quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

CRÔNICA: SALVE-SE QUEM PUDER - PEDRO BIAL - COM GABARITO

 Crônica: SALVE-SE QUEM PUDER

                Pedro Bial

        Volta e meia, alguém pergunta como anda a minha adaptação ao Brasil. Vai indo, digo eu, disfarçando o fato de que nunca me adaptei a lugar nenhum, ainda que me adapte a qualquer lugar. Não estranho cama ou travesseiro, ou a ausência deles. Estranho, sim, qualquer tipo de permanência.

        Para ser sucinto e direto, a melhor maneira de falar sobre a minha (ou melhor nossa, minha e de minhas crianças) adaptação ou inadaptação, é comentar o trânsito nas grandes cidades brasileiras.

        Toda a nossa falta de civilidade e o nosso pouco apreço pela vida ficam evidentes na loucura de nosso tráfego.

        O caso da demissão de nosso ministro, dos transportes!, é exemplar.

        O que passa pela cabeça de uma das mais altas figuras da República ao fugir covardemente da cena de um atropelamento? Se o destino não tivesse urdido a presença de uma testemunha casual teria sido mais um caso, uma causa e nenhuma consequência na selvageria assassina de nossas ruas.

        Cada um de nossos motoristas dirige contra todos os outros, em vez de conduzir a favor de sua própria segurança.

        Mas, como diria o esquartejador, vamos por partes:

        -- A impressão que se tem é de que se as buzinas dos carros brasileiros pifassem, ninguém sairia de casa. Nossos automóveis parecem movidos a buzina...

        -- Junte-se a buzina ao raro evento de alguém parar no sinal vermelho. Na melhor das hipóteses, o carro que vem atrás buzina para que o da frente avance. Na maior parte das vezes, a buzinada é acompanhada de uma aceleração ameaçadora. Também é comum o sujeito ir aproximando os pára-choques como se estivesse pronto a passar por cima. Como é que alguém ousa parar no sinal vermelho?

        E tem a célebre definição de Millôr Fernandes de fração de segundo: o tempo entre o sinal abrir e alguém buzinar atrás de você.

        -- O que a nossa imbecilidade coletiva não consegue enxergar é que se não respeitamos os vermelhos, não podemos confiar nos verdes. Cada cruzamento é uma roleta-russa.

        -- Seguir o carro da frente parece humilhação. Se alguém vai em sua dianteira, a obrigação do motorista brasileiro é ultrapassar. Em geral, o sujeito não tem pressa; é apenas parte da mentalidade “autopista” onipresente em nosso asfalto.

        -- Ultrapassar pela esquerda não satisfaz. Bom é cortar pela direita, de surpresa, acrescentando algum gesto obsceno ou sonoro palavrão à ultrapassagem pela direita.

        -- O ziguezague! De preferência dentro de um túnel movimentado. Na Inglaterra, como na maioria dos países civilizados, o ziguezague dá cadeia. Principalmente, porque quando faz o ziguezague, o motorista denuncia a si mesmo. O impulso de mudar de pista, cortando todos os outros veículos, é típico de motoristas alcoolizados.

        -- Consideramos absolutamente normal beber e dirigir. No resto do mundo, o motorista pilhado bêbado ao volante é conduzido ao xadrez como um assassino.

        -- E os ônibus... Ah, os ônibus! Em qualquer grande cidade do mundo, o trânsito só flui graças a pistas exclusivas para os transportes coletivos. Os ônibus ganham a sua faixa própria mas não ousam trafegar pelas outras pistas. Já por aqui, todas as pistas são invadidas e monopolizadas pelos monstros barulhentos e malcheirosos. A agressividade de seus motoristas pode ser explicada pelos baixos salários e falta de condições de trabalho, mas não deve ser perdoada.

                 Crônicas de um repórter. São Paulo, Objetiva, 1996.

       Fonte: Português – Linguagem & Participação, 8ª Série – MESQUITA, Roberto Melo / Martos, Cloder Rivas – 2ª edição – 1999 – Ed. Saraiva, p. 126-8.

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Sucinto: que usa poucas palavras, conciso.

·        Roleta-russa: jogo com revólver que contém apenas uma bala.

·        Apreço: estima, consideração.

·        Urdido: tramado, tecido.

·        Onipresente: presente em todos os lugares.

·        Esquartejador: aquele que corta em pedaços.

·        Obsceno: imoral.

·        Evento: acontecimento.

·        Monopolizadas: possuídas, exploradas com exclusividade.

·        Hipótese: ideia ou explicação não provada.

02 – Como se sente o narrador em relação ao Brasil?

      Ele ainda está em processo de adaptação.

03 – Qual o fato que deu origem à crônica?

      A demissão de um ministro dos transportes flagrado ao fugir covardemente da responsabilidade por um atropelamento.

04 – Por que o narrador escolhe o tema “trânsito nas grandes cidades brasileiras”?

      Porque o tema demonstra nossa falta de civilidade e pouco apreço pela vida.

05 – Como dirigem, segundo o texto, os motoristas brasileiros?

      Dirigem contra todos os outros motoristas.

06 – Qual a consequência principal do estilo brasileiro de dirigir?

      O elevado número de acidentes.

07 – Como você interpreta esta afirmação: “Cada cruzamento é uma roleta-russa”?

      Resposta pessoal do aluno.

08 – Como se sente o narrador em relação ao trânsito brasileiro?

      Sente-se mal, critica a irresponsabilidade e a impunidade que vê em toda a parte.

09 – O texto contém várias críticas aos motoristas brasileiros. Você concorda ou discorda delas? Por quê?

      Resposta pessoal do aluno.

 

 

CONTO: O MISTÉRIO DO PROFESSOR DE QUÍMICA - IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO - COM GABARITO

 Conto: O mistério do professor de Química

               Ignácio de Loyola Brandão

    Certo dia, Machadinho aproximou-se de minha carteira.

        -- O menino entrou para o científico por quê? Olhei suas notas de Matemática e Física. Você é uma nulidade. Pretende ser engenheiro, arquiteto, médico?

        -- Nada disso. Nem sei o que pretendo ser.

        -- Mas vejo que o menino escreve em jornal. Escreve direito, faz umas críticas de cinema.

        -- Faço. Talvez eu queira ser diretor de cinema.

        -- E por que não se matriculou no clássico?

        -- Como é mais fácil, não tinha mais vaga e eu não podia parar de estudar.

        -- Não pensa escrever livros? Leva jeito.

        -- Levo? Pode ser, pode ser, gosto de inventar.

        -- Então, vamos fazer um acordo? De hoje em diante, o menino senta na última carteira. Fica lendo, escrevendo, fazendo o que quiser. Só não bagunce. No dia das provas, resolvo o problema para você e fica garantida a nota 4, suficiente para passar. Agora, tenha notas altas em Português, Línguas, Histórias, para ajudar a média geral.

        E assim foi. Não me preocupei mais com a Química. Ficava lendo e, muitas vezes, ele dava uma prova e ia para o fundo, ficávamos a conversar generalidades, ele me ensinava sobre o teatro de Gil Vicente, comentava as manias de Camões, contava sobre Fernando Pessoa, de quem ninguém ainda falava, relatava um conto pouco lido de Machado de Assis, despertava-me para as narrativas de Érico Veríssimo. Era uma conversa rica, estimulante, farta, copiosa. Ter aulas de Português com Machadinho devia ser divertido. Quase no final, ele resolvia o meu problema de Química, para desespero da turma que ia fazer Engenharia. Outras vezes chegava à carteira com a minha crítica de cinema, sentava-se ao lado e cascava o pau na concordância, nos regimes dos verbos, no mau uso de pronomes. “A quem interessa falar dos planos e grandes planos?”, indagava. “O grande público não tem a mínima ideia do que seja um close-up. Sabe o que interessa ao espectador de cinema? A emoção, meu filho! Cinema sem emoção é uma chatice. Literatura sem emoção é morta. Vida sem emoção não vale a pene ser vivida.”

        Será que era emoção o que ele encontrava atrás da porta do laboratório? Aquele professor de fala vibrante, voz metálica, riso irônico que metia medo e frases desconcertantes era uma figura original, desafiadora, numa cidade interiorana onde tudo era cinza, fechado, estranho. Aquele era um homem que tinha lido muito, ia ao cinema, conhecia artistas, diretores e roteiristas, comentava teatro e poesia, sabia Química e Português. Um sujeito especial. E guardava um segredo na vida. Mas qual? Como penetrar, se ele não fornecia brechas?

        Exame oral no último ano. Salão nobre. As paredes rodeadas por quadros-negros. Muitas classes faziam exame ao mesmo tempo. Havia excitação no ar, uns assistindo ao exame dos outros. O ritual era invariável. Sorteava-se o ponto retirando-o de uma garrafinha de bambu. A cada ponto correspondia uma matéria. Apanhei a garrafa com tranquilidade. Não sabia nada, para que me angustiar? Machadinho olhou o meu número, deu um sorriso sarcástico, despachou-me para um quadro-negro bem em frente a uma classe só de mulheres. Ali estavam as meninas mais bonitas de todas as turmas. Ele me ditou o problema. Tinha que resolver uma equação complicadérrima. Fiquei perplexo por instantes. E a ajuda? Machadinho se afastou, dizendo: “Quando o menino resolver, vá para a mesa terminar o exame”. Olhei para trás. Todas as meninas me olhavam. Pertencendo a uma classe ainda não tão adiantada, observavam abismadas o que eu iria fazer com aquela fórmula, para mim mais impenetrável do que para elas. Simplesmente contemplava os números e as letras, desviava o olhar para as meninas. Podia acontecer de tudo, menos fazer um papelão, sofrer um vexame. Resolveria a equação. Tinha decidido que resolveria. Comecei os meus cálculos. Fui acrescentando números, letras, raízes quadradas, X sobre Y, descobri até um pi, e fui enchendo o quadro-negro com uma barafunda das mais incompreensíveis. Cada vez que olhava para as meninas, percebia o olhar de espanto. Somente um gênio poderia saber tais coisas. Ela me olhavam sôfregas. Em todos os meus anos de científico, aquele era o da minha consagração. Seria visto, dali para a frente, como um gênio. Súbito, dei por terminada a operação, atirei o giz com desprezo e altivez para a caixinha e, triunfante, passei pela frente das alunas, em direção à mesa.

        -- O menino merece 10.

        Fiquei abismado. Teria acertado?

        -- 10. Fiz direito. Não fiz? O senhor não confiava em mim?

        -- Aquilo que você fez é a maior vigarice do mundo.

        -- Vigarice? E vai me dar 10?

        -- Pelo talento. O menino devia ser ator de cinema. Não existe ali um único dado que não seja de uma insanidade a toda prova. Mas percebi, ah se percebi. Não podia fazer feio diante de moças tão bonitas. Elas adoraram, pode ter certeza. Hoje você foi o herói delas. Este dia vai ficar na memória de cada uma. Mesmo que você não seja nada, um dia, será lembrado. Por elas e por mim. Vou dar uma boa nota pela criatividade, audácia, inventividade. E pelos recursos rápidos. Só te aconselho a não fazer pela vida afora o que fez hoje.

        Acho que nunca mais repeti a façanha falsificadora do quadro-negro e da fórmula química. Só sei que, outro dia, voltei à cidade e encontrei Machadinho. Deve estar com 90 anos. Ou mais. Ainda tem o mesmo ar que me deixa intrigado.

        -- Tenho acompanhado o menino. Vai bem. Escreve livros. Li alguns. Tem emoção. Isso você não esqueceu – a emoção. Como eu não esqueci aquele exame no salão nobre.

        Conversamos por algumas horas, diante de cálices de vinho do Porto. Então me levantei, queria me despedir e queria perguntar. Fiquei indeciso.

        -- Tem uma coisa que eu queria saber.

        -- Pergunte.

        -- Não sei se devo. Uma curiosidade que me acompanhou pela vida.

        -- Vá lá! Diga. Pergunte o que quiser!

        -- Quero saber, professor, passados quarenta anos, o que o senhor fazia com a loira assistente, os dois encerrados no laboratório.

        E ele, sorrindo, como se de repente todo aquele tempo tivesse retornado e nos envolvido.

        -- Nada, nada mesmo. Apenas ficava provocando vocês. Eu e ela.

        Tremendo gozador, sabia que éramos uns provincianos mexeriqueiros e curiosos. Ficavam ali os dois a bater papo, ler jornais, e fumar e a conversar, sabendo que na sala havia expectativas e pensamentos os mais desencontrados, escabrosos, malucos. Os dois sabiam que eram o assunto privado de cada um. E provocavam. Levei quarenta anos para descobrir que não havia mistério no laboratório.

  Meu professor inesquecível. São Paulo, Editora Gente, 1997. Org. Fanny Abramovich.

      Fonte: Português – Linguagem & Participação, 8ª Série – MESQUITA, Roberto Melo / Martos, Cloder Rivas – 2ª edição – 1999 – Ed. Saraiva, p. 149-153.

Fonte da imagem: https://www.google.com/url?sa=i&url=http%3A%2F%2Fwww.pintarcolorir.com.br%2Fdesenhos-para-colorir-dia-do-professor%2F&psig=AOvVaw2TXXixqqpvSnOH91iGNayZ&ust=1607733388737000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCMic9KnZxO0CFQAAAAAdAAAAABAD


Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Sucinto: que usa poucas palavras, conciso.

·        Roleta-russa: jogo com revólver que contém apenas uma bala.

·        Apreço: estima, consideração.

·        Urdido: tramado, tecido.

·        Onipresente: presente em todos os lugares.

·        Esquartejador: aquele que corta em pedaços.

·        Obsceno: imoral.

·        Evento: acontecimento.

·        Monopolizadas: possuídas, exploradas com exclusividade.

·        Hipótese: ideia ou explicação não provada.

02 – Como se sente o narrador em relação ao Brasil?

      Ele ainda está em processo de adaptação.

03 – Qual o fato que deu origem à crônica?

      A demissão de um ministro dos transportes flagrado ao fugir covardemente da responsabilidade por um atropelamento.

04 – Por que o narrador escolhe o tema “trânsito nas grandes cidades brasileiras”?

      Porque o tema demonstra nossa falta de civilidade e pouco apreço pela vida.

05 – Como dirigem, segundo o texto, os motoristas brasileiros?

      Dirigem contra todos os outros motoristas.

06 – Qual a consequência principal do estilo brasileiro de dirigir?

      O elevado número de acidentes.

07 – Como você interpreta esta afirmação: “Cada cruzamento é uma roleta-russa”?

      Resposta pessoal do aluno.

08 – Como se sente o narrador em relação ao trânsito brasileiro?

      Sente-se mal, critica a irresponsabilidade e a impunidade que vê em toda a parte.

09 – O texto contém várias críticas aos motoristas brasileiros. Você concorda ou discorda delas? Por quê?

      Resposta pessoal do aluno.

 

 



REPORTAGEM: SEMPRE JUNTOS, SEMPRE FORTES - ROSE GUIRRO - COM GABARITO

 REPORTAGEM: SEMPRE JUNTOS, SEMPRE FORTES

                 Ter um amigo inseparável para partilhar segredos ajuda o adolescente a ter mais segurança

Rose Guirro

        É fácil identificar aqueles dois amigos inseparáveis. Eles se encontram diariamente, têm uma espécie de linguagem cifrada, vivem trocando segredos e participam dos mesmos programas. Um sempre está na casa do outro. Taís Guedes e Alethea Kounrouyan são assim. Inseparáveis. Ou, para quem vê a amizade de fora, um verdadeiro grude.

        As garotas, que têm 17 anos, se conhecem desde os 9 anos e garantem que, apesar de se falarem diariamente, nunca brigaram. “Temos gostos parecidos e, por isso, nunca discutimos”, garante Thaís. Alethea confirma. “Não há confusão nem mesmo quando nós duas ficamos interessadas no mesmo garoto”, explica ela. Para evitar atritos, as amigas têm uma estratégia para esses casos. Quando as duas querem só ficar com o menino, não há problema: cada dia uma tem esse privilégio. Se a coisa for mais séria, basta falar para a amiga. “Aí, a outra cai fora”, garante Thaís.

      Aline Alonso e Juliana Monteiro, ambas de 20 anos e estudantes de Jornalismo na PUC, também não têm segredos. “Todas as minhas dúvidas são divididas com a Juliana”, jura Aline. Juliana explica que as duas têm gostos diferentes para quase tudo, mas uma afinidade muito grande no modo de pensar. “Por isso, nos damos superbem”, justifica.

        Contar segredos e compartilhar as angústias e medos é uma característica presente apenas na amizade feminina, explica a psicóloga Maria Clara Heise, especializada em adolescentes. "Entre os meninos, a amizade é sempre mais superficial", analisa Maria Clara. As meninas, garante a psicóloga, não têm problema em mostrar suas angústias para a amiga. Já os meninos sentem medo de parecer inseguros. "Por isso, quando se encontram falam mais de futebol, política e de meninas", diz.

        "Há rapazes, no entanto, que contam seus problemas para os amigos. Esse é o caso, por exemplo, de Pedro Paulo Pimenta, 21 anos, estudante de Filosofia, e Arnaldo Junqueira Ribeiro, de 21 anos, que estuda Jornalismo e História. “Mas só falo sobre os assuntos mais íntimos quando não dá para segurar a barra sozinhos," explica Pedro, que conheceu Arnaldo há quatro anos. Arnaldo conta que prefere falar sobre assuntos pessoais com Juliana, sua namorada há cinco anos. “Mas quando tenho alguma briga com ela, procuro o Pedro para desabafar”, diz.

        De acordo com o psicólogo Dráusio Martins Ribeiro, os homens são mais competitivos e, por isso, evitam ficar em desvantagem na frente dos amigos. "Entre os garotos, a preocupação com a autoimagem é muito grande", explica. Entre as meninas, isso não acontece. "Elas contam seus sentimentos e expõem suas dúvidas porque sabem que a amiga vai entender seus problemas", acredita.

        Seja como for, uma coisa é certa: a amizade é muito importante para o desenvolvimento dos jovens. "Nessa fase, os adolescentes começam a questionar os valores e os gostos dos pais e procuram pessoas que tenham pensamentos iguais aos seus", explica Maria Clara. Mas os especialistas acreditam, contudo, que a amizade também pode trazer problemas se um não desgrudar do outro por nada nesse mundo. "Se um dos amigos tiver a personalidade muito dominante, o outro pode ir anulando a sua personalidade para ficar parecido com o amigo e, desse modo, não perder a sua estima", ensina Maria Clara. De acordo com a psicóloga, a melhor coisa a fazer é ter um grande amigo, mas, ao mesmo tempo, não seguir a cabeça dos outros.

        Afinal, não há nada melhor do que contar com a solidariedade dos amigos. Vitor Marin, por exemplo, não pôde assistir ao filme Meu Primeiro Amor, com o Ator-mirim Macaulay Culkin, no dia em que seus amigos Danilo Doratiotto, Théo Chiarella e Bruno Chiarella, todos com 13 anos, foram ao cinema. Na semana passada, Vitor reclamou que não tinha visto o filme e os outros três decidiram vê-lo novamente. “Amigo é para essas coisas”, brincam os garotos.

 

Fonte: O Estado de São Paulo, 27 fev. 1992.

      Fonte: Português – Linguagem & Participação, 8ª Série – MESQUITA, Roberto Melo / Martos, Cloder Rivas – 2ª edição – 1999 – Ed. Saraiva, p. 162-5.


Entendendo o texto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Identificar: reconhecer.

·        Privilégio: vantagem, regalia.

·        Cifrada: em código; que só alguns entendem.

·        Afinidade: semelhança, identidade.

·        Atritos: brigas, desavenças.

·        Compartilhar: dividir; ter ou tomar parte de.

·        Estratégia: modo de realizar algo; conjunto de táticas utilizado para alcançar objetivos específicos.

·        Questionar: colocar em dúvida, discutir.

·        Solidariedade: sentimento que leva as pessoas a ajudar umas às outras.

02 – Copie os temas explorados no texto, colocando-os na ordem em que aparecem:

a)   A explicação do psicólogo sobre amizade masculina. (4).

b)   Exemplos de amizade masculina. (3).

c)   Importância e riscos da amizade. (5).

d)   Exemplos de amizade feminina. (1).

e)   A explicação da psicóloga sobre amizade feminina. (2).

f)    Exemplo de solidariedade entre meninos. (6).

03 – O texto desenvolve uma ideia central. Qual?

      Entre os adolescentes é comum e bastante benéfico existir uma forte amizade, principalmente entre as meninas.

04 – Copie a alternativa correta. Segundo a psicóloga Maria Clara Heise:

a)   A amizade masculina é mais sólida porque os homens são mais sinceros.

b)   A amizade feminina é mais profunda porque as meninas compartilham medo e angústia.

c)   Na adolescência, meninos e meninas têm formas semelhantes de se relacionar com seus pares.

05 – Por que os meninos falam mais de futebol, de política e de meninas?

      Porque eles têm medo de parecer inseguros, falando de si mesmos.

06 – O psicólogo Dráusio Martins Ribeiro afirma que os meninos são mais competitivos. Em que essa atitude interfere no relacionamento entre eles?

      Resposta pessoal do aluno.

07 – Por que a amizade é especialmente importante na adolescência?

      Os adolescentes procuram apoio de pessoas que pensam como eles para evitar atritos e solidão.

08 – Qual o problema que a amizade pode trazer aos adolescentes?

      Se um dos adolescentes for mais autoritário, poderá dominar o outro.

09 – “... a melhor coisa a fazer é ter um grande amigo, mas, ao mesmo tempo, não seguir a cabeça dos outros.” Como isso é possível?

      O jovem deve manter a independência, o modo próprio de pensar, apesar da amizade.

10 – Como podemos caracterizar o texto “Sempre juntos, sempre fortes”? Copie a alternativa adequada:

a)   É uma reportagem sobre o comportamento dos jovens, contendo opiniões de psicólogos.

b)   É a história de uma longa amizade entre adolescentes.

c)   É uma exposição teórica sobre a adolescência.

11 – Na sua opinião, o texto traça um bom retrato da amizade entre adolescentes? Faltou alguma coisa nesse retrato? O quê?

      Resposta pessoal do aluno.

 

CRÔNICA: LAR DESFEITO - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

 CRÔNICA: LAR DESFEITO

                       Luís Fernando Veríssimo

 José e Maria estavam casados há vinte anos e eram muito felizes um com o outro. Tão felizes que um dia, na mesa, a filha mais velha reclamou:

- Vocês nunca brigam?

José e Maria se entreolharam. José respondeu:

- Não, minha filha. Sua mãe e eu não brigamos.

- Nunca brigaram? – quis saber Vítor, o filho do meio.

- Claro que já brigamos, mas sempre fazemos as pazes.

- Na verdade, brigas, mesmo, nunca tivemos. Desentendimentos, como todo mundo. Mas sempre nos demos muito bem...

- Coisa mais chata – disse Venancinho, o menor.

Vera, a filha mais velha, tinha uma amiga, Nora, que a deixava fascinada com suas histórias de casa. Os pais de Nora viviam brigando. Era um drama. Nora contava tudo pra Vera. Ás vezes chorava. Vera consolava a amiga. Mas no fundo tinha uma certa inveja. Nora era infeliz. Devia ser bacana ser infeliz assim. O sonho de Vera era ter um problema em casa para poder ser revoltada como Nora. Ter olheiras como Nora.

Vítor, o filho do meio, frequentava muito a casa de Sérgio, seu melhor amigo. Os pais de Sérgio estavam separados. O pai de Sérgio tinha um dia certo para sair com ele. Domingo. Iam ao parque de diversões, ao cinema, ao futebol. O pai de Sérgio namorava uma moça de teatro. E a mãe de Sérgio recebia visitas de um senhor muito camarada que sempre trazia presentes para Sérgio. O sonho de Vítor era ser irmão de Sérgio.

Venancinho, o filho menor, também tinha amigos com problemas em casa. A mãe de Haroldo tinha uma filha de 11 anos que podia tocar o Danúbio Azul espremendo uma mão na axila, o que deixava a mãe do Haroldo louca. A mãe do Haroldo gritava muito com o marido.

Bacana.

- Eu não aguento mais esta situação – disse Vera, na mesa dramática.

- Que situação, minha filha?

- Essa felicidade de vocês!

- Vocês pelo menos deviam ter cuidado de não fazer isso na nossa frente – disse Vítor.

- Mas nós não fazemos nada!

- Exatamente.

Venancinho batia com o talher na mesa e reivindicava:

- Briga. Briga. Briga.

José e Maria concordavam que aquilo não podia continuar. Precisavam pensar nas crianças. Antes de mais nada, nas crianças. Manteriam uma fachada de desacordo, ódio e desconfiança na frente deles, para esconder a harmonia. Não seria fácil. Inventariam coisas. Trocariam acusações fictícias e insultos. Tudo para não traumatizar os filhos.

- Víbora não – gritou Maria, começando a erguer-se do seu lugar na mesa com a faca serrilhada na mão. José também ergueu-se e empurrou a cadeira.

- Víbora sim! Vem que eu te arrebento.

Maria avançou. Vera agarrou-se a seu braço.

- Mamãe. Não!

Vítor segurou seu pai. Venancinho, que estava de boca aberta e olhos arregalados desde o começo da discussão - a pior até então -, achou melhor pular da cadeira e procurar um canto neutro da sala de jantar.

Depois daquela cena, nada mais havia a fazer. O casal teria que se separar. Os advogados cuidariam de tudo. Eles não podiam mais se enxergar.

Agora era Nora que consolava Vera. Os pais eram assim mesmo. Ela tinha experiência. A família era uma instituição podre. Sozinha, na frente do espelho, Vera imitava a boca de desdém de Nora.

- Podre. Tudo podre.

E esfregava os olhos, para que ficassem vermelhos. Ainda não tinha olheiras, mas elas viriam com o tempo. Ela seria amarga e agressiva. A pálida filha de um lar desfeito. Um pouco de pó-de-arroz talvez ajudasse.

Vítor e Venancinho saíam aos domingos com o pai. Uma vez foram ao Maracanã junto com o Sérgio e a namorada do pai do Sérgio, a moça do teatro. O pai de Sérgio perguntou se José não gostaria de conhecer uma amiga de sua namorada. Assim poderiam fazer mais programas juntos. José disse que achava que não. Precisava de mais tempo para se acostumar com sua nova situação. Sabe como é.

Maria não tinha namorado. Mas no mínimo duas vezes por semana desaparecia de casa, depois voltava menos nervosa. Os filhos tinham certeza de que ela ia se encontrar com um homem.

- Eles desconfiam de alguma coisa? - perguntou José.

- Acho que não – respondeu Maria.

Estavam os dois no motel onde se encontravam, no mínimo duas vezes por semana, escondidos.

- Será que fizemos o certo?

- Acho que sim. As crianças agora não se sentem mais deslocadas no meio dos amigos. Fizemos o que tinha de ser feito.

- Será que algum dia vamos poder viver juntos outra vez?

- Quando as crianças saírem de casa. Aí então estaremos livres das convenções sociais. Não precisaremos manter as aparências. Me beija.

 Fonte da imagem:https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fblogs.correiobraziliense.com.br%2Fconsultoriosentimental%2Fmae-e-mae%2F&psig=AOvVaw2GixN4vyPZz3k816F1ek9y&ust=1607730788606000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCMi4-I7OxO0CFQAAAAAdAAAAABAT

ENTENDENDO A CRÔNICA

1)   Qual é o assunto tratado na crônica?

A crônica se fundamenta numa inversão de valores morais.

 2)   As personagens que aparecem na crônica são descritas com detalhes ou são descritas superficialmente?

Comprove sua resposta com um trecho do texto.

São descritas superficialmente.

Vera tinha inveja de Nora. “Nora era infeliz. Devia ser bacana ser infeliz assim. O sonho de Vera era ter um problema em casa para poder ser revoltada como Nora...”

Vitor (filho do meio) – “O sonho dele era ser irmão de Sergio, que tinham os pais separados, e levava o Sergio todo domingo ao parque de diversões, ao cinema, ao futebol...”.

Venancinho (filho menor) – Tinha um amigo, chamado Haroldo que a mãe gritava muito com o marido, ele achava bacana.

3)   A linguagem empregada na crônica pode ser classificada com formal ou informal? Por quê? Copie algumas expressões que justifiquem sua resposta.

Linguagem informal, porque utiliza vocabulário simples; é uma conversa em família sobre o dia a dia.

“Nora contava tudo pra Vera”.

Aí então, estaremos livres das convenções sociais”.

4)   De que forma foi invertida a ordem natural da narrativa, nessa crônica?

Nela, o estado inicial é a felicidade de um casal, e o estado final, o desentendimento. Quando a ordem seria o contrário, ou seja, de um estado de contenda para um final feliz.

5)   Os filhos ficavam inquietos com a harmonia de seus pais, pois não queriam ter pais felizes. Copie do texto frases dos filhos sobre o assunto.

A filha: O sonho de Vera era ter um problema em casa...; o filho do meio: Nunca brigaram; o filho menor: Briga. Briga. Briga.

 6)   Por que há uma inversão de valores morais, por parte dos filhos?

Os filhos do casal, em contato com a experiência familiar dos seus colegas, que viviam às voltas com o desentendimento dos pais, estranhavam a harmonia entre o pai e a mãe.

7)   O casal, diante da inquietação dos filhos, que resolvem fazer?

Finge aceitar a manipulação das crianças e decide simular a contenda.

 8)   Como o filho menor, Venancinho, define “paz”?

Como a coisa mais chata.

 9)   Existe uma crítica social? Cite-a.

Sim, percebe-se a tendência, na contemporaneidade, da curta permanência dos casamentos.

10)              O foco narrativo é o elemento estrutural da narrativa que compreende a perspectiva, através da qual se conta uma história. Qual a posição do narrador nessa crônica?

Na instância do enunciado, o narrador é onisciente, pois sanciona o desentendimento positivamente; na enunciação, porém, o cronista/enunciador constrói uma crítica à desarmonia.

MÚSICA: MOÇA BONITA - GERALDO AZEVEDO/ALCEU VALENÇA - COM GABARITO

 MÚSICA: MOÇA BONITA

               


                                       Geraldo Azevedo/Alceu Valença

 

Moça bonita
Seu corpo cheira
Ao botão de laranjeira
Eu também não sei se é

Imagine o desatino
É um cheiro de café
Ou é só cheiro feminino
Ou é só cheiro de mulher

Moça bonita
O seu olho brilha
Qual estrela matutina
Eu também não sei se é

Imagina minha sina
É o brilho puro da fé
Ou é só brilho feminino
Ou é só brilho de mulher

Moça bonita
Seu beijo pode
Me matar sem compaixão
Eu também não sei se é

Ou pura imaginação
Pra saber, você me dê
Esse beijo assassino
Nos seus braços de mulher

Moça bonita
O seu corpo cheira
Ao botão de laranjeira
Eu também não sei se é

Imagine o desatino
É um cheiro de café
Ou é só cheiro feminino
Ou é só cheiro de mulher

Moça bonita
Seu olho brilha
Qual estrela matutina
Eu também não sei se é

Imagina minha sina
É o brilho puro da fé
Ou é só brilho feminino
Ou é só brilho de mulher

Moça bonita
Seu beijo pode
Me matar sem compaixão
Eu também não sei se é

Ou pura imaginação
Pra saber, você me dê
Esse beijo assassino
Nos seus braços de mulher

 

Fonte: LyricFind

Compositores:  Geraldo Azevedo/Capinan

Entendendo a canção

1)   Logo no primeiro verso, usa-se o vocábulo “bonita” para quê?

          Para caracterizar o substantivo “moça”.

2)Na canção existe algumas comparações. Copie-as.

   “... seu corpo cheira/ao botão da laranjeira”.

   “...seu olho brilha/Qual estrela matutina.”

 

3)Em que verso há marcas de oralidade?

      “Pra saber, você me dê...”      

 

4)O eu lírico cita vários cheiros que a moça bonita tinha. Quais?

     “Cheiro de botão de laranjeira

     Cheiro de café

     Cheiro feminino

     Cheiro de mulher...”

5) Retire três pares de rimas da canção.

      Cheira/laranjeira; desatino/feminino; compaixão/imaginação.