quinta-feira, 21 de setembro de 2017

UM APÓLOGO - MACHADO DE ASSIS - COM GABARITO


Um Apólogo
                Machado de Assis

Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:
       — Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma cousa neste mundo?
       — Deixe-me, senhora.
       — Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.
       — Que cabeça, senhora?  A senhora não é alfinete, é agulha.  Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros.
       — Mas você é orgulhosa.
       — Decerto que sou.
       — Mas por quê?
       — É boa!  Porque coso.  Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu?
       — Você?  Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu e muito eu?
       — Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados...
       — Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem atrás obedecendo ao que eu faço e mando...
       — Também os batedores vão adiante do imperador.
       — Você é imperador?
       — Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto...
Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser.  Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha:
        — Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco?  Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima...
A linha não respondia; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha, vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia seguinte. Continuou ainda nessa e no outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.
Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da bela dama, e puxava de um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando, a linha para mofar da agulha, perguntou-lhe:
       — Ora, agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas?  Vamos, diga lá.
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha: 
       — Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico. 
Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça:
        — Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!
 
Texto extraído do livro "Para Gostar de Ler - Volume 9 - Contos", Editora Ática - São Paulo, 1984, pág. 59.
 DEPOIS DE LER O TEXTO, FAÇA O QUE SE PEDE.
1-O QUE É UM APÓLOGO? CONSULTE O DICIONÁRIO. DE ACORDO COM O SIGNIFICADO DADO À PALAVRA, VOCÊ CONHECE ALGUM OUTRO APÓLOGO? QUAL?
      É uma narrativa alegórica para ocultar uma verdade, em que falam animais ou seres inanimados. A segunda resposta é pessoal.

2- RELACIONE AS COLUNAS, USE O DICIONÁRIO, SE NECESSÁRIO.
A- SUBALTERNO    (E) CÃO PERNALTO E ESGUIO PRÓPRIO   PARA A  CAÇA DE LEBRES, É O MAIS RÁPIDO DOS CÃES;

B- OBSCURO             (D) COSTURO;

C- ÍNFIMO                  (H) AQUELES QUE ABREM CAMINHO;

D- COSER                  (I)DE QUALIDADE MÉDIA OU INFERIOR, VULGAR, COMUM

E- GALGO                  (C) MUITO PEQUENO,INFERIOR, VULGAR,O MAIS  BAIXO DE TODOS;

F- MELANCOLIA        (A) SUBORDINADO, INFERIOR, SECUNDÁRIO;

G- ALTIVA                  (G) ORGULHOSO, ARROGANTE, VAIDOSO;

H- BATEDORES        (F) ABATIMENTO, DESÂNIMO, TRISTEZA;

I- ORDINÁRIA            (B)SOMBRIO, POUCO CONHECIDO, INDECIFRÁVEL.

3- “ERA UMA VEZ” PODE SER SUBSTITUÍDA POR QUAL OUTRA EXPRESSÃO DE SEMELHANTE SIGNIFICADO? NORMALMENTE QUE TIPO DE NARRATIVA INICIA-SE COM ESSA EXPRESSÃO?
      Pode ser substituída por “Um dia.”. É um conto.

4- A EXPRESSÃO “AGULHA NÃO TEM CABEÇA” NA LINGUAGEM CONOTATIVA PODE SER ENTENDIDA COMO:
      Não tem juízo.

5- DE ACORDO COM O TEXTO, O QUE SIGNIFICA: “DAR FEIÇÃO AOS BABADOS”?
      É dar crédito as fofocas.

6- QUAL O TEMA DISCUTIDO NO TEXTO? ASSINALE A(S) ALTERNATIVA(S) CORRETA(S).
(X) O ORGULHO; (X) A VAIDADE; (  ) A HUMILDADE;  (   ) A MODÉSTIA; (  ) A BONDADE;  (  ) A SIMPLICIDADE; (X) EGOÍSMO; (X) PREPOTÊNCIA.

7-  DEPOIS DE RELER O TEXTO ATENTAMENTE, DIGA:
A-    QUE TIPO DE NARRADOR O TEXTO APRESENTA? ATENTE PARA POSSÍVEL MUDANÇA DE FOCO NARRATIVO. JUSTIFIQUE SUA RESPOSTA.
Narrador-personagem. O mesmo tempo que narra o texto ele é o personagem.

B-    ESPAÇO TEMPORAL (QUANDO):
Durante o dia.

C-   PERSONAGENS:
A agulha, a linha e o alfinete.

D-   ESPAÇO FÍSICO (ONDE):
Na casa da baronesa.

E-    FOI UTILIZADO O DISCURSO DIRETO? COMPROVE:
Sim. “Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco?”

8- DE ACORDO COM O TEXTO, QUEM ERA ORGULHOSA E POR QUE O ERA?
       Era a linha, porque ela é que estava no vestido da baronesa, que iria passear.

9- “SILENCIOSA E ALTIVA” SÃO QUALIDADES ATRIBUÍDAS A QUEM?
       A linha.

10- HÁ, NO TEXTO, USO DE VOCATIVO? COMPROVE SUA RESPOSTA COM UM TRECHO DO TEXTO, CASO SUA RESPOSTA SEJA POSITIVA.
      Sim. “Anda, aprende, tola. Cansaste em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí fica na caixinha de costura.”

11- RETIRE DO TEXTO, A ONOMATOPEIA UTILIZADA PELO AUTOR E DIGA O QUE ELA ESTÁ REPRESENTANDO.
      “Não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano”. Que o serviço de costura tinha terminado aquele dia.

12- IDENTIFIQUE:
A-  A PERSONAGEM QUE JULGA O TRABALHO IMPORTANTE, POIS É NELE QUE ESTÁ O SENTIDO DE SUA VIDA:
A agulha.

B-  A PERSONAGEM CUJO INTERESSE É O RESULTADO DO TRABALHO, OS ELOGIOS, FESTAS, O GLAMOUR:
É a linha.

C-  PERSONAGEM QUE SE AUTO AFIRMA INTELIGENTE:
O alfinete.

13- QUEM DE FATO É POSSUIDOR DO FAZER, QUE COMANDA O PROCESSO DE PRODUÇÃO:
      (    ) A AGULHA; (   ) A LINHA; (X) A COSTUREIRA.

14- AGULHA, LINHA, BARONESA, COSTUREIRA: ESTABELEÇA TRAÇOS COMUNS ÀS PERSONAGENS MENCIONADAS.
      Resposta pessoal do aluno.

15- QUANTO AO “PROFESSOR DE MELANCOLIA”, PODEMOS CONCLUIR QUE ELE:
(X) ESTAVA SEMPRE SE DANDO MAL;
(X) QUE ERA FREQUENTEMENTE PASSADO PARA TRÁS;  
(X) SENTIA-SE INJUSTIÇADO; 
(   ) RECEBIA O RECONHECIMENTO QUE JULGAVA MERECER; 
(   ) ERA FELIZ PORQUE TINHA SEU TRABALHO VALORIZADO.

16- LINHA E AGULHA ERAM SEMELHANTES PORQUE:
(   ) AMBAS ERAM HUMILDES;
(X) AMBAS ERAM ORGULHOSAS;
(   ) AMBAS ERAM TRABALHADORAS; 
(X) AMBAS ERAM VAIDOSAS.

17- O QUE VOCÊ ACHA QUE SIGNIFICA “SERVIR DE AGULHA PARA MUITA LINHA ORDINÁRIA”?
      Resposta pessoal do aluno.



quarta-feira, 20 de setembro de 2017

CRÔNICA: DOIS NO CORCOVADO - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE- COM GABARITO


CRÔNICA: DOIS NO CORCOVADO
                      Carlos Drummond de Andrade

        O sol apareceu, como no primeiro dia da Criação. E tudo tinha mesmo ar de primeiro dia da Criação, com o mundo a emergir, hesitante, do caos. Três dias e três noites a tempestade esmigalhara árvores, pedras, casas, caminhos, postes, viadutos, veículos, matara, ferira, enlouquecera. Vistas do alto, as partes esplêndidas da cidade continuavam esplêndidas, mas entre elas as marcas de destruição exibiam-se como chagas de gigante Os homens entreolharam-se. Estavam salvos. Salvos e ilhados no alto do Corcovado.
        A estrada tinha acabado, o telefone tinha acabado, a energia tinha acabado, e, por azar, não havia rádio de pilha para pegar notícias. Decerto, lá embaixo providenciavam a recuperação das estradas, mas quando se lembrariam deles, pequena fração humana junto da estátua? Daí, lá tem bar, um bar dispõe de lataria e garrafas para um ano. Não, um ano é demais, até uma hora é demais para eles que passaram meia semana isolados e fustigados pelo aguaceiro entre céu e terra.
        Os mais moços não quiseram esperar, foram abrir caminho a golpes de imprudência. Mocidade pode mais o impossível do que o possível – e descer naquelas condições era mesmo coisa de doido. Com certeza chegaram a salvamento, como acontece aos doidos. Os que ficaram sentiram inveja e despeito. A turma de trabalhadores não vinha remover as barreiras caídas. O dia passou. A noite foi inquieta. Parentes lá embaixo esperavam aflitos, se é que não tinham morrido.
        A mais bela paisagem do mundo – dizem os cartazes de turismo; eles também achavam que sim, mas como suportá-la na manhã seguinte, se a vista aumentava a angústia, pela impossibilidade de alcançar aqueles sítios, pura miragem?
        --- E vem um helicóptero! – gritou alguém, e veio mesmo, mas passou sem pousar; ia revezar a turma da torre da Radiopatrulha, mais adiante. O pessoal do Cristo que se pegasse com Cristo, a cuja sombra trabalha – pensariam talvez as pessoas que, embaixo, cuidavam de tudo.
        Dos dez que ganham a vida na montanha, seis já tinham descido. Os quatro restantes, enervados, não tinham mais de que conversar. O sol brilhando, a cidade se refazendo, eles presos ali, prisão sem grade, à espera de serem lembrados. O pico virou ilha, tudo mais era oceano sem navio.
        Dois não aguentaram mais; despediram-se como presidiários antes de tentar a fuga. Prometeram levar notícias dos que ficaram: o gerente e o garçom do bar.
        Estes, por acaso, moram no mesmo subúrbio: Cachambi. Olham sempre na mesma direção, como se, por absoluto, quisessem distinguir o aceno de mão longínqua. Isto os reúne mais; desfaz um vínculo e cria outro, espontâneo. O gerente não é mais um velho patrão, o outro não é mais empregado. Vivem uma só experiência, fora das leis de trabalho. E se o garçom tentasse descer? Ainda é forte, pode tentar. “Você não tem obrigação de me fazer companhia”. Mas ele não tenta, para não abandonar o outro: “Não iria deixar o senhor sozinho”. O gerente nunca imaginara ouvir uma coisa dessas. O próprio garçom ficou espantado depois que a disse. Era pra valer. Amanhã ou depois serão recolhidos – sabemos nós, não eles. Tempo não se mede pelo relógio, mas pelo vácuo de comunicação, pela expectativa sem segurança. E nessa situação, insignificante para nós, ilimitada para eles, dois homens descobrem-se um ao outro.

                       Carlos Drummond de Andrade. Elenco de cronistas modernos.
                                     Rio de Janeiro: José Olympio, 1979. p. 248-250.

1 – Embora o narrador do texto só venha a se colocar no último parágrafo (“sabemos nós”), durante todo o texto sentimos que ele está muito próximo de nós, leitores. O que provoca essa sensação?
       O fato de fazer reflexões sobre o fato narrado, como se estivesse trocando ideias com alguém.

2 – No início do texto, há uma comparação. Baseado em que o autor faz essa comparação?
       Ele compara a paisagem vista do alto do Corcovado ao primeiro dia da criação devido aos caos: a forte tempestade destruíra tudo.

3 – Observe que o autor faz uma referência à Criação do mundo, de forma semelhante à que ocorre nos mitos cosmogônicos. O que, no final da crônica, nos autorizaria a pensar numa nova criação, também, do homem?
      Um novo homem, mais solidário, surge diante da adversidade enfrentada. Em tal situação, as relações passam a ser mais verdadeiras e se estabelecem em torno de sentimentos e não em torno de formalidades (como as que existem entre patrão e empregado).

4 – Veja: “O pessoal do Cristo que se pegasse com Cristo”. Como você escreveria, de modo diferente, este possível pensamento das pessoas?
       Resposta pessoal do aluno. Comentar a forma inusitada com que o autor escreve o texto.

5 – Em “descer naquelas condições era mesmo coisa de doido. Com certeza chegaram a salvamento, como acontece aos doidos”, você concorda com a afirmativa do autor?
       Resposta pessoal do aluno. Considerar, contudo, que, em geral, os mais ousados, ou mais arrojados, conseguem atingir seus objetivos.

6 – Comente o aposto utilizado pelo autor no segundo parágrafo.
       “Pequena fração humana” é a forma como o autor se refere às pessoas que se encontram ao pé de Cristo. Foi uma forma interessante de designar os seres humanos e estabelecer um contraste entre eles e a grandeza e magnitude do Corcovado.

7 – Nos textos que você leu anteriormente, um novo universo se descortinava para as personagens. No caso deste texto, o que mudou (“Vivem uma só experiência, fora das leis de trabalho”) na vida do gerente e do garçom?
       Para eles, também, um novo universo abriu-se: Cada um passou a enxergar o outro de maneira diferente. Descobriram, no outro, um novo universo e explorar.

8 – Que relações podem ser estabelecidas entre os três textos desta unidade, com relação à passagem do tempo?
       “Tempo não se mede pelo relógio, mas pelo vácuo de comunicação, pela expectativa sem segurança.”

9 – Prazer e dor estão presentes no texto. Como essas sensações aparecem?
       As personagens sentem a dor do isolamento, uma vez que estão ilhadas; ao mesmo tempo os homens redescobrem o prazer de conhecer um ao outro.




O QUE É EDUCAÇÃO? CLAUDINO PILETTI - COM GABARITO

O QUE É EDUCAÇÃO?
Claudino Piletti

        Podemos começar a pensar sobre educação analisando o seguinte fato histórico:
        Por ocasião do tratado de Lancaster, na Pensilvânia (Estados Unidos), no ano de 1744, entre o governo da Virgínia e as seis nações indígenas, os representantes da Virgínia informaram aos índios que em Williamsburg havia um colégio dotado de fundos para a educação de jovens índios e que, se os chefes das seis nações quisessem enviar meia dúzia de seus meninos, o governo se responsabilizaria para que eles fossem bem tratados e aprendessem todos os conhecimentos do homem branco.
        A essa oferta, o representante dos índios respondeu:
        “Apreciamos enormemente o tipo de educação que é dada nesses colégios e nos damos conta de que o cuidado de nossos jovens, durante sua permanência entre vocês, será custoso. Estamos convencidos, portanto, de que os senhores desejam o bem para nós e agradecemos de todo o coração.
        “Mas aqueles que são sábios reconhecem que diferentes nações têm concepções diferentes das coisas e, sendo assim, os senhores não ficarão ofendidos ao saber que a vossa ideia de educação não é a mesma que a nossa.
        “[...] Muitos dos nossos bravos guerreiros foram formados nas escolas do Norte e aprenderam toda a vossa ciência. Mas, quando voltavam para nós, eles eram maus corredores, ignorantes da vida da floresta e incapazes de suportar o frio e a fome. Não sabiam como caçar o veado, matar o inimigo e construir uma cabana, e falavam a nossa língua muito mal. Eles eram, portanto, totalmente inúteis. Não serviam como guerreiros, como caçadores ou como conselheiros.
        “Ficamos extremamente agradecidos pela vossa oferta e, embora não possamos aceita-la, para mostrar a nossa gratidão oferecemos aos nobres senhores da Virgínia que nos enviem alguns dos seus jovens que lhe ensinaremos tudo o que sabemos e faremos, deles, homens”.

                               (Extraído de um texto escrito por Benjamim Franklin.)
       Claudino Piletti. Didática geral. São Paulo: Ática, 1989. p. 10-1.

1 – O que o representante dos índios entende por “educação” se assemelha à ideia que Rubem Alves tenta transmitir com seu texto? Em quê?
      Sim. Ambos pensam a educação como algo natural, atrelado a um determinado contexto cultural, que faça sentido para o educando e que tenha imediata aplicação em sua vida real.

2 – Como o representante dos índios consegue recusar o convite sem ofender os brancos?
      Ele elogia a iniciativa dos brancos, o sistema de ensino deles e agradece pelo empenho do governo.

3 – Na sua opinião, os brancos aceitariam a oferta dos índios? Justifique sua resposta.
      Resposta pessoal do aluno.

4 – O que o representante dos índios pretendia ao afirmar: “Mas aqueles que são sábios reconhecem que diferentes nações têm concepções diferentes das coisas”.
       Foi uma estratégia de convencimento. Caso o governo se ofendesse com a recusa, seria a demonstração de que os governantes não eram sábios.

5 – Rubem Alves tem uma ideia do que seja um homem sábio. É a mesma ideia que está presente na resposta do índio à oferta dos brancos?
       Sim, ambos têm a mesma ideia. Para eles, sábio é aquele que tem o discernimento para aceitar as razões do outro e usa o conhecimento para tomar as decisões mais acertadas.

6 – Se você recebesse uma resposta como essa, ficaria convencido e daria razão ao índio? Por quê?
       Resposta pessoal do aluno.


terça-feira, 19 de setembro de 2017

MÚSICA(ATIVIDADES): DISPARADA (GERALDO VANDRÉ) - COM GABARITO

MÚSICA(Atividades): DISPARADA
                                                   Geraldo Vandré

 
Prepare o seu coração
Pras coisas
Que eu vou contar
Eu venho lá do sertão
Eu venho lá do sertão
Eu venho lá do sertão
E posso não lhe agradar

Aprendi a dizer não
Ver a morte sem chorar
E a morte, o destino, tudo
A morte e o destino, tudo
Estava fora do lugar
Eu vivo pra consertar

Na boiada já fui boi
Mas um dia me montei
Não por um motivo meu
Ou de quem comigo houvesse
Que qualquer querer tivesse
Porém por necessidade
Do dono de uma boiada
Cujo vaqueiro morreu

Boiadeiro muito tempo
Laço firme e braço forte
Muito gado, muita gente
Pela vida segurei
Seguia como num sonho
E boiadeiro era um rei

Mas o mundo foi rodando
Nas patas do meu cavalo
E nos sonhos
Que fui sonhando
As visões se clareando
As visões se clareando
Até que um dia acordei

Então não pude seguir
Valente em lugar tenente
E dono de gado e gente
Porque gado a gente marca
Tange, ferra, engorda e mata
Mas com gente é diferente

Se você não concordar
Não posso me desculpar
Não canto pra enganar
Vou pegar minha viola
Vou deixar você de lado
Vou cantar noutro lugar

Na boiada já fui boi
Boiadeiro já fui rei
Não por mim nem por ninguém
Que junto comigo houvesse
Que quisesse ou que pudesse
Por qualquer coisa de seu
Por qualquer coisa de seu
Querer ir mais longe
Do que eu

Mas o mundo foi rodando
Nas patas do meu cavalo
E já que um dia montei
Agora sou cavaleiro
Laço firme e braço forte
Num reino que não tem rei

Na boiada já fui boi
Boiadeiro já fui rei
Não por mim nem por ninguém
Que junto comigo houvesse
Que quisesse ou que pudesse
Por qualquer coisa de seu
Por qualquer coisa de seu
Querer ir mais longe
Do que eu

Mas o mundo foi rodando
Nas patas do meu cavalo
E já que um dia montei
Agora sou cavaleiro
Laço firme e braço forte
Num reino que não tem rei.

COMPREENDENDO A CANÇÃO

1 – De que fala a letra desta canção?
      Fala da alienação dos trabalhadores rurais, explorados pela opressão do latifúndio, que trata o povo da mesma forma que trata o gado.

2 – Como eu-lírico se apresenta nos primeiros versos?
      Como um sertanejo na cidade grande. É um artista, muito provavelmente um cantor de rua. E é na rua que ele está quando começa a contar sua vida. Tem conhecimento de que, durante a narração, pode não agradar algumas pessoas. Ele sabe que a verdade sempre machuca.

3 – Vandré associa o povo daquele seu sertão a uma boiada, percebemos aqui uma metáfora Explique.
      Ele considera que cada pessoa simples era um boi, e ele como integrante daquela sociedade, era também um boi em toda a boiada.

4 – Na 2ª estrofe, o nosso narrador-personagem nos remete para onde?
      À sua vida no sertão, como pobre ele era acostumado à vida difícil, pois estava face a face com a negação, sempre dizendo “não” e a morte não o assustava, era corriqueira.

5 – No momento em que o eu-lírico diz “mas um dia me montei”, que significa este verso?
      Que montar-se seria assumir definitivamente uma nova posição dentro da boiada, vindo a ter, inicialmente, atitude similar à do fazendeiro.

6 – Por fim, que conclusão chega o boiadeiro?
      De que ele sé será forte-verdadeiramente forte, se estiver em um reino onde não há mais um rei.

7 – Vandré nos apresenta subliminarmente que movimento?
      O Anarquismo, para ele a solução para acabar com a dor da sofrida gente sertaneja. Num reino sem rei, onde o poder não será centralizado nas mãos de uma única pessoa. O poder é de todos, porque são os bois que realizam, o trabalho, enquanto os reis boiadeiros nada fazem.



REPORTAGEM : KEIKO DIZ NÃO À LIBERDADE - FLÁVIA VARELLA - COM GABARITO


KEIKO DIZ NÃO À LIBERDADE

        Baleia de Free Willy rejeita a vida selvagem, e verba para salvá-la acaba.
        É triste a história da baleia orca “Keiko”, famosa por estrelar os filmes da série Free Willy. No início da semana passada, a equipe que tenta há cinco anos readaptá-la à vida em liberdade admitiu que é provável que isso jamais aconteça. Keiko parece estar fadada ao cativeiro, condição em que vive faz mais de 20 anos. Daqui a duas semanas, a temporada de verão no hemisfério Norte termina para as orcas selvagens, que nadam perto do cercado montado para abrigar a estrela aposentada numa baía na costa da Islândia, e elas partirão, Keiko já deixou claro que, embora tenha brincado com elas, não pretende acompanha-las. Os biólogos e treinadores poderiam tentar de novo no próximo verão, ainda que com poucas esperanças, mas o dinheiro do projeto está acabando. O custo anual para mantê-la em sua piscina natural é de 3,5 milhões de dólares. Para completar a novela, uma criação comercial de salmão deve ser montada ainda neste mês, justamente onde Keiko está hoje. Mas uma vez a baleia terá de mudar de lar.
        Todos os dias neste verão, Keiko seguiu um barco que a guiava até o mar aberto onde bandos de orcas nadavam. Chegou a seguir algumas e foi seguida, mas, depois de cada viagem, ela sempre acompanhava o barco de volta à costa. A frustação é enorme. A descoberta de que a estrela do filme de 1993 vivia numa piscina mal cuidada em um parque de diversões mexicano sensibilizou o mundo. A fundação Free Willy, criada para dar liberdade à baleia, angariou em dois anos 7,5 milhões de dólares. Em 1996, Keiko foi transferida para um centro de reabilitação de golfinhos e baleias montado com dinheiro da campanha, em Oregon, na costa americana. Após dois anos, foi içada e transferida de avião para seu mar natal, na Islândia.
        Agora, sob os cuidados da Ocean Futures, de Jean-Michel Cousteau, pretendia-se que ela fugisse com as orcas da região onde nasceu. Na Islândia, Keiko aprendeu a comer peixe vivo, que ela própria capturava. Não se distanciou, porém, mais de mil metros do barco de observação. “Nossos gastos já foram além do previsto. Se não conseguirmos mais dinheiro para a reintegração de Keiko à natureza, vamos buscar mais recursos pelo menos para criar um novo ambiente natural e manter a qualidade de vida dela”, afirma Charles Vinick, do grupo que cuida do projeto desenvolvido em torno da orca. Onde, como e com quem viverá Keiko? Nem o mais criativo roteirista de Hollywood sabe. Uma baleia orca em liberdade vive cerca de 50 anos. Keiko tem menos da metade disso.

                                                                   Flávia Varella. In: Veja, ano 34, n° 31,
                                                                                             8 agosto 2001, p. 73.
1 – Escreva no caderno uma frase para cada parágrafo do texto.
      - Primeiro: Keiko, a estrela da série Free Willy, que vive em cativeiro há mais de 20 anos, há cinco vem tentando se readaptar à vida livre, mas não consegue.
      - Segundo: Com dinheiro de uma campanha, a Fundação Free Willy transferiu Keiko de uma piscina mal cuidada, num parque de diversões mexicano, para um centro de reabilitação em Oregon e, posteriormente, para o seu mar natal, na Islândia.
      - Terceiro: Sob os cuidados de Jean-Michel Cousteau, foi reapresentada ao mundo livre, mas permanece próxima ao barco de observação; não há mais verba para mantê-la.

2 – A história de Keiko é muito diferente da história dos outros ursos? Justifique sua resposta.
      Não; a história é bastante semelhante: animais retirados de seu habitat para serem adestrados nem sempre conseguem readaptar-se quando voltam ao lugar de origem.

3 – Lendo apenas o título, o lide (a apresentação da matéria) e a primeira oração do texto, foi possível a você antecipar alguma ideia sobre o que viria a seguir? O quê? Que palavra foi reveladora disso?
      Sim; o título e o lide antecipam as informações presentes no texto. A palavra reveladora foi: liberdade.

4 – “Onde, como e com quem viverá Keiko? Nem o mais criativo roteirista de Hollywood sabe. “Por que, na sua opinião, a autora coloca esse comentário no texto?
      Porque Keiko foi estrela de uma série de filmes; a autora questiona agora seu destino, como se fosse o enredo de uma nova história de aventuras.

5 – Diante dessa informação sobre Keiko, o que é possível pensar sobre:

a)    O uso com “fins artísticos” dos animais?
Tanto na fábula como na vida real percebe-se que é totalmente antinatural usar animais com fins artísticos.

b)    O uso da inteligência e da sabedoria do homem em relação à natureza?
O homem não age com sabedoria em relação à natureza.


FÁBULA: TROPEÇÕES DA INTELIGÊNCIA - RUBEM ALVES - COM GABARITO

FÁBULA: TROPEÇÕES DA INTELIGÊNCIA
                    RUBEM ALVES

        Há a história dos dois ursos que caíram numa armadilha e foram levados para o circo. Um deles, com certeza mais inteligente que o outro, aprendeu logo a se equilibrar na bola e a andar no monociclo, o seu retrato começou a aparecer em cartazes e todo o mundo batia palmas: “Como é inteligente”. O outro, burro, ficava amuado num canto, e, por mais que o treinador fizesse promessas e ameaças, não dava sinais de entender. Chamaram o psicólogo do circo e o diagnóstico veio rápido: “É inútil insistir. O QI é muito baixo...”.
        Ficou abandonado num canto, sem retratos e sem aplausos, urso burro, sem serventia... O tempo passou. Veio a crise econômica e o circo foi à falência. Concluíram que a coisa mais caridosa que se poderia fazer aos animais era devolvê-los às florestas de onde haviam sido tirados. E, assim, os dois ursos fizeram a longa viagem de volta.
        Estranho que em meio à viagem o urso tido por burro parece ter acordado da letargia, como se ele estivesse reconhecendo lugares velhos, odores familiares, enquanto seu amigo de QI alto brincava tristemente com a bola, último presente Finalmente, chegaram e foram soltos. O urso burro sorriu, com aqueles sorrisos que os ursos entendem, deu um urro de prazer e abraçou aquele mundo lindo de que nunca se esquecera. O urso inteligente subiu na sua bola e começou o número que sabia tão bem. Era só o que sabia fazer. Foi então que ele entendeu, em meio às memórias de gritos de crianças, cheiro de pipoca, música de banda, saltos de trapezistas e peixes mortos servidos na boca, que há uma inteligência que é boa para circo. O problema é que ela não presta para viver.

                                              Rubens Alves. Estórias de quem gosta de ensinar.
                                                                         São Paulo: Cortez, 1987. p. 12-3.
1 – Escreva como os dois ursos se comportam:
a)    No circo.
- O Urso “inteligente”: equilibra-se na bola, anda de monociclo, faz sucesso.
-  O Urso “burro”: tem baixo QI; não aprende nada.

b)    Na floresta.
- O Urso “inteligente”: fica triste, repetindo o que sabia fazer no circo.
- O Urso “burro”: acorda, fica feliz e se adapta imediatamente ao lugar.

2 – Copie em seu caderno o resumo esquematizado do texto e complete-o na sequência dos acontecimentos.
      Urso na armadilha; sucesso de um dos ursos: fracasso do outro e o retorno para a floresta.

3 – Por que o autor criou o texto com uma estrutura circular? Procure no texto outros elementos que têm essa estrutura.
      O autor fala em bola, monociclo, objetos que lembram o círculo. O próprio circo, com seu picadeiro e sua estrutura, lembra o círculo. Daí a “estrutura circular” do texto. O significado dessa estrutura pode estar ligado ao fato de estarmos presos a uma rotina ou a um círculo vicioso à medida que temos conceitos errados sobre a situações do ensino e não fazemos nada para muda-las. Chamar a atenção dos alunos para o fato de que o texto figurativo é muito mais interessante que o temático porque traz à mente do leitor imagens concretas: neste caso, é toda a vida mágica e aventureira do circo, com suas cores (bolas, trapezistas) sons (aplausos, gritos, banda) cheiros (animais, pipocas), além, é claro, da imagem da floresta que se reconstitui na memória do leitor com toda sua beleza e naturalidade.

4 – No segundo período do primeiro parágrafo, existe uma afirmação categórica do autor. Essa afirmação é confirmada ou negada no final do texto? Com que intenção o autor a usou? Na sua opinião, por que escolheu narrar a história em terceira pessoa?
      “Um deles, com certeza mais inteligente que o outro...” A afirmação é negada. A intenção do autor era mostrar que a “inteligência” do urso era apenas aparente ou específica para determinadas habilidades. O narrador em terceira pessoal procura distanciar-se dos acontecimentos para imprimir uma certa neutralidade ao texto. Há uma tentativa de imitar a fábula: conta-se um fato que aconteceu num lugar não definido, num tempo mítico, que ele não define qual é. Trata-se, na verdade, de uma estratégia, de um “despistamento” da verdadeira intenção de seu texto.

5 – Seria correto afirmar que “Tropeções da inteligência” é uma fábula? Por quê? O que você sabe sobre as personagens desse tipo de história?
      Sim, é uma espécie de fábula porque as personagens são animais, e ela procura passar um ensinamento Mas é uma fábula moderna porque também há personagens que são pessoas.

6 – O autor introduz na história algumas modernizações que não estão presentes nas fábulas convencionais. Quais?
      Ele cita psicólogo e diagnóstico. O circo passa por crise econômica e vai à falência. Fala também em QI (quociente de inteligência).

7 – Que passagem, no terceiro parágrafo, nos revela que o urso só poderia ser compreendido em seu verdadeiro hábitat?
      “O urso burro sorriu, com aquele sorriso que os burros entendem...”.

8 – É comum haver psicólogo em um circo? Qual a verdadeira intenção do autor ao colocá-lo na história? Afinal, o que o circo representa?
      Não. Ao falar em psicólogo e QI, o autor quer fazer referência às escolas e não aos circos.

9 – A partir da afirmação de que “há uma inteligência que é boa para circo. O problema é que ela não presta para viver”, que relações poderíamos estabelecer entre o texto e nossa realidade? Quem são, na verdade, os ursos? Quem é o inteligente? Quem é o “burro”? (Lembre-se que os animais sobrevivem; nós, humanos, é que utilizamos nossos conhecimentos para viver).
      Poderíamos estabelecer relações entre o texto e um determinado tipo de ensino que é dado aos alunos e que não lhes serve para enfrentar a vida. Os ursos, simbolicamente, seriam os alunos: os “inteligentes” seriam os que se deixam adestrar; os “burros”, os que não aceitam esse tipo de “adestramento”.

10 – Reflita sobre o título do texto: Quem está “tropeçando” afinal? A que inteligência o autor se refere? A hipótese que você formulou a partir do título se confirmou?
      Verificar se as hipóteses dos alunos se confirmaram. O título dá origem a várias interpretações: tropeções podem ser enganos, erros, equívocos; a “inteligência” pode ser interpretada aqui em seu sentido convencional. “Tropeçam” aqueles que têm um julgamento incorreto sobre o que é ser inteligente e então fica bem clara a crítica contundente feita às escolas.

11 – Leia esta frase de Rubem Alves:
        “Para construir uma bomba atômica é preciso ser muito inteligente.
        Para tomar a decisão de desmontar todas elas é necessário ser sábio”.
a)    Relacione o que ele diz ao texto que você leu.
No texto “Tropeções da inteligência”, o urso considerado “burro” podia não ter as habilidades necessárias ao malabarismo do circo (habilidades que, no circo, eram interpretadas como inteligência). Mas tinha a sabedoria que o integrava a seu habitat.

b)    Escreva o que você entende por inteligência e o que você entende por sabedoria.
Resposta pessoal do aluno.

12 – Alguns recursos normalmente usados em poemas podem dar expressividade à prosa.
      Observe como alguns fonemas se repetem:
      “O urso burro sorriu (...) deu um urro...”
a)    Localize no texto outros recursos semelhantes.
Há vários exemplos; observar, principalmente, a repetição de vogais fechadas (o e u), em especial quando o texto se refere ao “urso burro”.

b)    Encontre também, no segundo parágrafo, a repetição de uma preposição utilizada como recurso de linguagem e explique por que esse recurso foi empregado.
Observar, também, a repetição da preposição sem (tira-se tudo do urso: retrato, aplauso, serventia).