrato e a inscrição, está vendo? Nesta está o retrato da minha mãe, aqui ficou minha mãe – prosseguiu ele, tocando com as pontas dos dedos num medalhão esmaltado, embutido no centro da gaveta.
Ela cruzou os braços. Falou baixinho, um ligeiro tremor na voz.
- Vamos, Ricardo, vamos.
- Você está com medo?
- Claro que não, estou é com frio. Suba e vamos embora, estou com frio!
Ele não respondeu. Adiantara-se até um dos gavetões na parede oposta e acendeu um fósforo. Inclinou-se para o medalhão frouxamente iluminado:
- A priminha Maria Emília. Lembro-me até do dia em que tirou esse retrato. Foi umas duas semanas antes de morrer ... Prendeu os cabelos com uma fita azul e vejo-a se exibir, estou bonita? Estou bonita? ... – Falava agora consigo mesmo, doce e gravemente. – Não, não é que fosse bonita, mas os olhos ... Venha ver, Raquel, é impressionante como tinha olhos iguais aos seus.
Ela desceu a escada, encolhendo-se para não esbarrar em nada.
- Que frio que faz aqui. E que escuro, não estou enxergando...
Acendendo outro fósforo, ele ofereceu-o à companheira.
- Pegue. Dá para ver muito bem ... – Afastou-se para o lado. – Repare nos olhos.
- Mas estão tão desbotados, mal se vê que é um moça... – Antes da chama se apagar, aproximou-a da inscrição feita na pedra. Leu em voz alta, lentamente. – Maria Emília, nascida em vinte de maio de mil oitocentos e falecida... – deixou cair o palito e ficou um instante imóvel – Mas esta não podia ser sua namorada, morreu há mais de cem anos! Seu menti...
Um baque metálico decepou-lhe a palavra pelo meio. Olhou em redor. A peça estava deserta. Voltou o olhar para a escada. No topo, Ricardo a observava por detrás da portinhola fechada. Tinha seu sorriso meio inocente, meio malicioso.
- Isto nunca foi o jazigo da sua família, seu mentiroso? Brincadeira mais cretina! – exclamou ela, subindo rapidamente a escada. – Não tem graça nenhuma, ouviu?
Ele esperou que ela chegasse quase a tocar o trinco da portinhola de ferro. Então deu uma volta à chave, arrancou-a da fechadura e saltou para trás.
- Ricardo, abre isto imediatamente! Vamos imediatamente! – ordenou, torcendo o trinco. – Detesto esse tipo de brincadeira, você sabe disso. Seu idiota! É no que dá seguir a cabeça de um idiota desses. Brincadeira mais estúpida!
- Uma réstia de sol vai entrar pela frincha da porta, tem uma frincha na porta. Depois, vai se afastando devagarinho, bem devagarinho. Você terá o pôr do sol mais belo do mundo.
Ela sacudia a portinhola.
- Ricardo, chega, já disse! Chega! Abre imediatamente, imediatamente!! – Sacudiu a portinhola com mais força ainda, agarrou-se a ela, dependurando-se por entre as grades. Ficou ofegante, os olhos cheios de lágrimas. Ensaiou um sorriso. – Ouça, meu bem, foi engraçadíssimo, mas agora preciso ir mesmo, vamos, abra...
Ele já não sorria. Estava sério, os olhos diminuídos. Em redor deles, reapareceram as rugazinhas abertas em leque.
- Boa noite, Raquel.
- Chega, Ricardo! Você vai me pagar! ... – gritou ela, estendendo os braços por entre as grades, tentando agarrá-lo. – Cretino! Me dá a chave desta porcaria, vamos! – exigiu, examinando a fechadura nova em folha. Examinou em seguida as grades cobertas por uma crosta de ferrugem. Imobilizou-se. Foi erguendo o olhar até a chave que ele balançava pela argola, como um pêndulo. Encarou-o, apertando contra a grade a face sem cor. Esbugalhou os olhos num espasmo e amoleceu o corpo. Foi escorregando.
- Não, não...
Voltado ainda para ela, ele chegara até a porta e abriu os braços. Foi puxando as duas folhas escancaradas.
- Boa noite, meu anjo.
Os lábios dela se pregavam um ao outro, como se entre houvesse cola. Os olhos rodavam pesadamente numa expressão embrutecida.
- Não...
Guardando a chave no bolso, ele retomou o caminho percorrido. No breve silêncio, o som dos pedregulhos se entrechocando úmidos sob seus sapatos. E, de repente, o grito medonho, inumano:
- Não!
Durante algum tempo ele ainda ouviu os gritos que se multiplicaram, semelhantes aos de um animal sendo estraçalhado. Depois, os uivos foram ficando mais remotos, abafados como se viessem das profundezas da terra. Assim que atingiu o portão do cemitério, ele lançou ao poente um olhar mortiço. Ficou atento. Nenhum ouvido humano escutaria agora qualquer chamado. Acendeu um cigarro e foi descendo a ladeira. Crianças ao longe brincavam de roda.
           Lygia Fagundes Telles In:. Antes do Baile Verde.
INTERPRETAÇÃO DO CONTO

1.Quais são as personagens apresentadas pelo conto?
Raquel, Ricardo, Marília e as crianças.

2. Como o conto apresenta a situação inicial?
Ricardo esperava Raquel encostado em uma árvore e quando ela chegou eles começaram a andar pelo cemitério. 

3. Em que modo estão empregados os verbos?
Indicativo e Pretérito mais que perfeito. 

4. Faça a descrição física e psicológica das personagens envolvidas no conto.
Ricardo era esguio, pobre, maldoso, metido, vingativo, usava os cabelos desalinhados e vestia um blusão azul marinho e aparentava um jeito jovial. Enquanto Raquel era elegante, sentimental, interesseira e medrosa e sem vergonha. 

5. De que maneira o cenário interfere na criação das personagens?
Ele interfere diretamente na caracterização física e psicológica das personagens. 

6. Já dava para perceber que algo de errado estava por acontecer no conto. Cite elementos que demonstrem isso.
Quando rugas apareciam ao redor dos olhos de Ricardo; o próprio cenário escolhido que era afastado; ninguém sabia do encontro dos dois; quando ele pegou uma pedra na mão e fechou com muita força; todo cenário estava enferrujado menos a fechadura da capelinha. 

7. De que maneira passa o tempo neste conto?
O tempo passa de maneira cronológica e a história tem começo, meio e fim. Os dois marcaram um encontro á tarde e pretendiam ver juntos o pôr do sol. 

8. Em que momento ocorre o clímax nesta história?
Quando Raquel percebe que algo de errado está por acontecer. Ela olha uma lápide e percebe que a suposta prima dele tinha mais de cem anos. 

9. De que maneira o desfecho acaba surpreendendo o leitor?
Porque Ricardo mata Raquel aos poucos, ele fez uma tortura psicológica, pois, ela não tinha nenhum ferimento e foi morrendo aos poucos de maneira dolorosa e cruel. Seu sofrimento foi tanto que o autor compara seus gritos com o uivo de um animal que estava sendo dilacerado. 

10. Por que o nome do conto é: Venha ver o pôr do sol?. Justifique sua resposta.
Porque RICARDO CONVIDOU Raquel para ver o suposto pôr do sol mais lindo de sua vida, o qual, porém, acabou levando-a a morte. Um trecho que justifica isso é quando o autor escreve as seguintes palavras: “... vamos entrar um instante e te mostrarei o pôr do sol mais lindo deste mundo...”